Membro-fantasma

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Membro-fantasma ocorre em pessoas que não tem mais algum membro (sofreram amputação). Elas sentem como se o membro ainda estivesse ali, experimentando inclusive dores e sensações anormais. Os cientistas acreditam que tem a ver com uma espécie de mapa neural que o cérebro tem do corpo, que manda informação ao restante do cérebro sobre a falta de conhecimento do membro sobre sua existência.[1] O Membro Fantasma (MF), é descrito como a sensação de possuir membros ou órgãos ausentes, com incidência em pacientes no período pós-operatório da amputação,[2] em casos de lesão do plexo braquial, tetraplegia,[3][4] além de poder se manifestar em pessoas que nasceram sem membros.[2] Esse fenômeno se expressa através da Sensação Fantasma (SF),[5] ou pela Dor Fantasma (DF).[3][6]

Prevalência[editar | editar código-fonte]

Ao observar os estudos sobre a prevalência do membro fantasma, nota-se uma certa discrepância nos dados da literatura. Anteriormente, acreditava-se que a taxa de incidência era menor que 2%. Porém, é notável que com os novos estudos, essa taxa sofreu alteração, passando por uma variação de 3,3% a 85% dos casos.[7][8][9][10] Ainda assim, é perceptível a escassez de informações.[8]

Manifestações Clínicas[editar | editar código-fonte]

Existem formas variadas de manifestar a condição fantasma. Por exemplo:

  • Situações em que o paciente sente a presença do membro, mas sabe que as sensações são falsas;[11]
  • O paciente possui o MF, porém não reconhece que a sensação é falsa, já que seu cérebro não consegue identificar a mudança corporal;[11]
  • Outro acontecimento comum, é a dor constante, podendo ser no membro ausente ou presente, resultando em uma sensação desagradável;[11]
  • O fenômeno de duplicação dos membros, é caracterizado pelas sensações de possuir membros fantasmas paralelos aos reais.[12]
  • Pacientes que já nasceram sem o membro podem apresentar a SMF.[2]

Fisiopatologia[editar | editar código-fonte]

Plasticidade axônica ou neural (remapeamento) – Segundo Ramachandran: A reorganização cortical, consiste no deslocamento dos neurônios equivalentes à parte do corpo amputada, para partes vizinhas do cérebro, passando a corresponder a outra parte do corpo. Em outras palavras, os neurônios da área responsável pelo membro amputado, invadem a área vizinha no córtex cerebral.[13] A perda de uma parte do corpo, não impede que o córtex motor continue a enviar sinais para o membro inexistente, ou que continue a monitorar "movimentos", ainda que não existam. É como se a parte responsável por esses sinais, não conseguisse reconhecer que parte do corpo não está mais presente. Isso acontece, porque o cérebro demora a se adaptar à nova realidade. Esses comandos são monitorados pelos lobos parietais que afetam a imagem do corpo. Em pessoas que não sofreram amputação, as mensagens do lobo frontal dão feedback dos membros, porém, em amputados esse feedback não ocorre, mas a monitoração pode continuar a ocorrer no lobo parietal, o que possibilita ao paciente a sensação de movimento do membro fantasma.[2]

Outra hipótese do Remapeamento Neural, para explicar a SMF, seria: Devido aos estímulos mecânicos e sensoriais que são realizados no coto e em outras partes do corpo existentes, o paciente tem a falsa sensação que o estímulo ocorreu no membro perdido, isso ocorre devido ao rearranjo que acontece após a retirada do membro, logo, a parte do cérebro que antes era responsável pela interpretação de sinais da parte que foi amputada, como exemplo o braço, passa a ser território de aferentes relacionados à outra parte, como exemplo o ombro. A falsa sensação de respostas e interpretação de sinais da parte amputada, ocorre devido a estimulação em outra parte do corpo. Assim, as sensações vão parecer serem provenientes do membro anteriormente efetivo naquela zona cerebral, visto que ocorreu o remapeamento.[14]

Diagnóstico através dos sintomas[editar | editar código-fonte]

Os sintomas relacionados à presença do membro fantasma podem variar de pessoa para pessoa, sendo muito comum que as pessoas acometidas com o membro fantasma, tentem repetir movimentos que eram habituais antes de perder o membro. As SF também podem ocorrer com a remoção de órgãos, partes da face e das vísceras. Os sintomas mais recorrentes de ter o MF são: Dor; Formigamento; Dormência; Queimação; Sensação de movimento (funcional); A presença do membro parado (não funcional); Coceira; Câimbra e Ardência.[2][3][15] Como consequência da perda do membro, o paciente também pode desenvolver problemas psicológicos, como: depressão, ansiedade, baixa autoestima, além de isolamento social e agressividade.[16]

Referências

  1. «Membro Fantasma». Consultado em 7 de abril de 2013 
  2. a b c d e 1. RAMACHANDRAN V. S.; BLAKESLEE S. Fantasmas no cérebro. 2 ed. Rio de Janeiro, Record, 2004. ISBN 85-01-05556-5
  3. a b c 2. DEMIDOFF, A. O.; PACHECO, F. G.; SHOLL-FRANCO, A. Membro-fantasma: o que os olhos não vêem, o cérebro sente. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v. 12, p. 234-239, 03 dez. 2007. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v12/m347199.pdf> Acesso em: 8 nov. 2020.
  4. 3. CONCEIÇÃO M. I. G.; GIMENES L. S. Uso de biofeedback em paciente tetraplégica com sensação de membro fantasma. Interação em Psicologia. Brasília. v. 8, n. 1, p. 123-128, 2004. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/psi.v8i1.3246
  5. 4. MORAES, M. F. B. et al. Sympathetic nervous system block to control phantom limb pain: case report. Revista dor, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 155-157, abr/jun. 2013. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rdor/v14n2/en_17.pdf> Acesso em: 11 nov. 2020.
  6. 5. BENEDETTO, K. M.; FORGIONE, M. C. R.; ALVES, L. R. Reintegração corporal em pacientes amputados e a dor-fantasma. Acta Fisiátrica. São Paulo, v. 9, n. 2, p. 85-89, 2002. Acesso em: 17 nov. 2020. DOI: 10.5935/0104-7795.20020001
  7. 6. FILHO, L. F. M. S. et al. Tratamento da dor Fantasma em Pacientes Submetidos à Amputação: Revisão de Abordagens Clínicas e de Reabilitação. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, Goiás, v. 20, n. 3, p. 241-246, 2016. Disponível em: <https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rbcs/article/view/22089>. Acesso em: 17 nov. 2020.
  8. a b 7. NIKOLAJSEN, L.; JENSEN, T. S. Phantom limb pain. British journal of anaesthesia. Aarhus, v. 87, n. 1, p. 107-116, 2001. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11460799/>. Acesso em: 17 nov. 2020. PMID: 11460799 DOI: 10.1093 / bja / 87.1.107
  9. 8. CHAMLIAN T.R, BONILHA M.M.M, MACÊDO M.C.M, REZENDE F, Leal C.A.P. Prevalência de dor fantasma em amputados do Lar Escola São Francisco. Acta fisiátrica. São Paulo, v. 19, n. 3, p. 167-170, 2012. Disponível em: <http://www.periodicos.usp.br/actafisiatrica/article/view/103710>.Acesso em: 17 nov. 2020. DOI:10.5935/0104-7795.20120026
  10. 9. SIMMEL, Marianne L. On phantom limbs. AMA Archives of Neurology & Psychiatry. Chicago, v. 75, n. 6, p. 637-647, 1956. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/archneurpsyc/article-abstract/652217>. Acesso em: 20 nov. 2020. DOI:10.1001/archneurpsyc.1956.02330240075007
  11. a b c 10. SILVA S. G. A gênese cerebral da imagem corporal: algumas considerações sobre o fenômeno dos membros fantasmas em Ramachandran. Physis Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 167-194, 2013. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/physis/v23n1/10.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2020.
  12. 11. OHRY, A.; GUR, S.; ZEILIG, G. Duplicative Limbs’ Sensation in Acute Traumatic Quadriplegia. Spinal Cord. Israel, v. 27, n. 4, p. 257-260, 1989. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2780080/> Acesso em: 17 nov. 2020. PMID: 2780080 DOI: 10.1038 / sc.1989.39
  13. 12. RAMACHANDRAN, V.S.; ROGERS-RAMACHANDRAN, D. Phantom limbs and neural plasticity. Archives of Neurology. San Diego, v. 57, n. 3, p. 317-320, March 2000. Disponível em: <http://www.neurosciences.us/courses/systems/CentralPlas/Ramachandran_2000.pdf> Acesso em: 18 nov. 2020.
  14. 13. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 2 ed. São Paulo, Atheneu, 2005. ISBN 978-85-388-0102-3
  15. 14. GIRAUX P.; SIRIGU A. Illusory movements of the paralyzed limb restore motor cortex activity. Institut des Sciences Cognitives. France, v. 20, p. 107–111, 2003. Disponível em: <DOI:10.1016/j.neuroimage.2003.09.024> Acesso em: 22 nov. 2020.
  16. 15. BENEDETTO, K. M.; FORGIONE M. C. R.; ALVES, V. L. R.; Reintegração corporal em pacientes amputados e a dor-fantasma. Acta Fisiátrica, São Paulo, v. 2, n. 9, p. 85-89, 2002. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/102367/100691> Acesso em: 22 de nov. 2020.