Aquífero Alter do Chão

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Aquífero Alter do Chão
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Geografia
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Funcionamento
Estatuto

O Aquífero Alter do Chão ou Sistema Aquífero Alter do Chão, é um aquífero localizado sob os estados do Pará, Amapá e Amazonas, constituindo um complexo e heterogêneo, com significante anisotropia, de modo que seus parâmetros hidráulicos apresentam uma ampla variação horizontal e vertical [1].

O aquífero está distribuído por uma extensa área da região Norte do Brasil, distribuído nas bacias sedimentares do Amazonas e Solimões. Esse sistema aquífero possui um papel importante no fornecimento de água de boa qualidade, com grandes potenciais de uso.[2] Ele recebe o nome da região de Alter do Chão, no estado do Pará, onde foi identificado pela primeira vez [3].

Localização Geográfica[editar | editar código-fonte]

O Aquífero Alter do Chão ocupa a parte leste do estado do Amazonas, a porção centro-norte do Pará e o extremo sul do Amapá. Estimativas de 2013 indicam que o aquífero possui uma área de mais de [2], maior que toda a área do Paraguai.

Ilustração do Aquífero de Alter do Chão nos estados Brasileiros

Contexto Geológico[editar | editar código-fonte]

As Bacias sedimentares do Solimões e do Amazonas são as duas maiores bacias da região amazônica no Brasil, e são as detentoras das principais unidades aquíferas [2]. Essas bacias estão no contexto da Província Hidrogeológica Amazonas, que também abrange as bacias sedimentares do Marajó e do Acre [4].

As bacias sedimentares que compõem a Província Hidrogeológica do Amazonas depositaram-se sobre o Cráton Amazônico, sendo delimitadas a norte pelo Escudo das Guianas, e a sul pelo Escudo Brasileiro, e divididas por arcos [4].

A Bacia do Amazonas trata-se de uma bacia Paleozoica intracratônica e apresenta formato alongado segundo a direção WSW-ENE, separada da Bacia do Marajó a leste pelo Arco de Gurupá, e da Bacia do Solimões a oeste pelo Arco de Purus [5]. A Bacia do Amazonas apresenta duas megassequências que somam mais de 5.000 m de rochas sedimentares e rochas magmáticas [5]: uma Paleozoica formada por rochas sedimentares e grande volume de intrusões de diabásio; outra Mesozoico-Cenozoica com rochas sedimentares, que incluem as formações Alter do Chão, Solimões e Içá [6], que serão detalhadas devido às suas relações no Sistema Aquífero Alter do Chão.

Formações[editar | editar código-fonte]

A Formação Alter do Chão [7] é constituída por intercalações de conglomerado, arenito (que atua como uma espécie de esponja, armazenando água subterrânea), argilito e siltito, com espessura normalmente entre 200 e 400 m, podendo atingir até 1266 m [8], depositados discordantemente sobre a unidade Paleozoica. Nessa formação ocorre arenito fino a grosso, com grãos angulosos a subarredondados e seleção pobre a moderada, de cor avermelhada ou esbranquiçada com matriz caulinítica; pelito maciço com bioturbações; conglomerado com clastos de pelito, granito e gnaisse, e matriz argilosa caulinítica a quartzosa de granulometria média a grossa e mal selecionada (MENDES ET AL 2012). Esses sedimentos são interpretados como depositados em sistema fluvial meandrante de alta energia [9].

Formação Solimões[editar | editar código-fonte]

A formação Alter do Chão é coberta pela Formação Solimões, que ocorre na bacia homônima e na do Acre, além da porção oeste da Bacia do Amazonas [5]. É composta por pelitos maciços e laminados, camadas de linhito e arenito fino a grosso, subangulares a subarredondados [10], depositados em ambiente fluvial meandrante e lacustre [11].

Formação Içá[editar | editar código-fonte]

Discordantemente acima da Formação Solimões, ocorre a Formação Içá [12], localizada também nas bacias do Acre e Solimões, e na parte oeste da Bacia do Amazonas [4]. É composta por arenito fino a médio, siltito e subordinadamente conglomerado [13], de ambiente fluvial e lacustre [5].

Geofísica[editar | editar código-fonte]

Estudos de Eletrorresistividade, utilizando a técnica de Sondagem Elétrica Vertical (SEV) evidenciaram e mapearam unidades geológicas constituintes do Sistema Aquífero Alter do Chão, delimitando por meio de resultados interpretados em consonância com amostragens de calha e perfilagens geofísicas de poços duas zonas distintas. A primeira correspondeu a camadas argilosas e arenosas, de até 50 metros de profundidade, com limitada continuidade lateral. A segunda, a camadas areno-argilosas e arenosas, de 50 a 290 metros de profundidade, com continuidade lateral superior a primeira zona [14].

Hidrogeologia[editar | editar código-fonte]

Aspectos gerais[editar | editar código-fonte]

O Sistema Aquífero Alter do Chão está inserido no Sistema Aquífero Grande Amazonas (SAGA), que corresponde às unidades do Eo-Neo Cretáceo ao Cenozoico da bacias do Acre, Solimões, Amazonas e Marajó no Brasil "[15], e compreende um sistema hidrogeológico de aquífero com zonas livres e confinadas [4].

O Sistema ocupa uma extensa área na Bacia Sedimentar do Amazonas, apresentando cerca de 200 metros de espessura, sendo desses 175 metros saturados, evidenciando uma porosidade efetiva de cerca de 15%-20% e área de ocorrência de aproximadamente [16]. Estima-se que o volume de saturação do Sistema é de cerca de , sendo, por falta de estudos mais detalhados na região, o valor adotado como representativo da ordem de grandeza da reserva permanente do Sistema [2]. O Sistema apresenta grande potencial para abastecimento público, por apresentar baixa vulnerabilidade e ser uma grande reserva, constituindo um importante manancial para explotação de água subterrânea na região[17].

Características Hidrodinâmicas[editar | editar código-fonte]

Ensaios realizados em poços localizados nos arredores de Santarém (PA) revelaram alguns parâmetros hidrodinâmicos a nível local, dada a dimensão do aquífero não é possível extrapolar esses valores para toda sua dimensão, contudo são comumente usados como valores de referência.

Análises acerca do coeficiente de armazenamento (S), relativo ao volume de água que o aquífero libera por unidade de área superficial do aquífero ou por unidade de variação da carga hidráulica, encontraram um valor máximo de e um valor mínimo de [18].

Os ensaios de condutividade hidráulica (K), relativo à facilidade com que um a água se transporta no meio, revelaram valor máximo de e mínimo de [18], que são valores condizentes com a geologia da bacia sedimentar em que se encontra o aquífero[19].

Por fim, a partir de ensaios de transmissividade, que revelam a vazão da água que escoa em faixas de gradiente unitário pelas camadas saturadas, foi encontrado um coeficiente (T) com valor mínimo de e máximo de [18]. Esses valores revelam a potencialidade do aquífero para fornecer água em grande escala, destacam-se as possibilidades de abastecimento municipal, uso industrial e irrigação.

Hidroquímica[editar | editar código-fonte]

O Sistema Aquífero Alter do Chão é caracterizado por apresentar águas de composições ácidas, devido a constituições siliciclásticas, principalmente pela presença de areias e argilas, que conferem conteúdos mais ricos em sílica [20]. A qualidade da água distribuída no Sistema é considerada boa, e apresenta pH médio de 4,8, evidenciando sólidos totais dissolvidos em quantidade inferior a 100 mg/L. Apesar da boa qualidade, estudos na região de Santarém apontaram índices de vulnerabilidade à contaminação elevados em algumas porções, que quando comparadas com a região como um todo, são minoria, uma vez que a maioria dos índices representaram vulnerabilidade baixa ou moderada [18]. Na região de Manaus, onde a maioria dos estudos e levantamentos foram realizados, as águas apresentam pH variando entre 4,1 e 5,4, sendo caracterizadas como fracamente mineralizadas, sendo predominantemente cloretadas sódicas ou potássicas [4]. A temperatura média da água no Sistema é de 25,0 ºC a 29,6 ºC.

Reserva[editar | editar código-fonte]

Por meio de cálculos de reserva reguladora e reserva permanente, foram estimadas as reservas totais do Sistema Aquífero Alter do Chão em [18]. Comparado ao SAGA, com reserva estimada de [21], o Sistema Aquífero Alter do Chão representa cerca de 5,3% da reserva deste.

Balanço hídrico[editar | editar código-fonte]

Existem poucas informações a respeito do balanço hídrico em questão de entradas e saídas de água do aquífero Alter do Chão, inexistem estudos que correlacionam a hidrogeologia com o regime pluviométrico, hidrologia superficial, os fluxos de base e as relações de evapotranspiração do ecossistema. Os poucos dados existentes estão contidos em estudos técnicos de empresas privadas. Como o relatório realizado pela empresa Shaft Consultoria em 2005[17], para avaliar a potencialidade do aquífero na área da cidade de Manaus (AM). A qual obteve uma taxa de entrada e saída diária de . Determinando que 87% da entrada corresponde a infiltrações pluviométricas, 78% de saída por rios e 19% por poços exploratórios[17].

Importância regional e nacional[editar | editar código-fonte]

O aquífero desempenha um papel fundamental no equilíbrio hídrico da região, fornecendo água para rios, igarapés, lagos e comunidades locais. Além disso, é uma importante fonte de água para atividades agrícolas, industriais e de abastecimento público [22].

Principais ameaças[editar | editar código-fonte]

No entanto, assim como outros aquíferos em todo o mundo, o Aquífero Alter do Chão enfrenta desafios e ameaças à sua sustentabilidade. O aumento da demanda por água, o desmatamento, a contaminação por atividades humanas e as mudanças climáticas são questões que podem afetar a disponibilidade e a qualidade da água nesse aquífero [23]. Também, com a crescente popularização da região, o aquífero conta com a sobrecarga da deposição de lixo, contaminando os solos e sua rede de distribuição. [24]

Portanto, é crucial adotar medidas de gestão sustentável da água, como a conservação dos ecossistemas naturais da região, a regulamentação do uso da água e o monitoramento da qualidade da água, a fim de preservar o Aquífero Alter do Chão e garantir o acesso à água para as gerações futuras [10].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. AZEVEDO, J. H. D. Fluxos subterraneos e recarga do Sistema Aquífero Alter do Chão em lateritos amazônicos: Estudo de caso em Porto Trombetas, Pará. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, 139 p.,  2019.
  2. a b c d SOUZA, E. L.; GALVÃO, P. H. F; PINHEIRO, C. S. S.; BAESSA, M. P. M.; DEMÉTRIO, J. G. A.; BRITO, W. R. R. Síntese da hidrogeologia nas bacias sedimentares do Amazonas e do Solimões: Sistemas Aquíferos Içá-Solimões e Alter do Chão. Geol. USP, Sér. cient., São Paulo, v. 13, n. 1, p. 10-117, 2013.
  3. DE SOUZA, Bruno Ritchieli et al. AQUÍFERO ALTER DO CHÃO, A GRANDE DESCOBERTA. ANAIS DO FÓRUM DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO UNIFUNEC, v. 2, n. 2, 2011.
  4. a b c d e AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Panorama da qualidade das águas subterrâneas no Brasil. Coordenação Geral: João Gilberto Lotufo Conejo. Coordenação Executiva: Marcelo Pires da Costa, José Luiz Gomes Zoby. Brasília, 80 p, 2005.
  5. a b c d CUNHA, P. R. C.; MELO, J. H. G.; SILVA, O. B. Bacia do Amazonas. Boletim de Geociências da PETROBRAS, vol. 15, nº 2, p.227-251, 2007.
  6. CUNHA, F. M. B.; GONZAGA, F. G.; COUTINHO, L. F. C. FEIJÓ, F. J. Bacia do Amazonas. Bol. Geoc. Petrob., 8:47-55, 1994.
  7. KISTLER, P. Historical resume of the Amazon Basin. Belém, PETROBRAS/RENOR, Relatório interno 104-A. 1954.
  8. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Avaliação dos Aquíferos das Bacias Sedimentares da Província Hidrogeológica Amazonas no Brasil (escala 1:1.000.000) e Cidades Pilotos (escala 1:50.000. Brasília, 80 p, 2005.
  9. MENDES, A. C.; TRUCKENBROD, W.; NOGUEIRA, A. C. R. Análise faciológica da Formação Alter do Chão (Cretáceo, Bacia do Amazonas), próximo à cidade de Óbidos, Pará, Brasil. Revista Brasileira de Geociências. 42(1): 39-57, março de 2012.
  10. a b CAPUTO, M. V. Stratigraphy, tectonics, paleoclimatology and paleogeography of northern basins of Brazil. Tese de Doutorado, University of California, Santa Barbara, 583 p., 1984.
  11. CRUZ, N. M. C. Quitinozoários da bacia do Solimões, Brasil. Relatório Interno, 1987.
  12. MAIA, R. G.; GODOY, H. K.; IAMAGUTTI, H. S.; MOURA, P. A.; COSTA, F. S. F.; HOLANDA, M. A.; COSTA, J. A. Projeto Carvão no Alto Solimões. Manaus: Amazonas, 137p. Relatório Interno, 1977.
  13. NOGUEIRA, A. C. R.; ARAI, M.; HORBE A. M.; SILVEIRA, R. R.; SILVA, J. S. A Influência marinha nos depósitos da Formação Solimões na região de Coari (AM): registro da transgressão miocênica na Amazônia ocidental. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 8., 2003. Manaus. Resumos expandidos... Manaus: SBG, 2003.
  14. SOUZA, L. S. B.; VERMA, O. P. Mapeamento de aquíferos na cidade de Manaus/AM (zonas norte e leste) através de perfilagem geofísica de poço e sondagem elétrica vertical. Revista Brasileira de Geociências, v. 19, n. 1, p. 111-127, 2006.
  15. ABREU, F. A. M.; CAVALCANTE, I. N.; MATTA, M. A. S. O sistema aquífero grande Amazônia – SAGA: um imenso potencial de água subterrânea no Brasil. In: III Congresso Internacional Meio Ambiente Subterrâneo, 2013, São Paulo - SP. Anais. São Paulo: ABAS, 2013.
  16. AGUIAR, C. J. B.; HORBE, M. A.; ROSA FILHO, S. F.; LOPES, E. S.; MOURA, U. F.; ANDRADE, N. M.; DIÓGENES, H. S. Carta hidrogeológica da cidade de Manaus. CPRM-AM Manaus, 2002.
  17. a b c GEOLÓGICO, SERVIÇO; BRASIL–CPRM, D. O. RELATÓRIO DIAGNÓSTICO AQUÍFERO ALTER DO CHÃO NO ESTADO DO AMAZONAS BACIA SEDIMENTAR DO AMAZONAS.
  18. a b c d e TANCREDI, A. C. F. N. S. Recursos hídricos subterrâneos de Santarém: fundamentos para uso e proteção. 154 p. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 1996.
  19. FREEZE, R. A.; CHERRY, J.A. Groundwater: Englewood Cliffs. New Jersey, 1979.
  20. JUNIOR, M. I. Aquífero Alter do Chão: Análises químicas in loco dos poços construídos pela RIMAS. (SGB-CPRM). In: Revista Águas Subterrâneas, 2012.
  21. ABREU, F. A. M.; CAVALCANTE, I. N.; MATTA, M. A. S. O sistema aquífero grande Amazônia – SAGA: um imenso potencial de água subterrânea no Brasil.In: III Congresso Internacional Meio Ambiente Subterrâneo, 2013, São Paulo - SP. Anais. São Paulo: ABAS, 2013.
  22. CABRAL, Bárbara Dias et al. A tutela jurídica da informação ambiental sobre recursos hídricos no Amazonas: o aquífero Alter do Chão. 2016.
  23. DUARTE, Miqueias Lima et al. Vulnerabilidade natural à contaminação do aquífero Alter do Chão na área urbana de Manaus, Amazonas, Brasil. Revista Monografias Ambientais, p. e7-e7, 2019.
  24. ROCHA, Luiz Cláudio Ribeiro da; HORBE, Adriana Maria Coimbra. Contaminação provocada por um depósito de lixo no aqüífero Alter do Chão em Manaus-AM. Acta Amazônica, v. 36, p. 307-312, 2006.
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