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"PARA SALVAR A NAÇÃO SOMOS ATÉ CAPAZES DE COMUNISMO: O NACIONAL-BOLCHEVISMO ONTEM E HOJE", artigo de Francisco Thiago Rocha Vasconcelos, publicado no Almanaque de Ciência Política, Vitória, vol. 6, n. 1, pp. 01-34, 2022.

Segundo Francisco Thiago Rocha Vasconcelos, o Nacional-Bolchevismo é uma ideologia de difícil enquadramento nas definições mais generalistas sobre a "esquerda" e a "direita", que contém uma crítica do Ocidente e do cosmopolitismo e propunha uma aproximação entre nacionalismo e marxismo.

Segundo historiador alemão Klemens von Klemperer:

citação2|O Nacional-Bolchevismo representa um capítulo nas relações entre a Alemanha e a Rússia desde a Primeira Guerra Mundial. Como política que defende uma orientação Oriental para a Alemanha é um fenômeno dos mais intrigantes e até hoje muito agudo. Para aqueles educados no espectro de opiniões políticas em termos de Direita e Esquerda, com a extrema Direita sendo o oposto da extrema Esquerda, o Nacional-Bolchevismo parece um paradoxo. Ele sugere a reunião dos extremos. Mais concretamente, o termo representa uma aproximação entre o nacionalismo alemão e o comunismo russo. A história do Nacional-Bolchevismo é a história de dois "estranhos companheiros"

citação2|Não se intitulavam comunistas, mas enxergavam no bolchevismo a onda do futuro. O Movimento Anti-Bolchevique, movimento de massa do norte da Alemanha, foi representante deste padrão ambíguo. Ele foi criado e liderado por Eduard Stadtler, um dos maiores publicistas nacionalistas após a 1ª Guerra que, enquanto lutava contra o Bolchevismo Russo, lutava por um 'Bolchevismo Alemão' ou 'Socialismo Alemão'. Essa proposta foi explorada de maneira ainda mais consequente, na forma de um explícito Nacional-Bolchevismo, por Karl Radek" (KLEMPERER, 1951, p. 197).

Sobre o nacional-bolchevismo que demonstrou sinais de renascimento, após a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha Oriental, e que defendia um "Quarto Reich", Klemens von Klemperer escreveu:

citação2|Ele (o Nacional-Bolchevismo) ilustrou com lucidez as semelhanças entre o fascismo e o comunismo e também a intensidade dos sentimentos pró-Rússia dos alemães. A força do Nacional-Bolchevismo como força política se dá a partir da combinação de ambos os modelos. Nem mesmo o Nacional-Socialismo poderia evitar uma recorrência do Nacional-Bolchevismo [...]. A descoberta desse obstinado paradoxo deve levar a uma reavaliação do conhecimento convencional da causalidade. Se a origem do Nacional-Socialismo pode ser explicada pela coincidência de fatores históricos muito específicos, as raízes do Nacional-Bolchevismo devem ser mais profundas. Qual é, em última análise, a diferença entre o Terceiro Reich de Hitler e o que chamamos de "Quarto Reich" do Nacional-Bolchevismo? O Nacional-Bolchevismo é mais honesto, mais penetrante do que o Nacional-Socialismo; é o Nacional-Socialismo desmascarado. Seus dois atributos, nacionalismo e bolchevismo, implicam sua rejeição consciente das tradições ocidentais, do "assim chamado Ocidente". O Nacional-Bolchevismo é um "companheiro de viagem" para a Rússia, tanto um Pan-Eslavo como um bolchevique por escolha [...]. O advento do "Quarto Reich" do Nacional-Bolchevismo nacional poderia significar o estabelecimento de um paradoxo final: o pôr do sol no Oriente.

O Nacional-Bolchevismo surgiu na Alemanha na época da República da Weimar, foi um movimento político que, embora crítico ao nazismo, possuia semelhanças com ele, e, ao mesmo tempo, inspirava-se na revolução soviética e na estratégia de "comunismo em um só país" de Stálin. Alguns estudiosos defendem a ideia de que Lênin e Stálin foram precursores de um tipo de Nacional Comunismo implícito, mas negador da autonomia dos Nacionais Comunismos concorrentes e submetidos ao controle da União Soviética. Segundo essa leitura, o Nacional Comunismo seria, segundo essa leitura, um tipo "sui generis" de ideologia não explícita presente na concepção de parcela militantes dos Partidos Comunistas convencionais.

Os Nacionais-Bolchevistas tentaram conquistar hegemonia de maneira mais enfática por quatro vezes, em: 1919, 1923, 1930 e 1933, com suas respectivas experiências e lideranças políticas.

Em 1919, líderes do seção do Partido Comunista Alemão em Hamburgo visitaram Karl Radek na prisão com o objetivo de convencê-lo a organizar ações contra o Tratado de Versalhes (1919), mas Radek se opôs.

Em 1923, no contexto da ocupação da região do vale do Ruhr, Radek passou a defender o apoio do comunismo soviético à luta dos alemães contra as imposições do Tratado de Versailhes.

A tese de "Socialismo em um só país", defendida por Stalin tinha conexões com a tese de que "cada povo teria seu próprio Socialismo", defendida pelos Nacionais-Bolcheviques. Até mesmo Ernst Jünger (1895-1998), popular intérprete nacionalista da experiência de guerra alemã e, também, integrantes dos Freikorps, enxergavam a Rússia de Stálin com admiração.

Ernst Niekisch (1889-1967), foi um importante defensor do Nacional-Bolchevismo, que, ainda como integrante do "Sozialdemokratische Partei Deutschlands" (SPD - Partido Social-Democrata da Alemanha - PSDA), foi um defensor de uma versão "anti-ocidental" do socialismo, que, após sua saída (22 de julho de 1926) do PSDA, juntou-se ao "Alte Sozialdemokratische Partei Deutschlands" (Antigo Partido Social Democrata da Alemanha - APSDA). Como militante desse partido, foi, por algum tempo editor do jornal diário "Volksstaat".

Ainda em 1926, começou a publicar a Revista: "Blätter für sozialistische und nationalrevolutionäre Politik" (Folhas para a política socialista e nacional-revolucionária), que, em 1928, passou a se chamar: "Zeitschrift für nationalrevolutionäre Politik", que contou com colaboradores como: Ernst Jiinger, Friedrich Georg Jiinger (irmão de Ernst), Friedrich Georg Jiinger, Gustav Sondermann, Roderich von Bistram, Otto Petras, Ernst von Salomon e A. Paul Weber (ilustrador). A Revista circulou até a sua proibição, em 1934.

Após sua saída do SPD, fundou o Movimento da Resistência Nacional-Bolchevique (Widerstandsbewegung) que tinha como "slogan": "Esparta-Postdam-Moscou" - no sentido da construção de uma unificação territorial da Alemanha até a Rússia, e, também, em menção à herança do espírito de Esparta como a ética de combate e disciplina – e cujo emblema consistia em uma águia prussiana com uma espada, um martelo e uma foice. Por ter sido opositor ao Nacional-Socialismo de Hitler, Niekisch acabou sendo preso pelo regime nazista.

Tinha simpatias pelo comunismo soviético, ao mesmo tempo em que incorporava as ideias de Oswald Spengler sobre a Decadência do Ocidente e de Ernst Jünger sobre o neonacionalismo militarista/prussiano. Com o tempo, seu pensamento se tornou mais próxima dos "revolucionários conservadores" orientalistas/russófilos e partidária de uma nova "pan-religiosidade" não dogmática, um novo modo de vida integral, um novo "socialismo popular".

Desse modo, tornou-se o "mais esquerdista" dos "conservadores revolucionários", que, combinava em seu pensamento aspectos da direita e da esquerda. Uma de suas frase famosas era: "Não somos comunistas, mas para salvar a nação somos até capazes de comunismo".

Defendia um nacionalismo estatista utilizando-se do marxismo principalmente no sentido econômico (anticapitalismo) e para fins táticos, ao mesmo tempo em que defendia posições de direita como o antissemitismo, mas se opunha à Hitler, que na obra "Mein Kampf" (Minha Luta) já indicava o intuito de atacar militarmente o "Leste", ou seja: a União Soviética.

Desse modo, em 1932, publicou: "Hitler – ein deutsches Verhängnis" (Hitler - o destino maligno da Alemanha), na qual criticou as visões "ocidentalizante", "burguesas" e "românico" do hitlerismo. Em seu ponto de vista, o "Oriente" russo socialista era a antítese do Ocidente burguês capitalista ao qual Hitler era subserviente.

Segundo ele, a política social de Hitler seria equivalente, na melhor das hipóteses, à "Terceira Via" de Mussolini, e não às doutrinas socialistas.

A partir de 1930, a relação entre os alemães de extrema direita e os nacionais-bolchevistas se modificou, com o fortalecimento do Nacional-Socialismo e sua proposta de combate à inflação, problema para o qual o anticapitalismo radical defendido pelos partidários do Nacional-Bolchevique, tornaria essa ideologia menos relevante para as classes médias.

Desse modo, apesar de popular entre a juventude e do debate intelectual em torno do "Movimento de Resistência ao Ocidente, ao Capitalismo e ao Nazismo", o Nacional-Bolchevismo, "Politicamente orientado para a direita e economicamente para a Esquerda", nunca foi de fato bem aceito.

Além disso, a recusa dos Nacional-Bolcheviques em se identificarem no mesmo campo que os nazistas, e terem seus intelectuais e lemas apropriados por eles, tornaram-nos inimigos internos do regime. O "semi-marxismo", o "anticapitalismo" e o "anti-imperialismo" sustentado por eles tornaram-se irreconciliáveis com as políticas defendidas por Hitler.

Desse modo, espremido entre o germanismo cultural e racial apropriado defendido pela "revolução conservadora" e pelos nazistas, à direita, e a proposta internacionalista e marxista do comunismo soviético, à esquerda, o Nacional-Bolchevismo teve cada vez menos espaço para atuar. Politicamente ambíguo aos olhos dos seus potenciais aliados e oposto ao nazismo, o movimento nunca se fortaleceu o suficiente para disputar a política nacional e finalmente foi liquidado com a perseguição durante o governo nazista.

Em 1930, Karl Otto Paetel participou da criação do "Gruppe Sozialrevolutionärer Nationalisten" (Grupo dos Nacionalistas Social-Revolucionários - GSRN), que se definia como Nacional-Bolchevique e como revolucionário e que, portanto, defendia:

  1. a derrubada do sistema democrático-capitalista;
  2. um novo governo baseado em conselhos;
  3. a socialização da indústria e da terra;
  4. uma aliança militar com a União Soviética; e
  5. o armamento das massas em milícias populares.

Logo após a criação, ocorreu um debate interno no GSRN para decidir se o Grupo apoiaria o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (PNSTA) ou o Partido Comunista da Alemanha ("Kommunistische Partei Deutschlands - KPD"), que foi resolvido com a adesão ao novo Programa do KPD, que adotou uma linguagem nacionalista na tentativa de reconquistar eleitores perdidos para o PNSTA.

O GSRN entendeu que a adoção do novo programa pelo KPD teria siado uma "virada" na direção do Nacional-Bolchevismo, e, portanto, apoiou o KPD durante as eleições de 1930 e participou de ações conjuntas com o KPD, por meio da "Kampfbund gegen den Faschismus" (Liga de Combate ao Fascismo).

Apesar da aliança entre GSRN e KPD, as divisões ideológicas entre os dois grupos se tornariam mais explícitas: para Paetel e seus companheiros, o objetivo final de um estado alemão social-nacionalista soberano, aliado, mas independente da União Soviética e isso era, fundamentalmente, diferente do objetivo final do KPD que defendia um "mundo comunista sem fronteiras".

Em 1932, passou a defender a criação de um "Partido Nacional Comunista".

No dia 30 de janeiro 1933 (dia em que Hitler chegou ao poder), Paetel publicou o "Manifesto Nacional-Comunista"[1] [2]. Nesse contexto, muitas das cópias do Manifesto foram confiscadas e destruídas e o GSRN foi banido após o Incêndio do Reichstag (27 de fevereiro de 1933).

Esse Manifesto teve como objetivo principal definir as bases teóricas e históricas do Nacional-Bolchevismo, para diferenciá-lo das tendências políticas concorrentes e também para traçar seus objetivos programáticos. Desse modo, procurou demonstrar as diferenças entre Nacional-Socialismo, Nacional-Bolchevismo e Socialismo marxista a partir do conceito de um "Socialismo Alemão", cuja proposição remonta tanto ao pensamento "revolucionário conservador" quanto às lutas trabalhistas.

O conceito de "Socialismo Alemão" partia de uma reflexão histórica a partir das disputas ligadas à industrialização e à unificação alemã através da Prússia, passando pelos traumas da Primeira Guerra Mundial e o Tratado de Versalhes (1919).

Para se diferenciar do Partido Nazista (nacional socialista), Paetel adotou a expressão "nationalistische Sozialismus" ou "Nationaler Sozialismus" ("Socialismo nacionalista") para deixar claro que o socialismo nacionalista que ele defende não tinha nenhuma relação com o Partido Nazista e nem com o socialismo marxista e internacionalista (não germânico), defendido pelo KPD.

Em relação ao Nationalsocialismo (Partido Nazista), as críticas de Paetel se dirigem, inicialmente, à falta de compromisso com as pautas:

  1. socialistas, pois Hitler não deu início à reestruturação econômica necessária; e
  2. nacionalistas, pois no em vez de agir para o romper imediatamente com o Tratado de Versalhes (1919), Hitler preferiu se espelhar do Fascismo italiano e adotar uma política "AntiBolchevique" de "Ordem e Paz", que tornou o Nazismo útil aos interesses do capital financeiro, dos grandes latifundiários e dos oficiais militares obcecados por uma restauração feudal frente a ameaça de uma revolta dos trabalhadores contra o "status quo".

Desse modo, a palavra de ordem do nazismo passou a ser: "Contra o Marxismo", como meio de eliminar as divisões de classe em nome da união do Povo, e isso contrariava a perspectiva nacional-bolchevique que defendia que tomada do poder ao "lado dos indigentes ou sem-teto, dos sem-pátria, a fim de criar para uma pátria por meio de uma mudança radical na vida social e econômica". Ou seja, os nacionais-bolcheviques entendiam que a inspiração no fascismo foi um erro histórico do Partido Nazista, pois resultou na defesa de um "falso socialismo", razão pela qual não seria suficiente reformar o Partido Nazista, sendo necessário: combatê-lo e superá-lo.

Segundo Paetel: a forma de estado corporativista implantada pelo fascismo italiano seria uma ditadura camuflada sobre o Povo trabalhador.

Os nacionais bolcheviques também eram contrários ao uso da questão racial para o estabelecimento de uma raça dominante nascidapara governar e também rejeitavam o dogmatismo racial como critério para a política externa.

Em 1934, Paetel foi incluído na "lista negra" de traidores do regime nazista e, em 1935, refugiou-se nos Estados Unidos, onde publicou alguns escritos sobre o Nacional Bolchevismo, até falecer, em 1975, em Nova Iorque.

O Nacional-Bolchevismo defendeu a tese de que a Alemanha deveria se associar ao Oriente/Leste, diante da implementação prática do socialismo na Rússia e da emergência da guerra civil naquele país.

Por outro lado, o nacional comunismo era "não-marxista", embora defendessem à revolução social, a planificação socialista, um governo sustentado por conselhos de trabalhadores, o antifascismo, a luta de classes e o anticolonialismo. O Manifesto Nacional Bolchevique, reservou dois capítulos para diferenciar, ponto a ponto, as diferenças entre o nacional bolchevismo e o marxismo revolucionário.

Os pressupostos do Nacional Comunismo Alemão divergiam dos pressupostos do marxismo revolucionário, pois o primeiro, destacava-se pela valorização da nação e das formas políticas e culturais tradicionais dos povos locais, buscando um diálogo com as particularidades étnico-culturais próprias do germanismo "revolucionário conservador", que se expressaria principalmente em três dimensões:

  1. o nacionalismo germânico em bases religiosas, um neopaganismo, "uma nova religiosidade cósmica centrada no sangue, no solo e na raça, enraizada no divino sobre da vida mundana";
  2. na recuperação das tradições germânicas de decisão para erigir uma forma de democracia baseada em conselhos locais, em oposição à ideia de Estado Corporativista presente no Fascismo; e
  3. na valorização das tradições prussianas de disciplina e submissão do indivíduo ao coletivo: "O socialismo transformará os “cidadãos” alemães em apêndices do Estado alemão; as contradições entre Nação, Povo e

Estado serão abolidas por ele e remodelados em uma nova síntese.

O Nacional Comunismo Alemão valorizava as particularidades nacionais em detrimento de um internacionalismo proletário dirigido por uma única potência (União Soviética). No plano internacional, acreditava em uma aliança entre os Nacionais Comunistas de diferentes nações com:

  1. a preservação de suas autonomias políticas, diferenças culturais e ritmos próprios de cada realidade;
  2. afastamento da homogeneização e do individualismo do Ocidente; e
  3. aproximação com das tradições Orientais em uma aliança entre a Alemanha e a União Soviética.

No contexto da Alemanha da República de Weimar, propunha uma aliança entre Alemanha e União Soviética.

Para Karl Radek, esta proposta teria conexões com a longa história de tentativas de aproximação entre Alemanha e Rússia desde os tempos de Napoleão Bonaparte, interrompidas pelo contexto de conflitos que originaram a Primeira Guerra Mundial.

O raciocínio é correto, desde que se considere a diferença de sentido entre os acordos. A "Santa Aliança", entre Grã-Bretanha, Prússia, Áustria e Rússia em 1815, era orientada em um sentido pragmático e em nome da monarquia, do conservadorismo e contra os ideais da Revolução Francesa de 1789.

Um século depois, as alianças tentadas a partir do Nacional-Bolchevismo foram marcadas por sentimento antiocidental e anticosmopolita, porém, inseridas em um projeto nacionalista e modernizador (mudança das relações de produção) a ser consolidado em nome do proletariado, com apelo anti-monarquista, inspirado em valores da luta política desde o jacobinismo francês e incorporando as lutas operárias na França em 1848 em seu referencial.

sindicalismo revolucionário de Georges Sorel.

Como uma de suas características essenciais, a “Quarta Teoria Política” rejeita todas as formas e variedades de racismo e todas as formas de hierarquização normativa de sociedades com base em fundamentos étnicos, religiosos, sociais, tecnológicos, econômicos ou culturais.

Considerações finais[editar código-fonte]

O "Bolchevismo Nacional" foi uma ideologia desenvolvida como projeto de um "comunismo nacionalista" influenciado por um marxismo heterodoxo no qual, por um lado: a nação é o fator de agregação acima da luta de classes e, por outro: defendia a integração cultural, política e econômica da Alemanha com a União Soviética.

Essa ideologia somente pode ser compreendida considerando suas relações com o contexto de relações culturais e políticas entre a Alemanha e a União Soviética na época da República de Weimar, e, especificamente, no contexto alemão da "revolução conservadora", como reação à República de Weimar e ao Tratado de Versalhes (1919) na década de 1920 anos 1920 e 30, que originou o Nacional-Bolchevismo em concorrência com o NacionalSocialismo

Segundo plano[editar código-fonte]

Segundo Ruy Fausto, apesar de ser possível afirmar que o nazismo e o stalinismo sejam espécies de totalitarismos, não teriam uma história comum, pertencendo a matrizes ideológicas de natureza distinta. O totalitarismo soviético, nessa perspectiva, não seria uma derivação necessária do comunismo como ideologia e movimento, ao contrário do nazismo, cujos princípios são necessariamente relacionados ao racismo e à violência.

Segundo Domenico Losurdo, a cristalização do conceito de totalitarismo no contexto da Guerra Fria foi umas construção teórica que buscava, ao condenar o comunismo como ideologia e a experiência soviética, deslegitimar todas as lutas de esquerda, especialmente a luta pelo socialismo. Desse modo, a principal intenção dos defensores do conceito de totalitarismo é condenar as lutas sociais de esquerda, principalmente socialistas, que passam a ser analisadas como risco potencial de uma sociedade totalitária equiparável a um movimento de direita como o nazismo, sem levar em conta, as raízes anti-totalitárias das ideias e dos movimentos socialistas e de esquerda.

As dificuldades de conceituação derivam, de início, da própria noção de bolchevismo, palavra que teve sua origem na disputa, em 1903, entre a minoria (mencheviques) e a maioria (bolcheviques) do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR). Ao longo do tempo essas frações do POSDR se diferenciaram bastante, de modo que os mencheviques ficaram mais ligados a movimentos espontaneístas ou associados aos populistas russos voltados à mobilização no campo, enquanto que aos bolcheviques tinham como característica seu vanguardismo revolucionário autoritário, centralizado no partido único em detrimento dos soviets, e, desse modo, abandonaram o projeto de democracia de classe contra a burguesia para passar a defender a ditadura de uma fração da classe trabalhadora sobre as demais classes.

O pessimismo, ou niilismo aristocrático, partilhado por escritores e filósofos como Dostoievski, Friedrich Nietzsche, Thomas Mann e Oswald Spengler eram referências importantes no cultivo a uma individualidade cultural na Alemanha desde o fim do século XIX, que, após a Primeira Guerra Mundial influenciou os jovens intelectuais nacionalistas, muitos ex-soldados, ressentidos contra a República de Weimar e os Acordos de Versailles e que defendiam a restauração da monarquia.

Foi nesse contexto, que se criou um contexto cultural diferente, pautado pela afirmação de valores políticos ao mesmo tempo revolucionários e conservadores, nacionalistas e socialistas anti e pró bolcheviques, e que forneceu a base de mobilização de socialismos autoritários, de inspiração aristocrático-militar prussiana, do nacional-socialismo de Hitler e do Nacional-Bolchevismo.

Klemperer (1951) aponta a similaridade entre a proposta de Möller van den Bruck, segundo a qual: "o povo alemão seria o portador do socialismo do futuro, que, ao contrário do socialismo marxista, visa a unidade de todo o povo e a superação da luta de classes - e a de Mussolini, quando este reivindica a ideia de "Terceira Via" ou "Terceira Posição" - uma síntese da ultraesquerda e da ultra direita em meio ao qual surge uma espécie de híbrido, questão que conduziu à proscrição da posição de Möller van den Bruck dos círculos marxistas.

Apesar de semelhanças, o nazismo de Hitler teria ocupado uma posição marginal entre os principais defensores da "revolução conservadora" (KLEMPERER, 1951), condenado como desvio do aristocratismo em direção à oclocracia e à uma "biocracia" (DUPEUX, 1994). No mesmo sentido, para a historiografia russa moderna (ALEKSEEVICH, 2020), a revolução conservadora seria um fenômeno da "modernidade alternativa". O principal ponto de contato se daria pelo discurso antiWeimar e anti-Versalhes e não o racismo biológico ou o antissemitismo nazista.

A 'revolução conservadora' não é de forma alguma uma ideologia congelada com contornos claramente delineados, mas uma 'área topográfica' difícil de registrar." (MOHLER apud ALEKSEEVICH, 2020, p. 02). Breuer (1993), contudo, chega a uma conclusão crítica sobre as tentativas de atribuir sob o conceito de "revolução conservadora" a soma das várias tendências sociopolíticas e culturais na República de Weimar – dos Jovens Conservadores aos "revolucionários nacionais", em cujas fileiras incluía os "nacional-bolcheviques". Para Breuer, estas tendências seriam a manifestação de um “novo” nacionalismo, nascido de uma sociedade de massas e da crise de consciência burguesa, buscando destruir os estreitos interesses de classe do “velho” conservadorismo e seu desejo de retornar ao passado e manter as instituições tradicionais como a Igreja, a Monarquia e formas de trabalho e convivência rurais.

O "conservadorismo revolucionário" continua sendo a expressão que delimita esse conjunto de tendências cuja marca é, justamente, a junção de termos (aparentemente) opostos:

  • uma revolução para a restauração de "valores essenciais da nação", sem o simples retorno à formas passadas, como os velhos conservadores e reacionários, mas um processo de expansão e desenvolvimento;
  • a aceitação da modernidade técnica (tecnologia e planejamento estatal), mas a negação da modernidade cultural dos valores do Iluminismo e da Revolução Francesa, como o individualismo e o humanismo universalista e igualitário;
  • confiança em uma elite cultural e política selecionada por suas qualidades e não pelo povo, ao mesmo tempo em que incentiva a mobilização constante das massas populares na vida coletiva;
  • movimentos que se pretendem "nem de esquerda, nem de direita", que visam "ganhar a revolução" dos "progressismos", seja na forma do liberalismo ou do socialismo marxista (considerados "inimigos-irmãos") e também contra a direita conservadora pessimista;
  • otimistas em sua capacidade de moldar o futuro, consideram-se portadores do "espírito do povo e da nação" e da "força do destino", pois dominam a técnica na era das massas: (organização, mobilização e propaganda).

O "conservadorismo revolucionário" não é um partido político, mas uma nebulosa ideológica que começa a se organizar com força ao final de 1918 e começa a se enriquecer de novas tendências na medida em que a República de Weimar fracassa em relação ao nacionalismo e ao "germanismo integral" (völkisch), liderado por uma "burguesia da cultura" ligada ao idealismo romântico e por jovens ex-combatentes. No processo em que os jovens conservadores das primeiras associações tomam assento em posições mais relevantes, os ainda mais jovens se radicalizam, em movimentos "nacionalistas revolucionários" e, uma minoria, no "nacional-bolchevismo", e, nesse contexto, incorporam as táticas e princípios leninistas-stalinistas em proveito do nacionalismo alemão.

  1. Das Nationalbolschewistische Manifest, em alemão, acesso em 16/06/2022.
  2. Das Nationalbolschwistische Manifest Karl Otto Paetel, em alemão, acesso em 16/06/2022.