Teoria da catástrofe de Toba

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Ilustração de como a erupção poderia ter sido vista do espaço.

De acordo com a teoria da catástrofe de Toba, há entre 70 mil e 80 mil anos um evento supervulcânico no Lago Toba, em Sumatra, reduziu a população humana mundial a 10 mil ou talvez a meros mil casais, criando um efeito de gargalo na evolução humana. A teoria foi proposta em 1998 por Stanley H. Ambrose da University of Illinois at Urbana-Champaign.[1][2][3]

História[editar | editar código-fonte]

Nos últimos três a cinco milhões de anos, após humanos e outras linhagens de símios divergirem da linhagem hominida, a linhagem humana produziu uma variedade de espécies, incluindo H. ergaster, H. erectus, H. neanderthalensis e possivelmente H. floresiensis.

De acordo com a teoria da catástrofe de Toba, as consequências de uma erupção vulcânica massiva reduziram severamente a população humana. Isto deve ter ocorrido em torno de há 70 000 a 80 000 anos quando a caldeira de Toba na atual Indonésia entrou em uma erupção de categoria 8 (ou "mega-colossal") no índice de Explosividade Vulcânica. Este liberou energia equivalente a aproximadamente 1 GtonTNT (4,2 EJ), três mil vezes maior que a erupção do Monte Saint Helens em 1980. De acordo com Ambrose, isto reduziu a temperatura média global em 5 graus Celsius (9 graus Fahrenheit) por vários anos e pode ter provocado uma idade do gelo. De acordo com Robock,[3] Toba não provocou uma idade do gelo, embora possa ter precipitado uma idade do gelo que estava começando. Mas a simulação de Robock demonstrou uma redução da temperatura global no terceiro ano após a erupção de até 15°C (6 Gt SO2/ 300x Pinatubo). Sendo 4.9°C/ 1,000 m o gradiente adiabático do ar saturado acima de 0°C,[4] isso significaria que a linha das árvores e a linha da neve estaria por volta de 3,000 m mais abaixo.

Ambrose postulou que esta alteração ambiental criou um "gargalo" populacional nas várias espécies que existiam aquele tempo;[5] isto resultou em acelerada diferenciação de populações humanas isoladas, eventualmente conduzindo à extinção de todas as outras espécies humanas exceto as duas variedades que tornaram-se os Neandertais (H. neanderthalensis) e os humanos modernos (H. sapiens sapiens).

Evidências[editar | editar código-fonte]

Algumas evidências geológicas e modelos computacionais apoiam a plausabilidade da teoria da catástrofe de Toba. Os dados dos testemunhos de gelo da Groenlândia mostram uma mudança abrupta em torno deste período,[6] mas nos correspondentes dados da Antártica a mudança não é facilmente discernível. Cinzas desta erupção do Lago Toba, localizado próximo ao Equador, devem ter-se espalhado pelo mundo inteiro.

Evidências genéticas sugerem que todos os humanos vivos hoje, apesar de sua aparente variedade, são descendentes de uma população muito pequena, talvez entre 1000 e 10000 casais.[1][7]

Usando as taxas médias de mutação genética, alguns geneticistas estimam que esta população viveu em um período coincidindo com o evento em Toba.[8] Estas estimativas não contradizem a estimativa consensual que o adão cromossomial Y viveu há aproximadamente 60 mil anos e que a Eva mitocondrial é estimada como tendo vivido há 140 mil anos, porque Toba não é conjecturada como sendo um evento de "gargalo" populacional extremo, onde a população é reduzida a um pequeno número de casais.

Análise genética de alguns genes mostram divergência em algum momento há entre 60 mil a 2 milhões de anos, mas isto não contradiz a teoria Toba, mais uma vez porque Toba não é conjecturada como um gargalo extremo. O quadro completo das linhagens de genes (incluindo os atuais níveis da variação genética humana) permitem a teoria de uma indução de gargalo da população humana pelo evento de Toba.[9]

Trabalho recente do arqueólogo Michael Petraglia sugere que, de fato, humanos modernos sobreviveram relativamente incólumes em pelo menos um assentamento na Índia.[10][11]

Análise de genes de piolhos[editar | editar código-fonte]

Alan Rogers, um co-autor deste estudo e professor de antropologia na Universidade de Utah, diz: “O registro de nosso passado está escrito em nossos parasitas.” Rogers e outros tem proposto o gargalo pudesse ter ocorrido por causa de uma mortandade maciça dos primeiros seres humanos devido a uma erupção vulcânica global catastrófica. A análise de genes dos piolhos confirmou que a população de Homo sapiens cresceu rapidamente após um pequeno grupo de primeiros seres humanos deixarem a África em algum momento há entre 150 mil e 50 mil anos.[12]

Migração[editar | editar código-fonte]

De acordo com esta teoria, humanos saíram da África após o evento Toba quando o clima e outros fatores permitiram. Eles emigraram primeiro para a Arábia e posteriormente a Indochina e Austrália (Ambrose, 1998, p. 631[1]), e posteriormente ao Oriente Médio e que se transformaria no Crescente Fértil que segue ao fim do Período de Glaciação Würm, o último período glacial (110 mil a 10 mil anos antes do presente).

Referências

  1. a b c Stanley H. Ambrose (1998). «Late Pleistocene human population bottlenecks, volcanic winter, and differentiation of modern humans». Journal of Human Evolution. 34 (6): 623–651. doi:10.1006/jhev.1998.0219 
  2. Ambrose, Stanley H. (2005). «Volcanic Winter, and Differentiation of Modern Humans». Bradshaw Foundation. Consultado em 8 de abril de 2006 
  3. a b Robock, A., C.M. Ammann, L. Oman, D. Shindell, S. Levis, and G. Stenchikov (2009). «Did the Toba volcanic eruption of ~74k BP produce widespread glaciation?». Journal of Geophysical Research. 114: D10107. doi:10.1029/2008JD011652 
  4. Adiabatic Lapse Rate, IUPAC Goldbook
  5. F. J. Gathorne-HardyCorresponding Author Contact Information, E-mail The Corresponding Author, a and W. E. H. Harcourt-Smith; The super-eruption of Toba, did it cause a human bottleneck?; Journal of Human Evolution; Volume 45, Issue 3, September 2003, Pages 227-230
  6. Zielinski, G.A.; P.A. Mayewski, L.D. Meeker, S. Whitlow and M. Twickler (1996). «A 110,000-year record of explosive volcanism from the GISP2 (Greenland) ice core». University of Washington. Quaternary Research. 45 (2): 109–118. ISSN 0033-5894. doi:10.1006/qres.1996.0013 
  7. When humans faced extinction - news.bbc.co.uk (em inglês)
  8. Jay F. Storz, Mark A. Beaumont, and Susan C. Alberts; Genetic Evidence for Long-Term Population Decline in a Savannah-Dwelling Primate: Inferences from a Hierarchical Bayesian Model; Molecular Biology and Evolution 19:1981-1990 (2002) - mbe.oxfordjournals.org (em inglês)
  9. Dawkins, Richard (2004). "The Grasshopper's Tale", The Ancestor's Tale, A Pilgrimage to the Dawn of Life. Boston: Houghton Mifflin Company, 416. ISBN 0-618-00583-8.
  10. «Mount Toba Eruption - Ancient Humans Unscathed, Study Claims». Consultado em 20 de abril de 2008 
  11. Sanderson, Katherine (julho de 2007). «Super-eruption: no problem?». Nature. doi:0.1038/news070702-15 Verifique |doi= (ajuda). Consultado em 20 de abril de 2008 
  12. Of Lice And Men: Parasite Genes Reveal Modern & Archaic Humans Made Contact - www.sciencedaily.com University Of Utah (em inglês)

Ver também[editar | editar código-fonte]