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{{minidesambig|pela língua da família lingüística tupi-guarani, falada pelos Camaiurás|Língua camaiurá}}
{{minidesambig|pela língua da família lingüística tupi-guarani, falada pelos Camaiurás|Língua camaiurá}}
Os [[Camaiurás]] são uma etnia indígena [[brasil]]eira habitantes do [[Parque Indígena do Xingu]], mais precisamente na zona de confluência entre os rios [[Rio Kuliseu|Kuliseu]] e [[Rio Xingu|Xingu]]. Moram em [[oca]]s comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos. Falam uma língua [[Tupi-guarani]] hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em [[português]].
Os [[Camaiurás]] ( também grafados como '''Kamaiurás''' ou, de forma menos intensa, '''Kamayurás''' ) constituem uma etnia indígena [[brasil]]eira. Habitantes do [[Parque Indígena do Xingu]], mais precisamente na zona de confluência entre os rios [[Rio Kuliseu|Kuliseu]] e [[Rio Xingu|Xingu]], os camaiurás possuem uma [[cultura]] bastante aberta, o que facilita o processo de [[matrimônio]] intertribal, bastante comum entre os indígenas desta [[etnia]]. Moram em [[oca]]s comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos. Falam uma língua [[Tupi-guarani]] hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em [[português]].
== Sociedade ==
== Sociedade ==
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Outra prática cultural camaiurá importante é o [[infanticídio]]. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de [[mãe]] solteira, possuidores de má-formação congênita e [[gêmeos]], são os principais alvos deste [[ritual]], que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia.
Outra prática cultural camaiurá importante é o [[infanticídio]]. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de [[mãe]] solteira, possuidores de má-formação congênita e [[gêmeos]], são os principais alvos deste [[ritual]], que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia.

=== Jogos e atividades lúdicas ===
A [[cultura]] Kamaiurá, semelhantemente a dos [[Bororos]] [http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.html#bororos], é bastante lúdica, sendo os jogos de cunho não-ritual, parte importante da vida diária dos membros da [[etnia]]. Tais atividades, geralmente praticadas pelos homens e [[criança]]s da [[aldeia]], exibem níveis diversos de organização formal, podendo ser apresentadas tanto sob a forma de brincadeiras espontâneas e de semi-improviso quanto em ritos pomposos, de grande rigor tradicional.

No ano de [[2004]], um grupo de antropólogos em parceria como a [[Bosh]], realizou um grande levantamento das atividades lúdicas presentes em várias [[etnia]]s [[indígenas]] do [[Brasil]], dentre as quais, os Camaiurás. A grande profusão de jogos encontráveis no sistema cultural da etnia, pode ser expressa pela listagem realizada em virtude da pesquisa de campo realizada no projeto, onde pode-se destacar:

* '''Mojarutap Myrytsiowit''' [http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u983.shtml]: O Jogo da cama de gato, como é conhecida em [[português]], consiste na produção de figuras diversas utilizando-se, apenas, de dois cordões fibrosos enrolados entre os dedos.

* '''Jawari''' [http://pib.socioambiental.org/c/noticias?id=32927]: Usando uma espécie de zarabatana, especialmente produzida para este fim, um grupo de competidores lançam artefatos pontudos em direção de uma cerca de varas previamente organizadas. Detrás da [[cerca]], enfileram-se os demais brincantes, de forma que esta funcione como [[escudo]] contra as lanças arremeçadas pelos competidores. A medida que as [[lança]]s atigem os paus que formam [[muro]] vacilante, os [[índio]]s originalmente atrás desta, devem desviar-se das setas, sem, contudo, moverem os pés.

== Religião ==
{{Quadrocitação|Criação do mundo segundo a cosmologia Camaiurá:'''''<br />Podemos saber como a humanidade foi criada, nos
reportando à mitologia, que é o conjunto de narrativas que sintetiza
de modo exemplar os principais marcos da tradição indígena.
Segundo consta, há muito tempo atrás, o mundo era bastante
parecido com o que é hoje, com a mata, as águas, os bichos, as
aves, os peixes e outras inúmeras formas de vida, exceto a humana.
Mavutsinin, o primeiro, que tem a mesma idade do universo e se
criou a si próprio, enamorou-se de uma concha e com ela teve um
filho [...}

Nessa época, o relacionamento entre os seres era estreito.
Casavam-se, selavam amizade e aliança ou entravam em conflito e
brigas. O próprio filho de Mavutsinin, que trazia o mesmo nome
do pai, depois de ameaças e atritos com a onça, tornou-se seu
sogro, dando a ela suas duas filhas em casamento. Dessa importante
união nasceram os dois meninos gêmeos: Sol (Kwat) e lua (lay). |[[Carmem Junqueira]] in: ''Os índios de Ipavu''}}
Toda a cosmologia camaiurá centra-se ao redor de Mavutsinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia [http://www.jangadabrasil.com.br/revista/novembro72/fe72011b.asp]. Este teria sido o responsável pela introdução da festa do ''Quarup'', do uso dos [[arco]]s, do consumo de [[peixe]]s, beijus e de uma lista infindável de bens entre os quais [[batata-doce]] e [[grilo]]s. Mavutsinin, apesar de divino, não exigiria nenhum tipo de adoração, uma vez que sua memória seria perpertuada através do ''Quarup'' e festas diversas de outras etnias Xinguanas.

Os Camaiurás acreditam na existência de um tipo específico de [[energia]] espiritual conhecida como ''mamaé'' [http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1294/kuarup]. O Mamaé, presente em [[Animal|animais]] de diversas naturezas, seria o responsável majoritário de uma série de malefícios ou fortúnios, distintos de acordo com a espécie do ser [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000300018&script=sci_arttext]. Um pequeno [[beija-flor]] nativo da região [[Rio Xingu|xinguana]], por exemplo, é constantemente associado à doenças terríveis, enquanto que vários tipos de [[peixe]]s trariam, de modo oposto, poder curativo.

Tradicionalmente oral, a continuidade da [[tradição]] religiosa é resguardada os mais velhos, uma vez que estes são os principais detentores dos contos rituais e cosmológicos da cultura Camaiurá. Dentre os relatos míticos, a criação do mundo e da [[sociedade|organização social]] da etnia, possuem os maiores valores rituais, e são imprecindíveis para a manutenção do estilo de vida original do povo Camaiurá.


=== Rituais festivos ===
=== Rituais festivos ===
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O [[Quarup]] é um [[ritual]] de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia. [[Quarup]] também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos '''caimaiurás''' como árvore sagrada.
O [[Quarup]] é um [[ritual]] de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia. [[Quarup]] também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos '''caimaiurás''' como árvore sagrada.


Tipicamente, o [[ritual]] inicia com a chegada de grupos de [[índios]] de outras [[aldeia]]s, que ocorre em meio a muitas [[dança]]s. Log após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à [[floresta]] e cortam um [[tronco]] de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por '''casa das flautas'''. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do [[chefe]] homenageado.
Tipicamente, o [[ritual]] inicia com a chegada de grupos de [[índios]] de outras [[aldeia]]s, que ocorre em meio a muitas [[dança]]s[http://www.jangadabrasil.com.br/revista/novembro72/fe72011b.asp]. Logo após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à [[floresta]] e cortam um [[tronco]] de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por '''casa das flautas'''. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do [[chefe]] homenageado.


À [[noite]] acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do [[sol]] do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por ''huka-huka''.
À [[noite]] acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do [[sol]] do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por ''huka-huka''.
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Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de [[arco]]s era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de [[fogo]] na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.
Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de [[arco]]s era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de [[fogo]] na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.

== Religião ==

Toda a cosmologia camaiurá centra-se ao redor de Mavutsinin, o demiurgo e primeiro [[homem]] do mundo da sua mitologia. Este teria sido o responsável pela introdução da festa do ''Quarup'', do uso dos [[arco]]s, do consumo de [[peixe]]s, beijus e de uma lista infindável de bens entre os quais [[batata-doce]] e [[grilos]]. Mavutsinin, apesar de divino, não exigiria nenhum tipo de adoração, uma vez que sua memória seria perpertuada através do ''Quarup'' e festas diversas de outras etnias Xinguanas.


[[Categoria:Povos tupis-guaranis|Camaiuras]]
[[Categoria:Povos tupis-guaranis|Camaiuras]]

Revisão das 23h47min de 29 de novembro de 2008

Índios Camaiurá tocando flauta
 Nota: Se procura pela língua da família lingüística tupi-guarani, falada pelos Camaiurás, veja Língua camaiurá.

Os Camaiurás ( também grafados como Kamaiurás ou, de forma menos intensa, Kamayurás ) constituem uma etnia indígena brasileira. Habitantes do Parque Indígena do Xingu, mais precisamente na zona de confluência entre os rios Kuliseu e Xingu, os camaiurás possuem uma cultura bastante aberta, o que facilita o processo de matrimônio intertribal, bastante comum entre os indígenas desta etnia. Moram em ocas comunitárias, dispostas ao redor de um praça para onde convergem os caminhos. Falam uma língua Tupi-guarani hononíma, unanimimente utilizada na comunicação diária, sendo poucos os que conseguem se expressar também em português.

Sociedade

A sociedade camaiurá é organizada em estamentos patriarcais e, em geral, hereditários, com certa flexibilidade entre as classes. O chefe da aldeia, representa o status máximo atingível, e serve aos papéis de mediador e regulador de conflitos. Habitam em ocas familiares, geralmente centradas em torno de um grupo de irmãos que pode ou não estar acompanhado por primos e ascendentes paralelos. O líder do espaço doméstico, conhecido como dono da casa (camaiurá: morerekwat), é o encarregado da distribuição dos afazeres cotidianos entre os clãs periféricos. A poligamia é bastante comum e aceita, uma vez que um números elevados de esposas indica, também, um elevado status social.

Tradicionalmente, os jovens recém-casados devem residir por um período pré-estabelecido de tempo junto aos sogros, realizando favores em agradecimento à cessão da filha. Cumprido o acordo, o casal pode escolher em qual residência se estabelecer, que em geral é a casa de origem do marido.

Cultura

A cultura caiamurá é bastante complexa, e assemelha-se, em muitos aspectos, à outras culturas do alto-Xingu e demais integrantes da família tupi-guarani. As tradições ancestrais regem a vida de todo integrante da etnia, existindo rituais específicos pra cada fase da vida.

A formação camaiurá exige um perído de clausura iniciado com a puberdade. Durante este tempo, os jovens indígenas são submetidos ensinamentos sistemáticos, onde são instruídos acerca da realização de tarefas específicas à seu sexo. O período de reclusão é igualmente sexuado: enquanto não passa de um ano no caso das garotas, para os jovens camaiurás pode se prolongar por até cinco anos, dependendo do status social que o adolescente possua. Ao completar o tempo pré-estabelecido, é dado um nome definitivo ao aldeão, que substitui o nome infantil que recebeu em virtude de seu nascimento.

Outra prática cultural camaiurá importante é o infanticídio. Tal pena é aplicada em diversos casos, e traz consigo grande polêmica. Filhos de mãe solteira, possuidores de má-formação congênita e gêmeos, são os principais alvos deste ritual, que, embora seja bastante irraizado no contexto de tradições, gera divergências entre os próprios membros da aldeia.

Jogos e atividades lúdicas

A cultura Kamaiurá, semelhantemente a dos Bororos [1], é bastante lúdica, sendo os jogos de cunho não-ritual, parte importante da vida diária dos membros da etnia. Tais atividades, geralmente praticadas pelos homens e crianças da aldeia, exibem níveis diversos de organização formal, podendo ser apresentadas tanto sob a forma de brincadeiras espontâneas e de semi-improviso quanto em ritos pomposos, de grande rigor tradicional.

No ano de 2004, um grupo de antropólogos em parceria como a Bosh, realizou um grande levantamento das atividades lúdicas presentes em várias etnias indígenas do Brasil, dentre as quais, os Camaiurás. A grande profusão de jogos encontráveis no sistema cultural da etnia, pode ser expressa pela listagem realizada em virtude da pesquisa de campo realizada no projeto, onde pode-se destacar:

  • Mojarutap Myrytsiowit [2]: O Jogo da cama de gato, como é conhecida em português, consiste na produção de figuras diversas utilizando-se, apenas, de dois cordões fibrosos enrolados entre os dedos.
  • Jawari [3]: Usando uma espécie de zarabatana, especialmente produzida para este fim, um grupo de competidores lançam artefatos pontudos em direção de uma cerca de varas previamente organizadas. Detrás da cerca, enfileram-se os demais brincantes, de forma que esta funcione como escudo contra as lanças arremeçadas pelos competidores. A medida que as lanças atigem os paus que formam muro vacilante, os índios originalmente atrás desta, devem desviar-se das setas, sem, contudo, moverem os pés.

Religião

“Criação do mundo segundo a cosmologia Camaiurá:
Podemos saber como a humanidade foi criada, nos
reportando à mitologia, que é o conjunto de narrativas que sintetiza de modo exemplar os principais marcos da tradição indígena. Segundo consta, há muito tempo atrás, o mundo era bastante parecido com o que é hoje, com a mata, as águas, os bichos, as aves, os peixes e outras inúmeras formas de vida, exceto a humana. Mavutsinin, o primeiro, que tem a mesma idade do universo e se criou a si próprio, enamorou-se de uma concha e com ela teve um filho [...}

Nessa época, o relacionamento entre os seres era estreito. Casavam-se, selavam amizade e aliança ou entravam em conflito e brigas. O próprio filho de Mavutsinin, que trazia o mesmo nome do pai, depois de ameaças e atritos com a onça, tornou-se seu sogro, dando a ela suas duas filhas em casamento. Dessa importante união nasceram os dois meninos gêmeos: Sol (Kwat) e lua (lay). ”

Carmem Junqueira in: Os índios de Ipavu

Toda a cosmologia camaiurá centra-se ao redor de Mavutsinin, o demiurgo e primeiro homem do mundo da sua mitologia [4]. Este teria sido o responsável pela introdução da festa do Quarup, do uso dos arcos, do consumo de peixes, beijus e de uma lista infindável de bens entre os quais batata-doce e grilos. Mavutsinin, apesar de divino, não exigiria nenhum tipo de adoração, uma vez que sua memória seria perpertuada através do Quarup e festas diversas de outras etnias Xinguanas.

Os Camaiurás acreditam na existência de um tipo específico de energia espiritual conhecida como mamaé [5]. O Mamaé, presente em animais de diversas naturezas, seria o responsável majoritário de uma série de malefícios ou fortúnios, distintos de acordo com a espécie do ser [6]. Um pequeno beija-flor nativo da região xinguana, por exemplo, é constantemente associado à doenças terríveis, enquanto que vários tipos de peixes trariam, de modo oposto, poder curativo.

Tradicionalmente oral, a continuidade da tradição religiosa é resguardada os mais velhos, uma vez que estes são os principais detentores dos contos rituais e cosmológicos da cultura Camaiurá. Dentre os relatos míticos, a criação do mundo e da organização social da etnia, possuem os maiores valores rituais, e são imprecindíveis para a manutenção do estilo de vida original do povo Camaiurá.

Rituais festivos

Um sistema ritual e religioso semelhante é praticado pela grande maioria dos indígenas da região do alto-Xingu. Festivais intergrupais são comuns e periódicos, e servem como meio de integração e ressaltamento da solidariedde entre os grupos étnicos distintos. Os ritos interraciais mais espressivos, se resumem no Quarup e o Moitará.

O Quarup é um ritual de homenagem aos mortos ilustres, centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro homem do mundo da sua mitologia. Quarup também é o nome de uma madeira de lei, venerado pelos caimaiurás como árvore sagrada.

Tipicamente, o ritual inicia com a chegada de grupos de índios de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças[7]. Logo após, um grupo pré-estabelecido de índigenas vão à floresta e cortam um tronco de Quarup, o qual fincam frente à certa estrutura religiosa conhecida por casa das flautas. A seguir o tronco recebe decoração e pintura festiva, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do chefe homenageado.

À noite acontece o momento de ressurreição simbólica do ente homenageado, sendo um momento de comoção coletiva. As carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens, conhecidas por huka-huka.

A luta ritual, o huka-huka, possui simbolismo competitivo, onde a força e virilidade dos jovens é testado. A arte marcial está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do Quarup. Também representada neste universo de celebrações, está o moitará ou a festa das trocas.

Muitos dos bens trocados no moitará são referentes às especializações de cada etnia. Nesse sistema, a produção de arcos era atribuída aos Kamaiurá, exímios em sua fabricação. Mas a introdução de armas de fogo na área afetou bastante a utilidade de tal ferramenta.