Mapa de Céspedes Xeria

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Mapa de Céspedes Xeria
Mapa de Céspedes Xeria
Autor Luis de Céspedes García Xería
Data 1628
Dimensões 79 centímetro x 118 centímetro
Localização Arquivo Geral das Índias

Mapa de Céspedes Xeria (ou Mapa del río Ayembí y del Paraná, con sus afluentes, que recorrió Luis de Céspedes Jería, gobernador del Paraguay, al entrar en su jurisdicción desde Brasil) é um mapa produzido por D. Luis de Céspedes Xeria, em 8 de novembro de 1628, retratando a trajeto que percorreu entre a então vila de São Paulo de Piratininga até a Ciudad Real de Guayrá, no Paraguai, através rios Tietê e Paraná. Suas dimensões são 118 cm x 79 cm.[1]

O trajeto representado acontece entre 16 de julho e 18 de setembro de 1628.[1] O mapa é considerado o primeiro do sertão paulista feito já com os Europeus na região e é importante para estabelecer uma primeira identidade visual paulistana.[2]

Em 1917, o Museu Paulista adquiriu uma cópia do mapa, um fac-símile do documento original, que foi importante para o estabelecimento de uma narrativa e memória historiográfica paulista, além de ajudar a compreender a formação do território do que seria o estado de São Paulo.[1][2]

Descrição[editar | editar código-fonte]

O Mapa de Céspedes Xeria foi produzido para acompanhar uma carta de Céspedes Xería a D. Felipe IV da Espanha e provavelmente tinha o intuito de ilustrar o trajeto e facilitar o entendimento do rei.[1]

No documento, a representação cartográfica do trajeto é feita por uma linha vermelha, acompanhada de ilustrações de cidades, vilas e aldeias indígenas. Há pouca natureza representada, exceto pela margem dos próprios rios e algumas ilhas.[1]

O mapa não conta com coordenadas fidedignas, rosa dos ventos, indicação para o norte e nem preocupa-se com a projeção, escala e precisão geométrica.[1][2]

Em termos de representação, o rio Tietê encontra-se nos quadrantes superiores esquerdos do mapa, junto com a Vila de São Paulo.[2] Já o rio Paraná aparece nos quadrantes inferiores esquerdos. Os assentamentos nos quadrantes inferiores direitos. A legenda aparece dividida em três colunas e as cruzes ao longo do trajeto representam os locais de pouso.[1]

Versões do mapa[editar | editar código-fonte]

Existem duas versões do mapa: a primeira chamada de “Mapa 17 de Céspedes Xeria” e, uma segunda, intitulada “Mapa 17bis de Céspedes Xeria”. Ambas do Archivo General de Indias, na cidade de Sevilha, na Espanha.[1]

Apesar de Céspedes Xeria ser um militar, estudos apontam que foi ele mesmo quem colheu os dados e e realizou o desenho. O seu intuito era enviar o mapa a Felipe IV, sendo acompanhado, inclusive, com um texto seu, em primeira pessoa. Entretanto, Céspedes Xeria utilizou-se de copistas para produzir outras reproduções do documento. É por esta razão que as duas versões do mapa contam com caligrafias diferentes.[1]

Fac-símile no Museu Paulista[editar | editar código-fonte]

Fac-símile do Mapa de Céspedes Xeria presente no acervo do Museu Paulista

Affonso d’Escragnolle Taunay historiador e diretor do Museu Paulista entre 1917 e 1946 teve contato com o mapa durante as pesquisas que realizava na instituição. Tinha grande interesse por História do Brasil e, no cargo que ocupou, tratou sobretudo de remontar o papel de São Paulo na formação do território nacional, principalmente para situar a atuação paulista como central no centenário da Independência do Brasil, que aconteceria em 1922.[2][3]

Taunay teve o primeiro contato com o mapa em 1917, ano que tornou-se diretor do museu. Neste período, realizou diversas mudanças estruturais na instituição, para transformá-la em um museu de História e, entre as suas realizações, inaugurou uma sala dedicada somente à História do Brasil e de São Paulo, a Sala da Cartografia Colonial e Documentos Antigos (Sala A-10), na qual os mapas tinham uma posição importante de representação e cronologia da história brasileira.[1][2]

Para montar esta sala, Taunay trocava e encomendava fac-similares de diversas instituições de guarda pelo mundo, com o intuito de montar a história nacional. Entre as cópias que Taunay mais se esforçou para obter estava a do Mapa de Céspedes Xeria, que encontrava-se no Archivo General de Indias, em Sevilha, na Espanha.[1]

“Quando em 1917, o eminente Pablo Pastells me assinalou a presença do mapa de Céspedes no Archivo General de Indias, em Sevilha, e mo descreveu, sofregamente o fiz copiar fac-similarmente. Dei-me logo pressa em divulgar esse documento preciosíssimo.”[1]

O fac-símile do mapa de Céspedes Xeria foi detalhadamente produzida, a pedido de Taunay, pelo copista Santiago Montero Díaz.[2] Ele copiou o documento original, assim como o resto das documentação relacionada, como algumas cartas de Céspedes Xeria a Felipe IV. Em outubro de 1917, Montero Díaz termina e cobra 200 pesetas (178 mil réis) pelo trabalho.[1]

Após receber a cópia, Taunay inaugurou a Sala A-10 e inseriu o mapa com grande destaque, emoldurado e junto com o restante da documentação copiada. Também utilizou o fac-similar em artigos que publicou no Correio Paulistano, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e nos Anais do Museu Paulista.[1]

De acordo com artigos publicados, existem uma discussão sobre a originalidade do fac-símile requisitado por Taunay.[2] Porém, análises comparativas entre o mapa original e o fac-símile, não há provas que Taunay tenha pedido para Montero Díaz realizar alterações no documento.[1]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o Cintra, Jorge Pimentel; Beier, José Rogério; Beier, José Rogério; Rabelo, Lucas Montalvão; Rabelo, Lucas Montalvão (1 de janeiro de 2018). «Affonso de Taunay e as duas versões do mapa de D. Luis de Céspedes Xeria (1628)». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material (em Portuguese). 26. doi:10.1590/1982-02672018V26E33 
  2. a b c d e f g h Cavenaghi, Airton José; Cavenaghi, Airton José (1 de junho de 2011). «A construção da memória historiográfica paulista: Dom Luiz de Céspedes Xeria e o mapa de sua expedição de 1628». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material (em Portuguese). 19 (1): 81–113. doi:10.1590/S0101-47142011000100003 
  3. Brefe, Ana Cláudia Fonseca (1 de janeiro de 2005). O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional, 1917-1945. [S.l.: s.n.]