Feijoada à brasileira: diferenças entre revisões

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Em [[Portugal]], existem diferentes tipos de feijoadas. As mais famosas são as denominadas versões [[Feijoada à transmontana|à transmontana]] e à portuguesa. A feijoada à transmontana leva [[repolho]], feijões secos e carne de porco defumada. Já a feijoada à portuguesa não leva repolho.<ref name="uol1"/> Uma característica comum a essas versões é o aproveitamento máximo do porco. O prato surgiu numa época de escassez de alimentos em Portugal, quando não se podia desperdiçar nenhum pedaço da carne do porco.<ref name="super"/> Nos dias mais quentes, era feita a matança do porco, e certas carnes eram consumidas de imediato, como as [[bisteca]]s; porém outras carnes eram preservadas no sal ou no processo de defumação, para serem consumidas durante o inverno, em preparos de panela, como a feijoada. Em Portugal, são usados o [[feijão branco]], de grãos um pouco maiores, ou o [[feijão vermelho]]; porém, quando vieram para o Brasil, os portugueses adaptaram a receita, passando a usar o [[feijão preto]], que é nativo da [[América do Sul]].<ref name="uol1"/> <ref name="G11"/><ref name="dia">[https://www.hojeemdia.com.br/geral/dia-de-s-o-jorge-tem-a-tradicional-feijoada-1.896037 Dia de São Jorge tem a tradicional feijoada]</ref> Além do feijão preto, durante o [[século XIX]], a feijoada à brasileira ganhou outros acompanhamentos próprios, como o [[torresmo]], a [[farofa]], a [[laranja]] e a [[couve]] refogada.<ref name="uol1"/>
Em [[Portugal]] existem diferentes tipos de feijoadas. As mais famosas são as denominadas versões [[Feijoada à transmontana|à transmontana]] e à portuguesa. A feijoada à transmontana leva [[repolho]], feijões secos e carne de porco defumada. Já a feijoada à portuguesa não leva repolho.<ref name="uol1"/>


Uma característica comum a essas versões é o aproveitamento máximo do porco. O prato surgiu numa época de escassez de alimentos em Portugal, quando não se podia desperdiçar nenhum pedaço da carne do porco.<ref name="super" /> Nos dias mais quentes era feita a matança do porco e certas carnes eram consumidas de imediato, como as [[bisteca]]s; porém outras carnes eram preservadas no sal ou no processo de [[defumação]], para serem consumidas durante o inverno, em preparos de panela, como a feijoada.
No Brasil, foi criada uma [[lenda]] de que a feijoada à brasileira foi inventada por escravos, que aproveitavam as partes menos nobres do porco, como orelhas, rabos e pés, como alimentação; porém essa ideia não é verdadeira.<ref name="super"/><ref name="uol1"/><ref name="G11"/>

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== História ==
== História ==
{{AP|vt=s|História da alimentação no Brasil}}
{{AP|vt=s|História da alimentação no Brasil}}
No Brasil, a primeira menção à iguaria data do início do século XIX, num anúncio publicado no n. 47 do [[Diario de Pernambuco]], na cidade do [[Recife]], em 2 de março de 1827, informando que, na Locanda da Águia d’Ouro, na rua das Cruzes, às quintas-feiras, seria servida "excelente feijoada à brasileira tudo por preço cômodo".<ref name="Não_nomeado-xr76-1">Jornal acessado na Hemeroteca Digital.</ref><ref name="dp">{{Citar web|url=https://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2016/05/02/o-padre-que-perdeu-para-a-feijoada/|autor=Paulo Goethe|data=2-5-2016|obra=Diario de Pernambuco|título=O padre que perdeu para a feijoada|acessodata=12-4-2023}}</ref>
No Brasil a primeira menção à iguaria data do início do século XIX, num anúncio publicado no n° 47 do [[Diario de Pernambuco|Diário de Pernambuco]], na cidade do [[Recife]], em 2 de março de 1827, informando que, na Locanda da Águia d’Ouro, na rua das Cruzes, às quintas-feiras, seria servida "excelente feijoada à brasileira, tudo por preço cômodo".<ref name="Não_nomeado-xr76-1">Jornal acessado na Hemeroteca Digital.</ref><ref name="dp">{{Citar web|url=https://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2016/05/02/o-padre-que-perdeu-para-a-feijoada/|autor=Paulo Goethe|data=2-5-2016|obra=Diario de Pernambuco|título=O padre que perdeu para a feijoada|acessodata=12-4-2023}}</ref>


Em 7 de agosto de 1833, também no Recife, o anúncio do recém-inaugurado Hôtel Théatre, publicado no Diário de Pernambuco, informa que às quintas-feiras seria servida "feijoada à brasileira".<ref name="Théâtre">{{Citar web|url=http://super.abril.com.br/comportamento/a-feijoada-nao-e-invencao-brasileira/|título=A feijoada não é invenção brasileira|publicado=Superinteressante|acessodata=3-3-2017}}</ref><ref name="dp" />
Em 7 de agosto de 1833, também no Recife, o anúncio do recém-inaugurado Hôtel Théatre, publicado no Diário de Pernambuco, informa que às quintas-feiras seria servida "feijoada à brasileira".<ref name="Théâtre">{{Citar web|url=http://super.abril.com.br/comportamento/a-feijoada-nao-e-invencao-brasileira/|título=A feijoada não é invenção brasileira|publicado=Superinteressante|acessodata=3-3-2017}}</ref><ref name="dp" />
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{{quote2|Este alimento compõe-se de carne salgada, seca ao sol, de feijões pretos, pequenos, mas muito bons, de toucinho, e para coadunar tudo, d’uma farinha muito grossa, que se faz com a raiz da mandioca. Da mistura d’estes ingredientes forma-se uma espécie de papas escuras, d’um aspecto repugnante, mas d’um gosto assaz agradável.}}
{{quote2|Este alimento compõe-se de carne salgada, seca ao sol, de feijões pretos, pequenos, mas muito bons, de toucinho, e para coadunar tudo, d’uma farinha muito grossa, que se faz com a raiz da mandioca. Da mistura d’estes ingredientes forma-se uma espécie de papas escuras, d’um aspecto repugnante, mas d’um gosto assaz agradável.}}


A feijoada completa, tal como a conhecemos, acompanhada de arroz branco, [[laranja]] em fatias, couve refogada e farofa, era muito afamada no [[restaurante]] carioca [[G. Lobo]], que funcionava na rua General Câmara, 135, no centro da cidade do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]. O estabelecimento, fundado no final do século XIX, desapareceu em 1905, com as obras de alargamento da rua Uruguaiana. Com a construção da avenida Presidente Vargas, na década de 1940, esta rua desaparece por definitivo.<ref>{{Citar web|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista13-mat6.pdf|título=Feijoada: breve história de uma instituição comestível|publicado=Itamaraty|acessodata=4-7-2017|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130903011941/http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista13-mat6.pdf|arquivodata=2013-09-03|urlmorta=yes}}</ref>
A feijoada completa, tal como a conhecemos, acompanhada de arroz branco, [[laranja]] em fatias, couve refogada e farofa, era muito afamada no [[restaurante]] carioca [[G. Lobo]], que funcionava na rua General Câmara, 135, no centro da cidade do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]. O estabelecimento foi fundado no final do século XIX e desapareceu em 1905, com as obras de alargamento da rua Uruguaiana. Com a construção da avenida Presidente Vargas, na década de 1940, esta rua desaparece por definitivo.<ref>{{Citar web|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista13-mat6.pdf|título=Feijoada: breve história de uma instituição comestível|publicado=Itamaraty|acessodata=4-7-2017|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130903011941/http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista13-mat6.pdf|arquivodata=2013-09-03|urlmorta=yes}}</ref>


Nos livros "Baú de Ossos" e "Chão de Ferro", [[Pedro Nava]] descreve a feijoada do G. Lobo, elogiando aquela preparada pelo Mestre Lobo. A receita contemporânea teria migrado da cozinha do estabelecimento G. Lobo para todo o país. Mas ressalva Pedro Nava que é (...) "antes a evolução venerável de pratos latinos". <ref>[https://horadopovo.com.br/gripe-espanhola-uma-pagina-de-pedro-nava/ Gripe espanhola (uma página de Pedro Nava)]</ref>
Nos livros "Baú de Ossos" e "Chão de Ferro", [[Pedro Nava]] descreve a feijoada do G. Lobo, elogiando aquela preparada pelo Mestre Lobo. A receita contemporânea teria migrado da cozinha do estabelecimento G. Lobo para todo o país. Mas ressalva Pedro Nava que é (...) "antes a evolução venerável de pratos latinos". <ref>[https://horadopovo.com.br/gripe-espanhola-uma-pagina-de-pedro-nava/ Gripe espanhola (uma página de Pedro Nava)]</ref>
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===O mito sobre a origem escrava===
===O mito sobre a origem escrava===


No Brasil, há uma lenda popular difundida sobre a origem da feijoada, de que os senhores forneciam a seus [[Escravidão no Brasil|escravos]] os "restos" menos nobres do porco, como pés, orelhas e rabos, quando estes eram carneados. O cozimento desses ingredientes, com [[feijão]], água e farofa, teria feito nascer a receita. Essa versão, contudo, não se sustenta, seja na tradição culinária, seja na mais leve pesquisa histórica. Naquela época, essas partes do porco não eram consideradas "menos nobres", porque a carne não era um alimento comum nem nas mesas dos senhores de escravos, pois era cara. A alimentação dos escravos consistia numa ração, determinada pelos senhores, e deveria ser barata. Na realidade, a alimentação dos escravos não era tão diferente da dos senhores, haja vista os altos preços dos alimentos na época. Assim, no Brasil, ricos e pobres comiam basicamente a mesma coisa: um angu feito de farinha de mandioca e água, carne-seca, feijão, milho e algumas frutas, como coco e banana.<ref name="G11"/><ref name="super">[https://super.abril.com.br/saude/a-feijoada-foi-criada-pelos-escravos A feijoada foi mesmo criada pelos escravos?]</ref>
No Brasil há uma lenda popular difundida sobre a origem da feijoada, de que os senhores forneciam a seus [[Escravidão no Brasil|escravos]] os "restos" menos nobres do porco, como pés, orelhas e rabos, quando estes eram carneados. O cozimento desses ingredientes com [[feijão]], água e farofa, teria feito nascer a receita.
Essa versão, contudo, não se sustenta, seja na tradição culinária, seja na mais leve pesquisa histórica. Naquela época essas partes do porco não eram consideradas "menos nobres" porque a carne não era um alimento comum nem nas mesas dos senhores de escravos, pois era cara. A alimentação dos escravos consistia numa ração, determinada pelos senhores, e deveria ser barata. Na realidade, a alimentação dos escravos não era tão diferente da dos senhores, haja vista os altos preços dos alimentos na época. Assim, no Brasil, ricos e pobres comiam basicamente a mesma coisa: um angu feito de farinha de mandioca e água, carne-seca, feijão, milho e algumas frutas, como coco e banana.<ref name="G11" /><ref name="super">[https://super.abril.com.br/saude/a-feijoada-foi-criada-pelos-escravos A feijoada foi mesmo criada pelos escravos?]</ref>


O mais provável é que a feijoada à brasileira tenha origem na culinária portuguesa, mas adaptando-se à realidade brasileira, como pela substituição do [[feijão branco]] pelo [[feijão preto]], o qual era mais comum na alimentação brasileira.<ref name="G11">[https://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1197792-16107,00-FEIJOADA+TEVE+ORIGEM+NO+SECULO+XIX+COM+BASE+EM+COZIDO+FEITO+POR+PORTUGUESES.html#:~:text=06%2F09%20%2D%2009h17-,Feijoada%20teve%20origem%20no%20s%C3%A9culo%20XIX%20com%20base%20em%20cozido,por%20escravos%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20verdadeira. Feijoada teve origem no século XIX com base em cozido feito por portugueses]</ref> O pé de porco já integrava os hábitos alimentares portugueses, a julgar pelo romance de [[Camilo Castelo Branco]], ''[[A Brasileira de Prazins]]'', publicado em 1882, onde lemos: "[...] preferia a manteiga do seu país, como a vitela, e o lombo do porco no salpicão português, e o pé do porco nas tripas também portuguesas".<ref>Camilo Castelo Branco, ''A Brasileira de Prazins'', Capítulo VI.</ref> Os acompanhamentos hoje servidos na feijoada à brasileira (arroz branco, farofa, couve refogada e laranja) somente foram incorporados muito mais tarde, provavelmente no século XIX.<ref name="super"/>
O mais provável é que a feijoada à brasileira tenha origem na culinária portuguesa, mas adaptando-se à realidade brasileira, como pela substituição do [[feijão branco]] pelo [[feijão preto]], o qual era mais comum na alimentação brasileira.<ref name="G11">[https://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1197792-16107,00-FEIJOADA+TEVE+ORIGEM+NO+SECULO+XIX+COM+BASE+EM+COZIDO+FEITO+POR+PORTUGUESES.html#:~:text=06%2F09%20%2D%2009h17-,Feijoada%20teve%20origem%20no%20s%C3%A9culo%20XIX%20com%20base%20em%20cozido,por%20escravos%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20verdadeira. Feijoada teve origem no século XIX com base em cozido feito por portugueses]</ref> O pé de porco já integrava os hábitos alimentares portugueses, a julgar pelo romance de [[Camilo Castelo Branco]], ''[[A Brasileira de Prazins]]'', publicado em 1882, onde lemos: "[...] preferia a manteiga do seu país, como a vitela, e o lombo do porco no salpicão português, e o pé do porco nas tripas também portuguesas".<ref>Camilo Castelo Branco, ''A Brasileira de Prazins'', Capítulo VI.</ref> Os acompanhamentos hoje servidos na feijoada à brasileira (arroz branco, farofa, couve refogada e laranja) somente foram incorporados muito mais tarde, provavelmente no século XIX.<ref name="super"/>
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[[Imagem:Feijoada à brasileira -02.jpg|esquerda|thumb|200px|Típico prato de feijoada acompanhada de [[arroz]], [[couve]] e [[farofa]].]]
[[Imagem:Feijoada à brasileira -02.jpg|esquerda|thumb|200px|Típico prato de feijoada acompanhada de [[arroz]], [[couve]] e [[farofa]].]]


A forma de preparo e a escolha dos ingredientes da feijoada podem variar de acordo com a região do Brasil, mas a feijoada tradicional é um guisado de feijão preto, com carnes suínas e bovinas, acompanhado de arroz, couve refogada, laranja e farinha de mandioca ([[farofa]]). Em virtude desses ingredientes, a feijoada pode ser considerada uma refeição calórica, com muitas [[proteína]]s, [[gordura]]s e [[sódio]], podendo ser considerada bastante nutritiva.<ref name="uol3">[https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/09/feijoada-nao-precisa-ser-vila-da-saude-7-formas-de-deixa-la-mais-saudavel.htm?cmpid=copiaecola Feijoada não precisa ser vilã da saúde: 7 formas de deixá-la mais saudável]</ref>
A forma de preparo e a escolha dos ingredientes da feijoada podem variar de acordo com a região do Brasil, mas a feijoada tradicional é um guisado de feijão preto, com carnes suínas e bovinas, acompanhado de arroz, couve refogada, laranja e farinha de mandioca ([[farofa]]). Em virtude desses ingredientes a feijoada pode ser considerada uma refeição calórica, com muitas [[proteína]]s, [[gordura]]s e [[sódio]], podendo ser considerada bastante nutritiva.<ref name="uol3">[https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/09/feijoada-nao-precisa-ser-vila-da-saude-7-formas-de-deixa-la-mais-saudavel.htm?cmpid=copiaecola Feijoada não precisa ser vilã da saúde: 7 formas de deixá-la mais saudável]</ref>


Como mencionado, o uso de ingredientes pode variar de acordo com a região. Em [[Pernambuco]], por exemplo, houve uma modificação da receita, em virtude de o pernambucano preferir o feijão mulatinho ao feijão preto. E esse prato assim modificado denomina-se feijoada pernambucana.<ref>{{Citar web|url=http://www.mulhernareal.com.br/feijoada-pernambucana-menos-feijao-mais-legumes-para-economizar-e-se-esbaldar-nessa-iguaria|título=Feijoada pernambucana: menos feijão, mais legumes|obra=Mulher na real|acessodata=12-4-2023}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://josistyle.wordpress.com/2020/04/19/feijoada-pernambucana-pernanbuco/|título=Feijoada Pernambucana|acessodata=12-4-2023}}</ref>
Como mencionado o uso de ingredientes pode variar de acordo com a região. Em [[Pernambuco]], por exemplo, houve uma modificação da receita em virtude de o pernambucano preferir o feijão mulatinho ao feijão preto. E esse prato assim modificado denomina-se feijoada pernambucana.<ref>{{Citar web|url=http://www.mulhernareal.com.br/feijoada-pernambucana-menos-feijao-mais-legumes-para-economizar-e-se-esbaldar-nessa-iguaria|título=Feijoada pernambucana: menos feijão, mais legumes|obra=Mulher na real|acessodata=12-4-2023}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://josistyle.wordpress.com/2020/04/19/feijoada-pernambucana-pernanbuco/|título=Feijoada Pernambucana|acessodata=12-4-2023}}</ref>


Na [[cultura brasileira]], a feijoada carrega consigo um ar de celebração, sendo servida muitas vezes em ocasiões que reúnem um bom número de pessoas, como em reuniões familiares ou datas festivas, tendo a vantagem de ser um prato que rende e que não leva ingredientes considerados caros.<ref name="uol1"/>
Na [[cultura brasileira]] a feijoada carrega consigo um ar de celebração, sendo servida muitas vezes em ocasiões que reúnem um bom número de pessoas, como em reuniões familiares ou datas festivas, tendo a vantagem de ser um prato que rende e que não leva ingredientes considerados caros.<ref name="uol1"/>


== Ver também ==
== Ver também ==

Revisão das 13h58min de 12 de abril de 2024

Feijoada
Feijoada à brasileira
Feijoada à brasileira com diversos acompanhamentos: arroz, couve refogada, mandioca frita, torresmo, laranja, caipirinha, entre outros.
Categoria prato principal
País Brasil
Receitas: Feijoada   Multimédia: Feijoada

A feijoada à brasileira é um prato que consiste num guisado de feijões-pretos com vários tipos de carne de porco e de boi. É servida com farofa, arroz branco, couve refogada e laranja fatiada, entre outros acompanhamentos. Trata-se de um prato popular, típico da culinária brasileira.

A primeira menção conhecida à "feijoada à brasileira" deu-se no Recife, em Pernambuco, no ano de 1827.[1]

A feijoada à brasileira é considerada por muitos o prato típico do Brasil e muitas vezes é feita em eventos que reúnem grande número de pessoas, como em reuniões familiares e datas festivas.

Origem

A feijoada à brasileira tem origem na culinária portuguesa.[2] Na França, também existe um prato parecido, o cassoulet, porém a feijoada à brasileira é herdeira da tradição portuguesa.[3]

Típica feijoada à brasileira, acompanhada de arroz, couve, farofa e laranja.

Em Portugal existem diferentes tipos de feijoadas. As mais famosas são as denominadas versões à transmontana e à portuguesa. A feijoada à transmontana leva repolho, feijões secos e carne de porco defumada. Já a feijoada à portuguesa não leva repolho.[2]

Uma característica comum a essas versões é o aproveitamento máximo do porco. O prato surgiu numa época de escassez de alimentos em Portugal, quando não se podia desperdiçar nenhum pedaço da carne do porco.[3] Nos dias mais quentes era feita a matança do porco e certas carnes eram consumidas de imediato, como as bistecas; porém outras carnes eram preservadas no sal ou no processo de defumação, para serem consumidas durante o inverno, em preparos de panela, como a feijoada.

Em Portugal são usados o feijão branco, de grãos um pouco maiores, ou o feijão vermelho. Quando vieram para o Brasil os portugueses adaptaram a receita passando a usar o feijão preto, que é nativo da América do Sul.[2] [4][5] Além do feijão preto durante o século XIX a feijoada à brasileira ganhou outros acompanhamentos próprios, como o torresmo, a farofa, a laranja e a couve refogada.[2]

No Brasil foi criada uma lenda de que a feijoada à brasileira foi inventada por escravos, que aproveitavam as partes menos nobres do porco, como orelhas, rabos e pés, como alimentação, porém essa ideia não é verdadeira.[3][2][4]

História

No Brasil a primeira menção à iguaria data do início do século XIX, num anúncio publicado no n° 47 do Diário de Pernambuco, na cidade do Recife, em 2 de março de 1827, informando que, na Locanda da Águia d’Ouro, na rua das Cruzes, às quintas-feiras, seria servida "excelente feijoada à brasileira, tudo por preço cômodo".[6][7]

Em 7 de agosto de 1833, também no Recife, o anúncio do recém-inaugurado Hôtel Théatre, publicado no Diário de Pernambuco, informa que às quintas-feiras seria servida "feijoada à brasileira".[8][7]

Em 3 de março de 1840, ainda no Diário de Pernambuco, o Padre Carapuceiro publicava um artigo, no qual dizia:[7][9]

Panela de feijoada à brasileira.

Em 1860, o viajante francês Oscar Comettant assim descreveu a feijoada à brasileira:[9]

A feijoada completa, tal como a conhecemos, acompanhada de arroz branco, laranja em fatias, couve refogada e farofa, era muito afamada no restaurante carioca G. Lobo, que funcionava na rua General Câmara, 135, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O estabelecimento foi fundado no final do século XIX e desapareceu em 1905, com as obras de alargamento da rua Uruguaiana. Com a construção da avenida Presidente Vargas, na década de 1940, esta rua desaparece por definitivo.[11]

Nos livros "Baú de Ossos" e "Chão de Ferro", Pedro Nava descreve a feijoada do G. Lobo, elogiando aquela preparada pelo Mestre Lobo. A receita contemporânea teria migrado da cozinha do estabelecimento G. Lobo para todo o país. Mas ressalva Pedro Nava que é (...) "antes a evolução venerável de pratos latinos". [12]

O mito sobre a origem escrava

No Brasil há uma lenda popular difundida sobre a origem da feijoada, de que os senhores forneciam a seus escravos os "restos" menos nobres do porco, como pés, orelhas e rabos, quando estes eram carneados. O cozimento desses ingredientes com feijão, água e farofa, teria feito nascer a receita.

Essa versão, contudo, não se sustenta, seja na tradição culinária, seja na mais leve pesquisa histórica. Naquela época essas partes do porco não eram consideradas "menos nobres" porque a carne não era um alimento comum nem nas mesas dos senhores de escravos, pois era cara. A alimentação dos escravos consistia numa ração, determinada pelos senhores, e deveria ser barata. Na realidade, a alimentação dos escravos não era tão diferente da dos senhores, haja vista os altos preços dos alimentos na época. Assim, no Brasil, ricos e pobres comiam basicamente a mesma coisa: um angu feito de farinha de mandioca e água, carne-seca, feijão, milho e algumas frutas, como coco e banana.[4][3]

O mais provável é que a feijoada à brasileira tenha origem na culinária portuguesa, mas adaptando-se à realidade brasileira, como pela substituição do feijão branco pelo feijão preto, o qual era mais comum na alimentação brasileira.[4] O pé de porco já integrava os hábitos alimentares portugueses, a julgar pelo romance de Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins, publicado em 1882, onde lemos: "[...] preferia a manteiga do seu país, como a vitela, e o lombo do porco no salpicão português, e o pé do porco nas tripas também portuguesas".[13] Os acompanhamentos hoje servidos na feijoada à brasileira (arroz branco, farofa, couve refogada e laranja) somente foram incorporados muito mais tarde, provavelmente no século XIX.[3]

Composição

Típico prato de feijoada acompanhada de arroz, couve e farofa.

A forma de preparo e a escolha dos ingredientes da feijoada podem variar de acordo com a região do Brasil, mas a feijoada tradicional é um guisado de feijão preto, com carnes suínas e bovinas, acompanhado de arroz, couve refogada, laranja e farinha de mandioca (farofa). Em virtude desses ingredientes a feijoada pode ser considerada uma refeição calórica, com muitas proteínas, gorduras e sódio, podendo ser considerada bastante nutritiva.[14]

Como mencionado o uso de ingredientes pode variar de acordo com a região. Em Pernambuco, por exemplo, houve uma modificação da receita em virtude de o pernambucano preferir o feijão mulatinho ao feijão preto. E esse prato assim modificado denomina-se feijoada pernambucana.[15][16]

Na cultura brasileira a feijoada carrega consigo um ar de celebração, sendo servida muitas vezes em ocasiões que reúnem um bom número de pessoas, como em reuniões familiares ou datas festivas, tendo a vantagem de ser um prato que rende e que não leva ingredientes considerados caros.[2]

Ver também

Referências

  1. «A feijoada foi mesmo criada pelos escravos?». Superinteressante. Consultado em 5 de junho de 2017 
  2. a b c d e f Feijoada nasceu em Portugal, mas foi no Brasil que virou paixão culinária
  3. a b c d e A feijoada foi mesmo criada pelos escravos?
  4. a b c d Feijoada teve origem no século XIX com base em cozido feito por portugueses
  5. Dia de São Jorge tem a tradicional feijoada
  6. Jornal acessado na Hemeroteca Digital.
  7. a b c Paulo Goethe (2 de maio de 2016). «O padre que perdeu para a feijoada». Diario de Pernambuco. Consultado em 12 de abril de 2023 
  8. «A feijoada não é invenção brasileira». Superinteressante. Consultado em 3 de março de 2017 
  9. a b Conheça as principais curiosidades sobre o universo da gastronomia - Feijoada
  10. GASPAR, Lúcia. O Carapuceiro. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: Fundação Joaquim Nabuco Arquivado em 21 de setembro de 2009, no Wayback Machine., acessado em 26 de outubro de 2009.
  11. «Feijoada: breve história de uma instituição comestível» (PDF). Itamaraty. Consultado em 4 de julho de 2017. Arquivado do original (PDF) em 3 de setembro de 2013 
  12. Gripe espanhola (uma página de Pedro Nava)
  13. Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins, Capítulo VI.
  14. Feijoada não precisa ser vilã da saúde: 7 formas de deixá-la mais saudável
  15. «Feijoada pernambucana: menos feijão, mais legumes». Mulher na real. Consultado em 12 de abril de 2023 
  16. «Feijoada Pernambucana». Consultado em 12 de abril de 2023 

Bibliografia

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Feijoada à brasileira
  • CASCUDO, Luís da Câmara (1983). História da Alimentação no Brasil 2ª ed. Rio de Janeiro: Itatiaia 
  • DITADI, Carlos Augusto Silva - Cozinha Brasileira: Feijoada Completa- Revista Gula, n. 67, Editora Trad. São Paulo. 1998.
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