Victoria (nau)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Nau Victoria)
Victoria
Victoria (nau)
Réplica da Victoria, construída em 1992, em visita a Nagóia, Japão, para a Expo 2005
   Bandeira da marinha que serviu
Lançamento 1519
Destino Desapareceu a caminho de Sevilha, 1570[1]

Victoria (espanhol para "Vitória") foi uma carraca conhecida por ser o primeiro navio a circum-navegar o mundo com sucesso.[2] A Victoria fez parte da expedição espanhola às Molucas comandada pelo explorador Fernão de Magalhães até sua morte nas Filipinas em 1521. A expedição partiu de Sevilha em 10 de agosto de 1519 com cinco navios e entrou no oceano em Sanlúcar de Barrameda em 20 de setembro. No entanto, apenas dois dos navios alcançaram seu objetivo nas Molucas. A partir daí, a Victoria foi a única nau a completar a viagem de volta, cruzando águas desconhecidas do Oceano Índico sob o comando de Juan Sebastián Elcano. Ela retornou a Sanlúcar em 6 de setembro de 1522.[3]

A nau foi construída em um estaleiro basco em Ondárroa. Junto com os outros quatro navios, ela foi dada a Magalhães pelo rei Carlos I da Espanha (depois imperador Carlos V do Sacro Império Romano). Victoria era um navio de 85 tonéis[a] com uma tripulação inicial de cerca de 42 pessoas. A nau-capitânea da expedição era a Trinidad (100 ou 110 tonéis com uma tripulação inicial de cerca de 55). Os outros navios eram a nau San Antonio (120 tonéis e cerca de 60 homens), a nau Concepción (90 tonéis e cerca de 45 homens) e a caravela Santiago (75 tonéis e cerca de 32 homens). O Santiago se perdeu na costa argentina, o San Antonio deixou a expedição e retornou à Espanha depois de uma tentativa frustrada de motim na Patagônia, o Concepción foi afundado depois de um massacre dos espanhóis nas Filipinas, e o Trinidad foi capturado pelos portugueses nas Índias Orientais e se perdeu em uma tempestade.

Construção[editar | editar código-fonte]

Embora concordando com sua origem basca, por um longo período acreditou-se que a embarcação tivesse sido construída em Zarautz, ao lado da cidade natal de Elcano, Getaria. No entanto, pesquisas realizadas por historiadores locais revelaram que a nau Victoria foi construída nos estaleiros de Ondarroa em Biscaia. Ela se chamava originalmente Santa Maria, pertencia a Domingo Apallua, um piloto de navio, e seu filho, Pedro Arismendi.[6]

De acordo com um documento notarial datado de 1518, o navio havia sido usado em anos anteriores para o comércio entre Castela e Inglaterra. Oficiais reais castelhanos compraram o navio por um preço fixo de 800 ducados de ouro, uma cifra em desacordo com a estimativa do valor real do navio fornecida pelo contador da expedição de Magalhães, e aceita pelos proprietários apenas contra a sua vontade.[7] O navio foi renomeado Victoria por Magalhães em homenagem à capela que ele frequentava em suas orações em Sevilha, a Santa María de la Victoria.[8]

Viagem[editar | editar código-fonte]

Um detalhe de um mapa de 1590 mostrando a Victoria

A longa circum-navegação começou em Sevilha em 1519 e retornou a Sanlúcar de Barrameda em 6 de setembro de 1522, depois de navegar 68 mil quilômetros (42 mil milhas), dos quais 35 mil quilômetros (22 mil milhas) eram em grande parte desconhecidos para a tripulação. Em 21 de dezembro de 1521, a Victoria partiu de Tidore, na Indonésia, sozinha, porque os outros navios haviam deixado o comboio por falta de rações. O navio estava em péssimo estado, com as velas rasgadas e só se mantinha à tona pela bombeamento contínuo de água. A Victoria conseguiu retornar à Espanha com um carregamento de especiarias, cujo valor cobriu o custo de toda a frota original.[9]

A Victoria foi posteriormente reparada, comprada por um comerciante e navegou por mais cinquenta anos antes de se perder com toda a tripulação em uma viagem das Antilhas para Sevilha por volta de 1570.[1]

Tripulação[editar | editar código-fonte]

A viagem começou com uma tripulação de cerca de 265 homens a bordo de cinco navios, mas apenas 18 homens retornaram vivos na Victoria, enquanto muitos outros desertaram. Muitos dos homens morreram de desnutrição. No início da viagem, Luis de Mendoza era o capitão. Em 2 de abril de 1520, depois de estabelecer um assentamento em Puerto San Julián, na Patagônia, um violento motim envolvendo três capitães eclodiu, mas foi brutalmente contido.[10] Os relatos de Antonio Pigafetta e outros afirmam que Luis de Mendoza e Gaspar Quesada, capitão da Concepción, foram executados e seus restos pendurados em forcas na costa.[11][12]

De uma tripulação inicial de 260 pessoas, apenas 18 retornaram a Sevilha com a Victoria. Isso se deveu à escassez de alimentos e a um surto mortal de escorbuto.[13]

Réplicas[editar | editar código-fonte]

Uma réplica do navio foi construída em 1992 para a Exposição Universal daquele ano em Sevilha. Ela é agora operada pela Fundación Nao Victoria.[14] Para comemorar o quingentésimo aniversário da primeira circum-navegação, a Fundación Nao Victoria encomendou uma segunda réplica da nau aos estaleiros de Palmas de Punta Umbría, que foi lançada em 11 de fevereiro de 2020 com o destino de se tornar uma exposição permanente ao lado da Torre del Oro.[15] A réplica chegou a Sevilha em 9 de março de 2020.[16]

Em 2006, para celebrar o Bicentenário do Chile, um empresário de Punta Arenas fundou um projeto para construir outra réplica do navio.[17] A réplica foi finalmente concluída em 2011. Embora não tenha sido possível concluir o projeto a tempo da celebração do bicentenário em 2010, o criador do projeto recebeu uma Medalha Presidencial do Presidente do Chile.[18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Observe que muitas fontes em inglês, como Joyner,[4] fornecem esses números como “toneladas” sem converter seus valores da unidade real, o tonel biscainho (“tun”). Na época da viagem de Magalhães, esse tonel era calculado como 1,2 toneladas,[5] dando à Victoria uma capacidade de cerca de 102 toneladas,[5] 145 , 5100 pés cúbicos, ou 51 toneladas de transporte inglesas.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Bergreen, Laurence (2003). «XV- After Magellan». Over the Edge of the World 1 ed. Nova Iorque: HarperCollins. p. 413. ISBN 0-06-621173-5. A pequena Victoria, o primeiro navio a completar uma circum-navegação, teve seu próprio epílogo curioso. Ninguém pensou em preservar a velha embarcação como um testemunho da grande façanha de Magalhães. Em vez disso, ela foi reparada, vendida a um comerciante por 106.274 maravedis, e voltou ao serviço, uma peça-chave da conquista espanhola das Américas. Até 1570, ela ainda navegava pelo Atlântico. A caminho de Sevilha das Antilhas, ela desapareceu sem deixar rastro; todos a bordo se perderam. Supõe-se que ela tenha encontrado uma tempestade no meio do Atlântico que levou ao seu naufrágio, seu epitáfio silencioso escrito nas ondas inquietas. 
  2. «"Victoria" ship» 
  3. Delaney, John (2010). «Fernão de Magalhães, d. 1521 (Ferdinand Magellan)». Strait Through: Magellan to Cook & the Pacific. Princeton University. Consultado em 5 de setembro de 2016 
  4. Joyner 1992, p. 93.
  5. a b Walls y Merino (1899), Anexo 3, p. 174.
  6. Madrid Gerona, Danilo. «The Ships of Magellan's Armada». Sevilla 2019-2022. Consultado em 19 de abril de 2019 
  7. Madrid Gerona, Danilo. «The Ships of Magellan's Armada». Sevilla 2019-2022. Consultado em 19 de abril de 2019 
  8. Madrid Gerona, Danilo. «The Ships of Magellan's Armada». Sevilla 2019-2022. Consultado em 19 de abril de 2019 
  9. Delaney, John (2010). «Fernão de Magalhães, d. 1521 (Ferdinand Magellan)». Strait Through: Magellan to Cook & the Pacific. Princeton University. Consultado em 5 de setembro de 2016 
  10. * Murphy, Patrick J.; Coye, Ray W. (2013). Mutiny and Its Bounty: Leadership Lessons from the Age of Discovery. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 9780300170283 
  11. * Murphy, Patrick J.; Coye, Ray W. (2013). Mutiny and Its Bounty: Leadership Lessons from the Age of Discovery. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 9780300170283 
  12. «Ferdinand Magellan», Catholic Encyclopedia, New Advent, consultado em 14 de janeiro de 2007 
  13. «Mutiny and Its Bounty». Yale University Press (em inglês). Consultado em 28 de abril de 2023 
  14. «Nao Victoria». Fundación Nao Victoria. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  15. «La nueva réplica de la Nao Victoria es botada hoy en Punta Umbría». Huelva información. 11 de fevereiro de 2020. Consultado em 25 de maio de 2020 
  16. «La réplica de la Nao Victoria llega a Sevilla para convertirse en un museo permanente». La Razón. 9 de março de 2020. Consultado em 25 de maio de 2020 
  17. Atlas Vivo de Chile – Nao Victoria www.atlasvivodechile.com Retrieved August 19, 2013
  18. «Presidente Sebastian Pinera expreso compromiso...». Radio Natales (em espanhol). 16 de agosto de 2010. Consultado em 20 de setembro de 2012. Arquivado do original em 9 de setembro de 2012 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]