Perispírito

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O perispírito, segundo a Doutrina Espírita, é o elemento intermediário entre corpo e espírito.[1]

Origem do termo[editar | editar código-fonte]

O termo perispírito foi cunhado por Allan Kardec, e encontra seu primeiro uso no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos:

"O laço ou perispírito, que une o corpo e o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal , mas que pode se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede nas aparições."[1]

Mais adiante, a partir do item 93 de O Livro dos Espíritos, Kardec desenvolve mais o conceito de perispírito:

O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”

Segue-se a esse trecho o seguinte comentário de Kardec: "Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito".

A partir daí Kardec se ocupou de buscar fundamentação para essa hipótese, estudando as propriedades daquilo que à época recebia o nome de "fluidos" (eletricidade, magnetismo, calor), e ampliando a pesquisa para o que chamou de "fluidos psíquicos" ou "espirituais". Concluiu que o perispírito seria um corpo fluídico que envolve o espírito na condição de ente "semimaterial". Mais "grosseiro" que o espírito e mais "sutil" que o corpo, seria o responsável, entre outras funções, pela transmissão da vontade daquele para este e das sensações do corpo para o espírito. Seria constituído a partir de modificações particulares do "Fluido Cósmico Universal", que Kardec defendia ser a matéria primordial de que se compõe o universo[2].

Outras concepções[editar | editar código-fonte]

Conservando a nomenclatura original, muitos adeptos da Doutrina Espírita definem hoje o perispírito como um "corpo" dotado de "centros de força", adotando para estes praticamente as mesmas definições que a Teosofia[3] e outras doutrinas baseadas nos ensinamentos orientais para o Corpo Astral[4] e os Chakras.

O perispírito teria, assim, a função de "modelar" o corpo físico (chamado de soma), de forma que cada centro de força corresponderia a uma glândula e estaria intimamente ligado ao sistema nervoso, através do qual conduziria ao corpo as deliberações do espírito, e a este transportaria as impressões sensoriais. Desempenharia, também, o importante papel de elo entre o espírito comunicante e o espírito encarnado nos fenômenos mediúnicos.[5][6]

O conhecimento espírita experimentou avanços no século XX. Seguindo a compreensão de cada época, as obras complementares da doutrina espírita, sobretudo as psicografadas por Chico Xavier, de autoria de André Luiz e Emmanuel, trouxeram novos elementos acerca dos invólucros dos Espíritos.

André Luiz compreende o perispírito como sendo o psicossoma ou corpo espiritual, e afirma que o corpo mental é o envoltório sutil da mente e o duplo etérico seria a duplicata energética que reveste o corpo físico do homem[7]. Em Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz escreve:

“...a princípio seu perispírito ou ‘corpo astral’ estava revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o ‘duplo etérico’, formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora”.[7]

Ovoides[editar | editar código-fonte]

Segundo alguns adeptos do espiritismo, sob certas condições, o perispírito poderia sofrer uma deformação que lhe emprestaria um formato ovoide[8]. O processo é conhecido como ovoidização e, ainda segundo os defensores da ideia, estaria ligado a impulsos autodestrutivos.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos (tradução de J. Herculano Pires). 66. ed. São Paulo: LAKE, 2006.
  2. Kardec, Allan. A Gênese. [S.l.: s.n.] 
  3. Blavatsky, Helena. A Doutrina Secreta. [S.l.: s.n.] 
  4. Leadbeater, Charles. O Plano Astral. [S.l.: s.n.] 
  5. Pastorino, Carlos. Técnica da Mediunidade. [S.l.: s.n.] 
  6. Armond, Edgard. Passes e Radiações. [S.l.: s.n.] 
  7. a b Xavier, Chico. Nos Domínios da Mediunidade. [S.l.: s.n.] 
  8. Xavier, Chico. Evolução em Dois Mundos. [S.l.: s.n.] 
  9. http://www.inede.com.br. Ícaro Redimido, obra mediúnica de Gilson Teixeira Freire, atribuída ao espírito Adamastor. Editora INEDE. Conforme Adamastor, nesta obra, "A ovoidização é uma das mais pungentes enfermidades que pode acometer o espírito depois da morte. Consiste na perda da consciência ativa, quando o “eu” consciente desmorona-se completamente, em decorrência de atrozes sofrimentos, voltando-se sobre si mesmo, anulando-se e perdendo todo o contato com a realidade. A atividade consciente da alma entra em letargia, refugiando-se nas camadas do subconsciente. O pensamento contínuo se fragmenta, perdendo seu fio de condução e a estrutura perispiritual se desfigura completamente, desfazendo sua natural conformação humana, adquirindo o formato aproximado de um ovo, cujas dimensões se aproximam de um crânio infantil" (fontes mediúnicas devem ser consideradas com reserva, pois não são reconhecidas, por todos, como fiáveis).