História da Ucrânia: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m "à partir" não existe em português
Linha 63: Linha 63:
De início, os alemães foram recebidos como libertadores por muitos ucranianos, especialmente na Ucrânia Ocidental, que havia sido ocupada pelos soviéticos apenas em 1939. Entretanto, o controle alemão sobre os territórios ocupados não se preocupou em explorar o descontentamento ucraniano com as políticas soviéticas; ao revés, manteve as fazendas coletivas, executaram uma política de [[genocídio]] contra [[judeus]] e de deportação para trabalhar na [[Alemanha]]. Dessa forma, a maioria da população nos territórios ocupados passou a opor-se aos nazistas.
De início, os alemães foram recebidos como libertadores por muitos ucranianos, especialmente na Ucrânia Ocidental, que havia sido ocupada pelos soviéticos apenas em 1939. Entretanto, o controle alemão sobre os territórios ocupados não se preocupou em explorar o descontentamento ucraniano com as políticas soviéticas; ao revés, manteve as fazendas coletivas, executaram uma política de [[genocídio]] contra [[judeus]] e de deportação para trabalhar na [[Alemanha]]. Dessa forma, a maioria da população nos territórios ocupados passou a opor-se aos nazistas.


As perdas totais civis durante a guerra e a ocupação alemã na Ucrânia são estimadas em entre cinco e oito milhões de pessoas, inclusive mais de meio milhão de judeus. Dos onze milhões de soldados soviéticos mortos em batalha, cerca de um-quarto eram ucranianos étnicos.
As perdas totais civis durante a guerra e a ocupação alemã na Ucrânia são estimadas em entre cinco e oito milhões de pessoas, inclusive mais de meio milhão de judeus (bem pouco se compararmos aos 10 milhões de ucranianos mortos pelos soviéticos em 32/33). Dos onze milhões de soldados soviéticos mortos em batalha, cerca de um-quarto eram ucranianos étnicos (no entanto, nada que chegasse perto dos 10 milhões de ucranianos assasinados por Moscou no Holodomor).


== Reunificação e independência ==
== Reunificação e independência ==

Revisão das 06h37min de 29 de fevereiro de 2012

Esta é a história da Ucrânia desde a pré-história, passando pelo surgimento do primeiro Estado eslavo oriental na região correspondente ao atual território ucraniano. A um breve período de independência (1917-1921) após a Revolução Russa seguiu-se a absorção da Ucrânia pela União Soviética em 1922. As atuais fronteiras foram fixadas apenas em 1954. Recuperou sua independência em 1991, com a desintegração da URSS.

Pré-História

Ficheiro:Slavic peoples 6th century historical map.jpg
Território dos Povos Eslavos (Século VI)

Os primeiros casos de assentamento humano na Ucrânia recuam à quase 6.450 AP. A Cultura Cucuteni-Trypillian do Neolítico tardio surge em torno de 4.500-3.000 a.C.[1] As populações da Cultura Cucuteni-Trypillian durante a Idade do Cobre, residiam na porção oeste do que hoje é a atual Ucrânia, enquanto que a Cultura Sredny Stog se localizava mais a leste, sendo que esta foi sucedida posteriormente no início da Idade do Bronze pela Cultura Yamna ("Kurgan") das estepes e pela Cultura Catacumba no terceiro milênio a.C.

Durante a Idade do Ferro, outros povos emergiram na região como os Dácios, Cimérios, Citas, Sármatas e outras tribos nômades. O Reino Cita existiu nessa região entre 750-250 a.C.[2] Juntamente com as colônias da Grécia Antiga fundadas no século VI a.C. na costa nordeste do Mar Negro, as colônias de Tyras, Olbia e Hermonassa, continuaram como cidades do Império Romano e Império Bizantino até o século VI d.C.

No século III d.C., os Godos chegaram nas terras da Ucrânia em torno de 250-375 d.C., o qual eles chamaram de Oium, correspondente á cultura arqueológica Chernyakhov[3]. Os Ostrogodos se estabeleceram na área, mas sob a influência dos Hunos a partir de 350 d.C. Ao norte do reino ostrogodo havia a Cultura Kiev, florescendo entre os séculos II ao V, quando foram expulsos pelos Hunos. Após eles terem ajudado a derrotar os Hunos na Batalha de Nedao em 454, os Ostrogodos foram permitidos a se estabelecerem na Panónia.

Com o grande vácuo criado entre o fim do governo Huno e Godo, as tribos eslavas, possivelmente emergiram a partir da Cultura Kiev, começando a expandir sobre o atual território da Ucrânia durante o século V e para os Balcãs no século VI.

No século VII, o território da moderna Ucrânia era o centro do estado dos Protobúlgaros (também referido como Grande Bulgária Antiga) com sua capital na Fanagória. Ao final do século VII, a maior parte das tribos búlgaras migraram para diversas regiões e os que ficaram no estado foram absorvidos pelos Cazares, um povo semi-nômade da Ásia Central[3].

Os Casares fundaram o Reino Casar no sudeste do que hoje é parte da Europa, perto do Mar Cáspio e o Caucaso. O reino incluía o oeste do Cazaquistão, parte do leste da Ucrânia, Azerbaijão, sul da Rússia e a Criméia. Em torno de 800 d.C., o reino converteu ao Judaísmo.

O Principado de Kiev (800 - 1100)

Ver artigo principal: Principado de Kiev

Durante os séculos X e XI, o território da Ucrânia tornou-se o centro de um Estado poderoso e prestigioso na Europa, o Principado de Kiev, o que estabeleceu a base das identidades nacionais ucraniana e das demais nações eslavas orientais nos séculos subseqüentes. A capital do principado era Kiev, conquistada aos cazares por Askold e Dir por volta de 860. Conforme a Crônica Nestoriana, a elite do principado era formada, de início, por varegues provenientes da Escandinávia que foram mais tarde assimilados à população local de modo a formar a dinastia Rurik.

Mapa do Principado de Kiev.

O Principado de Kiev era formado por diversos domínios governados por príncipes ruríkidas aparentados. Kiev, o mais influente de todos os domínios, era cobiçada pelos diversos membros da dinastia, o que levava a enfrentamentos freqüentemente sangrentos. A Era Dourada do principado coincide com os reinados de Vladimir, o Grande (Volodymyr, 980-1015), que aproximou o seu Estado do cristianismo bizantino, e seu filho Yaroslav, o Sábio (1019-1054), que viu o principado atingir o zênite cultural e militar. O processo de fragmentação que se seguiu foi interrompido, em alguma medida, pelos reinados de Vladimir Monomakh (113-1125) e de seu filho Mstislav (1125-1132), mas o território terminou por desintregrar-se em entidades separadas após a morte daquele último príncipe. A invasão mongol do século XIII conferiu ao principado o golpe de misericórdia, do qual nunca se recuperaria.

A Comunidade Polaco-Lituana (1300 - 1600)

Na região correspondente ao atual território da Ucrânia, sucedeu ao Principado de Kiev os Principados de Halych e de Volodymyr-Volynskyi, posteriormente fundidos no Estado da Halych-Volynia. Em meados do século XIV, o Estado foi conquistado por Casimiro IV da Polônia, enquanto que o cerne do antigo Principado de Kiev - inclusive a cidade de Kiev - passou ao controle do Grão-Ducado da Lituânia. O casamento do Grão-Duque Jagelão da Lituânia com a Rainha Edviges da Polônia pôs sob controle dos soberanos lituanos a maior parte do território ucraniano.

Mapa da República das Duas Nações com as principais subdivisões maiores depois da Paz de Deulino em 1618.
  Livônia sueca e neerlandesa

Por força da União de Lublin, de 1569, que criou a Comunidade Polaco-Lituana, uma porção considerável do território ucraniano passou do controle lituano para o polonês, transferido para a coroa da Polônia. Sob pressão de um processo de "polonização", a maior parte da elite rutena (isto é, eslava ou eslavizada, mesmo que de origem lituana) converteu-se ao catolicismo. O povo, porém, manteve-se fiel à Igreja Ortodoxa, o que levou ao surgimento de tensões sociais demonstradas, por exemplo, pela União de Brest, de 1596, pela qual Sigismundo III Vasa tentou criar uma Igreja Católica Grega Ucraniana vinculada à Igreja Católica Romana. Os plebeus ucranianos, vendo-se sem a proteção da nobreza rutena - cada vez mais convertida ao catolicismo romano - voltou-se para os cossacos (fervorosamente ortodoxos) em busca de segurança.

Os cossacos (1600 - 1800)

Em meados do século XVII, um quase-Estado cossaco, o Zaporozhian Sich, foi criado pelos cossacos do Dniepre e pelos camponeses rutenos que fugiam da servidão polonesa. A Polônia não tinha o controle efetivo daquela área, hoje no centro da Ucrânia, que se tornou então um Estado autônomo militarizado, ocasionalmente aliado à Comunidade. Entretanto, a servidão do campesinato pela nobreza polonesa, a ênfase da economia agrária da Comunidade na exploração da mão-de-obra servil e, talvez a razão mais importante, a supressão da fé ortodoxa terminaram por afastar os cossacos e a Polônia. Assim, os cossacos voltaram-se para a Igreja Ortodoxa Russa, o que levaria eventualmente à queda da Comunidade Polaco-Lituana.

A grande rebelião cossaca de 1648 contra a Comunidade e o Rei João II Casimiro levou à partilha da Ucrânia entre a Polônia e a Rússia, após o tratado de Pereyaslav e a Guerra Russo-Polonesa. Com as partilhas da Polônia no final do século XVIII entre a Prússia, a Áustria e a Rússia, o território correspondente à atual Ucrânia foi dividido entre os Impérios Habsburgo e Russo, aquele anexando a Ucrânia Ocidental (com o nome de província da Galícia), este incorporando o restante do território ucraniano.

Em que pese o fato de que as promessas de autonomia da Ucrânia conferidas pelo tratado de Pereyaslav nunca se materializaram, os ucranianos tiveram um papel importante no seio do Império Russo, participando das guerras contra as monarquias européias orientais e o Império Otomano e ascendendo por vezes aos mais altos postos da administração imperial e eclesiástica russa. Posteriormente, o regime tzarista passou a executar uma dura política de "russificação", proibindo o uso da língua ucraniana nas publicações e em público.

A partilha e o advento dos soviéticos

O colapso dos Impérios Russo e Austríaco após a Primeira Guerra Mundial, bem como a Revolução Russa de 1917, permitiram o ressurgimento do movimento nacional ucraniano em prol da auto-determinação. Entre 1917 e 1920, diversos Estados ucranianos se declararam independentes: o Rada Central, o Hetmanato, o Diretório, a República Popular Ucraniana e a República Popular Ucraniana Ocidental. Contudo, a derrota daquela última na Guerra Polaco-Ucraniana e o fracasso polonês na Ofensiva de Kiev (1920) da Guerra Polaco-Soviética fizeram com que a Paz de Riga, celebrada entre a Polônia e os bolcheviques em março de 1921, voltasse a dividir a Ucrânia. A porção ocidental foi incorporada à nova Segunda República Polonesa e a parte maior, no centro e no leste, transformou-se na República Socialista Soviética Ucraniana em março de 1919, posteriormente unida à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, quando esta foi criada, em dezembro de 1922.

O ideal nacional ucraniano sobreviveu durante os primeiros anos sob os soviéticos. A cultura e a língua ucranianas conheceram um florescimento quando da adoção da política soviética de nacionalidades. Seus ganhos foram postos a perder com as mudanças políticas dos anos 1930.

A industrialização soviética teve início da Ucrânia a partir do final dos anos 1920, o que levou a produção industrial do país a quadruplicar nos anos 1930. O processo impôs um custo elevado ao campesinato, demograficamente a espinha dorsal da nação ucraniana. Para atender a necessidade de maiores suprimentos de alimentos e para financiar a industrialização, Stálin estabeleceu um programa de coletivização da agricultura pelo qual o Estado combinava as terras e rebanhos dos camponeses em fazendas coletivas. O processo era garantido pela atuação dos militares e da polícia secreta: os que resistiam eram presos e deportados. Os camponeses viam-se obrigados a lidar com os efeitos devastadores da coletivização sobre a produtividade agrícola e as exigências de quotas de produção ampliadas. Tendo em vista que os integrantes das fazendas coletivas não estavam autorizados a receber grãos até completaram as suas impossíveis quotas de produção, a fome tornou-se generalizada. Este processo histórico, conhecido como Holodomor, levou milhões de pessoas a morrer de fome.

Na mesma época, os soviéticos acusaram a elite política e cultural ucraniana de "desvios nacionalistas", quando as políticas de nacionalidades foram revertidas no início dos anos 1930. Duas ondas de expurgos (1929-1934 e 1936-1938) resultaram na eliminação de quatro-quintos da elite cultural da Ucrânia.

A Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns membros do subterrâneo nacionalista ucraniano lutaram contra nazistas e soviéticos, indistintamente, enquanto que outros colaboravam com ambos os lados. Em 1941, os invasores alemães e seus aliados do Eixo avançaram contra um desesperado Exército Vermelho. No cerco de Kiev, a cidade foi designada pelos soviéticos como "Cidade Heróica" pela feroz resistência do Exército Vermelho e da população local. Mais de 660 000 soldados soviéticos foram capturados ali.

De início, os alemães foram recebidos como libertadores por muitos ucranianos, especialmente na Ucrânia Ocidental, que havia sido ocupada pelos soviéticos apenas em 1939. Entretanto, o controle alemão sobre os territórios ocupados não se preocupou em explorar o descontentamento ucraniano com as políticas soviéticas; ao revés, manteve as fazendas coletivas, executaram uma política de genocídio contra judeus e de deportação para trabalhar na Alemanha. Dessa forma, a maioria da população nos territórios ocupados passou a opor-se aos nazistas.

As perdas totais civis durante a guerra e a ocupação alemã na Ucrânia são estimadas em entre cinco e oito milhões de pessoas, inclusive mais de meio milhão de judeus (bem pouco se compararmos aos 10 milhões de ucranianos mortos pelos soviéticos em 32/33). Dos onze milhões de soldados soviéticos mortos em batalha, cerca de um-quarto eram ucranianos étnicos (no entanto, nada que chegasse perto dos 10 milhões de ucranianos assasinados por Moscou no Holodomor).

Reunificação e independência

Ficheiro:HPIM6011-nicaan-041223.JPG
Campanha ucraniana para Viktor Yushenko

Com o término da Segunda Guerra Mundial, as fronteiras da Ucrânia soviética foram ampliadas na direção oeste, unindo a maior parte dos ucranianos sob uma única entidade política. A maioria da população não-ucraniana dos territórios anexados foi deportada. Após a guerra, a Ucrânia tornou-se membro das Nações Unidas.

Ainda parte da União Soviética, em abril de 1986 a Ucrânia foi vítima de uma das maiores catástrofes da história: o acidente nuclear de Chernobil, que espalhou uma nuvem de poluição e radiação sobre grande parte do território europeu oriental.

O colapso da União Soviética em 1991 permitiu a convocação de um referendo que resultou na proclamação da independência da Ucrânia.

Em 2004, a chamada Revolução Laranja encerra a era Leonid Kuchma, levando ao poder o político pró-Ocidente Viktor Yushchenko. Dois anos depois, seu opositor Viktor Yanukovych, aliado da Rússia, ascendeu ao cargo de primeiro-ministro.

Referências

  1. «Trypillian Civilization 5,508 – 2,750 BC». The Trypillia-USA-Project. Consultado em 16 de dezembro de 2007 
  2. «Scythian». Encyclopædia Britannica. Consultado em 23 de abril de 2011 
  3. a b Magocsi, Paul Robert (1996). A History of Ukraine. Toronto: University of Toronto Press. p. 27. ISBN 0-8020-0830-5 

Predefinição:Link FA