Fronteira Marrocos–Saara Ocidental

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Mapa da fronteira Marrocos-Saara Ocidental

A fronteira Marrocos-Saara Ocidental tem 444 km de comprimento e estende-se desde o Oceano Atlântico, a oeste, à tríplice fronteira com a Argélia, a leste.[1] A fronteira existe puramente no sentido de jure desde a anexação do Saara Ocidental por Marrocos em 1975. A divisa segue uma linha de este a oeste ao longo do paralelo 27° 40' norte.

Descrição[editar | editar código-fonte]

A fronteira começa a ocidente na costa atlântica e consiste numa única linha horizontal, terminando a leste na tríplice fronteira com a Argélia[2] e atravessando uma secção escassamente povoada do deserto do Saara.

História[editar | editar código-fonte]

A fronteira surgiu durante a 'Partilha de África', um período de intensa competição entre as potências europeias no final do século XIX por território e influência em África. O processo culminou na Conferência de Berlim de 1884, na qual as nações europeias interessadas concordaram com suas respetivas reivindicações territoriais e as regras de envolvimento dali por diante.[2] Como resultado deste processo, Espanha anunciou a sua intenção de declarar um protetorado sobre a costa noroeste de África entre o Cabo Bojador e o Cabo Branco, tendo sido formalmente criado como a colónia do Rio de Ouro no ano seguinte.[3]

Ex-territórios espanhóis no noroeste da África

A 27 de junho de 1900, França e Espanha assinaram um tratado que criava uma fronteira entre Rio de Ouro e a África Ocidental Francesa, começando em Cabo Branco e terminando na junção do meridiano 12 W com o paralelo 26 N (i.e., a maior parte da moderna fronteira Mauritânia-Saara Ocidental).[3][2] Esta fronteira foi então estendida por tratado, a 3 de outubro de 1904, até ao que é agora a tríplice fronteira com a Argélia, e depois a oeste ao longo do paralelo 27°40'N, esta última linha formando a fronteira moderna Marrocos-Saara Ocidental; o novo território espanhol assim formado foi denominado Saguia el-Hamra. Outro tratado franco-espanhol foi assinado a 27 de novembro de 1912, criando um protetorado francês sobre a maior parte de Marrocos, simultaneamente cedendo partes do país a Espanha, nomeadamente o litoral mediterrâneo (a 'Zona Norte', ou mais comummente o Marrocos espanhol), o enclave de Ifni e a Faixa do Cabo Juby/Faixa Tarfaya (também conhecida como 'Zona Sul'), esta última formando o que é agora o extremo sul de Marrocos, entre o rio Drá e a fronteira Saguia el-Hamra a 27°40'N acordada em 1904.

De 1946 a 1958, o Marrocos espanhol, a Faixa Tarfaya, Ifni, Rio de Ouro e Saguia el Hamra foram unidos como África Ocidental Espanhola. Marrocos conquistou a independência da França em 1956, incluindo o Marrocos espanhol (à exceção das praças de soberania que permanecem parte da Espanha até aos dias de hoje). O novo estado independente, inspirado pela ideia de criar um 'Grande Marrocos', reivindicou toda a África Ocidental espanhola como território marroquino.[4] Em 1958, Espanha fundiu Rio de Ouro e Saguia el-Hamra como Saara Espanhol[2] e, nesse mesmo ano, cedeu também a Faixa Tarfaya a Marrocos (por via do Tratado de Angra de Cintra ), restabelecendo assim a fronteira de 1904.[3][5] Ifni foi cedida em 1969 (após uma tentativa fracassada de Marrocos de capturar a região por via da força em 1957).[6] Marrocos voltou então as suas atenções para o Saara espanhol, apesar de a Mauritânia (independente desde 1960) também disputar o território, reivindicando a ex-colónia de Rio de Ouro como parte da 'Grande Mauritânia'. Os nacionalistas saraauís formaram entretanto a Frente Polisário, almejando a independência de todo o Saara Espanhol como Sahara Ocidental, tendo iniciado uma campanha de guerrilha de baixo nível. Uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça sobre o assunto em outubro de 1975 declarou que as reivindicações marroquina e mauritana do Sahara Ocidental não eram suficientemente fortes para justificar a anexação, e que ao povo Saraauí deve ser permitido determinar o seu próprio futuro.[7] Depois disso, Marrocos procurou resolver a questão militarmente e, em novembro de 1975, conduziu a 'Marcha Verde', na qual milhares de soldados e nacionalistas marroquinos cruzaram à força a fronteira entre Marrocos e o Saara espanhol. O ditador espanhol Francisco Franco estava, nessa época, à beira da morte, e o país não estava disposto a responder militarmente num momento tão delicado, ansioso para evitar o tipo de guerra colonial prolongada que atormentou Portugal nas colónias africanas. Espanha, então, assinou um tratado com Marrocos e a Mauritânia, dividindo o Saara espanhol em aproximadamente duas partes, quase dois terços a favor de Marrocos. Depois disso, Marrocos absorveu a sua secção para o seu território e a fronteira Marrocos-Saara Ocidental deixou de existir de facto, com subsequentes reorganizações administrativas marroquinas que ignoravam totalmente a fronteira. As forças da Frente Polisário declararam uma República Árabe Saarauí Democrática com base nas fronteiras do Saara Espanhol, iniciando assim uma longa guerra contra Marrocos e a Mauritânia. Relutantes em continuar o conflito, a Mauritânia retirou-se da sua zona em 1979, que foi então anexada por Marrocos.

Mapa mostrando a berma - Marrocos controla todas as áreas a oeste dela, e a Frente Polisário aquelas a leste

Na década de 1980, num esforço para controlar o território e bloquear a Frente Polisário, Marrocos começou a construir uma série de paredes elaboradas (ou 'bermas'), eventualmente completando o Muro do Saara Ocidental de Marrocos em 1987.[8] Marrocos e a Frente Polisário assinaram um acordo de cessar-fogo em 1991, terminando a guerra; Marrocos manteve o controlo das áreas a oeste do muro (aproximadamente 80% do Saara Ocidental), e a Frente Polisário controlava as a leste. Ao momento, a disputa continua sem resolução.

Referências

  1. CIA World Factbook – Western Sahara, consultado em 23 de janeiro de 2020, cópia arquivada em 12 de junho de 2007 
  2. a b c d Brownlie, Ian (1979). African Boundaries: A Legal and Diplomatic Encyclopedia. [S.l.]: Institute for International Affairs, Hurst and Co. pp. 149–58 
  3. a b c International Boundary Study No. 9 – Morocco-Western Sahara Boundary (PDF), 14 de setembro de 1961, consultado em 23 de janeiro de 2020 
  4. Campos-Serrano, Alicia; Rodríguez-Esteban, José Antonio (janeiro de 2017). «Imagined territories and histories in conflict during the struggles for Western Sahara, 1956–1979». Journal of Historical Geography. 55: 47. doi:10.1016/j.jhg.2016.11.009  |hdl-access= requer |hdl= (ajuda)
  5. Robert Rézette, The Western Sahara and the Frontiers of Morocco (Nouvelles Éditions Latines, 1975), p. 101.
  6. José Luis Villanova, "La organización política del territorio de Ifni duranta la dominación colonial española (1934–1969)", Anales: Revista de Estudios Ibéricos e Iberoamericanos 3 (2007): 49–82, esp. 62–72.
  7. «Case Summaries : WESTERN SAHARA: Advisory Opinion». icj-cij.org. International Court of Justice. 16 de outubro de 1975. Cópia arquivada em 11 de fevereiro de 2002 
  8. Milestones of the conflict Arquivado em 2007-02-21 no Wayback Machine, page 2. Website of the United Nations MINURSO mission.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]