Revolta da Armada
Revolta da Armada | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Parte de Revolução Federalista | |||||||
Uma bateria brasileira no Rio de Janeiro em 1894. | |||||||
| |||||||
Participantes do conflito | |||||||
Primeira República do Brasil | Rebeldes monarquistas | ||||||
Líderes | |||||||
Floriano Peixoto Hermes da Fonseca Antônio César José Jardim |
Custódio José de Melo Saldanha da Gama | ||||||
Forças | |||||||
* Esquadra legalista
|
* Amotinados imperialistas
| ||||||
Baixas | |||||||
~10,000 entre militares e civis |
A chamada Revolta da Armada foi um movimento de rebelião promovido por unidades da Marinha do Brasil contra o governo do marechal Floriano Peixoto, supostamente apoiada pela oposição monarquista à recente instalação da República.[1] Desenvolveu-se em dois momentos.[2]
A primeira Revolta da Armada
Em novembro de 1891, registrou-se como reação à atitude do presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca que, em meio a uma crise institucional, agravada por uma crise econômica, e com dificuldades em negociar com a oposição, em flagrante violação da Constituição recém-promulgada em 1891, ordenou o fechamento do Congresso.[1] Unidades da Armada na baía de Guanabara, sob a liderança do almirante Custódio de Melo, sublevaram-se e ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro, então capital da República.[3] Para evitar uma guerra civil, o marechal Deodoro renunciou à Presidência da República (23 de novembro de 1891).[2]
Com a renúncia de Deodoro, que ocorreu apenas nove meses depois do início de seu governo, o vice-presidente Floriano Peixoto assumiu o cargo (1892). A Constituição de 1891, no entanto, garantia que, se a presidência ou a vice-presidência ficassem vagas antes de se completarem dois anos de mandato, deveria ocorrer uma nova eleição, o que fez com que a oposição começasse a acusar a Floriano por manter-se ilegalmente à frente da nação.
A segunda Revolta da Armada
Começou a delinear-se em Março de 1892, quando treze generais enviaram uma Carta-Manifesto ao Presidente da República, marechal Floriano Peixoto.[2] Este documento exigia a convocação de novas eleições presidenciais para que, cumprindo-se o dispositivo constitucional, se estabelecesse a tranquilidade interna na nação.[4] Floriano reprimiu duramente o movimento, determinando a prisão de seus líderes.
- "Concidadãos,
- Contra a Constituição e contra a integridade da própria Nação, o chefe do Executivo [Floriano Peixoto] mobilizou o Exército discricionariamente, pô-lo em pé de guerra e despejou-o nos infelizes estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Contra quem? Contra o inimigo do exterior, contra estrangeiros? Não. O vice-presidente armou brasileiros contra brasileiros; levantou legiões de supostos patriotas, levando o luto, a desolação e a miséria a todos os ângulos da República (...).
- Sentinela do Tesouro Nacional como prometera, o chefe do Executivo perjurou, iludiu a Nação, abrindo com mão sacrílega as arcas do erário público a uma política de suborno e corrupção. (...)
- Viva a Nação Brasileira! Viva a República! Viva a Constituição!
- Capital da República, 6 de setembro de 1893.
- Contra-Almirante Custódio José de Melo" (in: Jornal do Brasil)
Em 6 de setembro de 1893, um grupo de altos oficiais da Marinha exigiu a imediata convocação dos eleitores para a escolha dos governantes. Entre os revoltosos estavam os almirantes Saldanha da Gama, Eduardo Wandenkolk e Custódio de Melo,[4] ex-ministro da Marinha e candidato declarado à sucessão de Floriano.[4] Sua adesão refletia o descontentamento da Armada com o pequeno prestígio político da Marinha em comparação ao do Exército. No movimento encontravam-se também jovens oficiais e muitos monarquistas.[1]
A revolta teve pouco apoio político e popular na cidade do Rio de Janeiro, onde a partir de 13 de setembro diversas unidades encouraçadas trocaram tiros com a artilharia dos fortes em poder do Exército.[1] Houve sangrenta batalha na Ponta da Armação, em Niterói, área guarnecida por aproximadamente 3.000 governistas, os quais eram compostos entre outros por batalhões da Força Pública e da Guarda Nacional.[5][6] A capital do estado do Rio de Janeiro, então a cidade de Niterói, foi transferida para a cidade de Petrópolis em 1894, de onde só retornou em 1903. Sem chance de vitória na baía da Guanabara, os revoltosos dirigiram-se para sul do país. Alguns efetivos desembarcam na cidade de Desterro (atual Florianópolis) e tentaram, inutilmente, articular-se com os federalistas gaúchos.[2][4]
O presidente da República, apoiado pelo Exército brasileiro e pelo Partido Republicano Paulista conteve o movimento em março de 1894, para o que fez adquirir, às pressas, no exterior, por meio do empresário e banqueiro estadunidense Charles Ranlett Flint, alguns navios de guerra, a chamada "frota de papel".[1] Essa frota, adquirida nos Estados Unidos, foi também denominada pelos governistas como "Esquadra Flint" e viajou do porto de Nova York até a baía de Guanabara tripulada por mercenários estadunidenses. De acordo com Joaquim Nabuco, as tropas contratadas para auxiliar o governo federal eram "a pior escória de filibusteiros americanos".[7]
Em março de 1894 a rebelião estava vencida. O rigor de Floriano Peixoto ante os dois movimentos revolucionários lhe valeu o cognome Marechal de Ferro.[4]
As embarcações rebeldes
Embarcações da Marinha do Brasil
- Encouraçado de Esquadra Aquidabã
- Encouraçado Sete de Setembro
- Encouraçado Fluvial Javari
- Cruzador República
- Cruzador Tamandaré
- Cruzador Trajano
- Cruzador Auxiliar Esperança
- Cruzador Auxiliar Pereira da Cunha
- Canhoneira Marajó
- Torpedeira Araguari
- Torpedeira Iguatemi
- Torpedeira Marcílio Dias
- Navio Transporte Madeira
Embarcações civis incorporadas pelos rebeldes
Estas embarcações foram confiscadas pelas forças rebeldes, a fim de suprir as suas necessidades de combustível, munições e víveres:
- da Companhia Frigorífica Fluminense:
- Júpiter
- Marte
- Mercúrio
- Paraíba
- Vênus
- Uranus
- da Navegación Lage:
- Adolpho de Barros
- Gil Blas
- do Lloyd Brasileiro:
- Meteoro
- da Wilson & Sons:
- Luci
- Guanabara
- Vulcano
- Glória
- Bitencourt
Referências
- ↑ a b c d e Miriam Ilza Santana (11 de outubro de 2007). «Revolta da Armada». InfoEscola. Consultado em 23 de setembro de 2012
- ↑ a b c d Cristine Delphino. «Revolta da Armada». História Brasileira. Consultado em 23 de setembro de 2012
- ↑ Rainer Sousa. «Revolta da Armada». Brasil Escola. Consultado em 23 de setembro de 2012
- ↑ a b c d e Vitor Amorim de Angelo. «Revolta da Armada». UOL - Educação. Consultado em 23 de setembro de 2012
- ↑ DONATO, Hernâni. Dicionário das batalhas brasileiras. 2ª edição. IBRASA, 1996
- ↑ "(...) os batalhões da Guarda Nacional: 1.° da reserva, 2.° da Capital Federal; 9.° também da Capital; 34.° de Niterói; (...)" (Donato 1996)
- ↑ CORRÊA DA COSTA, Sérgio. Brasil, Segredo de Estado - Incursão Descontraída pela História do País (5ª ed.). Rio de Janeiro: Record, 2001.
Bibliografia
- RIO BRANCO, Barão do. Efemérides Brasileiras. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938.
- RIBEIRO. Atanagildo Barata. Sonho no cárcere: dramas da revolução de 1893 no Brazil. Rio de Janeiro: Casa Mont'Alverne, 1895.
- CAMPOS, Pedro Dias de. A Revolta de Seis de Setembro (A ação de São Paulo). Lisboa: Aillaud, Alves & Cia, 1913.
- NABUCO, Joaquim. A Intervenção estrangeira durante a revolta de 1893. Brasilia: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010.