Desindustrialização no Brasil: diferenças entre revisões
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Até a década de 1970, a indústria brasileira era mais forte do que a da [[Coreia do Sul]] (na época um país pobre, tal como o Brasil).<ref name="Unicamp">{{citar web|url=https://www3.eco.unicamp.br/cede/centro/146-destaque/508-desindustrializacao-no-brasil-e-real-e-estrutural|título=Desindustrialização no Brasil é real e estrutural|autor=|publicado=CEDE|data=17 de junho de 2011|acessodata=5 de abril de 2019}}</ref><ref>{{citar web|url=https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/milagre-na-coreia-do-sul-de-mais-pobre-que-o-gana-a-um-dos-paises-mais-ricos-do-mundo-246425|título=‘Milagre’ na Coreia do Sul: de mais pobre que o Gana a um dos países mais ricos do mundo|autor=|publicado=O Jornal Económico|data=18 de dezembro de 2017|acessodata=5 de abril de 2019}}</ref> |
Entre 1930 e 1980, o Brasil se [[Industrialização no Brasil|industrializou]] e se desenvolveu de forma acelerada, sob uma estratégia baseada na [[substituição de importações]] e no [[Dívida externa|endividamento externo]]. Até a década de 1970, a indústria brasileira era mais forte do que a da [[Coreia do Sul]] (na época um país pobre, tal como o Brasil).<ref name="Unicamp">{{citar web|url=https://www3.eco.unicamp.br/cede/centro/146-destaque/508-desindustrializacao-no-brasil-e-real-e-estrutural|título=Desindustrialização no Brasil é real e estrutural|autor=|publicado=CEDE|data=17 de junho de 2011|acessodata=5 de abril de 2019}}</ref><ref>{{citar web|url=https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/milagre-na-coreia-do-sul-de-mais-pobre-que-o-gana-a-um-dos-paises-mais-ricos-do-mundo-246425|título=‘Milagre’ na Coreia do Sul: de mais pobre que o Gana a um dos países mais ricos do mundo|autor=|publicado=O Jornal Económico|data=18 de dezembro de 2017|acessodata=5 de abril de 2019}}</ref> Após a [[Crise da dívida externa latino-americana|Crise da Dívida Externa]] nos anos 1980 e os reajustes que estabilizaram a economia na década seguinte, como o [[Plano Real]], um processo contínuo de [[desindustrialização]] prematura devastou o setor, sobretudo o da indústria de transformação.<ref>{{Citar web |url=https://iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20190418_industria.html |titulo=Um Mal Brasileiro: declínio industrial em setores de maior tecnologia |acessodata=2021-04-22 |website=iedi.org.br |lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://iedi.org.br/artigos/top/estudos_industria/20190418_desindustrializacao.html |titulo=Desindustrialização setorial no Brasil |acessodata=2021-04-22 |website=iedi.org.br |lingua=pt-br}}</ref> A indústria, que em 1985 chegou a compor metade do PIB nacional, em 2020 representou apenas um quinto, sendo esses valores respectivamente o máximo e o mínimo da série histórica iniciada em 1947.<ref>{{Citar web |url=https://industriabrasileira.portaldaindustria.com.br/grafico/total/producao/ |titulo=Perfil da Indústria Brasileira – CNI |acessodata=2021-04-22 |website=industriabrasileira.portaldaindustria.com.br}}</ref> A parcela do emprego industrial em relação ao total do emprego formal em 1986 era de 27% e reduziu-se para 15% em 2019.<ref name=":0">{{Citar web |url=https://www.brasildefato.com.br/2019/03/15/por-que-a-industria-de-transformacao-nacional-ocupa-menor-patamar-no-pib-desde-1947 |titulo=Por que a indústria de transformação tem a menor participação no PIB desde 1947? |acessodata=2021-04-22 |website=Brasil de Fato |lingua=pt-BR}}</ref> |
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== Desindustrialização prematura == |
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A desindustrialização é um processo que ocorre espontaneamente em muitas economias conforme suas populações enriquecem e começam a gastar mais em serviços do que bens de consumo, os quais já adquiriram, o que é chamado de desindustrialização madura.<ref name=":0" /> Entretanto, observa-se que em algumas economias, como a brasileira e outras latino-americanas, o processo ocorreu antes da renda média da população atingir níveis que poderiam explicá-lo.<ref>{{citar periódico |titulo=PREMATURE DEINDUSTRIALIZATION |jornal=John F. Kennedy School of Government, Harvard University |publicado=Harvard University |ultimo=Rodrik |primeiro=Dani}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Mendonça |primeiro=Heloísa |url=https://brasil.elpais.com/economia/2020-03-04/mola-de-emprego-e-do-pib-industria-brasileira-nao-reage-e-emperra-avanco-da-economia.html |titulo=Mola de emprego e do PIB, indústria brasileira não reage e emperra avanço da economia |data=2020-03-04 |acessodata=2021-04-22 |website=EL PAÍS |lingua=pt-br}}</ref> Segundo Rafael Cagninm, economista-chefe do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial):<blockquote>"É normal que a indústria perca espaço quando a renda per capita das famílias começa a crescer, já que elas consomem mais serviços e menos bens. É uma trajetória que acontece em vários países desenvolvidos, mas, no caso do Brasil, não atingimos uma renda per capita alta ou nos enriquecemos o suficiente para a nossa estrutura produtiva migrar de forma tão rápida."</blockquote> |
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Segundo a [[Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento]] (Unctad), o conjunto de fatores que determinaram a desindustrialização do Brasil, ocorreu em toda a [[América Latina]], mas foi no Brasil, onde se observou o mais significativo caso de desmantelamento precoce da indústria. |
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São diversas as causas históricas, políticas, econômicas e estruturais que explicam perda da competitividade da indústria brasileira e da desindustrialização prematura do país nas últimas décadas. Segundo a [[Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento]] (Unctad), o conjunto de fatores que determinaram a desindustrialização do Brasil, ocorreu em toda a [[América Latina]], mas foi no Brasil, onde se observou o mais significativo caso de desmantelamento precoce da indústria. Ainda de acordo com a Unctad, medidas liberais exigidas pelo [[Banco Mundial]] e pelo [[Fundo Monetário Internacional]] (abertura de mercados, privatização, desregulamentação, livre movimento de capitais, etc.) como condição para a obtenção de empréstimos, também tiveram impactos negativos sobre as indústrias brasileira e latino-americanas.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37432485 |titulo=Brasil passa por desindustrialização precoce, aponta pesquisa da ONU |acessodata=2021-04-22 |jornal=BBC News Brasil |lingua=pt-BR}}</ref> Em 2016, em um documento oficial, o próprio Fundo Monetário Internacional reconheceu os impactos negativos de longo prazo do neoliberalismo nas economias mundiais.<ref>{{Citar web |ultimo=G1 |primeiro=Do |ultimo2=Paulo |primeiro2=em São |url=http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/05/fmi-diz-que-politicas-neoliberais-aumentaram-desigualdade.html |titulo=FMI diz que políticas neoliberais aumentaram desigualdade |data=2016-05-31 |acessodata=2021-04-22 |website=Economia |lingua=pt-br |ultimo3=Agências |primeiro3=Com}}</ref> |
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⚫ | A indústria brasileira foi historicamente impulsionada pela política de [[substituição de importações]] e juros subsidiados ([[Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social|BNDES]]), os problemas começaram com a [[Crise da dívida externa latino-americana| |
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=== Crise da Dívida Externa Latino-americana === |
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O processo se intensificou com a abertura comercial no começo da década de 1990 ([[Governo Collor]]), associado ao abandono das [[desenvolvimentismo|políticas desenvolvimentistas]] e sucedido pelo emprego da sobrevalorização do Real ([[Populismo cambial no Brasil|populismo cambial]]) como ferramenta de combate à inflação. |
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⚫ | A indústria brasileira foi historicamente impulsionada pela política de [[substituição de importações]] e juros subsidiados ([[Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social|BNDES]]), mas os problemas começaram com a [[Crise da dívida externa latino-americana|Crise da Dívida Externa]], que deu início a chamada "[[década perdida]]" na região da [[América Latina]]. A crise foi especialmente problemática no caso do Brasil, que havia se endividado muito ao longo do processo de industrialização, especialmente durante a Ditadura Militar. A elevação brusca da taxa de juros internacionais causou uma grave crise econômica, que resultou em hiperinflação e eventualmente culminou no Plano Real e outras reformas. Tanto a crise como a forma como os governos lidaram com ela prejudicaram fortemente a expansão e a lucratividade da indústria durante e muito após a crise em si. |
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=== O Plano Real e as reformas de 1990 === |
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Associada à sobrevalorização do Real, existia a política de juros altos, necessários à preservação da referida sobrevalorização. Durante os mandatos de [[Fernando Henrique Cardoso]], os juros da dívida pública ficaram em um patamar próximo a 8% do PIB. Durante os mandatos de [[Lula]], esses percentuais estiveram entre 6,5 e 6% do PIB, ou seja, os juros da dívida pública foram muito elevados por um longo período. |
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Após uma série de tentativas fracassadas, o [[Plano Real]], iniciado em 1994, entre outras reformas de cunho neoliberal ocorridas na mesma década, conseguiram finalmente estabilizar a economia brasileira. Apesar disso, alguns economistas desenvolvimentistas, como o ex-ministro da Fazenda [[Bresser-Pereira]], criticam várias das medidas adotadas por essas reformas, em particular a taxa de [[câmbio flutuante]] e os juros altos impostos pelo [[Banco Central do Brasil|Banco Centra]]<nowiki/>l, que são utilizadas para o controle do balanço de pagamentos e inflação, porém, afirmam eles, afetam negativamente a competitividade da indústria nacional. |
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==== Taxa de câmbio sobrevalorizada e juros altos ==== |
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De acordo com a Unctad, medidas liberais exigidas pelo [[Banco Mundial]] e pelo [[Fundo Monetário Internacional]] (abertura de mercados, privatização, desregulamentação, livre movimento de capitais, etc.) como condição para a obtenção de empréstimos, também tiveram impactos negativos sobre as indústrias brasileira e latino-americanas. |
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Bresser-Pereira afirma que a política cambial do Brasil desde então tem sido incapaz de combater um dos principais problemas que suas indústrias enfrentam, que é a tendência da economia brasileira à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio, que causa, entre outros problemas, a [[doença holandesa]]. A neutralização dessa no mercado interno, diz ele, antes era feita pelas tarifas aduaneiras, porém, essas foram diluídas em meio à abertura comercial durante o [[Governo Collor]], o qual é associado ao abandono das [[desenvolvimentismo|políticas desenvolvimentistas]], sendo sucedido pelo emprego da sobrevalorização do Real, ou [[Populismo cambial no Brasil|populismo cambial]], como ferramenta de combate à inflação. Uma taxa de câmbio sobrevalorizada não é competitiva, pois não encontra-se em equilíbrio industrial, o que faz com que mesmo empresas industriais brasileiras que utilizem tecnologia no estado da arte mundial não sejam competitivas no mercado internacional.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40142012000200002&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=The exchange rate at the center of development economics |data=2012-08-XX |acessodata=2021-04-22 |jornal=Estudos Avançados |número=75 |ultimo=Bresser-Pereira |primeiro=Luiz Carlos |paginas=7–28 |doi=10.1590/S0103-40142012000200002 |issn=0103-4014}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=2A9jDwAAQBAJ&newbks=0&hl=pt-BR|título=Em busca do desenvolvimento perdido: um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil|ultimo=Bresser-Pereira|primeiro=Luiz Carlos|data=2018-06-15|editora=Editora FGV|lingua=pt-BR}}</ref> A partir de 2003 teve início o [[Boom das commodities na década de 2000|boom das commodities]] que promoveu uma recuperação na [[balança comercial]], a partir do aumento das exportações, o que gerou maior uma entrada de dólares. Também houve uma maior entrada de dólares para financiar empresas ligadas às exportações de produtos primários, empresas ligadas ao consumo interno e a compra de títulos da dívida pública.{{Carece de fontes|data=abril de 2021}} Essa situação prolongou e agravou o problema da sobrevalorização do Real, e o déficit comercial do setor industrial cresceu muito, principalmente em setores de maior tecnologia como os eletrônicos, cujo déficit era de quase 20 bilhões de dólares em 2010.<ref name="Unicamp" /><ref name="bbc">[https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37432485 Brasil passa por desindustrialização precoce, aponta pesquisa da ONU], acesso em 05 de abril de 2019.</ref><ref>[http://carta.fee.tche.br/article/desindustrializacao-no-brasil/ Desindustrialização no Brasil], acesso em 05 de abril de 2019.</ref> |
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Ademais, a política de juros altos faz com que a taxa de câmbio valorize-se no longo prazo, sendo mais um fator que a distancia do equilíbrio industrial, o que, de acordo com Bresser-Pereira, faz com que as empresas do setor tenham lucros insuficientes para poupar e investir e acabem utilizando o pouco lucro que obtêm pagando dividendos ou fazendo aplicações financeiras.<ref>{{Citar web |ultimo=Rocha |primeiro=Stefany de Jesus |url=http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/579347-por-que-os-juros-e-o-cambio-artigo-de-luiz-carlos-bresser-pereira |titulo=Por que os juros e o câmbio? Artigo de Luiz Carlos Bresser-Pereira |acessodata=2021-04-22 |website=www.ihu.unisinos.br |lingua=pt-br}}</ref> Durante os mandatos de [[Fernando Henrique Cardoso]], os juros da dívida pública ficaram em um patamar próximo a 8% do PIB. Durante os mandatos de [[Lula]], esses percentuais estiveram entre 6,5 e 6% do PIB, ou seja, os juros da dívida pública foram muito elevados por um longo período.{{Carece de fontes|data=abril de 2021}} |
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A partir de 2003 teve início o [[Boom das commodities na década de 2000|boom das commodities]] que promoveu uma recuperação na [[balança comercial]], a partir do aumento das exportações, o que gerou maior uma entrada de dólares. Também houve uma maior entrada de dólares para financiar empresas ligadas às exportações de produtos primários, empresas ligadas ao consumo interno e a compra de títulos da dívida pública. Essa situação prolongou e agravou o problema da sobrevalorização do Real. |
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=== Competição internacional === |
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As políticas de redistribuição de renda, como o aumento do [[salário mínimo]], não evitaram a desindustrialização, pois esse aumento do consumo, em um contexto de Real sobrevalorizado, resultou, principalmente, em um aumento do consumo de produtos importados. |
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A acirrada competição internacional também tem sido um grande desafio à indústria brasileira. Sem o amparo de políticas industriais por parte do Estado e ainda tendo que lidar com problemas como a taxa de câmbio sobrevalorizada e juros altos, a indústria brasileira tem perdido espaço tanto no mercado nacional quanto no internacional, sendo forçada a competir com outras que contam com apoio de agressivas e eficazes políticas industriais, de inovação e tecnologia, como a chinesa.<ref>{{Citar web |ultimo=Gala |primeiro=Paulo |url=https://www.paulogala.com.br/politica-industrial-na-china-caso-de-sucesso/ |titulo=Politica industrial na China: caso de sucesso |data=2020-11-23 |acessodata=2021-04-22 |website=Paulo Gala / Economia & Finanças |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://papers.ssrn.com/abstract=902348 |titulo=What's so Special About China's Exports? |data=2006-01-01 |acessodata=2021-04-22 |ultimo=Rodrik |primeiro=Dani |local=Rochester, NY |lingua=en}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2014/10/27/industria-diz-que-roupa-barata-da-china-cria-cemiterio-de-empregos-no-pais.htm |titulo=Indústria diz que roupa barata da China cria cemitério de empregos no país |acessodata=2021-04-22 |website=economia.uol.com.br |lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,custo-brasil-afeta-disputa-com-a-china,1552259 |titulo=Custo Brasil afeta disputa com a China - Economia |acessodata=2021-04-22 |website=Estadão |lingua=pt-BR}}</ref> |
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=== O "Custo Brasil" === |
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O déficit comercial do setor industrial cresceu muito, principalmente em setores de maior tecnologia como os eletrônicos, nesse setor o déficit era de quase 20 bilhões de dólares, em 2010.<ref name="Unicamp"/><ref name ="bbc">[https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37432485 Brasil passa por desindustrialização precoce, aponta pesquisa da ONU], acesso em 05 de abril de 2019.</ref><ref>[http://carta.fee.tche.br/article/desindustrializacao-no-brasil/ Desindustrialização no Brasil], acesso em 05 de abril de 2019.</ref> |
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O termo se refere aos desafios estruturais, tributários, burocráticos, logísticos e jurídicos associados ao Brasil, que fazem do país menos competitivo no mercado internacional. Problemas como infraestrutura pobre e um sistema tributário pesado e complexo são exemplos do "Custo Brasil". Um estudo encomendado por associações do setor produtivo que comparou o país com outros da OCDE concluiu que as empresas brasileiras pagam 1,5 trilhão de reais a mais para realizarem seus negócios.<ref>{{Citar web |url=http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/o-que-e-custo-brasil/ |titulo=Custo Brasil |acessodata=2021-04-22 |website=Portal da Indústria |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Construção |primeiro=CBIC-Câmara Brasileira da Indústria da |url=https://cbic.org.br/governo-mede-custo-brasil-e-lanca-programa-de-competitividade/ |titulo=Governo mede custo Brasil e lança programa de competitividade |data=2019-11-29 |acessodata=2021-04-22 |website=CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção |lingua=pt-BR}}</ref> |
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== Ver também == |
== Ver também == |
Revisão das 19h35min de 22 de abril de 2021
Existem diversos dados que demonstram a desindustrialização no Brasil.
Entre 1930 e 1980, o Brasil se industrializou e se desenvolveu de forma acelerada, sob uma estratégia baseada na substituição de importações e no endividamento externo. Até a década de 1970, a indústria brasileira era mais forte do que a da Coreia do Sul (na época um país pobre, tal como o Brasil).[1][2] Após a Crise da Dívida Externa nos anos 1980 e os reajustes que estabilizaram a economia na década seguinte, como o Plano Real, um processo contínuo de desindustrialização prematura devastou o setor, sobretudo o da indústria de transformação.[3][4] A indústria, que em 1985 chegou a compor metade do PIB nacional, em 2020 representou apenas um quinto, sendo esses valores respectivamente o máximo e o mínimo da série histórica iniciada em 1947.[5] A parcela do emprego industrial em relação ao total do emprego formal em 1986 era de 27% e reduziu-se para 15% em 2019.[6]
Desindustrialização prematura
A desindustrialização é um processo que ocorre espontaneamente em muitas economias conforme suas populações enriquecem e começam a gastar mais em serviços do que bens de consumo, os quais já adquiriram, o que é chamado de desindustrialização madura.[6] Entretanto, observa-se que em algumas economias, como a brasileira e outras latino-americanas, o processo ocorreu antes da renda média da população atingir níveis que poderiam explicá-lo.[7][8] Segundo Rafael Cagninm, economista-chefe do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial):
"É normal que a indústria perca espaço quando a renda per capita das famílias começa a crescer, já que elas consomem mais serviços e menos bens. É uma trajetória que acontece em vários países desenvolvidos, mas, no caso do Brasil, não atingimos uma renda per capita alta ou nos enriquecemos o suficiente para a nossa estrutura produtiva migrar de forma tão rápida."
Causas
São diversas as causas históricas, políticas, econômicas e estruturais que explicam perda da competitividade da indústria brasileira e da desindustrialização prematura do país nas últimas décadas. Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o conjunto de fatores que determinaram a desindustrialização do Brasil, ocorreu em toda a América Latina, mas foi no Brasil, onde se observou o mais significativo caso de desmantelamento precoce da indústria. Ainda de acordo com a Unctad, medidas liberais exigidas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (abertura de mercados, privatização, desregulamentação, livre movimento de capitais, etc.) como condição para a obtenção de empréstimos, também tiveram impactos negativos sobre as indústrias brasileira e latino-americanas.[9] Em 2016, em um documento oficial, o próprio Fundo Monetário Internacional reconheceu os impactos negativos de longo prazo do neoliberalismo nas economias mundiais.[10]
Crise da Dívida Externa Latino-americana
A indústria brasileira foi historicamente impulsionada pela política de substituição de importações e juros subsidiados (BNDES), mas os problemas começaram com a Crise da Dívida Externa, que deu início a chamada "década perdida" na região da América Latina. A crise foi especialmente problemática no caso do Brasil, que havia se endividado muito ao longo do processo de industrialização, especialmente durante a Ditadura Militar. A elevação brusca da taxa de juros internacionais causou uma grave crise econômica, que resultou em hiperinflação e eventualmente culminou no Plano Real e outras reformas. Tanto a crise como a forma como os governos lidaram com ela prejudicaram fortemente a expansão e a lucratividade da indústria durante e muito após a crise em si.
O Plano Real e as reformas de 1990
Após uma série de tentativas fracassadas, o Plano Real, iniciado em 1994, entre outras reformas de cunho neoliberal ocorridas na mesma década, conseguiram finalmente estabilizar a economia brasileira. Apesar disso, alguns economistas desenvolvimentistas, como o ex-ministro da Fazenda Bresser-Pereira, criticam várias das medidas adotadas por essas reformas, em particular a taxa de câmbio flutuante e os juros altos impostos pelo Banco Central, que são utilizadas para o controle do balanço de pagamentos e inflação, porém, afirmam eles, afetam negativamente a competitividade da indústria nacional.
Taxa de câmbio sobrevalorizada e juros altos
Bresser-Pereira afirma que a política cambial do Brasil desde então tem sido incapaz de combater um dos principais problemas que suas indústrias enfrentam, que é a tendência da economia brasileira à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio, que causa, entre outros problemas, a doença holandesa. A neutralização dessa no mercado interno, diz ele, antes era feita pelas tarifas aduaneiras, porém, essas foram diluídas em meio à abertura comercial durante o Governo Collor, o qual é associado ao abandono das políticas desenvolvimentistas, sendo sucedido pelo emprego da sobrevalorização do Real, ou populismo cambial, como ferramenta de combate à inflação. Uma taxa de câmbio sobrevalorizada não é competitiva, pois não encontra-se em equilíbrio industrial, o que faz com que mesmo empresas industriais brasileiras que utilizem tecnologia no estado da arte mundial não sejam competitivas no mercado internacional.[11][12] A partir de 2003 teve início o boom das commodities que promoveu uma recuperação na balança comercial, a partir do aumento das exportações, o que gerou maior uma entrada de dólares. Também houve uma maior entrada de dólares para financiar empresas ligadas às exportações de produtos primários, empresas ligadas ao consumo interno e a compra de títulos da dívida pública.[carece de fontes] Essa situação prolongou e agravou o problema da sobrevalorização do Real, e o déficit comercial do setor industrial cresceu muito, principalmente em setores de maior tecnologia como os eletrônicos, cujo déficit era de quase 20 bilhões de dólares em 2010.[1][13][14]
Ademais, a política de juros altos faz com que a taxa de câmbio valorize-se no longo prazo, sendo mais um fator que a distancia do equilíbrio industrial, o que, de acordo com Bresser-Pereira, faz com que as empresas do setor tenham lucros insuficientes para poupar e investir e acabem utilizando o pouco lucro que obtêm pagando dividendos ou fazendo aplicações financeiras.[15] Durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso, os juros da dívida pública ficaram em um patamar próximo a 8% do PIB. Durante os mandatos de Lula, esses percentuais estiveram entre 6,5 e 6% do PIB, ou seja, os juros da dívida pública foram muito elevados por um longo período.[carece de fontes]
Competição internacional
A acirrada competição internacional também tem sido um grande desafio à indústria brasileira. Sem o amparo de políticas industriais por parte do Estado e ainda tendo que lidar com problemas como a taxa de câmbio sobrevalorizada e juros altos, a indústria brasileira tem perdido espaço tanto no mercado nacional quanto no internacional, sendo forçada a competir com outras que contam com apoio de agressivas e eficazes políticas industriais, de inovação e tecnologia, como a chinesa.[16][17][18][19]
O "Custo Brasil"
O termo se refere aos desafios estruturais, tributários, burocráticos, logísticos e jurídicos associados ao Brasil, que fazem do país menos competitivo no mercado internacional. Problemas como infraestrutura pobre e um sistema tributário pesado e complexo são exemplos do "Custo Brasil". Um estudo encomendado por associações do setor produtivo que comparou o país com outros da OCDE concluiu que as empresas brasileiras pagam 1,5 trilhão de reais a mais para realizarem seus negócios.[20][21]
Ver também
- Indústria no Brasil
- História da industrialização no Brasil
- Década perdida – crise no Brasil e em outros países nos anos 80
- Crise econômica de 2007–2008
- Crise de 2014 no Brasil
Referências
- ↑ a b «Desindustrialização no Brasil é real e estrutural». CEDE. 17 de junho de 2011. Consultado em 5 de abril de 2019
- ↑ «'Milagre' na Coreia do Sul: de mais pobre que o Gana a um dos países mais ricos do mundo». O Jornal Económico. 18 de dezembro de 2017. Consultado em 5 de abril de 2019
- ↑ «Um Mal Brasileiro: declínio industrial em setores de maior tecnologia». iedi.org.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Desindustrialização setorial no Brasil». iedi.org.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Perfil da Indústria Brasileira – CNI». industriabrasileira.portaldaindustria.com.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ a b «Por que a indústria de transformação tem a menor participação no PIB desde 1947?». Brasil de Fato. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ Rodrik, Dani. «PREMATURE DEINDUSTRIALIZATION». Harvard University. John F. Kennedy School of Government, Harvard University
- ↑ Mendonça, Heloísa (4 de março de 2020). «Mola de emprego e do PIB, indústria brasileira não reage e emperra avanço da economia». EL PAÍS. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Brasil passa por desindustrialização precoce, aponta pesquisa da ONU». BBC News Brasil. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ G1, Do; Paulo, em São; Agências, Com (31 de maio de 2016). «FMI diz que políticas neoliberais aumentaram desigualdade». Economia. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2012-08-XX). «The exchange rate at the center of development economics». Estudos Avançados (75): 7–28. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40142012000200002. Consultado em 22 de abril de 2021 Verifique data em:
|data=
(ajuda) - ↑ Bresser-Pereira, Luiz Carlos (15 de junho de 2018). Em busca do desenvolvimento perdido: um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil. [S.l.]: Editora FGV
- ↑ Brasil passa por desindustrialização precoce, aponta pesquisa da ONU, acesso em 05 de abril de 2019.
- ↑ Desindustrialização no Brasil, acesso em 05 de abril de 2019.
- ↑ Rocha, Stefany de Jesus. «Por que os juros e o câmbio? Artigo de Luiz Carlos Bresser-Pereira». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ Gala, Paulo (23 de novembro de 2020). «Politica industrial na China: caso de sucesso». Paulo Gala / Economia & Finanças. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ Rodrik, Dani (1 de janeiro de 2006). «What's so Special About China's Exports?». Rochester, NY (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Indústria diz que roupa barata da China cria cemitério de empregos no país». economia.uol.com.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Custo Brasil afeta disputa com a China - Economia». Estadão. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Custo Brasil». Portal da Indústria. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ Construção, CBIC-Câmara Brasileira da Indústria da (29 de novembro de 2019). «Governo mede custo Brasil e lança programa de competitividade». CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Consultado em 22 de abril de 2021