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<br />Os conspiradores em Minas Gerais mantinham-se à par da posição de seus aliados nos outros estados e, embora o golpe foi uma empreitada arriscada, não se iniciou sem uma noção da chance de adesão do restante do país.
<br />Os conspiradores em Minas Gerais mantinham-se à par da posição de seus aliados nos outros estados e, embora o golpe foi uma empreitada arriscada, não se iniciou sem uma noção da chance de adesão do restante do país.

=== A situação na véspera ===
Jango no Palácio das Laranjeiras

Jair Dantas incapacitado no hospital (qual?)


== O decurso do golpe ==
== O decurso do golpe ==
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O grosso da tropa partiu às 12h30,<ref name=":2" /> ainda incompleta; o 2/12º RI chegou em Juiz de Fora apenas às 22 horas, sem armas automáticas, comida e dinheiro, apesar das promessas de Guedes.<ref name=":1" /> Deslocaram-se até a fronteira Rio/Minas Gerais pela [[estrada União e Indústria]],
O grosso da tropa partiu às 12h30,<ref name=":2" /> ainda incompleta; o 2/12º RI chegou em Juiz de Fora apenas às 22 horas, sem armas automáticas, comida e dinheiro, apesar das promessas de Guedes.<ref name=":1" /> Deslocaram-se até a fronteira Rio/Minas Gerais pela [[estrada União e Indústria]],


=== O avanço mineiro ao Rio ===
=== O eixo Juiz de Fora - Guanabara ===
{{Info/Conflito militar
{{Info/Conflito militar
|nome = Operação Popeye
|nome = Operação Popeye
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Às 17 horas o destacamento Tiradentes chegou na estação Paraibuna, na fronteira, defrontando-se do outro lado do rio com o 1º BC em [[Comendador Levy Gasparian|Levy Gasparian]]. Com a posição militar garantida, Mourão Filho chamou a imprensa a seu quartel em Juiz de Fora para anunciar o golpe. Magalhães Pinto, através de todas as emissoras, lança outro manifesto, anunciando que "as forças sediadas em Minas [...] consideraram do seu dever entrar em ação, a fim de assegurar a legalidade ameaçada pelo próprio Presidente da República". Negou que o movimento tivesse caráter de secessão. O Cel. Afrânio Aguiar confirmou a seu superior, Francisco Teixeira, que estava do lado de Minas, sendo assim demitido pelo telefone.<ref name="idos" />
Às 17 horas o destacamento Tiradentes chegou na estação Paraibuna, na fronteira, defrontando-se do outro lado do rio com o 1º BC em [[Comendador Levy Gasparian|Levy Gasparian]]. Com a posição militar garantida, Mourão Filho chamou a imprensa a seu quartel em Juiz de Fora para anunciar o golpe. Magalhães Pinto, através de todas as emissoras, lança outro manifesto, anunciando que "as forças sediadas em Minas [...] consideraram do seu dever entrar em ação, a fim de assegurar a legalidade ameaçada pelo próprio Presidente da República". Negou que o movimento tivesse caráter de secessão. O Cel. Afrânio Aguiar confirmou a seu superior, Francisco Teixeira, que estava do lado de Minas, sendo assim demitido pelo telefone.<ref name="idos" />


Explosivos foram montados na ponte, e artilharia apontada para a Pedra de Paraibuna.<ref name=":3" /> Muricy procurava desfiladeiros nas montanhas mineiras de onde poderia resistir ao avanço legalista até a rebelião de outras unidades. Um conflito armado era uma possibilidade real e terminaria numa vitória legalista. Como logo percebido pelo general, os rebeldes tinham munição para poucas horas e mais da metade dos homens eram recrutas mal-instruídos. O Regimento Sampaio, vindo do outro lado, era uma das melhores unidades do Exército, e como o 2º e o 3º, possuía dois batalhões, enquanto cada regimento mineiro só tinha ou pôde mandar um.<ref name=":8" /><ref name=":1" /> O terreno irregular da região serrana levaria a uma campanha acirrada.<ref name="idos" />
Explosivos foram montados na ponte, e artilharia apontada para a Pedra de Paraibuna.<ref name=":3" /> Muricy procurava desfiladeiros nas montanhas mineiras de onde poderia resistir ao avanço legalista até a rebelião de outras unidades. Um conflito armado era uma possibilidade real e tinha grande chance de terminar numa vitória legalista. Como logo percebido pelo general, os rebeldes tinham munição para poucas horas e mais da metade dos homens eram recrutas mal-instruídos. O Regimento Sampaio, vindo do outro lado, era uma das melhores unidades do Exército, e como o 2º e o 3º, possuía dois batalhões, enquanto cada regimento mineiro só tinha ou pôde mandar um.<ref name=":8" /><ref name=":1" /> O terreno irregular da região serrana levaria a uma campanha acirrada.<ref name="idos" />


[bombardeio de artilharia ou aéreo?]
[bombardeio de artilharia ou aéreo?]
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O destacamento Tiradentes entrou em marcha novamente. Às 6 horas do dia 1<sup>o</sup> de abril, a tropa do 1º BC escutou o barulho de lagartas: eram tanques leves enviados para desalojá-los. O pelotão que perdera seus oficiais foi acossado por um deles, que apontou seu canhão 81 mm e metralhadoras .50 ao morro onde estavam e conseguiu a rendição da maioria; 1 sargento e 10-12 soldados no topo debandaram e se uniram ao restante do batalhão na retirada até a localidade de Serraria,<ref name=":6" /> e mais atrás, a Três Rios, onde o 1<sup>o</sup> RI estava desdobrado em posição de combate. O destacamento Tiradentes também tomou posições.<ref name="idos" /><ref name="ustra" />
O destacamento Tiradentes entrou em marcha novamente. Às 6 horas do dia 1<sup>o</sup> de abril, a tropa do 1º BC escutou o barulho de lagartas: eram tanques leves enviados para desalojá-los. O pelotão que perdera seus oficiais foi acossado por um deles, que apontou seu canhão 81 mm e metralhadoras .50 ao morro onde estavam e conseguiu a rendição da maioria; 1 sargento e 10-12 soldados no topo debandaram e se uniram ao restante do batalhão na retirada até a localidade de Serraria,<ref name=":6" /> e mais atrás, a Três Rios, onde o 1<sup>o</sup> RI estava desdobrado em posição de combate. O destacamento Tiradentes também tomou posições.<ref name="idos" /><ref name="ustra" />


Porém, também com o Regimento Sampaio não houve combate. Muricy chegou a Três Rios às 7h, seguido de Denys, e os dois confirmaram com o coronel Raymundo a adesão de seu regimento. Três Rios foi ocupada pelo destacamento Tiradentes às 10:30. Também aderiu a 4<sup>a</sup> Bateria do 2<sup>o</sup> Grupo, do capitão Gualberto Pinheiro. As defecções fortaleciam gradativamente os revoltosos à medida que avançavam, "como uma bola de neve". Cunha Melo foi informado da mudança de lado do regimento.
Porém, também com o Regimento Sampaio não houve combate. Muricy chegou a Três Rios às 7h, seguido de Denys, e os dois confirmaram com o coronel Raymundo a adesão de seu regimento. Três Rios foi ocupada pelo destacamento Tiradentes às 10:30. Também aderiu a 4<sup>a</sup> Bateria do 2<sup>o</sup> Grupo, do capitão Gualberto Pinheiro. As defecções fortaleciam gradativamente os revoltosos à medida que avançavam, "como uma bola de neve". Cunha Melo foi informado da mudança de lado do regimento e a informação chegou ao Laranjeiras.


O próximo obstáculo era [[Areal]], onde os legalistas aguardavam com o 2<sup>o</sup> e 3<sup>o</sup> RIs e baterias de artilharia restantes no desfiladeiro no caminho até Petrópolis, numericamente inferiores mas em ótima posição defensiva.<ref name=":7" /> Novamente os oponentes se desdobraram em posição de combate. Cunha Melo resistiu à parlamentação e estava decidido a lutar, com as operações ocorrendo "em todos os movimentos de uma ação iminente." Porém, ouviu dos emissários de Muricy e confirmou com o QG no Rio de Janeiro que o legalismo estava desagregado: não havia mais condições de oferecer resistência. Jango saíra do Rio de Janeiro e o II Exército vinha do Vale do Paraíba. Às 14:30, negociou sua retirada com Muricy, exigindo duas horas para recuar antes da chegada dos revoltosos e a não ocupação das refinarias de Duque de Caxias e Manguinhos. Recebeu uma hora e nenhuma garantia para as refinarias. Às 16:50, recuou até o Belvedere da Rio-Petrópolis.
O próximo obstáculo era [[Areal]], onde os legalistas aguardavam com o 2<sup>o</sup> e 3<sup>o</sup> RIs e baterias de artilharia restantes no desfiladeiro no caminho até Petrópolis, numericamente inferiores mas em ótima posição defensiva.<ref name=":7" /> Novamente os oponentes se desdobraram em posição de combate. Cunha Melo resistiu à parlamentação e estava decidido a lutar, com as operações ocorrendo "em todos os movimentos de uma ação iminente."


Porém, ouviu dos emissários de Muricy e confirmou com Assis Brasil no Rio de Janeiro que o legalismo estava desagregado: não havia mais condições de oferecer resistência. Jango saíra do Rio de Janeiro, o II Exército vinha do Vale do Paraíba, Âncora partira para conferenciar com Kruel na AMAN e sua única ordem era que "fizesse o que quisesse". Às 14:30, negociou sua retirada com Muricy, exigindo duas horas para recuar antes da chegada dos revoltosos e a não ocupação das refinarias de Duque de Caxias e Manguinhos. Recebeu uma hora e nenhuma garantia para as refinarias. Às 16:50, recuou até o Belvedere da Rio-Petrópolis.
Evaporara toda a resistência legalista. Já não havia condição de enviar mais nenhuma tropa. Muricy desceu de Petrópolis de madrugada, e sem conhecimento, ainda esperava luta. No dia 2º de abril passou pela Fábrica Nacional de Motores, na Baixada Fluminense, e chegou ao Rio de Janeiro.<ref name="idos" /><ref name=":1" /><ref name=":2" /><ref name="ustra" />Como o I Exército já havia se rendido, não ocupou o QG do Exército, conforme combinado, o que desapontou Magalhães Pinto e Guedes. O destacamento Tiradentes acantonou-se no [[Estádio Jornalista Mário Filho|Maracanã]]<ref name=":0" />, onde permaneceu por alguns dias a pedido de Costa e Silva [<u>fonte</u>?] e foi visitado pelo próprio Mourão Filho, retornando a Minas Gerais no dia 6 de abril.<ref name=":2" />

Evaporara toda a resistência legalista. Já não havia condição de enviar mais nenhuma tropa. Muricy desceu de Petrópolis de madrugada, e sem conhecimento, ainda esperava luta. No dia 2º de abril passou pela Fábrica Nacional de Motores, na Baixada Fluminense, e chegou ao Rio de Janeiro.<ref name=":7" /><ref name=":1" /><ref name="idos" /><ref name=":2" /><ref name="ustra" />Como o I Exército já havia se rendido, não ocupou o QG do Exército, conforme combinado, o que desapontou Magalhães Pinto e Guedes. O destacamento Tiradentes acantonou-se no [[Estádio Jornalista Mário Filho|Maracanã]]<ref name=":0" />, onde permaneceu por alguns dias a pedido de Costa e Silva [<u>fonte</u>?] e foi visitado pelo próprio Mourão Filho, retornando a Minas Gerais no dia 6 de abril.<ref name=":2" />




[outros pontos de passagem do destacamento Tiradentes em Petrópolis]
[outros pontos de passagem do destacamento Tiradentes em Petrópolis]


<br />
=== Guanabara ===


=== A Marinha americana ===
=== A Marinha americana ===
<br />
=== A cidade do Rio de Janeiro ===
reunião de Âncora e outros dois generais com Jango no Laranjeiras na manhã de 1 de abril, eles recomendam a saída, restam do lado legalista só o Batalhão de Guarda e Polícia do Exército, insuficientes para enfrenar a oposição, e os fuzileiros navais estavam enquadrados pelo almirantado<ref name=":7" />


=== São Paulo e o vale do Paraíba ===
=== São Paulo e o vale do Paraíba ===
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==== Preparação legalista ====
==== Preparação legalista ====
A reunião tinha uma ausência importante: o general-de-brigada Euryale de Jesus Zerbini, da Infantaria Divisionária 2, recém-assumido e peça-chave do "dispositivo" no estado. Chegara a São Paulo das 18:30 às 19:00, mas antes de entrar no QG foi chamado por seu superior, Aluísio Mendes. Ambos se posicionaram a favor do governo, tendo Aluísio prometido prender Kruel se ele se rebelasse. Zerbini foi encarregado de assumir as forças no vale do Paraíba, possível rota de invasão São Paulo-Rio, onde estavam o 5<sup>o</sup> e 6<sup>o</sup> RIs e 2<sup>o</sup> BE Cmb, e ficar de prontidão para se mover.
A reunião tinha uma ausência importante: o general-de-brigada Euryale de Jesus Zerbini, da Infantaria Divisionária 2, recém-assumido e peça-chave do "dispositivo" no estado. Chegara a São Paulo das 18:30 às 19:00, mas antes de entrar no QG foi chamado por seu superior, Aluísio Mendes. Ambos se posicionaram a favor do governo, tendo Aluísio prometido prender Kruel se ele se rebelasse. Zerbini foi encarregado de assumir as forças no vale do Paraíba, possível rota de invasão São Paulo-Rio através da [[BR-116|Via Dutra]], onde estavam o 5<sup>o</sup> e 6<sup>o</sup> RIs e 2<sup>o</sup> BE Cmb, e ficar de prontidão para se mover.


Às 21:00 Zerbini chegara a seu QG em Caçapava, confirmara a lealdade de seus subordinados e os ordenara na direção dos rebeldes em Minas: o 5<sup>o</sup> RI de Lorena formaria na direção de Itajubá, onde estava o 4<sup>o</sup> BE Cmb mineiro, e no túnel da Via Dutra, enquanto o 6<sup>o</sup> RI de Caçapava avançaria à ponte do Paraíba e a Campos do Jordão, a caminho de Minas. Os regimentos deram reconhecimento de que nada anormal havia nesses lugares e permaneceram de prontidão nos quartéis.
Às 21:00 Zerbini chegara a seu QG em Caçapava, confirmara a lealdade de seus subordinados e os ordenara na direção dos rebeldes em Minas: o 5<sup>o</sup> RI de Lorena formaria na direção de Itajubá, onde estava o 4<sup>o</sup> BE Cmb mineiro, e no túnel da Via Dutra, enquanto o 6<sup>o</sup> RI de Caçapava avançaria à ponte do Paraíba e a Campos do Jordão, a caminho de Minas. Os regimentos deram reconhecimento de que nada anormal havia nesses lugares e permaneceram de prontidão nos quartéis.


A situação mudara e às 22:30 Zerbini recusou a chamada de Aluísio a São Paulo. Contatado pelo general Assis Brasil e o próprio Presidente às 11:00 e 11:30, se dissera leal e sob controle mas incapaz de resistir a um avanço pelo restante do II Exército, sendo então informado da vinda de reforços.<ref name=":7" /> Era o Grupamento de Unidades-Escola do general Anfrísio da Rocha Lima. Á sua vanguarda estavam:
A situação mudara e às 22:30 Zerbini recusou a chamada de Aluísio a São Paulo. Contatado pelo general Assis Brasil e o próprio Presidente às 11:00 e 11:30, se dissera leal e sob controle mas incapaz de resistir a um avanço pelo restante do II Exército, sendo então informado da vinda de reforços.<ref name=":7" /> Era o Grupamento de Unidades-Escola (GUEs) do general Anfrísio da Rocha Lima. Á sua vanguarda estavam:


* Um batalhão do Regimento Escola de Infantaria (REsI)
* Um batalhão do Regimento Escola de Infantaria (REsI)
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* 2<sup>a</sup> Bateria do Grupo Escola de Artilharia
* 2<sup>a</sup> Bateria do Grupo Escola de Artilharia


Duas outras baterias seguiam mais atrás. Foi movida também a 2<sup>a</sup> bateria do 1º Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm, num arranjo inusitado. Os soldados, cabos e o capitão, [[Carlos Alberto Brilhante Ustra|Brilhante Ustra]], eram na verdade da 4<sup>a</sup> bateria, e um capitão mais velho, Cavalero, o acompanhava no jipe de comando. Ustra percebera que o objetivo do arranjo era que os elementos mais politicamente confiáveis, Cavalero e os sargentos, tomassem o controle, e após protestos conseguiu que os soldados e cabo fossem os seus. Além da divisão entre simpatizantes e oponentes do governo dentro da própria bateria, esta partiria sem enfermeiros e material de cozinha e com pouquíssima comida e água. Os canhões eram rebocados por tratores sobre lagartas, o que num movimento pelo asfalto acabaria com as borrachas das lagartas, e a bateria seria inútil para fornecer apoio antiaéreo, pois sua função era a defesa de pontos sensíveis e demorava horas para entrar em posição.<ref name="ustra" />
Duas outras baterias seguiam mais atrás, e o GUEs contava com o restante do REsI, o Batalhão Escola de Engenharia, o Regimento Escola de Cavalaria e o 1º Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm. Entre os regimentos de infantaria brasileiros o REsI era o único com efetivos plenos e o melhor do equipamento do [[Acordo Militar Brasil-Estados Unidos]].<ref name=":8" /> Do Grupo antiaéreo foi movida também a 2<sup>a</sup> bateria, num arranjo inusitado. Os soldados, cabos e o capitão, [[Carlos Alberto Brilhante Ustra|Brilhante Ustra]], eram na verdade da 4<sup>a</sup> bateria, e um capitão mais velho, Cavalero, o acompanhava no jipe de comando. Ustra percebera que o objetivo do arranjo era que os elementos mais politicamente confiáveis, Cavalero e os sargentos, tomassem o controle, e após protestos conseguiu que os soldados e cabo fossem os seus. Além da divisão entre simpatizantes e oponentes do governo dentro da própria bateria, esta partiria sem enfermeiros e material de cozinha e com pouquíssima comida e água. Os canhões eram rebocados por tratores sobre lagartas, o que num movimento pelo asfalto acabaria com as borrachas das lagartas, e a bateria seria inútil para fornecer apoio antiaéreo, pois sua função era a defesa de pontos sensíveis e demorava horas para entrar em posição.<ref name="ustra" />


Entre os regimentos de infantaria brasileiros o REsI era o único com efetivos plenos e o melhor do equipamento do [[Acordo Militar Brasil-Estados Unidos]].<ref name=":8" /> Zerbini estava confiante que a chegada dos reforços, incluindo carros blindados, garantiria o vale do Paraíba.<ref name=":1" /> Porém, a tropa só partiria na manhã do dia 1º.<ref name="ustra" />
Zerbini estava confiante que a chegada dos reforços, incluindo carros blindados, garantiria o vale do Paraíba.<ref name=":1" /> Porém, a tropa só partiria na manhã do dia 1º.<ref name="ustra" />


==== Os paulistas avançam ====
==== Os paulistas avançam ====
Conforme o que tinha ouvido de Goulart, Kruel já punha as tropas na rua. Á meia-noite se proclamou pelo golpe, com a notícia se espalhando pelo país e alcançando o Congresso.<ref name=":1" />Confirmou o apoio do comandante da 9<sup>a</sup> RM, no Mato Grosso, por telefone, designando [[Usuário(a):Bom Sucesso/64 b|um movimento do Mato Grosso a Brasília]], e ordenou uma invasão ao Rio de Janeiro cruzando o vale do Paraíba pela seguinte formação, composta principalmente pela 2<sup>a</sup> DI:
Conforme o que tinha ouvido de Goulart, Kruel já punha as tropas na rua. Á meia-noite se proclamou pelo golpe, com a notícia se espalhando pelo país e alcançando o Congresso.<ref name=":1" />Confirmou o apoio do comandante da 9<sup>a</sup> RM, no Mato Grosso, por telefone, designando [[Usuário(a):Levy Gasparian/64 b|um movimento do Mato Grosso a Brasília]], e ordenou uma invasão ao Rio de Janeiro cruzando o vale do Paraíba pela seguinte formação, composta principalmente pela 2<sup>a</sup> DI:


* 5º Regimento de Infantaria
* 5º Regimento de Infantaria
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* 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado
* 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado
* 1<sup>a</sup> Bateria de Obuses de 105 mm do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR/SP)
* 1<sup>a</sup> Bateria de Obuses de 105 mm do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR/SP)
* 1<sup>a</sup> Companhia do 1º Batalhão de Carros de Combate
* 1<sup>a</sup> Companhia do 1º Batalhão de Carros de Combate (transportada por ferrovia)


Como reserva, moveram-se a São Paulo:
Como reserva, moveram-se a São Paulo:
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==== Entra em cena a AMAN ====
==== Entra em cena a AMAN ====
Nas ordens mais recentes dadas por Kruel à meia-noite, o 5º RI, mais próximo da fronteira, se moveria a Queluz e faria contato com o movimento revolucionário que se desenvolvia na [[Academia Militar das Agulhas Negras|Academia Militar de Agulhas Negras]] (AMAN). Localizada em Resende, e próxima de Itatiaia e Barra Mansa, a Academia estava no caminho percorrido pelos dois exércitos em conflito. Seu comandante, o general-de-brigada [[Emílio Garrastazu Médici]], já tinha contato com Mourão Filho desde 1963, e ao saber da movimentação da coluna Tiradentes imediatamente solidarizou-se com a sublevação.<ref name=":0" /> Por fim, ao entrar em contato com Costa e Silva às 02:00 e Kruel às 02:30, declara que a passagem do II Exército é livre e toma seu partido.<ref name=":2" /><br />
Nas ordens mais recentes dadas por Kruel à meia-noite, o 5º RI, mais próximo da fronteira, se moveria a Queluz e faria contato com o movimento revolucionário que se desenvolvia na [[Academia Militar das Agulhas Negras|Academia Militar de Agulhas Negras]] (AMAN). Localizada em Resende e próxima de Itatiaia e Barra Mansa, a Academia estava no caminho percorrido pelos dois exércitos em conflito. Seu comandante, o general-de-brigada [[Emílio Garrastazu Médici]], já tinha contato com Mourão Filho desde 1963, e ao saber da movimentação da coluna Tiradentes imediatamente solidarizou-se com a sublevação.<ref name=":0" /> Foi chamado a aderir por Costa e Silva às 2:00, informado do movimento do II Exército por Kruel às 02:30 e do GUEs por Âncora às 03:00.


Escolheu permitir a passagem do II Exército e aderir ao movimento, bloqueando a rodovia ao I Exército com seus cadetes. Às 03:10 anunciou sua decisão aos cadetes durante um casamento. De manhã às 08:30 emitiu sua proclamação "Irmãos em Armas" e enviou Corpo de Cadetes para suas posições:
==== O encontro na região de Resende ====


* Uma Bateria de Obuses 105 mm no Km 286, em Posição de Tiro
* Uma Companhia de Infantaria reforçada no Km 283 da Via Dutra (próximo à fábrica White Martins), em Posição Defensiva
* Um Esquadrão de Cavalaria Motorizado no Km 277, em Posição de Retardamento para recuar depois à Infantaria
* Um Pelotão de Engenharia no Km 278, para destruir os viadutos da Guarita e da Rede Ferroviária Federal
* Duas equipes do Curso de Comunicações

Já chegavam os paulistas: às 11:30 o 5º RI aproximou-se de Resende, às 12:30 o 2º RO 105, Bateria do CPOR/SP e 1<sup>a</sup> Cia do BCCL também em Resende e às 12:45 o 2<sup>o</sup> Esc Rec Mec.

A vanguarda do GUEs chegou à entrada da cidade de Barra Mansa às 13:00, fazendo contato com seus adversários do II Exército. Sua bateria ocupou posição de tiro. Seu componente antiaéreo nunca chegou: partiu às 09:00, mas sob ordens de Ustra o deslocamento foi retardado: pneus foram esvaziados e viaturas apresentaram panes. À noite ele não passara da [[Serra das Araras]].

Como em Minas, o combate era uma possibilidade e seria violento. Mas também se repetiram as defecções: chegando às 14:00, as duas outras baterias do I Exército, contrariando suas ordens, não se desdobraram em posição de tiro mas avançaram em alta velocidade pela Via Dutra, aderindo aos revoltosos. O oficial de operações e os capitães da bateria tinham estudado na AMAN e tiveram como colega o capitão Ustra. Não ocorreu troca de tiros; às 15:00 acertou-se uma trégua, com os dois lados permanecendo em posição, diante de uma nova realidade: a vinda do general Âncora para negociar na AMAN.

==== Rende-se o I Exército ====
A partida de Jango às 12:45 iniciara a dissolução do "dispositivo" no I Exército. Por sugestão tanto do próprio Presidente quanto de Costa e Silva, com quem conversou pelo telefone às 14:30, Âncora foi à AMAN conferenciar com Kruel. Chegou no meio da tarde "em estado deplorável, abatido por uma crise de asma". Médici o recebeu com as honras devidas a seu posto, apesar de sua relutância, pois definia-se como "derrotado", ouvindo em resposta que "não há derrotados senão os inimigos da Pátria."

Mas Âncora não estava errado: quando Kruel chegou, às 18:00, o que discutiram foi a rendição do I Exército. As operações foram encerradas e os soldados retornaram aos quartéis.<ref name=":2" /><ref name="ustra" /><ref>{{citar web|url=http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,se-houvesse-confronto-seria-um-massacre,1146338,0.htm|titulo=Se houvesse confronto, seria um massacre|data=28/03/2014|acessodata=23/05/2020|publicado=O Estado de São Paulo|ultimo=Mayrink|primeiro=José Maria}}</ref>
<br />
=== Brasília ===
=== Brasília ===
Comandantes da 4<sup>a</sup> DC e 16<sup>o</sup> BC aderem na tarde do dia 31<ref name=":0" />
Comandantes da 4<sup>a</sup> DC e 16<sup>o</sup> BC aderem na tarde do dia 31<ref name=":0" />
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=== IV Exército no Nordeste ===
=== IV Exército no Nordeste ===

== As Forças Armadas após o golpe ==
Rival de Castelo Branco, Kruel conseguiu avançar com a sugestão de nomear Costa e Silva ao Ministério da Guerra. Pelo regulamento o cargo sem titular cairia a Cas

disputa pelo Ministério da Guerra entre Castelo Branco e Costa e Silva


== Ver também ==
== Ver também ==
[[Usuário(a):Bom Sucesso/EB 1960|Hierarquia do Exército Brasileiro em 1960]]
[[Usuário(a):Levy Gasparian/EB 1960|Hierarquia do Exército Brasileiro em 1960]]


== Ligações externas ==
== Ligações externas ==

Revisão das 02h56min de 24 de maio de 2020

Rascunho para uma revisão em Operações militares no golpe de 1964

breve sumário

Antecedentes

A situação política nas Forças Armadas


Número de formações de infantaria, cavalaria e blindados aquartelados no atual Sudeste brasileiro em 1964[1]
Exército B. Infantaria B. Caçadores B. Infantaria Aeroterrestre B. Infantaria Blindada B. Carros de Combate B. Carros de Combate Leves R. Cavalaria Total
I (sem MG) 8 2 1 2 3 0 2 17
I em MG 4 0 0 0 0 0 0 4
II 4 2 0 0 0 1 1 8
III
CMP
CMA


A posição dos governadores


Os núcleos de conspiração

Em São Paulo e Mato Grosso, o II Exército comandava a 2a Divisão de Infantaria, cujos três regimentos se alinhavam de Osasco ao Vale do Paraíba, a 4a Divisão de Cavalaria e 2a Brigada Mista no Mato Grosso e uma série de formações menores em São Paulo. À sua frente estava o general Amaury Kruel, que nas palavras de Magalhães Pinto, era "um homem angustiado pelo conflito que vivia".[2] Era considerado leal a Goulart, de quem era amigo e recebera financiamento para a compra da Fazenda Piraquê, em Linhares, e emprego para o filho no Loide Brasileiro em Nova Orléans.[3]

A trama em Minas Gerais

Estados-maiores de Costa e Silva e Castelo Branco, conspirações 1961-63; IPES/IBAD

Ao assumir o comando em Juiz de Fora em agosto de 1963, Mourão Filho encontrou um estado de menor mobilização militar, mas muito vantajoso como ponto de partida para uma derrubada do governo. A Guanabara era próxima e havia no estado uma só Grande Unidade, a 4ª Divisão de Infantaria, em contraposição ao Rio Grande do Sul, no qual coexistiam um comando de Região Militar e cinco de Divisão, exigindo uma coordenação entre vários comandantes. A 4a DI, por sua vez, era controlada por Mourão Filho em conjunto com a 4a RM, ao contrário de São Paulo, onde os comandos da 2a DI e 2a RM eram distintos; assim, controlava todas as unidades do Exército em Minas Gerais.[4] A supervisão do "dispositivo" também era mais fraca no estado, ao contrário do Rio de Janeiro e Guanabara.

O general adaptou a Minas Gerais um plano de ação desenvolvido para São Paulo, iniciou um forte proselitismo entre a tropa para preparar o terreno para o golpe e acumulou aliados objetivando um Estado-Maior Revolucionário, ao qual recrutou sete majores do QG da 4a RM/4a DI. Associou-se a Carlos Luís Guedes, comandante da Infantaria Divisionária, e o marechal Odílio Denys. No Rio de Janeiro, fez contato com Médici, Costa e Silva e Muricy, o qual em dezembro aceitou comandar um destacamento para marchar a partir de Juiz de Fora.[4] Aos contatos no Exército somavam-se elementos da sociedade civil mineira, como o empresariado e imprensa de Juiz de Fora,[5] o governador José Magalhães Pinto, opositor de Goulart com ambições presidenciais, e, subordinado ao governador, o comandante da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel José Geraldo de Oliveira; estava garantido o controle civil-militar coeso de Minas Gerais. [6]

preparativos de Magalhães Pinto

As Polícias Militar e Civil estavam aquarteladas e mobilizadas. A venda de combustível nos postos de gasolina passara a ser racionada no dia 29.[7]

Os conspiradores divergiam quanto ao plano de ação. Guedes e Magalhães Pinto desejavam levantar o estado em rebelião.[3] [limitações do plano] Mourão Filho tinha a ideia mais agressiva de, aproveitando a baixa permanência nos quartéis no final de semana, embarcar o 10o RI em caminhões numa noite de sábado para tomar o Quartel-General do Exército no Rio de Janeiro, lançando à nação um manifesto assinado pelos governadores de Minas Gerais, Guanabara, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, incitando o levante da tropa pelo país e a queda do governo.[4]

Às 17 horas do dia 28, reuniram-se no aeroporto de Juiz de Fora Mourão Filho, Guedes, Denys, Magalhães Pinto, seus secretários Osvaldo Pieruccetti e Monteiro Costa, José Geraldo, Coronel Falcão, do 2o batalhão da PMMG.[3]O governador, porém, não apresentou o manifesto como prometido.

outro motivo da pressa: aposentadoria de Mourão Filho Se não fosse promovido, no dia 30 de abril Mourão Filho cairia na cota compulsória, aposentando-se por atingir o limite de idade para o posto de general-de-divisão.


Os conspiradores em Minas Gerais mantinham-se à par da posição de seus aliados nos outros estados e, embora o golpe foi uma empreitada arriscada, não se iniciou sem uma noção da chance de adesão do restante do país.

A situação na véspera

Jango no Palácio das Laranjeiras

Jair Dantas incapacitado no hospital (qual?)

O decurso do golpe

Linhas gerais, "o Exército dormiu janguista e acordou revolucionário", vôos de Goulart

A ausência de resistência por parte dos legalistas enviados para sufocar a rebelião se deu pela conformidade no pensamento de ambos os lados. Entre os legalistas que aderiram também havia sentimento anticomunista; foi por ele que debandou o comandante do 1º RI. Transcendendo o posicionamento ideológico e a lealdade ao governo, o desejo de preservar a união e hierarquia na instituição militar evitou a guerra civil e o "sangue derramado entre irmãos".[2][6]

Minas Gerais

Separar num artigo próprio?

As primeiras faíscas da rebelião em Minas Gerais se deram já na segunda-feira, dia 30. Das 10 às 13h30, em reunião na casa do secretário do Interior Pieruccetti, Magalhães Pinto leu o "Manifesto de Minas" declarando seu estado desligado da União até a substituição do Presidente da República.[8]O governador formou um secretariado superpartidário, nomeando o deputado José Maria Alkmin (PSD) para a Secretaria de Finanças e os senadores Milton Campos e Afonso Arinos para Secretarias sem Pasta. Ás 14h30, Guedes declarou aos oficiais da ID/4 que Minas estava rebelada e preparou parte da tropa do 12o RI para ir a Brasília e outra a Juiz de Fora.

Sentinelas no Palácio da Liberdade e Secretarias de Estado estavam armadas de metralhadoras. À tarde a 2a seção da ID/4, Guarda Civil de Belo Horizonte e Polícias Civil e Militar iniciaram a consolidação do poder do movimento revolucionário, bloqueando as fronteiras, ocupando pontos estratégicos e desencadeando as operações Silêncio e Gaiola; a primeira impôs a censura a todas as mídias, e a segunda ocupou sedes de partidos políticos, sindicatos, etc. e, no dia seguinte, já realizara ao menos 50 prisões; a repressão ao movimento sindical levou à renúncia do secretário do Trabalho em protesto. Porém, apesar de um tiroteio entre camponeses e fazendeiros que deixou um morto em Governador Valadares, o estado estava calmo.[6][8]

A noite de Jango no Automóvel Clube acirrou os ânimos dos golpistas. Mourão Filho foi informado dos preparativos de Guedes e recebeu os Secretários sem Pasta do governador. Ficou furioso por Magalhães Pinto ter entregue seu manifesto diretamente à imprensa e não a ele primeiro, além de desaprovar de seu conteúdo. Às duas da madrugada, disse à sua mulher "Nós, aqui, temos que largar agora" e começou a preparar sua própria tropa. Ás 5h, início da operação, ocupou a estação telefônica com a PM e, ainda de pijama, iniciou uma série de telefonemas.

Ordenou ao major Curcio que iniciasse a Operação Popeye, avisou ao almirante Heck que o golpe estava em curso e pediu ao deputado Armando Falcão que avisasse Carlos Lacerda.[6][9] Às 6h, informou Guedes e pediu que enviasse o 12o RI. No lugar de Lacerda, Falcão contatou Castelo Branco, que pela manhã, contatou Guedes, e indiretamente, Magalhães Pinto, buscando paralisar a revolta, mas sem sucesso.[3] A sublevação de Mourão Filho, que redigira seu próprio manifesto, começou a ser conhecida por militares pelo país por rádio e telegrama.[4]

A intenção agora não era uma marcha imediata à Guanabara mas de posicionar os efetivos na fronteira com o Rio de Janeiro e aguardar o posicionamento do Exército do outro lado. [fonte] Mourão Filho previa um processo armado de no mínimo quatro meses, e no caso do fracasso da vanguarda em tomar o Rio de Janeiro, recuaria aplicando terra arrasada até o sul da Bahia, onde com o apoio da oficialidade da VI região e de forças civis rurais resistiria o avanço dos legalistas ao Nordeste.[10]

O comando caiu a Muricy, que informado às 7 horas através do juiz Antônio Néder[11] e chamado por Mourão[3] ou pelo próprio Castelo Branco para "consertar as besteiras de Mourão",[4] de manhã subiu a serra acompanhado do general Válter Pires. O marechal Denys só chegou na fronteira às 3h da madrugada do 1o de abril,[10] mas por telefonemas de Juiz de Fora foi fundamental nas negociações que evitaram o combate.

A consolidação interna de Minas Gerais prosseguiu durante o dia 31. O combustível foi requisitado. A transferência do Congresso para a capital mineira foi discutida, e já partira a coluna rumo a Brasília. Soldados ocuparam a Estação Rodoviária de Belo Horizonte e interomperam o trânsito interestadual e para o interior. O Código Penal Militar entrou em vigor, estabelecendo a pena de morte. Organizou-se um contingente de médicos e enfermeiras. À noite, o Secretário de Agricultura tomou providências para o abastecimento, verificando estoques de comida para 100 dias. Milícias de direita existentes no clima político polarizado do país foram mobilizadas, e jovens se alistaram no Exército Civil, Batalhão Popular Ruralista e outros corpos de voluntariado; ao fim do primeiro dia, eram ao redor de 10 mil.[6][8]

O destacamento Tiradentes

Parte da tropa do 10o RI já saíra às 4 horas para vistoriar o caminho e tomar os postos de fiscalização perto do Paraibuna[7] e às 9-10 horas uma companhia precursora sob Astrogildo Corrêa[10] foi enviada, chegando no Paraibuna às 14,[12] mas a partida de fato, a operação Popeye (homenagem à apreciação de Mourão Filho pelo cachimbo) demorou a arrancar. Dentro do regimento o coronel Clovis Calvão recusou-se a participar ao saber que, ao contrário do que havia ouvido, o Ministro da Guerra não apoiava o levante. O impasse foi solucionado concedendo férias a Calvão[3] e o comando do regimento passou a [?]

comandante do 10 RI recusou e foi substituído por Everaldo

O coronel aviador Afrânio de Aguiar, da base aérea de Belo Horizonte, anteriormente não envolvido nas articulações, se juntou à rebelião. A Escola Preparatória de Cadetes do Ar confirmou sua adesão às 14 horas. Porém, a Escola de Sargentos em Três Corações recusou-se a aderir. Paulatinamente organizou-se em Juiz de Fora o Destacamento Tiradentes, composto de:[6] [13]

  • 10º Regimento de Infantaria
  • 11º Regimento de Infantaria
  • 2º Batalhão do 12º Regimento de Infantaria
  • 1º Grupo do 4º Regimento de Obuses de 105 mm
  • Um Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado
  • 2º Batalhão da Força Pública
  • 5º Batalhão da Força Pública
  • 9º Batalhão da Força Pública[14]

O grosso da tropa partiu às 12h30,[8] ainda incompleta; o 2/12º RI chegou em Juiz de Fora apenas às 22 horas, sem armas automáticas, comida e dinheiro, apesar das promessas de Guedes.[3] Deslocaram-se até a fronteira Rio/Minas Gerais pela estrada União e Indústria,

O eixo Juiz de Fora - Guanabara

Operação Popeye
Golpe de Estado no Brasil em 1964
Data 31 de março - 2 de abril 1964
Local Região do Rio de Janeiro a Juiz de Fora
Desfecho Vitória golpista
Beligerantes
Brasil Exército Brasileiro (rebelde)

Minas Gerais

Brasil Governo brasileiro Brasil Exército Brasileiro (legalista)
Comandantes
Brasil Olímpio Mourão Filho

Brasil Antônio Carlos Muricy

Brasil Carlos Luís Guedes
Brasil Luís Tavares da Cunha Melo
Unidades
4ª Divisão de Infantaria
  • Destacamento Tiradentes
1ª Divisão de Infantaria 1º Batalhão de Caçadores
Forças
2.500 soldados no 2º RI

A reação do "dispositivo" foi um deslocamento militar severo de encontro aos golpistas. Já de manhã o 1º Batalhão de Caçadores em Petrópolis, do tenente-coronel Kerensky Túlio Motta, de confiança do governo, foi convocado, embarcando em ônibus, um pelotão em cada, rumo a Três Rios, e de lá, ao Paraibuna,[15]onde já estavam quando chegou a coluna precursora mineira.

A 1º DI, do general Oromar Osório, se oporia à 4º DI de Mourão Filho. Da Vila Militar, sua vanguarda, composta do 1º Regimento de Infantaria (Sampaio) e do 2º Grupo do 1º Regimento de Obuses de 105 mm, já estava na Avenida Brasil ao meio-dia com 25 carros rebocando a artilharia e 22 levando a infantaria.[3] Atrás seguia a retaguarda, com o 2º Regimento de Infantaria e o 1º Grupo do 1º RO 105. Seguiu também um componente blindado e de artilharia e o 3º Regimento de Infantaria. No comando dos três regimentos estava o general-de-brigada Luiz Tavares da Cunha Melo.[2][13] Um avião T-6 da FAB bombardeou Juiz de Fora com panfletos do Presidente da República e do ministro da Guerra, que exonerava Mourão Filho e Guedes.[3]

Cunha Melo tinha confiança de que poderia avançar contra Minas Gerais e "almoçar em Juiz de Fora" (fonte). Porém, do general Âncora recebeu a ordem de apenas impedir a progressão dos revoltosos ao Rio de Janeiro.[2]

Entre a tropa não havia conhecimento claro da natureza do movimento: os soldados do 2º Grupo do 1º RO 105 foram informados de um levante da Polícia Militar Mineira,[13] enquanto no 1º BC falava-se em manobra, treinamento, greve na Petrobras ou conflito num laticínio na Baixada.[15]

Enquanto o destacamento Tiradentes não chegava na fronteira, os golpistas mineiros dissimulavam suas intenções. De Juiz de Fora e Belo Horizonte o Rio de Janeiro recebia notícia de que as movimentações eram "medidas preventivas, para evitar agitações" e a ocupação dos postos e depósitos de gasolina era "para controlar a saída do combustível e não prejudicar o abastecimento do estado".[6] Às 11:00 e 11:30 Mourão Filho negara ao Estado-Maior e ao gabinete do ministério da Guerra que estivesse sublevado.[2] O Palácio das Laranjeiras estava em calma. A situação no restante do país estava sob controle e o "dispositivo" não temia a quartelada mineira.[3]

[mobilização da audácia, a falta de comunicação do destacamento Tiradentes com os outros golpistas por horas]

O encontro no Paraibuna

Às 17 horas o destacamento Tiradentes chegou na estação Paraibuna, na fronteira, defrontando-se do outro lado do rio com o 1º BC em Levy Gasparian. Com a posição militar garantida, Mourão Filho chamou a imprensa a seu quartel em Juiz de Fora para anunciar o golpe. Magalhães Pinto, através de todas as emissoras, lança outro manifesto, anunciando que "as forças sediadas em Minas [...] consideraram do seu dever entrar em ação, a fim de assegurar a legalidade ameaçada pelo próprio Presidente da República". Negou que o movimento tivesse caráter de secessão. O Cel. Afrânio Aguiar confirmou a seu superior, Francisco Teixeira, que estava do lado de Minas, sendo assim demitido pelo telefone.[6]

Explosivos foram montados na ponte, e artilharia apontada para a Pedra de Paraibuna.[7] Muricy procurava desfiladeiros nas montanhas mineiras de onde poderia resistir ao avanço legalista até a rebelião de outras unidades. Um conflito armado era uma possibilidade real e tinha grande chance de terminar numa vitória legalista. Como logo percebido pelo general, os rebeldes tinham munição para poucas horas e mais da metade dos homens eram recrutas mal-instruídos. O Regimento Sampaio, vindo do outro lado, era uma das melhores unidades do Exército, e como o 2º e o 3º, possuía dois batalhões, enquanto cada regimento mineiro só tinha ou pôde mandar um.[1][3] O terreno irregular da região serrana levaria a uma campanha acirrada.[6]

[bombardeio de artilharia ou aéreo?]

Após uma espera por reforços o destacamento tentou avançar às 19h, mas foi barrado na ponte. Ambos os lados então obedeceram suas ordens de parlamentar pelo maior tempo possível. Legalistas e rebeldes defrontaram-se por horas.[6] Kerensky prometeu que não haveria passagem sem luta, mas demora permitiu aos rebeldes superar sua fraqueza militar. O cálculo de Mourão Filho e Muricy era político: como em 30 e 32, os indecisos debandariam ao lado que mais "fizesse o diabo". Assim se deu com dois tenentes do 1º BC, que acertaram com Muricy sua adesão.[3] O comandante do 1º RI, coronel Raymundo Ferreira de Souza, parou às 22 horas no posto de gasolina Triângulo, em Três Rios, encontrando-se com o filho civil do chefe do Estado-Maior em Minas, Cel. da Costa, enviado para colher informações. Ao ser informado da composição da coluna e da presença de Raymundo, da Costa pediu ao filho que o chamasse ao telefone. Raymundo atendeu e encontrou do outro lado o marechal Denys, de quem era amigo e tinha sido secretário. Denys convenceu o coronel a aderir, o que se concretizou no dia seguinte.[3][16]

Desmoronam os legalistas

Muricy finalmente deu ordem de ataque a uma companhia sob Astrogildo Corrêa. Passados 70 minutos, ao redor da meia-noite, o combate ainda não tinha começado e, num "verdadeiro milagre", os dois tenentes do 1º BC atravessaram a terra de ninguém, e seus soldados, sem saber o que fazer, os seguiram, unindo-se aos revoltosos.[10][15] A linha de fogo poderia ter no máximo 5 pelotões; a defecção de 2 comprometeu seriamente a posição do 1º BC.[3] Às 0:30 o general Maroussi, na vanguarda rebelde, estendeu mais uma oferta de parlamentação e uma ameaça de que possuíam um gráfico do terreno do outro lado e o bombardeariam com seus obuses às 2:00 no caso de recusa. Os legalistas recusaram; "parlamentar para Maroussi é aderir" e receberam ordens de manter suas posições. A moral na linha de frente legalista remanescente era de pavor, e os soldados ficaram acordados à noite toda. O ansiosamente esperado bombardeio não se deu. Defecções de pequenos grupos ocorreram durante a noite e deixaram um dos pelotões sem oficiais.

O destacamento Tiradentes entrou em marcha novamente. Às 6 horas do dia 1o de abril, a tropa do 1º BC escutou o barulho de lagartas: eram tanques leves enviados para desalojá-los. O pelotão que perdera seus oficiais foi acossado por um deles, que apontou seu canhão 81 mm e metralhadoras .50 ao morro onde estavam e conseguiu a rendição da maioria; 1 sargento e 10-12 soldados no topo debandaram e se uniram ao restante do batalhão na retirada até a localidade de Serraria,[15] e mais atrás, a Três Rios, onde o 1o RI estava desdobrado em posição de combate. O destacamento Tiradentes também tomou posições.[6][13]

Porém, também com o Regimento Sampaio não houve combate. Muricy chegou a Três Rios às 7h, seguido de Denys, e os dois confirmaram com o coronel Raymundo a adesão de seu regimento. Três Rios foi ocupada pelo destacamento Tiradentes às 10:30. Também aderiu a 4a Bateria do 2o Grupo, do capitão Gualberto Pinheiro. As defecções fortaleciam gradativamente os revoltosos à medida que avançavam, "como uma bola de neve". Cunha Melo foi informado da mudança de lado do regimento e a informação chegou ao Laranjeiras.

O próximo obstáculo era Areal, onde os legalistas aguardavam com o 2o e 3o RIs e baterias de artilharia restantes no desfiladeiro no caminho até Petrópolis, numericamente inferiores mas em ótima posição defensiva.[2] Novamente os oponentes se desdobraram em posição de combate. Cunha Melo resistiu à parlamentação e estava decidido a lutar, com as operações ocorrendo "em todos os movimentos de uma ação iminente."

Porém, ouviu dos emissários de Muricy e confirmou com Assis Brasil no Rio de Janeiro que o legalismo estava desagregado: não havia mais condições de oferecer resistência. Jango saíra do Rio de Janeiro, o II Exército vinha do Vale do Paraíba, Âncora partira para conferenciar com Kruel na AMAN e sua única ordem era que "fizesse o que quisesse". Às 14:30, negociou sua retirada com Muricy, exigindo duas horas para recuar antes da chegada dos revoltosos e a não ocupação das refinarias de Duque de Caxias e Manguinhos. Recebeu uma hora e nenhuma garantia para as refinarias. Às 16:50, recuou até o Belvedere da Rio-Petrópolis.

Evaporara toda a resistência legalista. Já não havia condição de enviar mais nenhuma tropa. Muricy desceu de Petrópolis de madrugada, e sem conhecimento, ainda esperava luta. No dia 2º de abril passou pela Fábrica Nacional de Motores, na Baixada Fluminense, e chegou ao Rio de Janeiro.[2][3][6][8][13]Como o I Exército já havia se rendido, não ocupou o QG do Exército, conforme combinado, o que desapontou Magalhães Pinto e Guedes. O destacamento Tiradentes acantonou-se no Maracanã[4], onde permaneceu por alguns dias a pedido de Costa e Silva [fonte?] e foi visitado pelo próprio Mourão Filho, retornando a Minas Gerais no dia 6 de abril.[8]


[outros pontos de passagem do destacamento Tiradentes em Petrópolis]


A Marinha americana


A cidade do Rio de Janeiro

reunião de Âncora e outros dois generais com Jango no Laranjeiras na manhã de 1 de abril, eles recomendam a saída, restam do lado legalista só o Batalhão de Guarda e Polícia do Exército, insuficientes para enfrenar a oposição, e os fuzileiros navais estavam enquadrados pelo almirantado[2]

São Paulo e o vale do Paraíba

Confronto entre o I e II Exércitos
Golpe de Estado no Brasil em 1964
Data 31 de março - 1 abril 1964
Local Região do Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba
Desfecho Vitória golpista
Beligerantes
Brasil Exército Brasileiro (rebelde) Brasil Governo brasileiro Brasil Exército Brasileiro (legalista)
Comandantes
Brasil Amaury Kruel

Brasil Costa e Silva

Emílio Garrastazu Médici
Brasil Armando de Moraes Ancora Brasil Anfrísio da Rocha Lima
Unidades
II Exército Corpo de Cadetes da AMAN I Exército
  • Grupamento de Unidades-Escola

Ás 7 horas do dia 31, Amaury Kruel foi informado no QG do II Exército que eclodira a rebelião em Minas Gerais, entrando então em contato com o I Exército, 4a RM/DI e EME e enviando emissários ao 5º e 6º RIs, localizados no Vale do Paraíba, para informá-los da rebelião e obedecerem ordens somente dele. Ás 16 horas, convocou seus oficiais para uma reunião

Kruel tinha em mãos plano de ação e manifesto [redigido quando?] golpistas, mas se mantinha ambíguo e silencioso. As tropas não se moviam. Goulart falhou em suas primeiras tentativas de telefoná-lo, só conseguindo às 17 horas. O Presidente buscava o apoio do II Exército, mas o general, apelando à sua amizade, pediu uma guinada política para longe da esquerda, sugestão ignorada. Os legalistas em São Paulo "oscilavam entre a inquietação e a cautela".

Á mesma hora, tinha alterado sua localização e assim o local da iminente reunião do QG do II Exército ao da 2a DI, devido à recusa inicial dos generais Aluísio de Miranda Mendes e Armando Bandeira de Morais, da 2a DI e 2a RM, a aderir. Quando voltou ao QG original à noitinha, encontrou oficiais dispostos a sequestrá-lo se tentasse ficar com o governo. Mas com a adesão dos dois generais, no final da tarde, Kruel podia se rebelar. À noite o coronel Cabral Ribeiro, do 4o RI já se alinhava também ao golpe.[2][3][17]

De sua postura vacilante, Kruel foi empurrado para o golpe às 18 horas, quando recebeu do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Raphael de Souza Noschese, seis maletas contendo um total de 1,2 milhão de dólares em espécie. A reunião se deu sob sigilo num laboratório do Hospital Geral Militar de São Paulo.[18]

Na reunião com os oficiais, ocorrida das 20:00 às 23:30, se concretizou a adesão do II Exército ao golpe, e o plano de ação revelado na forma da Ordem de Operações Número Um.[2] Enquanto estavam reunidos, às 22:30 Adhemar de Barros se pronunciou a favor do golpe.[6] Às 22:00 ou 23:30 Kruel ainda telefonou a Goulart e tiveram sua última conversa. Num teor semelhante à anterior, exigiu o rompimento com a esquerda através da demissão dos ministros mais radicais, Abelardo Jurema (Justiça) e Darcy Ribeiro (Casa Civil) e do fechamento do Comando Geral dos Trabalhadores. Goulart respondeu: "Nunca tive o apoio nem das forças políticas, nem das Forças Armadas durante o meu governo. Só tive dificuldades. Se agora, nesta hora cruciante, eu me livro dos que me cercam, equivale a um suicídio". E por fim, "General, eu não abandono os meus amigos. Se essas são as suas condições, eu não as examino. Prefiro ficar com as minhas origens. O senhor que fique com as suas convicções. Ponha as tropas na rua e traia abertamente", encerrando a conversa com rispidez.

Preparação legalista

A reunião tinha uma ausência importante: o general-de-brigada Euryale de Jesus Zerbini, da Infantaria Divisionária 2, recém-assumido e peça-chave do "dispositivo" no estado. Chegara a São Paulo das 18:30 às 19:00, mas antes de entrar no QG foi chamado por seu superior, Aluísio Mendes. Ambos se posicionaram a favor do governo, tendo Aluísio prometido prender Kruel se ele se rebelasse. Zerbini foi encarregado de assumir as forças no vale do Paraíba, possível rota de invasão São Paulo-Rio através da Via Dutra, onde estavam o 5o e 6o RIs e 2o BE Cmb, e ficar de prontidão para se mover.

Às 21:00 Zerbini chegara a seu QG em Caçapava, confirmara a lealdade de seus subordinados e os ordenara na direção dos rebeldes em Minas: o 5o RI de Lorena formaria na direção de Itajubá, onde estava o 4o BE Cmb mineiro, e no túnel da Via Dutra, enquanto o 6o RI de Caçapava avançaria à ponte do Paraíba e a Campos do Jordão, a caminho de Minas. Os regimentos deram reconhecimento de que nada anormal havia nesses lugares e permaneceram de prontidão nos quartéis.

A situação mudara e às 22:30 Zerbini recusou a chamada de Aluísio a São Paulo. Contatado pelo general Assis Brasil e o próprio Presidente às 11:00 e 11:30, se dissera leal e sob controle mas incapaz de resistir a um avanço pelo restante do II Exército, sendo então informado da vinda de reforços.[2] Era o Grupamento de Unidades-Escola (GUEs) do general Anfrísio da Rocha Lima. Á sua vanguarda estavam:

  • Um batalhão do Regimento Escola de Infantaria (REsI)
  • Uma companhia de Carros de Combate
  • 2a Bateria do Grupo Escola de Artilharia

Duas outras baterias seguiam mais atrás, e o GUEs contava com o restante do REsI, o Batalhão Escola de Engenharia, o Regimento Escola de Cavalaria e o 1º Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm. Entre os regimentos de infantaria brasileiros o REsI era o único com efetivos plenos e o melhor do equipamento do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos.[1] Do Grupo antiaéreo foi movida também a 2a bateria, num arranjo inusitado. Os soldados, cabos e o capitão, Brilhante Ustra, eram na verdade da 4a bateria, e um capitão mais velho, Cavalero, o acompanhava no jipe de comando. Ustra percebera que o objetivo do arranjo era que os elementos mais politicamente confiáveis, Cavalero e os sargentos, tomassem o controle, e após protestos conseguiu que os soldados e cabo fossem os seus. Além da divisão entre simpatizantes e oponentes do governo dentro da própria bateria, esta partiria sem enfermeiros e material de cozinha e com pouquíssima comida e água. Os canhões eram rebocados por tratores sobre lagartas, o que num movimento pelo asfalto acabaria com as borrachas das lagartas, e a bateria seria inútil para fornecer apoio antiaéreo, pois sua função era a defesa de pontos sensíveis e demorava horas para entrar em posição.[13]

Zerbini estava confiante que a chegada dos reforços, incluindo carros blindados, garantiria o vale do Paraíba.[3] Porém, a tropa só partiria na manhã do dia 1º.[13]

Os paulistas avançam

Conforme o que tinha ouvido de Goulart, Kruel já punha as tropas na rua. Á meia-noite se proclamou pelo golpe, com a notícia se espalhando pelo país e alcançando o Congresso.[3]Confirmou o apoio do comandante da 9a RM, no Mato Grosso, por telefone, designando um movimento do Mato Grosso a Brasília, e ordenou uma invasão ao Rio de Janeiro cruzando o vale do Paraíba pela seguinte formação, composta principalmente pela 2a DI:

  • 5º Regimento de Infantaria
  • 6º Regimento de Infantaria
  • 2º Batalhão de Engenharia de Combate
  • 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado
  • 1a Bateria de Obuses de 105 mm do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR/SP)
  • 1a Companhia do 1º Batalhão de Carros de Combate (transportada por ferrovia)

Como reserva, moveram-se a São Paulo:

  • 4º Regimento de Infantaria
  • 4º Batalhão de Caçadores
  • 17º Regimento de Cavalaria
  • 1º Batalhão de Carros de Combate Leves

Na Ordem do Dia preparada anteriormente, a força invadiria Barra Mansa[19], e de lá, avançaria ou à Guanabara ou a Viúva da Graça, em Seropédica. Na retaguarda, com o apoio da Força Pública e Guarda Civil, os golpistas isolariam Cumbica e o campo de Marte, impedindo a decolagem de aeronaves, assegurariam a ligação com o Paraná em Registro e manteriam a ordem interna.

Zerbini conseguira reter a tropa nos quartéis na noite do dia 31, mas na madrugada do dia 1 sua autoridade se dissolveu. A 1:00 tentou contatar o 5o RI, descobrindo então que o quartel estava vazio e os homens haviam partido em caminhões. Enviou uma patrulha motorizada à procura do regimento, mas ela nunca lhe deu notícia. Às 6:00 ouviu do comandante do 6o RI que ele avançaria a Resende sob ordens diretas de Kruel. Entre as 6 e as 7 horas, comunicou-se com Aluísio, que se declarou do lado rebelado e que descia o vale com o 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado. Zerbini resignou-se a acompanhar Aluísio até Resende, de onde partiria ao Rio de Janeiro.[2] O II e o I Exércitos marchavam pelo vale do Paraíba em rota de colisão. Ás 2:00 Mourão Filho já fora informado do movimento do II Exército.[6]

Entra em cena a AMAN

Nas ordens mais recentes dadas por Kruel à meia-noite, o 5º RI, mais próximo da fronteira, se moveria a Queluz e faria contato com o movimento revolucionário que se desenvolvia na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN). Localizada em Resende e próxima de Itatiaia e Barra Mansa, a Academia estava no caminho percorrido pelos dois exércitos em conflito. Seu comandante, o general-de-brigada Emílio Garrastazu Médici, já tinha contato com Mourão Filho desde 1963, e ao saber da movimentação da coluna Tiradentes imediatamente solidarizou-se com a sublevação.[4] Foi chamado a aderir por Costa e Silva às 2:00, informado do movimento do II Exército por Kruel às 02:30 e do GUEs por Âncora às 03:00.

Escolheu permitir a passagem do II Exército e aderir ao movimento, bloqueando a rodovia ao I Exército com seus cadetes. Às 03:10 anunciou sua decisão aos cadetes durante um casamento. De manhã às 08:30 emitiu sua proclamação "Irmãos em Armas" e enviou Corpo de Cadetes para suas posições:

  • Uma Bateria de Obuses 105 mm no Km 286, em Posição de Tiro
  • Uma Companhia de Infantaria reforçada no Km 283 da Via Dutra (próximo à fábrica White Martins), em Posição Defensiva
  • Um Esquadrão de Cavalaria Motorizado no Km 277, em Posição de Retardamento para recuar depois à Infantaria
  • Um Pelotão de Engenharia no Km 278, para destruir os viadutos da Guarita e da Rede Ferroviária Federal
  • Duas equipes do Curso de Comunicações

Já chegavam os paulistas: às 11:30 o 5º RI aproximou-se de Resende, às 12:30 o 2º RO 105, Bateria do CPOR/SP e 1a Cia do BCCL também em Resende e às 12:45 o 2o Esc Rec Mec.

A vanguarda do GUEs chegou à entrada da cidade de Barra Mansa às 13:00, fazendo contato com seus adversários do II Exército. Sua bateria ocupou posição de tiro. Seu componente antiaéreo nunca chegou: partiu às 09:00, mas sob ordens de Ustra o deslocamento foi retardado: pneus foram esvaziados e viaturas apresentaram panes. À noite ele não passara da Serra das Araras.

Como em Minas, o combate era uma possibilidade e seria violento. Mas também se repetiram as defecções: chegando às 14:00, as duas outras baterias do I Exército, contrariando suas ordens, não se desdobraram em posição de tiro mas avançaram em alta velocidade pela Via Dutra, aderindo aos revoltosos. O oficial de operações e os capitães da bateria tinham estudado na AMAN e tiveram como colega o capitão Ustra. Não ocorreu troca de tiros; às 15:00 acertou-se uma trégua, com os dois lados permanecendo em posição, diante de uma nova realidade: a vinda do general Âncora para negociar na AMAN.

Rende-se o I Exército

A partida de Jango às 12:45 iniciara a dissolução do "dispositivo" no I Exército. Por sugestão tanto do próprio Presidente quanto de Costa e Silva, com quem conversou pelo telefone às 14:30, Âncora foi à AMAN conferenciar com Kruel. Chegou no meio da tarde "em estado deplorável, abatido por uma crise de asma". Médici o recebeu com as honras devidas a seu posto, apesar de sua relutância, pois definia-se como "derrotado", ouvindo em resposta que "não há derrotados senão os inimigos da Pátria."

Mas Âncora não estava errado: quando Kruel chegou, às 18:00, o que discutiram foi a rendição do I Exército. As operações foram encerradas e os soldados retornaram aos quartéis.[8][13][20]

Brasília

Comandantes da 4a DC e 16o BC aderem na tarde do dia 31[4]

16 BC se move a Brasília sem obstáculo e a ocupa no dia 2[21]

Destacamento Caicó ou Grupamento Tático 12, composto de:[13]

  • 1º Batalhão do 12º Regimento de Infantaria
  • Um Batalhão de Polícia Militar de Montes Claros
  • Uma Bateria de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Belo Horizonte (CPOR/BH)
  • Uma Bateria de Obuses do 4º Regimento de Obuses

Paracatu, Três Marias e Sete Lagoas

III Exército no Sul

A 5a RM, Paraná e Santa Catarina

Grupamento Tático 4, do coronel Carlos Alberto Cabral Ribeiro, composto de:[2]

  • 4º Regimento de Infantaria
  • 2º Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm
  • 2º Grupo de Obuses de 155 mm

Partindo no dia 2, atravessaram 18 horas na chuva e chegaram em Curitiba às 23 horas

A 3a RM, Rio Grande do Sul

IV Exército no Nordeste

As Forças Armadas após o golpe

Rival de Castelo Branco, Kruel conseguiu avançar com a sugestão de nomear Costa e Silva ao Ministério da Guerra. Pelo regulamento o cargo sem titular cairia a Cas

disputa pelo Ministério da Guerra entre Castelo Branco e Costa e Silva

Ver também

Hierarquia do Exército Brasileiro em 1960

Ligações externas

A história de Juiz de Fora: Regime militar com 73 fotografias

Referências e notas

  1. a b c Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes. Modernização e Reestruturação do Exército Brasileiro (1960-1980). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018.
  2. a b c d e f g h i j k l m Silva, Hélio. 1964: Golpe ou Contra Golpe? L&PM, 2014.
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r Gaspari, Elio. (2002). A ditadura envergonhada. [S.l.]: Companhia das Letras. OCLC 685130447 
  4. a b c d e f g h Pinto, Daniel Cerqueira. General Olympio Mourão Filho: Carreira Político-Militar e Participação nos Acontecimentos de 1964. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2015.
  5. Oliveira, Bárbara Vital de Matos. O golpe civil-militar de 1964 e a imprensa local de Juiz de Fora: opiniões e posicionamentos.
  6. a b c d e f g h i j k l m n IDOS. (1964). Os Idos de março e a queda em abril. Segunda edição. [Essays by Alberto Dines and others. With illustrations.]. [S.l.: s.n.] OCLC 561456912 
  7. a b c Goés, Bruno (30 de março de 2014). «Marcha dos tanques: movimentos que precipitaram o golpe de 1964». O Globo. Consultado em 20 de maio de 2020 
  8. a b c d e f g Neto, Manoel Soriano (1 de abril de 2015). «O Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964». Consultado em 20 de maio de 2020 
  9. Bones, Elmar (31 de março de 2020). «1964: O golpe, segundo o general que botou as tropas na rua». Jornal JÁ. Consultado em 21 de maio de 2020 
  10. a b c d Stacchini, José (28 de março de 1965). «Março 64:mobilização da audácia». O Estado de São Paulo. São Paulo 
  11. Brasil, Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. Antônio Carlos da Silva Muricy. Consultado em 20 de maio de 2020.
  12. Carvalho, Ferdinando de. (1978). O arraial : se a revolucao de 1964 nao tivesse vencido. [S.l.]: Guavira Editores. OCLC 954293163 
  13. a b c d e f g h i Ustra, Carlos Alberto Brilhante, author. A verdade sufocada : a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça. [S.l.: s.n.] OCLC 1141793017 
  14. No lugar dos três batalhões numerados da Força Pública, Ustra cita um batalhão da PMMG de Juiz de Fora e outro de Governador Valadares.
  15. a b c d Ruffato, Luiz. No idos de Março: a ditadura militar na voz de 18 autores. Geração Editorial, 2014.
  16. Folha de São Paulo. São Paulo. 31 de março de 1977  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  17. Brasil, Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. Amaury Kruel. Consultado em 22 de maio de 2020.
  18. Albuquerque, Flávia (25 de fevereiro de 2014). «Comissão Municipal da Verdade ouve coronel do Exército sobre suborno a militar». AgênciaBrasil. Consultado em 22 de maio de 2020 
  19. Um movimento simultâneo seria a Guará, na direção de Minas Gerais.
  20. Mayrink, José Maria (28 de março de 2014). «Se houvesse confronto, seria um massacre». O Estado de São Paulo. Consultado em 23 de maio de 2020 
  21. Santos, Plácido Garcia Travassos dos. O envolvimento dos militares do Exército Brasileiro no Ciclo Revolucionário do Brasil: de 1922 a 1964. Rio de Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2018.