Erasmo Dias

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Erasmo Dias
Erasmo Dias
Em 1974.
Arquivo Público do Estado de São Paulo
Vereador de São Paulo
Período 2001 até 2004
Deputado Estadual de São Paulo
Período 1987 até 1999 (três legislaturas )
Deputado federal de São Paulo
Período 1979 até 1983
Secretário Estadual de Segurança Pública de São Paulo
Período 1974 até 1979
Dados pessoais
Nascimento 2 de junho de 1924
Paraguaçu Paulista
Morte 4 de janeiro de 2010 (85 anos)
São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Alma mater Academia Militar das Agulhas Negras
Universidade de São Paulo
Partido ARENA (1967-1979)
PDS (1980-1992)
PPR (1993-1995)
PP (1995-2010)
Serviço militar
Lealdade Brasil
Serviço/ramo Exército Brasileiro
Graduação Coronel

Antônio Erasmo Dias (Paraguaçu Paulista, 2 de junho de 1924São Paulo, 4 de janeiro de 2010) foi um político, historiador e militar do Exército Brasileiro.

Ganhou notoriedade nacionalmente quando, ocupando o cargo de Secretário Estadual de Segurança Pública de São Paulo, durante a ditadura militar brasileira, conduziu a tomada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 22 de setembro de 1977, chamada de "invasão da PUC", onde uma reunião de estudantes pretendia refundar a União Nacional dos Estudantes (UNE)[1] e por ter sido encarregado das operações de combate à guerrilha de Carlos Lamarca no Vale do Ribeira.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Erasmo Dias cursou a Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre entre 1941 e 1942. Em seguida, ingressou na Escola Militar do Realengo (1943/1944), sucedida pela Academia Militar das Agulhas Negras, onde concluiu o curso como aspirante a oficial de Artilharia, em 1945.

Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (1954) e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (1958/1961). Foi Comandante da 3ª Bateria de Obuses de Costa, como major, no Guarujá (1962/1965) e do 6° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado, na Praia Grande (1968/1970). Foi Chefe do Estado Maior do Comando de Artilharia de Costa Antiaérea, como Coronel, em Santos (1971) e Chefe do Estado Maior da 2a Região Militar, como Coronel, em São Paulo (1973).

Em 1962, concluiu o curso de Bacharelado em História pela Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo,[3] concluindo também no mesmo ano o curso de Licenciatura em História pela mesma Universidade.

Erasmo Dias era coronel reformado da Artilharia do Exército, e se manteve na ativa durante 35 anos.

Em 1962 fez parte do Golpe para depor João Goulart. Durante o Golpe do governo João Goulart em 1964, comandou a ocupação da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão. Em outubro de 1968, quando comandava a Fortaleza de Itaipu (6° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado), em Praia Grande, ali ficaram presos os 22 participantes do frustrado 30º Congresso da UNE, em Ibiúna, dissolvido pela Força Pública e pelo DOPS. Em 1970, no município de Registro, no Vale da Ribeira, Erasmo Dias comandou a malsucedida operação de cerco ao guerrilheiro Carlos Lamarca. Lamarca conseguiu roubar um caminhão do Exército e acabou escapando para São Paulo.[2][4]

Em 1974, foi nomeado secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo no governo de Laudo Natel (1971-1975) - cargo que manteve ao longo do governo de Paulo Egídio Martins, até 1978.

Tomada da PUC[editar | editar código-fonte]

Como secretário da Segurança Pública, Erasmo Dias comandou a ocupação do campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ocorrida na noite de 22 de setembro de 1977. Segundo relato do Diretório Central dos Estudantes da PUC-SP, naquele dia, entre 10h e 14h, haviam sido realizados a Assembleia Estudantil Metropolitana e, secretamente, o III Encontro Nacional de Estudantes (III ENE). O Encontro fazia parte das iniciativas para refundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade perseguida pela Ditadura Militar desde 1968. Um decreto do presidente da República, Ernesto Geisel (1975-1979), subscrito pelo ministro da Justiça, Armando Falcão, proibia concentração estudantil em qualquer lugar, inclusive nos campi. Ainda assim, os estudantes em assembleia decidiram promover uma manifestação pública naquela noite, em protesto contra o cerco policial da Universidade de São Paulo, da PUC e da EAESP-FGV, cujo propósito teria sido o de impedir a realização do III Encontro Nacional dos Estudantes (III ENE). Assim, 2000 estudantes se concentraram na via pública, em frente ao teatro da PUC. Porém, pouco depois a concentração foi dissolvida violentamente por cerca de 3000 policiais.[1] Os manifestantes fugiram, e muitos se refugiaram dentro da Universidade, que foi cercada pela polícia.[5][6]

No estacionamento da PUC, mais de 1500 estudantes passaram por triagem policial. Cerca de 500, segundo o coronel Erasmo (854 pessoas, segundo reportagem da Folha de S. Paulo) foram transferidos, em ônibus da prefeitura municipal, para o quartel do Batalhão Tobias de Aguiar, onde passaram por processo de cadastramento e qualificação.

Posteriormente, 92 estudantes foram conduzidos ao DEOPS. Ao final, as autoridades pediram o enquadramento de 32 deles (42 segundo a Folha de S. Paulo) na Lei de Segurança Nacional, acusados de infringir o artigo 39, inciso 1°, que previa pena de 10 a 20 anos de prisão para o ato de incitar a subversão da ordem, e o artigo 43, que estabelecia pena de 2 a 5 anos de prisão por tentativa de reorganizar partidos, entidades e associações de classe extintas por lei.[7]

À época, o presidente Ernesto Geisel, comprometera-se a promover a abertura política, apesar da resistência nos militares da chamada linha-dura, com os quais Erasmo Dias se identificava. A violência da operação policial na PUC repercutiu muito mal e a violência policial contra o movimento estudantil refluiu.

Atividade parlamentar[editar | editar código-fonte]

Depois de deixar a secretaria da Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias foi eleito deputado federal pela extinta Arena em 1978. Foi também eleito deputado estadual por três vezes - pelo PDS e pelo PPR - e, por fim, vereador do Município de São Paulo - pelo PPB. Seu último mandato terminou em 2004. Como parlamentar ficou conhecido pelo discurso radicalmente anticomunista no sentido equivocado do termo.[8]

Erasmo Dias pleiteou uma indenização, como as que foram pagas aos perseguidos políticos da época do regime militar. Porém sua ação jurídica não obteve êxito.

"Sou estigmatizado por ter defendido com unhas e dentes o Brasil contra o regime comunista putrefato. Quero receber reparação. Tenho mais direito a ela do que aqueles terroristas que fizeram guerrilha e agora posam de heróis, ditando as regras neste país", declarou à Folha de S. Paulo, em 2004.[9]

Outras atividades[editar | editar código-fonte]

Desde 1986, Erasmo Dias foi palestrante na matéria Segurança Privada e Criminalidade na empresa Pires Serviços de Segurança Ltda., a maior empresa de segurança privada do estado de São Paulo, que contava com 10 000 guardas registrados, em 1996, e um grande centro de treinamento. Em seu livro, Doutrina de Segurança e Risco, Erasmo Dias defendia a necessidade de um serviço de segurança privada, separado do serviço público.[10]

Morte[editar | editar código-fonte]

Faleceu em 4 de janeiro de 2010 no Hospital do Câncer A. C. Camargo, Erasmo Dias tinha aos 85 anos, vítima de câncer no aparelho digestivo após lutar contra a doença por quase dois anos.[11][12][13]

Livros publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Reflexões de uma Vida. Ed. Santa Inês, 1988
  • Doutrina de Segurança e Risco. Ed. Santa Inês, São Paulo, 1990.
  • Segurança dos Cidadãos – Doutrina de Segurança e Risco – Doutrina de Segurança Pública. Scortecci Editora, 2005. ISBN 85-366-0312-7.

Referências

  1. a b Vítima de câncer, coronel Erasmo Dias é sepultado em Santos Folha de S. Paulo, 6 de janeiro de 2010.
  2. a b Entrevista com o coronel Erasmo Dias, originalmente publicada pelo Jornal A Tribuna, 18 de novembro de 2007, por Andrea Rifer.
  3. Currículo informado no site da Editora Scortecci.
  4. Vítima de câncer, coronel Erasmo Dias morre aos 85 anos em São Paulo. Folha de S. Paulo, 6 de janeiro de 2010.
  5. Coronel Erasmo Dias morre em São Paulo aos 85 anos Terra, 5 de janeiro de 2010.
  6. Relato da invasão da PUC Arquivado em 7 de outubro de 2007, no Wayback Machine.. Diretório Central dos Estudantes da PUC-SP, 22 de novembro de 1977. Fundação Perseu Abramo. Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo, em 28 de novembro de 1977.
  7. «Decreto-Lei Nº 898, de 29 de setembro de 1969 (Lei de Segurança Nacional).». Consultado em 6 de julho de 2014. Arquivado do original em 14 de julho de 2014 
  8. Estadão, 5 de janeiro de 2010. Ex-secretário Erasmo Dias morre aos 85 anos em SP
  9. Morre coronel Erasmo Dias. Agora, 5 de janeiro de 2010.
  10. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/ Edusp, 2003.
  11. «Vítima de câncer, Erasmo Dias morre aos 85 anos em São Paulo». Estadão, 5 de janeiro de 2010. Consultado em 5 de Janeiro de 2010 
  12. «S. Paulo: morre o coronel e ex-deputado Erasmo Dias». mais.uol.com.br. Consultado em 1 de outubro de 2021 
  13. «Corpo do coronel Erasmo Dias, que morreu aos 85, é levado para Santos (SP) - 05/01/2010 - Cotidiano - Folha de S.Paulo». m.folha.uol.com.br. Consultado em 1 de outubro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]