Tratado das Três Águias Negras

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
D. Manuel de Bragança, Infante de Portugal, candidato à coroa da Polónia-Lituânia.

O Tratado das Três Águias Negras (assim chamado porque os três signatários usavam águias negras nos respetivos brasões,[1] por oposição à águia branca do Brasão de armas da Polônia) ou Tratado de Berlim (cidade onde o documento viria a ser assinado pela Prússia), foi um tratado secreto entre o Sacro Império (Casa de Áustria), o Império Russo e o Reino da Prússia.

Assinado primeiro entre a Rússia e a Áustria a 13 de setembro de 1732, a que se juntou a Prússia em 13 de dezembro desse ano, estava relacionado com a política conjunta destas três potências relativamente à sucessão no trono polaco, tendo em conta a morte esperada do rei Augusto II da Polónia (da Casa de Wettin) e, por outro, que a Polónia era uma monarquia eletiva sendo o monarca escolhido pela Sejm, assembleia da nobreza reunida especialmente para o efeito (ver Eleições reais na Polónia).

o Tratado[editar | editar código-fonte]

As três potências acordaram que se oporiam a qualquer candidato da Casa de Wettin, bem como à candidatura pró-francesa do polaco Estanislau Leszczyński, sogro do rei Luís XV.[2] Em vez disso, eles escolheram apoiar o infante português Manuel de Bragança, irmão mais novo do rei D. João V e primo co-irmão do imperador,[3][4] ou um membro da Dinastia Piasta.[5]

O Tratado das três Águias Negras tinha vários objetivos. Nenhuma das três partes estava, de facto, envolvida no apoio ao infante português[6] O acordo estipulava condições em que as três potências concordavam, nomeadamente o interesse comum de que o seu vizinho comum, a Comunidade Polaco-Lituana, não empreendesse quaisquer reformas que o pudesse fortalecer,[7] e que o monarca que viesse a ser eleito deveria ser amigável com eles.[2]

Para além do óbvio (aumentar a influência das três potência na Comunidade Polaco-Lituana), a Áustria e a Rússia também queriam impossibilitar uma aliança Franco-Prusso-Saxónica. Foi prometido à Prússia apoio às suas pretensões na Curlândia (atualmente no sudoeste da Letónia).[3]

Tratado de Löwenwolde[editar | editar código-fonte]

Entretanto, a situação política mudou rapidamente, e o Tratado das Três Águias Negras foi suprimido logo após ter sido formulado. Com a morte de Augusto II, em 1 de fevereiro de 1733, a Áustria e a Rússia afastaram-se do anterior tratado, que nunca fora ratificado pela Imperatriz da Rússia.[3] O seu principal objetivo, a interrupção da aliança Franco-Prusso-Saxónica, já fora alcançada, pelo que se procurou o acordo de outras fações Polacas e Saxónicas. Assim, em 19 de agosto de 1733, a Rússia e a Áustria celebraram o Tratado de Löwenwolde com a Saxónia na pessoa do novo Príncipe-eleitor, Frederico Augusto II da Saxónia. Ao tratado foi dado o nome de um dos principais diplomatas envolvido nas negociações, o Russo Karl Gustav von Löwenwolde.[carece de fontes?]

Os termos do Tratado de Löwenwolde eram muito específicos. A Rússia deveria providenciar tropas para assegurar a eleição e coroação de Frederico Augusto, enquanto este, na sua nova qualidade de Rei da Polónia, deveria: (1) reconhecer Ana Ivanovna como Imperatriz da Rússia; (2) abandonaria as pretensões Polacas sobre a Livónia; e (3) continuaria sem se opor aos interesses Russos[8] na Curlândia.[9] A Áustria recebia a promessa que o novo rei, Frederico Augusto, renunciaria a quaisquer pretensões à sucessão Austríaca e que respeitaria a Pragmática Sanção de 1713.[2]

Consequências[editar | editar código-fonte]

A Prússia autorizou a passagem do candidato francês, Estanislau Leszczyński, através do seu território,[10] e continuou a opôr-se à eleição de Frederico Augusto.[11] Quer a Áustria quer a Rússia declararam pública e antecipadamente que não reconheceriam Leszczyński caso ele viesse a ser eleito.[2] Contudo, a assembleia da nobreza (Sejm) reunida em Wola prosseguiu e elegeu Estanislau Leszczyński a 12 de setembro de 1733, e a aleição foi anunciada pelo Inter-rei, o Primaz Teodor Andrzej Potocki.[2][12] Promessas diplomáticas[2] e a chegada de tropas russas às portas de Varsóvia em 20 de setembro[9] provocaram a convocação de uma outra legislatura, dirigida pelo Príncipe Miguel Serwacy Wiśniowiecki (Grande chanceler da Lituânia) e por Teodoro Lubomirski (Voivoda de Cracóvia) juntamente com o Bispo de Poznan, Estanislau Józef Hozjusz e o Bispo de Cracóvia, Jan Aleksander Lipski) que se reuniram noutra zona dos subúrbios de Varsóvia, onde realizaram um nova eleição, sob a proteção das tropas russas, escolhendo Frederico Augusto II da Saxónia, que se viria a tornar Augusto III da Polónia.[2]

A interferência de diversas potências estrangeiras na eleição real polaca conduziu à Guerra da Sucessão da Polónia (1733–1738), entre Augusto III (apoiado pelos aliados estrangeiros Áustria e Rússia) contra Estanislau Leszczyński (apoiado pela França). A Prússia enviou, com alguma relutância, 10.000 soldados.[3] Pelo Tratado de Viena, de 1738, que formalmente acabou com a Guerra, Estanislau Leszczyński renunciou às suas pretensões ao trono polaco.[13] Leszczyński foi feito Duque da Lorena como compensação.[10]

Nome[editar | editar código-fonte]

Como referido, as três Águias Negras referem-se ao brasão de armas das três potências, que contrastavam com o Brasão polaco, composto por uma águia branca em campo de gules.[carece de fontes?]

Fontes[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Cierlińska, Hanna (1982) A Panorama of Polish History Interpress, Varsóvia, pag. 73, ISBN 83-223-1997-5
  2. a b c d e f g Corwin, Edward Henry Lewinski (1917) The political History of Poland Polish Book Importing Company, New York, page 286–288, OCLC 626738
  3. a b c d Tuttle, Herbert e Adams, Herbert Baxter (1883) History of Prussia. Houghton, Mifflin & Company, pages 369–371
  4. as mães de ambos eram irmãs
  5. Gieysztor, Aleksander, et al. (1979) History of Poland PWN, Polish Scientific Publishers, Warsaw, Poland, page 244, ISBN 83-01-00392-8
  6. Schlosser, Friedrich Christoph (1844) History of the eighteenth century and of the nineteenth till the overthrow of the French empire: Volume III Chapman and Hall, London, pág. 294, OCLC 248862784
  7. Marácz, László Károly (1999) Expanding European unity: Central and Eastern Europe Rodopi, Amsterdão, page 134, ISBN 90-420-0455-X
  8. In effect support the rule of Ernest Biron, a Russian court favorite. Corwin, Edward Henry Lewinski (1917) The political History of Poland Polish Book Importing Company, New York, page 288, OCLC 626738
  9. a b Ragsdale, Hugh (1993) Imperial Russian foreign policy Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra, page 32–33, ISBN 0-521-44229-X
  10. a b Lindsay, J. O. (1957) The New Cambridge Modern History Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra, page 205, ISBN 0-521-04545-2
  11. Kelly, Walter Keating (1854) The History of Russia: From the Earliest Period to the Present Time Harvard University, Cambridge, Massachusetts, pages 408–409
  12. William Macpherson indicou que a eleição de Leszczyński foi parcialmente devida ao ouro francês. Macpherson, William (editor) (1845) "Chapter CXXXIII Annals of France, from the Accession of Louis XV, to the Period following the Peace of Aix-la-Chapelle" Encyclopaedia Metropolitana Volume XIII: History and Biography Volume 5 B. Fellowes, Londres, page 144, OCLC 4482450
  13. Estanisłau Leszczyński renunciou ao trono 'voluntariamente pelo bem da paz', o que implicava que a sua eleição fora legal. Lindsay, J. O. (1957) The New Cambridge Modern History Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra, page 205, ISBN 0-521-04545-2