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Usuário:MayTheForce/Caso Milena Gottardi

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O caso Milena Gottardi se refere à morte da médica brasileira Milena Gottardi Tonini Frasson (Fundão, 5 de março de 1979Vitória, 15 de setembro de 2017[1]), vítima de feminicídio. O caso teve grande repercussão no estado do Espírito Santo.[2] Milena era médica oncologista pediátrica.[3] Foram condenados pelo crime seu esposo, Hilário Antônio Fiorot Frasson, seu sogro, Esperidião Carlos Frasson, entre outros.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Milena era casada havia treze anos com o policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson.[4] No início de setembro de 2017, Hilário havia sido transferido do gabinete do chefe da Polícia Civil para o setor de contratos da Administração Geral da Polícia Civil.[5] Na época da morte de Milena, Hilário respondia por falsa comunicação de crime, relativa a um furto de R$ 5.800 que não teria ocorrido.[6]

Em abril de 2017, a médica obteve uma liminar que obrigava Hilário a sair de casa.[2] Uma carta de Milena de 5 de abril foi divulgada uma semana após o atentado, na qual ela havia escrito sobre as razões para a separação de Hilário, o comportamento violento do marido, as ameaças feitas por ele e o temor pela integridade física dela e de suas filhas.[7]

[...] Temo em ele tirar sua própria vida e, como vemos em muitos casos, tirar a minha vida também. [...] se acontecer algo de ruim comigo, por exemplo, se Hilário Antônio Fiorot Frasson me matar, e pode ser que tente se matar também, eu desejo que as minhas filhas [...] fiquem sob guarda do meu irmão [...] com a supervisão da minha mãe [...].
— Milena Gottardi, em carta datada de 5 de abril de 2017

No dia 22 de setembro, foi divulgado um áudio que a médica havia enviado para amigas, no qual revela sentir "alívio" por estar separada de Hilário.[8] Em outro áudio, enviado por Milena dias antes de sua morte aos pais de Hilário, a médica pede socorro e relata saber que estava sendo seguida, chegando a usar um disfarce para conseguir um advogado para o processo de separação do casal. Também contou que Hilário colocou uma senha no computador de trabalho dela e rastreou suas conversas no aplicativo WhatsApp.[9] Em uma das mensagens de ameaça de Hilário para Milena, ele disse "Eu vou te matar, sua filha da puta".[10]

Dias antes do crime, Hilário gravou um vídeo em que pedia para voltar a conviver com sua família, tendo ao fundo a canção "The Scientist", da banda Coldplay, cuja letra trata sobre separação. Segundo o tio de Milena, o divórcio do casal seria oficializado no dia 15 de setembro, um dia depois do crime.[2]

O crime[editar | editar código-fonte]

Às 16 horas de quinta-feira, 14 de setembro de 2017, após um plantão médico,[11] Milena e uma amiga, também médica, saíam do Hospital das Clínicas de Vitória em direção a um estacionamento quando, segundo a amiga, passaram por um homem, por quem se sentiram ameaçadas. Elas, porém, continuaram andando até o carro de Milena.[2] O homem anunciou um assalto pedindo as chaves do carro e uma bolsa, no que Milena teria respondido que a bolsa estava dentro do porta-malas e teria pedido para ela buscá-la.[11] Mesmo sem nenhuma reação de Milena, efetuou três disparos, todos contra Milena, que foi atingida na cabeça e na perna, e fugiu da cena do crime.[12] Milena recebeu os primeiros socorros no local e, depois, foi encaminhada ao Hospital Cias Unimed, onde passou por cirurgia,[13] mas teve morte cerebral às 16h50 do dia seguinte,[14] decorrente de um edema cerebral difuso.[15]

A família autorizou a doação das córneas de Milena.[14] Seu sepultamento foi feito em Fundão, no dia 16 de setembro,[2] e a missa de sétimo dia foi celebrada na capela do Hospital das Clínicas pelo então bispo-auxiliar da arquidiocese de Vitória, Rubens Sevilha.[16] No dia 26 do mesmo mês, o irmão da médica obteve a guarda provisória das duas filhas dela.[2]

Prisões[editar | editar código-fonte]

O inquérito sobre a morte de Milena tramitou sob sigilo na Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM), seguindo a hipótese de feminicídio.[15] A Polícia Civil do Espírito Santo divulgou, um dia após o atentado, o retrato falado de um dos suspeitos.[15] O primeiro suspeito de envolvimento no homicídio foi preso no dia 16 de setembro de 2017. Dionathas Alves Vieira, então com 23 anos, foi levado para o Centro de Triagem de Viana. O suspeito tinha confessado que matara Milena, mas, posteriormente, mudou de narrativa, alegando ter confessado por ter sido pressionado.[14]

Ao ser preso, Dionathas teria levado os policiais até o lugar onde estava a moto, no distrito de Timbuí, em Fundão.[17] Segundo Dionathas, a moto usada estaria em posse de seu cunhado, Bruno Rodrigues Broetto, que também foi preso, ficando os dois na mesma cela do Centro de Triagem de Viana.[17] Bruno já havia sido preso por receptação e admitiu ter cometido roubos com Dionathas.[18]

A linha de investigação levou ao esposo de Milena, Hilário Frasson, policial civil que já tinha estado na função de assessor técnico do gabinete do então chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, Guilherme Daré, o que motivou o pedido de sigilo das investigações à Justiça pela Polícia Civil a fim de evitar acesso às provas.[12] Durante as investigações, uma testemunha relatou ter se sentido ameaçada por Hilário após ter prestado depoimento sobre o caso à Polícia Civil.[19] Ao liberar o corpo de médica no Departamento Médico Legal (DML) no dia 16 de setembro, Hilário Ateve sua pistola .40 e seu telefone celular apreendidos pelo delegado Janderson Lube, da DHPM.[20] Com o celular de Hilário, os investigadores descobriram que estavam envolvidos no crime Hilário e seu pai, Esperidião Carlos Frasson, bem como intermediários.[21]

Na manhã do dia 21 de setembro, foram presos Esperidião, suspeito de ser mandante do assassinato, e o lavrador Valcir da Silva Dias, acusado de ser intermediário, de quem Hilário era ex-colega de estudos. Esperidião já respondia a processos criminais, entre os quais a suspeita de ter mandado matar sua cunhada[22] e o companheiro da ex-esposa de seu sobrinho.[23]

No mesmo dia em que o pai foi preso, após o período de licença pela morte da esposa, Hilário voltou ao trabalho, agora transferido para o 15° Distrito Policial, em Cariacica-Sede. Às 11 horas da manhã, foi liberado para avaliação psicológica no Departamento de Promoção Social da Policia Civil. Segundo o delegado do distrito, Hilário estava visivelmente abalado, porém dizia se sentir apto para trabalhar.[5] À tarde, Hilário foi preso na Chefatura da Polícia Civil,[24] suspeito de também ser mandante do crime,[14] sendo encaminhado para um anexo do distrito policial do bairro Novo México, em Vila Velha, onde ficam policiais civis sob custódia.[24]

Também no dia 21, Dionathas passou a ficar preso no Centro de Detenção Provisória de Guarapari (CDPG).[25] A defesa de Dionathas, no dia 22 do mesmo mês, protocolou um pedido de proteção à testemunha, a fim de evitar queima de arquivo, e revelou que seu cliente havia se encontrado com Hilário cerca de vinte dias antes do crime.[26] No dia 25, Dionathas foi transferido para a cela onde estava preso seu comparsa Bruno. Dionathas assinou uma declaração junto à Secretaria de Comissão Disciplinar do CDPG, na qual ele negava ter sofrido lesão ou ameaça e que não tinha interesse em ser transferido.[25]

Graças às investigações e a uma denúncia anônima, outro intermediário, Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, cuja ordem de prisão havia sido emitida em 16 de setembro, foi preso no dia 25 do mesmo mês na localidade de Alto do Capim, no município mineiro de Aimorés, após ter se escondido nos municípios capixabas de Conceição do Castelo e Laranja da Terra.[27]

Em outubro, a Polícia Civil pediu a prorrogação das prisões temporárias dos suspeitos, concedida pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória Marcos Pereira Sanches por trinta dias. Em sua decisão, Sanches cita que "Há notícias de conduta com conotação intimidatória por parte do suspeito Hilário, o qual, inclusive, apresentava-se na porta do estabelecimento de ensino da filhas portando ostensivamente arma de fogo". O advogado de Dionathas e Bruno disse à época que pediria a revogação da prisão de seus clientes, enquanto o advogado dos outros presos disse que esperaria o fim do inquérito para definir a linha de defesa.[22]

Inquérito[editar | editar código-fonte]

O então secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, declarou, em 21 de setembro, que havia "elementos que comprovam que havia episódios de violência doméstica contra a doutora Milena. Ela só não fez o pedido de medida protetiva de urgência, o MPU, previsto na Lei Maria da Penha, para não prejudicar a carreira dele. Vejam que tipo de sentimento nobre, que infelizmente foi premiado com sua morte".[28]

Depoimento de Dionathas[editar | editar código-fonte]

Segundo Dionathas, o crime havia sido planejado por cerca de 25 dias, porém as investigações apontaram que esse período foi de dois meses.[2] Aos investigadores, Dionathas disse que Hermenegildo havia lhe oferecido R$ 2 mil para matar Milena[29] valor que não chegou a ser pago.[14] No momento da oferta, segundo Dionathas, Hermenegildo estava acompanhado de Valcir.[29] Dionathas teria ouvido de Hermenegildo e Valcir que o crime tinha de ser feito numa quinta-feira.[29] A moto a ser utilizada no crime tinha sido fruto de um roubo cometido cerca de vinte dias antes do assassinato, roubo esse feito pelo cunhado de Dionathas, Bruno, que, segundo Dionathas, sabia do envolvimento de Valcir no esquema e que Esperidião seria o mandante do assassinato.[29] Quando foi buscar a moto a ser utilizada no crime, Dionathas teria ouvido de Valcir que Esperidião tinha mandado matar Milena.[29] No sábado anterior ao crime, Dionathas teria ouvido de Hermenegildo e Valcir que a execução seria no Hospital das Clínicas.[29]

Dionathas teria ido ao hospital outras três vezes, mas não teria cometido o crime antes por medo.[17] No dia do crime, Dionathas teria ido ao hospital de moto e os dois comparsas, de carro.[17] Dionathas teria entrado no carro e Hermenegildo, que estaria junto de Valcir, teria entregado a Dionathas um revólver calibre 38 municiado.[29] Hermenegildo teria orientado Dionathas a simular um assalto. Hermenegildo e Valcir já teriam ido ao local antes e identificado o carro de Milena deixando uma porção de mato próximo ao veículo dela.[29] Quando Milena saiu do hospital, os comparsas teriam mostrado a vítima para Dionathas. Milena foi até seu carro e guardou sua bolsa no porta-malas.

Em um depoimento, Dionathas disse que. mais uma vez, teria ficado com medo de atirar e ido até o carro dos comparsas, e um deles teria pegado a arma de Dionathas e efetuado os disparos.[17] Em outro depoimento, Dionathas disse que havia anunciado um assalto ao puxar a arma, a amiga de Milena teria tentado fugir e Milena deu seu celular e sua chave, atirando em Milena após ele colocar o celular no bolso. Em seguida, teria fugido na moto pela Avenida Maruípe em alta velocidade furando semáforos no vermelho[10] em direção ao bairro Maria Ortiz, em Vitória.[29] O celular de Milena, que não foi encontrado, teria sido jogado contra um muro na subestação de energia elétrica na esquina das avenidas Maruípe e Leitão da Silva.[10] Dionathas teria descido da moto perto da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para telefonar para Valcir. Cinco minutos depois, os comparsas teriam se reencontrado com Dionathas, que teria deixado a arma com Valcir. Dionathas negou conhecer Hilário.[29]

De acordo com as investigações, a moto Honda CB 500 vermelha, que era furtada, foi escondida em Vitória no dia do atentado, 14 de setembro, e levada no dia 16 para um sítio em Fundão, onde Dionathas queimou a roupa que tinha vestido na ocasião do crime.[14]

Depoimento de Valcir[editar | editar código-fonte]

Valcir disse que foi procurado por Hilário, que "queria eliminar" a esposa. Hilário teria perguntado a Valcir se este teria coragem de matá-la, no que teria respondido que não.[29] Hilário, então, teria pedido a Valcir que encontrasse um executor, e Valcir teria indicado Dionathas. Segundo Dionathas, Hilário teria tratado da execução diretamente com Dionathas.[29] Quando Valcir e Hilário conversavam sobre o crime, Esperidião estaria sempre junto.[29]

Hilário teria informado Valcir o horário em que Milena sairia do hospital, o modelo e a placa do carro dela. Segundo Valcir, por dois meses às quintas-feiras, Dionathas teria ido ao hospital anteriormente outras vezes, bem como Hermenegildo também teria ido duas vezes, para matar Milena, mas ela sempre estava acompanhada de alguém, frustrando as tentativas. Quando as tentativas falhavam, Esperidião teria perguntado por quê. Valcir disse que, nesse período, perceberam que Milena sempre estacionava seu carro no mesmo lugar. Diferente do que disse Dionathas, segundo Valcir, aquele teria ido ao local do crime armado sem que ninguém lhe tivesse fornecido uma arma.[29] Hilário teria orientado Dionathas a pegar o celular de Milena e jogá-lo fora, simulando um latrocínio.[29]

No dia do crime, Dionathas teria telefonado de um número desconhecido para Valcir se este já tinha chegado ao hospital. Valcir teria chegado de carro com Hermenegildo por volta das 17h40 pela portaria principal do hospital. Dez minutos depois, Dionathas teria chegado de moto. Dionathas teria feito os disparos quando Valcir e Hermenegildo deixavam o local.[29] Após o crime, Valcir teria voltado a Timbuí. Hilário teria pago a Valcir R$ 150, referentes ao gasto com gasolina.

Outros depoimentos[editar | editar código-fonte]

Em depoimento prestado em 17 de setembro na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Hermenegildo Palauro Filho alegou que chegou ao Hospital das Clínicas de Vitória com Valcir, a convite deste, uma hora antes do crime, acreditando que Valcir faria uma visita a um paciente, e, em seguida, se encontraram com Dionathas. Com o tumulto após os disparos, de acordo com Hermenegildo, ele e Valcir saíram do local.[27]

Bruno Rodrigues Broetto disse que havia sido preso em outubro de 2016 por receptação e que já havia praticado roubos com Dionathas, cuja irmã namorava com Bruno. Bruno declarou que recebeu a oferta de uma moto e que sabia que Dionathas procurava por alguém que tivesse uma moto roubada, sem saber que seria para a prática de um assassinato[29]. As investigações mostraram que Bruno sabia da finalidade da moto.[10]

Desdobramentos[editar | editar código-fonte]

No dia do crime, Hilário telefonou para MIlena às 10h24, Milena retornou a ligação às 14h39 e Hilário ligou novamente às 17h54, segundo o inquérito policial, para monitorar a localização da vítima. Às 17h55, Hilário telefonou para seu pai, Esperidião, "ao que tudo indica para confirmar que Milena se encontrava no Hospital das Clínicas e assim proporcionar a emboscada da vítima por parte do intermediário e do executor", segundo o inquérito. Milena fez uma última ligação às 18h09 no hospital. Às 19h36, o celular se deslocava para Goiabeiras, seguindo para o bairro Resistência. O último telefonema feito através do telefone de Milena foi às 19h54.[30]

Durante as investigações, descobriu-se que Hilário já mantinha contato com os outros envolvidos no crime desde o início de 2017. Um vídeo de Hilário com duas mulheres numa festa sertaneja foi gravado em 28 de agosto, menos de um mês antes do assassinato de Milena.[10] Descobriu-se também que conteúdo pornográfico foi acessado através do celular de Hilário cerca de quatorze horas depois da morte da esposa.[21]

Segundo o delegado da Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), Janderson Lube, Hermenegildo ajudou a esconder a moto em sua própria casa antes do assassinato de Milena. Depois, o veículo foi levado para a casa do cunhado de Dionathas. Na terça-feira anterior ao crime, 12 de setembro, Dionathas buscou a moto, e no sábado após o crime, dia 16, ele pediu para Hermenegildo guardar a moto novamente.[27]A reconstituição da cena do crime foi feita pela Polícia Civil em 17 de setembro.[31] Poucos dias após o assassinato de Milena, segundo uma testemunha, Hilário teria ido ao Departamento de Recursos Humanos do Hospital das Clínicas para providenciar a pensão à qual ele teria direito pela morte de Milena.[32]

Os investigados realizaram 1.230 telefonemas entre si antes e depois do crime. Aos investigadores, Hilário declarou que o processo de separação seria consensual, no entanto, conversas entre ele e o irmão de Milena por mensagens telefônicas deram conta de que o acusado desejava manter o casamento. Às 18 horas do dia do crime, Hilário telefonou para Milena, segundo as investigações, para supostamente saber onde ela estava e quando sairia de lá. Depois, ligou para seu pai, Esperidião, a fim de que este repassasse as informações para o intermediário Valcir.[4] Na manhã seguinte ao crime, Hilário esteve no apartamento de Milena.[33]

A conclusão do inquérito se deu em 18 de outubro, com a autuação dos seis suspeitos. Hilário passou a responder processo administrativo dentro da Polícia Civil, para a qual trabalhava. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Espírito Santo que denunciou o grupo no dia 27 de outubro[2] à Justiça: Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas por homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual, e Bruno por feminicídio.[33] O juiz Marcos Pereira Sanches, aceitou a denúncia em 1º de novembro e determinou a prisão preventiva dos réus.[2]

Incidentes após as prisões[editar | editar código-fonte]

Em 23 de outubro, ainda preso, Hilário solicitou a um homem que o visitava no Distrito Policial de Novo México que entrasse no apartamento de Milena para pegar alguns documentos. Dias depois, o homem foi ao apartamento, alegando ao porteiro que era eletricista, mas foi impedido de entrar. Em depoimento à polícia, o homem afirmou que conhecia Hilário desde criança. O porteiro, em seu depoimento à polícia, informou que o homem interfonou para a vizinha de Milena para pedir a chave do apartamento da médica.[34] A vizinha disse que não tinha as chaves e, em seguida, comunicou o ocorrido aos familiares de Milena que, por sua vez, contaram o ocorrido ao advogado da família.[35] No dia 26, o advogado da família de Milena protocolou uma petição no Ministério Público para que Hilário fosse transferido pra um presídio federal, com a justificativa de que o acusado estaria tentando atrapalhar as investigações.[35][36] O pedido foi negado pelo juiz Marcos Pereira Sanches.[10]

Durante sua prisão no Distrito Policial de Novo México, Vila Velha, Hilário fez uma consulta odontológica em 30 de outubro na Praia do Canto, em Vitória, sendo para lá conduzido em viatura descaracterizada e sem usar algemas.[4] Hilário seguia à frente dos policiais e ele próprio acionou o interfone do consultório.[12] O investigado entrou no consultório pela porta da frente às 9 horas da manhã e foi atendido por cerca de uma hora, acompanhado por quatro policiais civis, que o levaram de volta à delegacia às 11 horas.[4] O juiz do caso determinou, no mesmo dia, que a direção da delegacia apresentasse, em 48 horas, um relatório circunstanciado com explicações sobre a saída de Hilário da prisão, documento esse que seria apresentado posteriormente ao Ministério Público estadual.[37]

Em 6 de novembro, um telefone fixo da delegacia onde Hilário estava preso foi usado para se fazer um agendamento no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para o dia 8,[2] a fim de requerer pensão pela morte de Milena em favor das filhas do casal. Hilário chegou a pedir autorização para sair da prisão com o intuito de comparecer ao INSS, negada pela direção da delegacia.[38]

Por conta desses incidentes, bem como por causa de falta de segurança constatada no distrito policial, a Justiça determinou em 8 de novembro a transferência de Hilário para o Complexo Penitenciário de Viana e a abertura de processo investigativo pela Corregedoria da Polícia Civil sobre o agendamento no INSS.[38] No mesmo mês, a defesa do réu entrou com habeas corpus para que ele voltasse a ficar preso no Distrito Policial de Novo México.[39] O pedido foi distribuído para o desembargador substituto Júlio César Costa de Oliveira, que, em 30 de novembro, se declarou suspeito para julgá-lo.[33] Após redistribuição, o habeas corpus foi negado pelo desembargador Adalto Dias Tristão na primeira semana de dezembro.[40]

Repercussão[editar | editar código-fonte]

O assassinato gerou manifestações de comoção por parte de parentes, amigos e colegas de trabalho. Um dia após a morte da médica, um protesto pedindo por segurança foi feito no Hospital das Clínicas. O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo e a Associação dos Médicos do Espírito Santo divulgaram notas criticando a falta de segurança e lamentando a morte de Milena. A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que administra o Hospital das Clínicas, e o então prefeito interino de Fundão, Eleazar Ferreira Lopes, emitiram notas em solidariedade aos parentes da médica. A prefeitura de Fundão decretou luto oficial de três dias.[13]

Referências

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https://www.folhavitoria.com.br/policia/noticia/2017/09/irmao-de-milena-diz-que-hilario-tinha-dupla-personalidade

http://www.tjes.jus.br/wp-content/uploads/12.18.17-Clipping.pdf