Vladimir Herzog: diferenças entre revisões

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== Missa Ecumênica ==
== Missa Ecumênica ==
Depois do ato institucional número cinco, de 13 de dezembro de 1968, a missa ecumênica em protesto a morte de Vladimir Herzog foi o primeiro grande movimento da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar. Reuniu milhares de pessoas dentro e fora da Catedral na Praça da Sé. O assassinato colocara uma grande questão religiosa. Os judeus não enterram suicidados dentro de seu cemitério, mas fora dele. Assim o enterro de Herzog, dentro do cemitério Israelista, e a respectiva missa se tornaram atos contra o regime militar.
Depois do ato institucional número cinco, de 13 de dezembro de 1986, a missa ecumênica em protesto a morte de Vladimir Herzog foi o primeiro grande movimento da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar. Reuniu milhares de pessoas dentro e fora da Catedral na Praça da Sé. O assassinato colocara uma grande questão religiosa. Os judeus não enterram suicidados dentro de seu cemitério, mas fora dele. Assim o enterro de Herzog, dentro do cemitério Israelista, e a respectiva missa se tornaram atos contra o regime militar.


O então secretário de Segurança Estadual [[Erasmo Dias]] bloqueou a cidade inteira com barreiras policiais, impedindo o acesso à Catedral e o trânsito na cidade, mesmo assim as pessoas desceram de seus ônibus e automóveis e se dirigiram a pé até a catedral, no centro da cidade. A propria Praça da Sé, situada em frente a catedral, se encontrava totalmente tomada por policiais, seus cavalos e cachorros, que iam até praticamente a calçada da rua que separa as escadarias da Sé. Apesar da repressão a missa ocorreu silenciosamente até o seu final com cerca de oito mil pessoas em seu interior, e milhares na escadaria que gritando slogans pela volta da democracia. Ao final carros sem placa atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os participantes que tentavam sair da Catedral em passeata. Dispersando o movimento (Celso Lungareti, "Vladimir Herzog é assassinado: o Brasil repudia o DOI-Codi".)
O então secretário de Segurança Estadual [[Erasmo Dias]] bloqueou a cidade inteira com barreiras policiais, impedindo o acesso à Catedral e o trânsito na cidade, mesmo assim as pessoas desceram de seus ônibus e automóveis e se dirigiram a pé até a catedral, no centro da cidade. A propria Praça da Sé, situada em frente a catedral, se encontrava totalmente tomada por policiais, seus cavalos e cachorros, que iam até praticamente a calçada da rua que separa as escadarias da Sé. Apesar da repressão a missa ocorreu silenciosamente até o seu final com cerca de oito mil pessoas em seu interior, e milhares na escadaria que gritando slogans pela volta da democracia. Ao final carros sem placa atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os participantes que tentavam sair da Catedral em passeata. Dispersando o movimento (Celso Lungareti, "Vladimir Herzog é assassinado: o Brasil repudia o DOI-Codi".)

Revisão das 14h07min de 16 de julho de 2013

Vladimir Herzog
Vladimir Herzog
Nome completo Vlado Herzog
Nascimento 27 de junho de 1937
Osijek, Reino da Iugoslávia
Nacionalidade  Brasileiro
Morte 25 de outubro de 1975 (38 anos)
São Paulo, Brasil
Formação Filosofia (USP, 1959)
Ocupação Jornalista, professor e dramaturgo
Cônjuge Clarice Herzog
Site oficial

Vlado Herzog (Osijek, Reino da Iugoslávia, 27 de junho de 1937São Paulo, 25 de outubro de 1975) foi um jornalista, professor e dramaturgo. Passou a assinar "Vladimir" por considerar seu nome muito exótico nos trópicos.[1][2]. Naturalizado brasileiro, Vladimir também tinha paixão pela fotografia, atividade que exercia por conta de seus projetos com o cinema.[3]

O nome de Vladimir tornou-se central no movimento pela restauração da democracia no Brasil após 1964. Militante do Partido Comunista Brasileiro, foi torturado até a sua morte no DOI-CODI em São Paulo, após ter se dirigido pessoalmente ao órgão para um interrogatório sobre suas atividades "ilegais"[1][3].

Vladimir era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem teve dois filhos. Com a morte do marido, Clarice passou por maus momentos, com medo e opressão, teve que contar para os filhos pequenos o que havia ocorrido com o pai.[4] Clarice, três anos depois (1978), conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte do esposo.[4] Ainda sem se conformar, ela diz que "Vlado contribuiria muito mais para a sociedade se estivesse vivo".[4]

Biografia

Primeiros anos

Herzog nasceu na cidade de Osijek, em 1937, na Iugoslávia (atual Croácia), filho do casal de origem judaica Zigmund e Zora Herzog. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escaparem do antissemitismo praticado pelo estado fantoche da Croácia, então controlado pela Alemanha Nazista, que ocupava a Iugoslávia desde 1941, o casal primeiro fugiu para a Itália, onde viveram clandestinamente ajudado por alguns locais, decidindo imigrar com o filho para o Brasil, após o conflito.[5][6][7]

Educação e carreira

Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo, em 1959. Depois de formado, trabalhou em importantes órgãos de imprensa no Brasil, notavelmente em O Estado de S. Paulo. Nessa época, resolveu passar a assinar "Vladimir", ao invés de "Vlado", pois acreditava que seu nome verdadeiro soava um tanto exótico no Brasil.[1] Vladimir também trabalhou por três anos na BBC de Londres.

Na década de 1970, assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, de São Paulo. Também foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP e, nessa época, também atuou como dramaturgo, envolvido com intelectuais do teatro. Em sua maturidade, Vladimir passou a atuar politicamente no movimento de resistência contra a ditadura militar brasileira de 1964 a1985, como também no Partido Comunista Brasileiro.

Prisão e morte

Antecedentes

Em 1974, o general Ernesto Geisel tomou posse da Presidência da República com um discurso de abertura política (na época chamado de "distensão"), o que na prática significaria a diminuição da censura, investigar as denúncias de torturas e dar maior participação aos civis no governo. Todavia, o governo enfrentava dois infortúnios: a derrota nas eleições parlamentares e a crise do petróleo. Além disso, o general Ednardo D'Ávila Mello fazia afirmações de que os comunistas estariam infiltrados no governo de São Paulo, na época chefiado por Paulo Egydio Martins, o que criou uma certa tensão entre estes. Nesse cenário, a linha dura sentiu-se ameaçada, e em 1975 a repressão continuava forte. O Centro de Informações do Exército (CIE) se voltou essencialmente ao Partido Comunista Brasileiro, do qual Herzog era militante, mas não desenvolvia atividades clandestinas. Através do jornalista Paulo Markun, Herzog chegou a ser informado que seria preso, mas não fugiu.[8]

A prisão

Em 24 de outubro de 1975 — época em que Herzog já era diretor de jornalismo da TV Cultura, após campanha contra sua gestão levada a cabo na Assembleia Legislativa de São Paulo pelos deputados Wadih Helu e José Maria Marin, pertencentes ao partido de sustentação ao regime militar, a ARENA;[9][10] agentes do II Exército convocaram Vladimir para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro, partido que atuava na ilegalidade durante o regime militar. No dia seguinte, Herzog compareceu ao DOI-CODI. Ele ficou preso com mais dois jornalistas, George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder.[11] Pela manhã, Vlado negou qualquer ligação ao PCB. A partir daí, ou outros dois jornalistas foram levados para um corredor, donde viriam a escutar uma ordem para que se trouxesse a máquina de choques elétricos. Para abafar o som da tortura, um rádio com som alto foi ligado. Posteriormente, Konder foi obrigado a assinar um documento no qual ele afirmava ter aliciado Vlado "para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido." Logo, Konder foi levado à tortura, e este foi o último momento em que Vlado foi visto com vida.[8]

A morte

O Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em Brasília de que naquele dia 25 de outubro, a "cerca de 15 hs, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Na época, era comum que o governo militar ditatorial divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam perecido por "suicídio", fuga ou atropelamento, o que gerou comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidados pela ditadura". O jornalista Elio Gaspari comenta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até." Conforme o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog se suicidou com uma tira de pano que era usada como "cinta do macacão que o preso usava", amarrado em uma grade a 1,63 metro de altura. No laudo, foram anexadas fotos, porém, há várias inverossimilhanças. Uma delas é o fato de que ele se enforcou com um cinto, coisa que os prisioneiros do DOI-CODI não possuíam. Além disso, suas pernas estão dobradas e no seu pescoço há duas marcas de enforcamento, o que mostra que sua morte foi feita por estrangulamento.[12]

Em sentença histórica, responsabilizando a o governo federal pela morte, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes pediu a apuração da autoria e das condições da morte. Entretanto nada foi realizado.[13] Em 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, dando o parecer de que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido solicitado pela Comissão Nacional da Verdade.[14]

Missa Ecumênica

Depois do ato institucional número cinco, de 13 de dezembro de 1986, a missa ecumênica em protesto a morte de Vladimir Herzog foi o primeiro grande movimento da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar. Reuniu milhares de pessoas dentro e fora da Catedral na Praça da Sé. O assassinato colocara uma grande questão religiosa. Os judeus não enterram suicidados dentro de seu cemitério, mas fora dele. Assim o enterro de Herzog, dentro do cemitério Israelista, e a respectiva missa se tornaram atos contra o regime militar.

O então secretário de Segurança Estadual Erasmo Dias bloqueou a cidade inteira com barreiras policiais, impedindo o acesso à Catedral e o trânsito na cidade, mesmo assim as pessoas desceram de seus ônibus e automóveis e se dirigiram a pé até a catedral, no centro da cidade. A propria Praça da Sé, situada em frente a catedral, se encontrava totalmente tomada por policiais, seus cavalos e cachorros, que iam até praticamente a calçada da rua que separa as escadarias da Sé. Apesar da repressão a missa ocorreu silenciosamente até o seu final com cerca de oito mil pessoas em seu interior, e milhares na escadaria que gritando slogans pela volta da democracia. Ao final carros sem placa atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os participantes que tentavam sair da Catedral em passeata. Dispersando o movimento (Celso Lungareti, "Vladimir Herzog é assassinado: o Brasil repudia o DOI-Codi".)

Pós-morte

Gerando uma onda de protestos de toda a imprensa mundial, mobilizando e iniciando um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil, a morte de Herzog impulsionou fortemente o movimento pelo fim da ditadura militar brasileira.[15] Após a morte de Herzog, grupos intelectuais, agindo em jornais e etc., e grupos de atores, no teatro, como também o povo, nas ruas, se empenharam na resistência contra a ditadura do Brasil.[15][16] Diante da agonia de saber se Herzog havia se suicidado ou se havia sido morto pelo Estado, criaram-se comportamentos e atitudes sociais de revolução.[15] Em 1976, por exemplo, Gianfrancesco Guarnieri escreveu Ponto de Partida, espetáculo teatral que tinha o objetivo de mostrar a dor e a indignação da sociedade brasileira diante do ocorrido.[17] Segundo o próprio Guarnieri:

[...] Poderosos e dominados estão perplexos e hesitantes,impotentes e angustiados. Contendo justos gestos de ódio e revolta, taticamente recuando diante de forças transitoriamente invencíveis. Um dia os tempos serão outros. Diante de um homem morto, todos precisam se definir. Ninguém pode permanecer indiferente. A morte de um amigo é a de todos nós. Sobre tudo quando é o Velho que assassina o Novo.[18]

Cartaz de 2009, que estiliza a foto oficial do alegado suicídio de Herzog, é utilizado por manifestantes na porta do jornal Folha de S.Paulo, em protesto contra um editorial do jornal que teria chamado a ditadura militar de "ditabranda".

Em 15 de março de 2013 a família de Herzog recebeu um novo atestado de óbito,[19] substituindo a definição anterior, "asfixia mecânica por enforcamento", por "lesões e maus tratos".[20]

Legado

Em 2009, mais de 30 anos após a morte de Vladimir, surge o Instituto Vladimir Herzog. O Instituto destina-se a três objetivos: organizar todo o material jornalístico sobre a história de Vladimir, como meio de auxílio a estudantes, pesquisadores e outros interessados em sua vida e obra;[21] promover debates sobre o papel do jornalista e também discutir sobre as novas mídias,[21] e, por fim, ser responsável pelo Prêmio Jornalistico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que premia pessoas envolvidas no jornalismo e na promoção dos direitos humanos.[21]

Segundo o jornalista Sérgio Gomes, Vladimir Herzog é um "símbolo da luta pela democracia, pela liberdade, pela justiça."[22]

Ver também

Referências

  1. a b c Daelcio Freitas. "Jornalista morto pelo regime militar: Vladimir Herzog", em Uol Educação. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
  2. Biografia Wladimir Herzog Museu da Televisão Brasileira
  3. a b Quem foi Vladimir Herzog, no Instituto Vladimir Herzog. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
  4. a b c Luiza Villaméa, "A memória e o silêncio", em IstoÉ Online. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
  5. Herzog, Clarice & Markun, Paulo "Vlado, retrato da morte de um homem e de uma época" Ed. Brasiliense, 1985 pág.15
  6. Abramo, Lélia "Vida e Arte; Memórias de Lélia Abramo" Editora Fundação Perseu Abramo, 1997 pág.141
  7. Jordão, Fernando "Dossiê Herzog: prisão, tortura e morte no Brasil" Ed. Global, 2005 pág.152
  8. a b Miranda, Celso (25 de outubro de 2012). «Vladimir Herzog: Mataram o Vlado». Aventuras na História e Guia do Estudante. Consultado em 25 de janeiro de 2013 
  9. página 62 do Diário Oficial do Estado de São Paulo, de 09/10/1975
  10. [1] Artigo no site de notícias "Carta Maior", Antepenúltimo parágrafo
  11. Sem nome. "[Herzog, torturado e morto em outubro de 1975 http://www.unificado.com.br/calendario/10/herzog.htm]". Acesso: 14 de fevereiro, 2009
  12. Artigo sobre o caso no jornal "A tribuna da Bahia", 20/10/2009
  13. Luiza Villaméa. "Memória e Silêncio". 28.Set.05. Isto É
  14. «Justiça retifica registro de óbito e reconhece que Herzog morreu por "maus-tratos" na ditadura». UOL. 25 de setembro de 2012. Consultado em 28 de janeiro de 2013 
  15. a b c Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri, p. 1
  16. Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri, p. 3
  17. Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri], p. 2
  18. GUARNIERI, Gianfrancesco. Homenagem a Vladimir Herzog: Vlado, o Ponto de Partida. Página Especial da Fundação Perseu Abramo.
  19. [http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/03/familia-de-vladimir-herzog-recebe-novo-atestado-de-obito.html 15/03/2013 14h59 - Atualizado em 15/03/2013 15h29 Família de Vladimir Herzog recebe novo atestado de óbito]
  20. «Família de Herzog recebe novo atestado de óbito». Yahoo Noticias. Consultado em 16 de março de 2013 
  21. a b c Instituto Vladimir Herzog: Primeira Página. Acesso: 14 de fevereiro, 2009.
  22. Gabriela Forte, "28ª EDIÇÃO DO PRÊMIO VLADIMIR HERZOG" (2006), em Faculdade Cásper Líbero. Acesso: 14 de fevereiro, 2009

Leitura adicional

Ligações externas