Leopold Berchtold

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Leopold Berchtold
Leopold Berchtold
Nascimento 18 de abril de 1863
Viena (Império Austríaco)
Morte 21 de novembro de 1942 (79 anos)
Peresznye (Reino da Hungria)
Cidadania Áustria
Progenitores
  • Zikmund Berchtold z Uherčic
Cônjuge Ferdinande Károlyi de Nagykároly
Filho(a)(s) Count Sigismund von Berchtold
Ocupação diplomata, político
Prêmios
  • Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro
  • Grã-Cruz da Ordem de Santo Estevão da Hungria
  • Ordem de Santo Estevão da Hungria
Título conde

Leopold Anton Johann Sigismund Josef Korsinus Ferdinand Graf Berchtold von und zu Ungarschitz, Frättling und Püllütz (em húngaro: Gróf Berchtold Lipót, em tcheco/checo: Leopold hrabě Berchtold z Uherčic) (18 de abril de 1863 – 21 de novembro de 1942), foi um político, diplomata e estadista Austro-Hungaro que foi Ministro Imperial das Relações Externas no início da I Guerra Mundial.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Nascido em Viena em 18 de abril de 1863 numa família nobre abastada que tinha terras na Morávia e na Hungria,[1] tinha a fama de ser um dos homens mais ricos da Áustria-Hungria. Fez o ensino em casa, e depois estudou direito e juntou-se à diplomacia austro-húngara em 1893. Nesse mesmo ano casou com a Condessa Ferdinanda Károlyi (1868–1955), filha de um dos mais ricos aristocratas da Hungria, em Budapeste. Serviu nas embaixadas de Paris (1894), Londres (1899) e São Petersburgo (1903).[2]

Em dezembro de 1906, o conde Berchtold foi nomeado sucessor do Conde Lexa von Aehrenthal como embaixador na Rússia, com a nomeação de Aehrenthal para o cargo de ministro das relações externas. Serviu com distinção em São Petersburgo durante 5 anos, e constatou a desconfiança e receio da Rússia face a Viena.[3] Em setembro de 1908, foi anfitrião de uma reunião secreta entre o conde Lexa von Aehrenthal e o ministro das relações externas russo Alexander Izvolsky na sua propriedade de Buchlau, na Morávia. Esta reunião produziu o chamado Negócio de Buchlau e levou à anexação da Bósnia e Herzegovina pela Áustria-Hungria.[4]

Com a morte do Conde Lexa von Aehrenthal em fevereiro de 1912, o Conde Berchtold foi nomeado como seu sucessor e assim, aos 49 anos de idade, tornou-se no mais novo ministro das relações externas na Europa.[5] A sua nomeação alegadamente terá sido feita contra sua vontade, e apesar da falta de experiência em assuntos internos e militares.[6]:117

Guerras Balcânicas[editar | editar código-fonte]

Retrato por Philip de László, 1906

Como ministro imperial das relações externas, o conde Berchtold centrou a sua atenção nos Balcãs, onde a sua política externa pretendia manter a paz, aderindo ao princípio de não-intervenção e preservação do status quo territorial. As Guerras Balcânicas de 1912/1913, todavia, tornariam rapidamente insustentável essa posição.[4]

No início das Guerras Balcânicas, o conde Berchtold seguiu uma política de linha dura e até terá considerado uma hipótese de guerra contra a Sérvia, mas vacilou e não avançou com a intervenção no último momento.[3] Embora ele tenha conseguido evitar que a Sérvia obtivesse uma ligação ao Mar Adriático pelo apoio dado à criação da Albânia, as Guerras Balcânicas resultaram num falhanço quanto à contenção da influência russa nos Balcãs e contrariaram as ambições sérvias quanto a um estado jugoslavo unificado.[7] Trataram-se de uma derrota diplomática para a Áustria-Hungria e conferiram ao Conde Berchtold a reputalção de ser fraco e indeciso.[3]

O foco do Conde Berchtold na Sérvia nascera de um receio quanto à expansão territorial sérvia nos Balcãs e também se deveu a uma complicação em assuntos divergentes com a monarquia dual multinacional, que resultariam na dissolução do próprio império.[8]

Crise de Julho[editar | editar código-fonte]

Na sequência das Guerras Balcânicas, o assassinato do Arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo em 28 de junho de 1914 foi o ápice da tensão entre a Áustria-Hungria e a Sérvia.[7] O conde Berchtold tinha sido acusado de indecisão e desconfiança durante as Guerras Balcânicas, mas deu provas de maior empenho durante a Crise de Julho. Apoiado pelos chamados Jovens Rebeldes na Ballhausplatz liderados pelo conde Hoyos, o seu chefe de gabinete, Berchtold aproveitou a oportunidade para lançar uma ação punitiva contra a Sérvia e disferir no país um golpe mortal.[6]:118

Tendo enviado o conde Hoyos em missão a Berlim em 5 de julho para garantir o apoio alemão às futuras ações da Áustria-Hungria, e que resultaria no famoso "cheque em branco", tornou-se o principal porta-voz, junto com o General Conrad von Hötzendorf, pela guerra contra a Sérvia num encontro do Conselho da Coroa Imperial em 7 de julho.[7] Graças à moderadora influência do Ministro-Presidente húngaro Conde Tisza, que tinha reservas quanto ao uso da força contra a Sérvia, foi decidido enviar um ultimato à Sérvia. O ultimato, com dez pontos, foi apresentado pelo Imperador Francisco José em 21 de julho e enviado a Belgrado em 23 de julho. Na noite anterior, de acordo com o testemunho da sua mulher Nadine, o Conde Berchtold não dormiu, alterando o ultimato e adicionando-lhe cláusulas, pois estava preocupado que os sérvios o aceitassem.[9] O governo sérvio aceitou todos os pontos do ultimato menos um, o que permitiria que as autoridades austro-húngaras participassem na investigação do assassinato em território sérvio, o que seria uma grave violação da soberania sérvia e da constituição do país. Como a aceitação das dez exigências listadas no ultimato era exigida, o governo austro-húngaro tomou a decisão de entrar em estado de guerra com a Sérvia em 28 de julho, decisão pela qual Berchtold foi um dos principais responsáveis.[4][10]

I Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

Conde Leopold von Berchtold

Em filmes e na TV[editar | editar código-fonte]

O conde Berchtold foi interpretado pelo ator John Gielgud no filme de 1969 Oh! What A Lovely War.

Referências

  1. A nacionalidade de Berchtold tem sido debatida por historiadores e a sua ancestralidade torna-o parte alemão, parte checo, parte eslovaco e parte húngaro. Uma anedota sobre este dilema identitário pode ser encontrada em 'Graf Leopold Berchtold von und zu Ungarschütz, Frättling, und Püllütz', Solving Problems Through Force
  2. «Berchtold, Leopold Anton Johann Sigismund Joseph Korsinus Ferdinand Graf». Neue Deutsche Biographie. 2. Berlim, Alemanha: Duncker & Humblot. 1955. p. 65 
  3. a b c Herwig, Holger H.; Heyman, Neil M. (1982). Biographical Dictionary of World War I. London, England: Greenwood Press. p. 84. ISBN 978-0313213564 
  4. a b c «Berchtold Leopold Graf». Österreichisches Biographisches Lexikon 1815-1950 (PDF). 1. Viena, Áustria: Verlag der Österreichischen Akademie der Wissenschaften. 1957. p. 71 
  5. «Leopold, Graf von Berchtold | Austro-Hungarian foreign minister». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 4 de outubro de 2018 
  6. a b Tunstall., Graydon A., Jr. (2003). «Austria-Hungary». In: Hamilton, Richard F.; Herwig, Holger H. The Origins of World War I. Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press. ISBN 978-0521102186 
  7. a b c Blum, George P. (1996). «Berchtold von und zu Ungarschitz, Fratting und Pullitz, Leopold Count von (1863–1942)». In: Tucker, Spencer C. The European Powers in the First World War: An Encyclopedia. New York City: Garland Press. p. 123f. ASIN B00HDE2TVY 
  8. Roider, Karl (2005). «Berchtold, Leopold, Count von (1863–1942)». In: Tucker, Spencer C.; Roberts, Priscilla Mary. Encyclopedia of World War I: A Political, Social, and Military History. Santa Barbara, Califórnia: ABC-CLIO. p. 200f. ISBN 978-1851094202 
  9. MacMillan, Margaret. The War That Ended Peace: The Road to 1914. New York City: Random House. p. 569. ISBN 978-0812980660 
  10. «First World War.com - Who's Who - Count Leopold von Berchtold». www.firstworldwar.com (em inglês). Consultado em 4 de outubro de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Austro-Hungarian Monarchy. Austro-Hungarian red book. (1915) English translations of official documents to justify the war. online
  • Godsey, William D., and William D. Godsey Jr. Aristocratic redoubt: The Austro-Hungarian foreign office on the eve of the First World War (Purdue University Press, 1999).
  • Gooch, G. P. Before The War Vol II (1939) pp 373-447 on Berchtold online free, scholarly biography
  • Hantsch, Hugo. Leopold Graf Berchtold: Grandseigneur und Staatsmann, Graz, Verlag Styria, 1963, in German.
  • Wank, Solomon. "The Appointment of Count Berchtold as Austro-Hungarian Foreign Minister" Journal of Central European Affairs 23 (July 1963): 143-51.
  • Williamson, Jr., Samuel. "Leopold Count Berchtold: The Man Who Could Have Prevented the Great War," in Günther Bischof, Fritz Plasser and Peter Berger, eds., From Empire to Republic: Post-World War I Austria, Contemporary Austrian Studies, Vol. 19 (2010), p. 24-51.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Leopold Berchtold


Cargos políticos
Precedido por
Alois Graf Lexa von Aehrenthal
Joint Foreign Minister of Áustria-Hungria
1912–1915
Sucedido por
Stephan Freiherr Burián von Rajecz
Postos diplomáticos
Precedido por
Alois Graf Lexa von Aehrenthal
Embaixador da Áustria-Hungria na Rússia
1906–1911
Sucedido por
Duglas Graf von Thurn und Valsássina-Como-Vercelli