João Vaz Corte Real: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 3: Linha 3:
[[Ficheiro:Dighton_Rock-Davis_photograph.jpg|thumb|255px|A pedra de Dighton em 1863.]]
[[Ficheiro:Dighton_Rock-Davis_photograph.jpg|thumb|255px|A pedra de Dighton em 1863.]]
[[Ficheiro:A Pedra de Dighton no Rio Taunton, ate ser removida para o Museu en 1963, pesa 40 toneladas!.jpg|thumb|255px| A [[pedra de Dighton]] na sua posição original no rio Taunton.]]
[[Ficheiro:A Pedra de Dighton no Rio Taunton, ate ser removida para o Museu en 1963, pesa 40 toneladas!.jpg|thumb|255px| A [[pedra de Dighton]] na sua posição original no rio Taunton.]]
'''João Vaz Corte-Real''' ([[Algarve]], c. [[1420]] &mdash; [[Angra do Heroísmo|Vila de Angra]], [[2 de julho]] de [[1496]]) foi um [[navegador]] e [[explorador]] [[Portugal|português]], [[capitão do donatário]] na [[ilha Terceira]] da parte de Angra. Homem ligado às navegações portuguesas do [[século XV]], liderou o grupo de colonos que fundaram a [[vila de Angra]], hoje a cidade de [[Angra do Heroísmo]].<ref name="enciclo">[http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=2175 «Corte-Real, João Vaz» na ''Enciclopedia Açoriana''].</ref> Dois dos seus filhos, [[Miguel Corte Real]] e [[Gaspar Corte Real]], realizaram viagens de exploração do noroeste do Atlântico que os levaram às costas da [[América do Norte]], sendo-lhes atribuído o reconhecimento da [[Terra Nova]].<ref name="genea">António Ornelas Mendes & Jorge Forjaz, ''Genealogias da Ilha Terceira'', vol. III, pp. 469-471. DisLivro, Livro, 2007 (978-972-8876-98-2).</ref><ref name="fa">[[Manuel Luís Maldonado]], ''Fenix Angrence'', I, III. Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1989-1997.</ref><ref name="cr">[[Ernesto do Canto]], ''Os Cortes Reais. Memória histórica acompanhada de muitos documentos inéditos''. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 1883.</ref>
'''João Vaz Corte-Real''' ([[Algarve]], c. [[1420]] &mdash; [[Angra do Heroísmo|Vila de Angra]], [[2 de julho]] de [[1496]]) foi um [[navegador]] e [[explorador]] [[Portugal|português]], [[capitão do donatário]] na [[ilha Terceira]] da parte de Angra. Homem ligado às navegações portuguesas do [[século XV]], liderou o grupo de colonos que fundaram a [[vila de Angra]], hoje a cidade de [[Angra do Heroísmo]].<ref name="enciclo">[http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=2175 «Corte-Real, João Vaz» na ''Enciclopedia Açoriana''].</ref> Dois dos seus filhos, [[Miguel Corte Real]] e [[Gaspar Corte Real]], realizaram viagens de exploração do noroeste do Atlântico que os levaram às costas da [[América do Norte]], sendo-lhes atribuído o reconhecimento da [[Terra Nova]].<ref name="genea">António Ornelas Mendes & Jorge Forjaz, ''Genealogias da Ilha Terceira'', vol. III, pp. 469-471. DisLivro, Livro, 2007 (978-972-8876-98-2).</ref><ref name="fa">[[Manuel Luís Maldonado]], ''Fenix Angrence'', I, III. Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1989-1997.</ref><ref name="cr">[[Ernesto do Canto]], ''Os Cortes Reais. Memória histórica acompanhada de muitos documentos inéditos''. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 1883.</ref><ref>Dionísio David, «Corte-Real, João Vaz» in ''Dicionário da História dos Descobrimentos'', vol. I, p. 303. Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.</ref>

==Biografia==
==Biografia==
João Vaz Corte-Real foi filho ilegítimo de [[Vasco Anes Corte Real (I)|Vasco Anes Corte-Real]], cavaleiro da Casa Real, fronteiro-mor do Algarve, alcaide-mor de Tavira e Silves e armador-mor do rei D. [[Afonso V de Portugal|Afonso V]], e de mãe desconhecida (embora alguns autores a apontem como sendo Mor Afonso Escudeira<ref>A referência para o nome de Mor Afonso Escudeira é [[Felgueiras Gaio]], ''Nobiliário de Famílias de Portugal'', tit. de Monizes, §1, n.º 3 Henrique Moniz.</ref>). O pai estivera na [[tomada de Ceuta]], em 21 de agosto de 1415, e recebera, por serviços ao rei, diversos bens em [[Tavira]].<ref>[http://archive.org/stream/archivodosaore04pont#page/n488/mode/1up ''Archivo dos Açores'', vol. 4, pp. 473 e seg.]</ref>
João Vaz Corte-Real foi filho ilegítimo de [[Vasco Anes Corte Real (I)|Vasco Anes Corte-Real]], cavaleiro da Casa Real, fronteiro-mor do Algarve, alcaide-mor de Tavira e Silves e armador-mor do rei D. [[Afonso V de Portugal|Afonso V]], e de mãe desconhecida (embora alguns autores a apontem como sendo Mor Afonso Escudeira<ref>A referência para o nome de Mor Afonso Escudeira é [[Felgueiras Gaio]], ''Nobiliário de Famílias de Portugal'', tit. de Monizes, §1, n.º 3 Henrique Moniz.</ref>). O pai estivera na [[tomada de Ceuta]], em 21 de agosto de 1415, e recebera, por serviços ao rei, diversos bens em [[Tavira]].<ref>[http://archive.org/stream/archivodosaore04pont#page/n488/mode/1up ''Archivo dos Açores'', vol. 4, pp. 473 e seg.]</ref>
Linha 16: Linha 15:
Pouco depois de ser nomeado [[capitão do donatário|capitão-donatário]] de [[Angra do Heroísmo|Angra]], partiu para os [[Açores]], acompanhado de sua mulher e filhos e de pelo menos dois dos seus cunhados, Pedro Abarca e Isabel Abarca, pois ambos casaram em Angra.<ref name="genea"/> Fixou-se no então incipiente povoado de [[vila de Angra|Angra]], que fez sede da sua capitania. Com a sua chega a Angra, que terá ocorrido em finais de 1474 ou princípios de 1475, teve lugar o início da segunda fase do povoamento da ilha Terceira.<ref name="enciclo" />
Pouco depois de ser nomeado [[capitão do donatário|capitão-donatário]] de [[Angra do Heroísmo|Angra]], partiu para os [[Açores]], acompanhado de sua mulher e filhos e de pelo menos dois dos seus cunhados, Pedro Abarca e Isabel Abarca, pois ambos casaram em Angra.<ref name="genea"/> Fixou-se no então incipiente povoado de [[vila de Angra|Angra]], que fez sede da sua capitania. Com a sua chega a Angra, que terá ocorrido em finais de 1474 ou princípios de 1475, teve lugar o início da segunda fase do povoamento da ilha Terceira.<ref name="enciclo" />


Para alé mde capitão do donatário em Angra desde 1474, por carta régia de 4 de maio de 1483 foi-lhe também concedida a capitania da [[ilha de São Jorge]], cujo povoamente ficou sob sua responsabilidade.<ref>[https://archive.org/details/arquivoaoriano01unkngoog/page/n15/mode/2up ''Archivo dos Açores'', vol. 3 (1881), p. 13].</ref> Por carta régia de 14 de maio de 1495 foi feito alcaide-mor do Castelo de Angra e da ilha de São Jorge.<ref name="genea"/><ref>[[Francisco Ferrerira Drummond]], ''Anais da ilha Terceira'', vol. I, p. 504.</ref>
Para além de capitão do donatário em Angra desde 1474, por carta régia de 4 de maio de 1483 foi-lhe também concedida a capitania da [[ilha de São Jorge]], cujo povoamente ficou sob sua responsabilidade.<ref>[https://archive.org/details/arquivoaoriano01unkngoog/page/n15/mode/2up ''Archivo dos Açores'', vol. 3 (1881), p. 13].</ref> Por carta régia de 14 de maio de 1495 foi feito alcaide-mor do Castelo de Angra e da ilha de São Jorge.<ref name="genea"/><ref>[[Francisco Ferrerira Drummond]], ''Anais da ilha Terceira'', vol. I, p. 504.</ref>


Em Angra instalou-se na base da colina designada pelo Outeiro, sobre a qual se estabeleceu a primeira fortificação do povoado, o [[Castelo de São Luís]] (ou [[Castelo dos Moinhos]]), hoje a Memória. Na sua ''Fenix Angrense'', [[Manuel Luís Maldonado]] descreve assim a sua ação em Angra:<ref>Manuel Luís Maldonado, ''Fenix Angrence'', vol. 3, p. 15.</ref>
Em Angra instalou-se na base da colina designada pelo Outeiro, sobre a qual se estabeleceu a primeira fortificação do povoado, o [[Castelo de São Luís]] (ou [[Castelo dos Moinhos]]), hoje a Memória.<ref>[[Joaquim Moniz dde Sá Corte Real, «A fundação da cidade de Angra - Um notável solar primitivo» in ''A União'', edições de 14 e 15 de junho de 1938.</ref> Na sua ''Fenix Angrense'', [[Manuel Luís Maldonado]] descreve assim a sua ação em Angra:<ref>Manuel Luís Maldonado, ''Fenix Angrence'', vol. 3, p. 15.</ref>
:«''Fundou o assento da sua vivenda nas casas e sítio que hoje se diz do Marquês, que lavrou com a sumptuosidade e largueza que nelas se mostram, e basta se diga ser a melhor morada de Angra. Mandou fazer o Curral do Concelho, que foi a primeira obra de bem comum que se fez em Angra [...]. Deu fim às casas da Alfândega, alargando o sítio delas por ser pouco e limitado. Fortificou a famosa [[Ribeira dos Moinhos|Ribeira de Angra]], unindo a ela as fontes do pé da serra, que se diz a "[[Nasce Água|A Nascença de Água]]", despenhando-a por um alto padrasto, que se diz o Outeiro, em que se termina a largueza de Angra, onde se fabricou a maior parte dos moinhos [...]. Ordenou as posturas da Câmara e o governo do bem comum. [...] Começou em tempo deste capitão na ilha a cultura do [[pastel]], que foi bem e verdadeiramente a que aumentou, e engrandeceu a ilha com crédito e riqueza [...]. Doou no ano de 1480 as terras que se dizem das Contendas de que estava na posse João Leonardes, por carta que lhe havia passado [[Diogo de Teive (navegador)|Diogo de Teve]], no ano de 1465, em ausência de [[Jácome de Bruges]], a seu filho [[Gaspar Corte Real]], com o pretexto não só de não as haver o dito Leonardes aproveitado nos cinco anos condicionais, mas por pertencerem à jurisdição de Angra, em que o Teive não tinha poder algum. Agravou deste proceder João Leonardes, e durou o pleito desta demanda não menos de trinta e dois anos, em razão do qual se pôs o nome das Contendas àquelas terras, em que se diz tivera sentença por si João Leonardes, dada em 28 de janeiro de 1514. Porém sem efeito, por flata de ministro que desse a execução por ser contra o donatáio. [...] Ordenou o compromisso da Confraria do Espírito Santo e Hospital de Angra, que consta ser feita em 15 de março de 1492. [...] Aumentou com toda a ânsia a povoação da ilha de São Jorge, a que tinha dado princípio [[Guilherme Brandath]] no lugar do [[Topo]], animando a muitos que a ela passaram [...] Acabaram-se as obras do [[Castelo de São Cristóvão]], que se diz dos Moinhos, em tempo deste capitão''»
:«''Fundou o assento da sua vivenda nas casas e sítio que hoje se diz do Marquês, que lavrou com a sumptuosidade e largueza que nelas se mostram, e basta se diga ser a melhor morada de Angra. Mandou fazer o Curral do Concelho, que foi a primeira obra de bem comum que se fez em Angra [...]. Deu fim às casas da Alfândega, alargando o sítio delas por ser pouco e limitado. Fortificou a famosa [[Ribeira dos Moinhos|Ribeira de Angra]], unindo a ela as fontes do pé da serra, que se diz a "[[Nasce Água|A Nascença de Água]]", despenhando-a por um alto padrasto, que se diz o Outeiro, em que se termina a largueza de Angra, onde se fabricou a maior parte dos moinhos [...]. Ordenou as posturas da Câmara e o governo do bem comum. [...] Começou em tempo deste capitão na ilha a cultura do [[pastel]], que foi bem e verdadeiramente a que aumentou, e engrandeceu a ilha com crédito e riqueza [...]. Doou no ano de 1480 as terras que se dizem das Contendas de que estava na posse João Leonardes, por carta que lhe havia passado [[Diogo de Teive (navegador)|Diogo de Teve]], no ano de 1465, em ausência de [[Jácome de Bruges]], a seu filho [[Gaspar Corte Real]], com o pretexto não só de não as haver o dito Leonardes aproveitado nos cinco anos condicionais, mas por pertencerem à jurisdição de Angra, em que o Teive não tinha poder algum. Agravou deste proceder João Leonardes, e durou o pleito desta demanda não menos de trinta e dois anos, em razão do qual se pôs o nome das Contendas àquelas terras, em que se diz tivera sentença por si João Leonardes, dada em 28 de janeiro de 1514. Porém sem efeito, por flata de ministro que desse a execução por ser contra o donatáio. [...] Ordenou o compromisso da Confraria do Espírito Santo e Hospital de Angra, que consta ser feita em 15 de março de 1492. [...] Aumentou com toda a ânsia a povoação da ilha de São Jorge, a que tinha dado princípio [[Guilherme Brandath]] no lugar do [[Topo (Nossa Senhora do Rosário)|Topo]], animando a muitos que a ela passaram [...] Acabaram-se as obras do [[Castelo de São Cristóvão]], que se diz dos Moinhos, em tempo deste capitão''»


Embora a sua acção seja pouco conhecida, por falta de documentação, sabemos que distribuiu terras em regime de sesmaria, uma das suas atribuições, enquanto capitão-do-donatário; mandou edificar, à sua custa, a capela-mor do Convento de São Francisco, em Angra; e, juntamente com outros povoadores, instituiu o Hospital do Santo Espírito de Angra, por compromisso de 15 de março de 1492.<ref name="enciclo" />
Embora a sua acção seja pouco conhecida, por falta de documentação, sabemos que distribuiu terras em regime de [[sesmaria]], uma das suas principais atribuições enquanto capitão-do-donatário. Também se sabe que mandou edificar, à sua custa, a capela-mor do [[Convento de São Francisco de Angra]] e que, juntamente com outros povoadores, instituiu o [[Hospital do Santo Espírito de Angra]], por compromisso de 15 de março de 1492.<ref name="enciclo" />


Sabe-se que João Vaz Corte-Real esteve algumas vezes ausente da ilha Terceira, sendo nessas ocasiões substituído nas funções de capitão do donatário por um dos seus filhos Gaspar e Miguel, que se destacariam anos depois como navegadores.
Sabe-se que João Vaz Corte-Real esteve algumas vezes ausente da ilha Terceira, sendo nessas ocasiões substituído nas funções de capitão do donatário por um dos seus filhos Gaspar e Miguel, que se destacariam anos depois como navegadores.

Revisão das 22h28min de 28 de novembro de 2020

João Vaz Corte Real
Nascimento 1420
Faro
Morte 2 de julho de 1496
Angra do Heroísmo
Cidadania Reino de Portugal
Filho(a)(s) Gaspar Corte Real, Miguel Corte Real, Vasco Anes Corte-Real
Ocupação explorador
Estátua de João Vaz Corte Real que se encontra no Museu de Angra do Heroísmo, Açores.
A pedra de Dighton em 1863.
A pedra de Dighton na sua posição original no rio Taunton.

João Vaz Corte-Real (Algarve, c. 1420Vila de Angra, 2 de julho de 1496) foi um navegador e explorador português, capitão do donatário na ilha Terceira da parte de Angra. Homem ligado às navegações portuguesas do século XV, liderou o grupo de colonos que fundaram a vila de Angra, hoje a cidade de Angra do Heroísmo.[1] Dois dos seus filhos, Miguel Corte Real e Gaspar Corte Real, realizaram viagens de exploração do noroeste do Atlântico que os levaram às costas da América do Norte, sendo-lhes atribuído o reconhecimento da Terra Nova.[2][3][4][5]

Biografia

João Vaz Corte-Real foi filho ilegítimo de Vasco Anes Corte-Real, cavaleiro da Casa Real, fronteiro-mor do Algarve, alcaide-mor de Tavira e Silves e armador-mor do rei D. Afonso V, e de mãe desconhecida (embora alguns autores a apontem como sendo Mor Afonso Escudeira[6]). O pai estivera na tomada de Ceuta, em 21 de agosto de 1415, e recebera, por serviços ao rei, diversos bens em Tavira.[7]

Apesar de filho de um nobre abastado, João Vaz Corte Real era bastardo e secundogénito, sendo por isso remota a possibilidade de suceder na casa paterna, circunstâncias em que a aventura ultramarina surgia como oportunidade obter o património de que carecia e para afirmar a respectiva linhagem.[1] Reconhecido por seu pai, era morador em Tavira e porteiro-mor do infante D. Fernando, duque de Viseu e pai do futuro rei D. Manuel, quando casou com Maria Abarca, filha de Pedro Abarca, um fidalgo galego.

Não se conhece o percurso pessoal de João Vaz Corte-Real até receber a capitania de Angra, a qual lhe foi doada por carta de 2 de abril de 1474.[8] A doação foi feita na sequência da divisão da ilha Terceira em duas capitanias, a de Angra e a da Praia, na sequência da morte do primeiro capitão da ilha Terceira, Jácome de Bruges, e dos conflitos entre os seus herdeiros e os de Diogo de Teive. A doação da capitania foi feita em recompensa de serviços prestados, sendo que as fontes mais antigas consideram que os mesmos foram realizados em viagens de exploração no Atlântico.[1]

Entre os «serviços prestados» algumas fontes consideram que João Vaz Corte-Real terá sido enviado por D. Afonso V à Dinamarca, antes de 1473, para participar numa expedição, encabeçada pelo navegador alemão Didrik Pining, destinada a estabelecer e renovar as antigas ligações da Dinamarca com Gronelândia.[9] Corte-Real teria ainda organizado anteriormente outras viagens que o teriam levado até às costas da América do Norte, explorando desde as margens do Rio Hudson e São Lourenço até ao Canadá e Península do Labrador.[10]

Pouco depois de ser nomeado capitão-donatário de Angra, partiu para os Açores, acompanhado de sua mulher e filhos e de pelo menos dois dos seus cunhados, Pedro Abarca e Isabel Abarca, pois ambos casaram em Angra.[2] Fixou-se no então incipiente povoado de Angra, que fez sede da sua capitania. Com a sua chega a Angra, que terá ocorrido em finais de 1474 ou princípios de 1475, teve lugar o início da segunda fase do povoamento da ilha Terceira.[1]

Para além de capitão do donatário em Angra desde 1474, por carta régia de 4 de maio de 1483 foi-lhe também concedida a capitania da ilha de São Jorge, cujo povoamente ficou sob sua responsabilidade.[11] Por carta régia de 14 de maio de 1495 foi feito alcaide-mor do Castelo de Angra e da ilha de São Jorge.[2][12]

Em Angra instalou-se na base da colina designada pelo Outeiro, sobre a qual se estabeleceu a primeira fortificação do povoado, o Castelo de São Luís (ou Castelo dos Moinhos), hoje a Memória.[13] Na sua Fenix Angrense, Manuel Luís Maldonado descreve assim a sua ação em Angra:[14]

«Fundou o assento da sua vivenda nas casas e sítio que hoje se diz do Marquês, que lavrou com a sumptuosidade e largueza que nelas se mostram, e basta se diga ser a melhor morada de Angra. Mandou fazer o Curral do Concelho, que foi a primeira obra de bem comum que se fez em Angra [...]. Deu fim às casas da Alfândega, alargando o sítio delas por ser pouco e limitado. Fortificou a famosa Ribeira de Angra, unindo a ela as fontes do pé da serra, que se diz a "A Nascença de Água", despenhando-a por um alto padrasto, que se diz o Outeiro, em que se termina a largueza de Angra, onde se fabricou a maior parte dos moinhos [...]. Ordenou as posturas da Câmara e o governo do bem comum. [...] Começou em tempo deste capitão na ilha a cultura do pastel, que foi bem e verdadeiramente a que aumentou, e engrandeceu a ilha com crédito e riqueza [...]. Doou no ano de 1480 as terras que se dizem das Contendas de que estava na posse João Leonardes, por carta que lhe havia passado Diogo de Teve, no ano de 1465, em ausência de Jácome de Bruges, a seu filho Gaspar Corte Real, com o pretexto não só de não as haver o dito Leonardes aproveitado nos cinco anos condicionais, mas por pertencerem à jurisdição de Angra, em que o Teive não tinha poder algum. Agravou deste proceder João Leonardes, e durou o pleito desta demanda não menos de trinta e dois anos, em razão do qual se pôs o nome das Contendas àquelas terras, em que se diz tivera sentença por si João Leonardes, dada em 28 de janeiro de 1514. Porém sem efeito, por flata de ministro que desse a execução por ser contra o donatáio. [...] Ordenou o compromisso da Confraria do Espírito Santo e Hospital de Angra, que consta ser feita em 15 de março de 1492. [...] Aumentou com toda a ânsia a povoação da ilha de São Jorge, a que tinha dado princípio Guilherme Brandath no lugar do Topo, animando a muitos que a ela passaram [...] Acabaram-se as obras do Castelo de São Cristóvão, que se diz dos Moinhos, em tempo deste capitão»

Embora a sua acção seja pouco conhecida, por falta de documentação, sabemos que distribuiu terras em regime de sesmaria, uma das suas principais atribuições enquanto capitão-do-donatário. Também se sabe que mandou edificar, à sua custa, a capela-mor do Convento de São Francisco de Angra e que, juntamente com outros povoadores, instituiu o Hospital do Santo Espírito de Angra, por compromisso de 15 de março de 1492.[1]

Sabe-se que João Vaz Corte-Real esteve algumas vezes ausente da ilha Terceira, sendo nessas ocasiões substituído nas funções de capitão do donatário por um dos seus filhos Gaspar e Miguel, que se destacariam anos depois como navegadores.

João Vaz fez seu testamento em Angra, a 3 de fevereiro de 1496, e várias fontes apontam que o seu falecimento ocorreu a 2 de julho desse mesmo ano de 1496, sendo sepultado na capela-mor do primitivo Convento de São Francisco de Angra.[2] Na capitania de Angra, sucedeu-lhe o filho primogénito, Vasco Anes Corte-Real, vedor da Fazenda Real e cavaleiro do Conselho de El-Rei.

Os filhos e a pedra de Dighton

Ver artigo principal: Pedra de Dighton

Os seus três filhos, todos navegadores audaciosos, Gaspar Corte-Real, Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real, continuaram o espírito de aventura de seu pai tendo os dois primeiros desaparecido depois de expedições marítimas, em 1501 e 1502 respectivamente. Vasco Anes quis ir em busca de seus irmãos mas o Rei não lhe concedeu autorização, tendo sucedido a seu pai como Capitão-Donatário.[carece de fontes?]

Seu filho mais novo, Gaspar, em 1500 fez a sua primeira viagem à Terra Nova (New Found Land) então chamada "Terra dos Corte-Reais".[carece de fontes?] Partiu em 1501 numa segunda expedição ao Continente Americano e nunca mais voltou.[carece de fontes?] O outro filho Miguel, partiu em 1502 em busca de seu irmão e também nunca mais foi visto.[carece de fontes?]

Em 1918 Edmund Delabarre, da Brown University, escreveu (em inglês): "Eu vi, clara e indubitavelmente, a data 1511. Ninguém até à data a viu, ou detectou, na pedra ou em fotografia, mas uma vez vista, a sua presença genuína não pode ser negada".[carece de fontes?]

Um médico luso-americano, Manuel Luciano da Silva, que como historiador e pesquisador amador, viu e reconheceu em Fall River, Massachusetts, prova vastamente ignorada[carece de fontes?] de que Miguel Corte-Real ali esteve em 1511. Essa prova é constituída por uma grande pedra, conhecida pela Dighton Rock, em que se podem ver vários escudos em V com cruzes idênticas às usadas nas velas das Naus e Caravelas Portuguesas:

  • MIGUEL CORTEREAL
  • V. DEI HIC DUX IND.
  • 1511.

Depois de gravada, a pedra de Dighton esteve 500 anos ao "sabor dos ventos e das marés". A erosão é tremenda, estando a pedra muito maltratada.[carece de fontes?]

Relações familiares

Foi filho de Vasco Anes Corte-Real e de Mor Afonso Escudeiro. Casou com Maria Abarca de quem teve 7 filhos:

  • Vasco Anes Corte-Real (II), alcaide-mor de Tavira, nascido em 1465, casou com Joana Pereira.
  • Miguel Corte-Real (c. 1450 – talvez em 1502), casou com Isabel de Castro.
  • Gaspar Corte-Real.
  • Joana Vaz Côrte-Real, nascida em 1465. Casou duas vezes, a primeira com Rui Dias Pacheco e a segunda com Guilherme Moniz Barreto.
  • Iria Côrte-Real, nascida em 1440. Casou com Pedro Goes da Silva.
  • Lourenço Vaz Corte-Real, casado com Bárbara Pereira.
  • Isabel Corte-Real, casou com Jacob de Utra

Notas

  1. a b c d e «Corte-Real, João Vaz» na Enciclopedia Açoriana.
  2. a b c d António Ornelas Mendes & Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, vol. III, pp. 469-471. DisLivro, Livro, 2007 (978-972-8876-98-2).
  3. Manuel Luís Maldonado, Fenix Angrence, I, III. Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1989-1997.
  4. Ernesto do Canto, Os Cortes Reais. Memória histórica acompanhada de muitos documentos inéditos. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 1883.
  5. Dionísio David, «Corte-Real, João Vaz» in Dicionário da História dos Descobrimentos, vol. I, p. 303. Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
  6. A referência para o nome de Mor Afonso Escudeira é Felgueiras Gaio, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit. de Monizes, §1, n.º 3 Henrique Moniz.
  7. Archivo dos Açores, vol. 4, pp. 473 e seg.
  8. Archivo dos Açores, vol. 4 (1882), p. 157-158.
  9. Die Entdeckung Amerikas.
  10. Kirsten A. Seaver: The frozen echo: Greenland and the exploration of North America, ca. A.D. 1000–1500, Stanford University Press, 1997, ISBN 978-0-8047-3161-4, pp. 199 e seguintes. (http://books.google.com.br/books?id=5qonlDkZW3MC&&pg=PA199&f=false). No entanto, o raciocínio de Seaver, amplamente baseado em Samuel Morrison, é inconclusivo e suas fraquezas são abordadas por Janus Möller Jensen Denmark and the Crusades (Memento vom 19. agosto 2014 im Internet Archive), 1.ª ed., 2005, p. 164, claramente demonstrado.
  11. Archivo dos Açores, vol. 3 (1881), p. 13.
  12. Francisco Ferrerira Drummond, Anais da ilha Terceira, vol. I, p. 504.
  13. [[Joaquim Moniz dde Sá Corte Real, «A fundação da cidade de Angra - Um notável solar primitivo» in A União, edições de 14 e 15 de junho de 1938.
  14. Manuel Luís Maldonado, Fenix Angrence, vol. 3, p. 15.

Bibliografia

  • História de Portugal XIII – Dicionário de Personalidades. QuidNovi, 2004 (ISBN 989-554-118-X).
  • Norman Berdichevsky: The role of "sibling rivalry" in the "(re)discovery" of America controversy. In: Journal of Cultural Geography. Vol. 12, n.º 1, 1991, pp. 59–68.
  • Thomas L. Hughes: The German discovery of America. A review of the controversy over Pining’s 1473 voyage of exploration. In: German studies review. Vol. 27, n.º 3, 2004, pp. 503–526.
    (Aktueller Forschungsüberblick, der die offenen Fragen der verschiedenen Interpretationen aufzählt und zu dem Fazit kommt, dass sich nicht eindeutig entscheiden lässt, wie weit Pinings Reise führte; vgl. den Bericht über ein Symposium des GHI Washington am 25. Februar 2003, PDF, 37 kB.)
  • Helge Ingstad: The Norse discovery of North America. In: Lund studies in English. Vol. 78, 1988, S. 149–155.
  • Klaus-Peter Kiedel: Eine Expedition nach Grönland im Jahre 1473. In: Deutsches Schiffahrtsarchiv. Bd. 3, 1980, S. 115–140.
  • Anton Josef Knott, Günther E. H. Baumann, Hans Schlotter: 20 Jahre vor Columbus landete der Hildesheimer Dietrich Pining in Amerika. Hildesheim 1992 (Publikationen des Hildesheimer Heimat- und Geschichtsvereins).
  • Robert McGhee: Northern Approaches. Before Columbus: Early European Visitors to the Shores of the "New World". In: Beaver. Vol. 72, 1992, S. 6–23.
  • Manuscrito de Genealogias da ilha de São Jorge do padre Manuel de Azevedo da Cunha, que se encontra depositado na Biblioteca Publica e Arquivo de Angra do Heroísmo. (Palácio Bettencourt).

Ligações externas