Guerra Luso-Castelhana (1295-1297)

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Guerra Luso-Castelhana de 1295-1297
Guerra Civil Castelhana 1296-1300

Divisão política da península Ibérica, com as Coroas de Leão e Castela a amarelo.
Data 1296 - 1297
Local Castela, Espanha
Desfecho Tratado de Alcanizes
Beligerantes
Reino de Leão e Castela. Reino de Portugal

Apoiado por
Coroa de Aragão
Partidários do Infante D. Afonso de la Cerda

Partidários do Infante D. João de Valencia de Campos
Comandantes
Fernando IV de Castela
Maria de Molina.
D. Dinis

Apoiado por
Jaime II de Aragão
Pedro Coronel
Afonso de la Cerda

João de Valencia de Campos
Forças
Desconhecido 1500 cavaleiros portugueses[1]
3000 peões portugueses[1]
Baixas
Desconhecido Desconhecido

A Guerra Luso-Castelhana de 1295-1297 foi um confronto armado entre o rei português D. Dinis e o rei D. Fernando IV de Leão e Castela, episódio integrante da Guerra Civil Castelhana que por então eclodiu.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Em 1230, a Coroa de Leão unira-se com a Coroa de Castela, formando assim um grande bloco hegemónico na península Ibérica inconveniente tanto para Portugal a ocidente, como para Aragão a leste e também para o emirado muçulmano de Granada a sul.[1]

A morte de Sancho IV de Leão e Castela abriu um problema de sucessão. O seu herdeiro Fernando IV era uma criança com 10 anos e a regência da Coroa passou para as mãos da sua mãe, Maria de Molina. Insatisfeitos com o governo, cresceram as queixas de nobres, bem como as pretensões ao trono, pois o rei D. Fernando IV havia nascido fora do casamento. Reclamava-o Afonso de la Cerda, por ser filho de Fernando de la Cerda, este filho primogénito de Afonso X de Leão e Castela, avô de Fernando IV.[1] Também D. João de Valencia de Campos, outro filho de Afonso X.

D. João de Valência de Campos encontrou-se com D. Dinis na Guarda em Julho de 1295, a pedir-lhe apoios para a sua causa no reino vizinho. A 1 de Agosto de 1295, o rei D. Dinis declarou guerra a D. Fernando IV e disto resultou, quase de imediato, uma reunião entre o rei português e D. Henrique o Senador, o tio e enviado do rei castelhano, que lhe prometeu as vilas de Serpa, Moura, Aroche e Aracena em troca de paz.[1][2] As vilas foram entregues dois meses mais tarde, mas a falta de cooperação na resolução da demarcação das fronteiras levou D. Dinis a virar-se para uma aliança com os pretendentes aos tronos de Leão e Castela, bem como o rei de Aragão, D. Jaime II.[2]

Em Janeiro de 1296, o rei Jaime II de Aragão patrocinou um encontro entre Afonso de la Cerda e o irmão deste, o Infante D. Jão de Valência de Campos, com vista a despoliar Fernando IV e separar novamente Leão e Castela em duas Coroas independentes. D. João ficaria com a Coroa de Leão, com os reinos de Leão, Galiza, Astúrias e Sevilha, e Afonso de la Cerda ficaria com a Coroa de Castela, com os reinos de Castela, Toledo, Córdova, Múrcia e Reino de Xaém.[1]

Assim, o rei D. Dinis uniu-se a D. Jaime II de Aragão e ao emir Maomé II de Granada, que se juntou à coligação em Março de 1296, com vista a repartirem as Coroas de Leão e Castela entre os dois pretendentes.[1] Em Março D. Jaime entregou uma declaração formal de guerra a Fernando IV e à sua mãe, Maria de Molina.[1]

O alvo da campanha seria Valladolid, onde se encontravam o filho e a mãe.[1]

A campanha de D. Dinis em Leão e Castela, 1296[editar | editar código-fonte]

Na primavera de 1296, os exércitos aragoneses penetram em solo castelhano e fazem aclamar em Leão D. Juan como rei de Leão. De lá a hoste prosseguiu para Sahagún, onde Afonso de la Cerda foi proclamado rei de Castela.[1] Em Maio, iniciam um cerco à poderosa fortaleza de Mayorga de Campos, para a qual não estavam preparados e por isso retiram-se em Agosto depois de ter eclodido a peste.[1]

A ocidente o rei D. Dinis procurou garantir a neutralidade da Ordem de Alcântara, detentora de importantes fortalezas raianas. Em Setembro deu-se o ataque português. O exército dionisino seria de grandes dimensões. Contaria com cerca de 1500 cavaleiros e 3000 peões, entre 500 cavaleiros e 2000 peões das mesnadas dos nobres; cerca de 500 cavaleiros e 1000 peões das milícias concelhias; e cerca de 338 besteiros.[1]

Terá partido da Guarda entre a terceira e a quarta semana de Setembro em direcção a Ciudad Rodrigo, alcançada em três ou quatro dias. Passa dali por Salamanca e reúne-se então a D. Juan e Afonso de la Cerda e às hostes aragonesas sob o comando D. Pedro Coronel. Provavelmente sob o comando do rei português, as tropas dirigem-se a Tordesilhas e, dali para Simancas.[1]

Outras acções[editar | editar código-fonte]

Entretanto, na raia alentejana, as milícias de Elvas conquistam Campo Maior e Alvalade. No Alto Alentejo deu-se uma forte incursão castelhana comandada por Alfonso Perez de Guzman, no decurso do qual deu-se uma batalha campal com o grão-mestre da Ordem de Avis D. Lourenço Afonso, que correu mal às armas lusas.[1] Uma frota partida de Sevilha atacava também, por então, o porto de Lisboa, sendo derrotada ao largo de Sines.[1]

Retirada[editar | editar código-fonte]

Carecendo de meios para conquistar Valladolid, D. Dinis mudou-se para Medina del Campo, localidade mais afastada do principal bastião adversário, na margem esquerda do Douro, e logo, mais segura. De lá, iniciaram-se os preparativos para o regresso a casa enquanto as hostes aragonesas regressavam a Aragão. Aproximava-se o Outono e não convinha por então dar-se início a um cerco que poderia prologar-se pelo Inverno.[1]

De Medina del Campo, as tropas portuguesas pilharam o território à sua passagem, a caminho de Portugal. O castelo de Torres, nas proximidades de Castelo Rodrigo, foi tomado e guarnecido, porém foi reconquistado pelos castelhanos semanas mais tarde.[1]

Desfecho[editar | editar código-fonte]

Ainda que não se tenha logrado a partição das Coroas de Leão e Castela, lograram no entanto os portugueses ocupar o Ribacoa e obter algumas cidades alentejanas, ao passo que os Aragoneses conquistaram o reino de Múrcia.[1]

Os territórios adquiridos por Portugal na campanha de 1296, com alguns ajustes posteriores, veio a definir a actual fronteira portuguesa.[1] O Tratado de Alcanizes foi assinado, favorável a Portugal.[3] Também ficou acordado que o rei D. Fernando IV de Castela e a sua irmã D. Beatriz casar-se-iam com os filhos de D. Dinis, D. Constança e D. Afonso, respectivamente.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Miguel Gomes Martins: De Ourique a Aljubarrota: A Guerra Na Idade Média, A Esfera dos Livros, 2011, pp 197-214.
  2. a b Livermore, 1947, p. 154.
  3. H. V. Livermore: A History of Portugal, Cambridge University Press, 1947, p. 155.
  4. Livermore, 1947, p. 155.