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Cláudio Abramo

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 Nota: Este artigo é sobre jornalista morto em 1987. Para para o jornalista morto em 2018 e fundador da Transparência Brasil, veja Cláudio Weber Abramo.
Cláudio Abramo
Nome completoCláudio Abramo
Nascimento6 de abril de 1923
São Paulo, SP
Morte12 de agosto de 1987 (64 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidadebrasileiro
ProgenitoresMãe: Iole Scarmagnan
Pai: Vincenzo Abramo
ParentescoLívio Abramo, Athos Abramo, Fúlvio Abramo, Lélia Abramo, Beatriz Abramo e Mário Abramo (irmãos)
CônjugeHilde Weber, Radha Abramo
Filho(a)(s)Claudio Weber Abramo, Barbara Abramo e Berenice Abramo
Ocupaçãojornalista

Cláudio Abramo (São Paulo, 6 de abril de 1923São Paulo, 12 de agosto de 1987) foi um jornalista brasileiro responsável por mudanças no estilo, formatação e conteúdo dos dois maiores jornais paulistas, O Estado de S. Paulo (1952-1963) e a Folha de S. Paulo (1975-1976).

Filho mais novo de Vincenzo Abramo e Iole Scarmagnan, era neto do anarquista italiano Bortolo Scarmagnan e parte de uma família muito influente na arte, na imprensa e na política brasileira. Irmão do gravador Lívio Abramo, dos jornalistas Athos Abramo e Fúlvio Abramo, da atriz Lélia Abramo, de Beatriz Abramo e Mário Abramo. Foi casado com Hilde Weber, chargista, com quem teve um filho: Claudio Weber Abramo. Mais tarde, casou-se com Radha Abramo, crítica de arte e também sua prima, com quem teve duas filhas: a socióloga Barbara Abramo e a jornalista Berenice Abramo:

Fluente em italiano, francês e inglês, se reivindicava trotskista[1] e sempre fez questão de frisar que compreendia e trabalhava conforme a natureza do capitalismo. Admitia que deixara de fazer tudo para fazer só o jornal, num ritmo que o forçou a abrir mão até da militância política. Seu estilo, à maneira concisa e imparcial do jornalismo norte-americano, presente hoje na maioria dos grandes jornais brasileiros, substitui os textos longos e opinativos. Declarava ter por mestres no jornalismo Lívio Xavier, Ermínio Saccheta e Mário Pedrosa[2] (Todos vinculados à esquerda brasileira.) "Ele se orgulhava de duas coisas: ser autodidata e ter sido testamenteiro de Oswald de Andrade, de quem foi amigo," declarou à Folha o artista plástico Geraldo de Barros quando de seu falecimento.[3]

Ao contrário dos irmãos mais velhos, não estudou no colégio Dante Alighieri. Cursou apenas o primário[4] - obteria o diploma ginasial, prestando um exame de Madureza aos 46 anos de idade. Trabalhou no jornal O Tempo. Em 1945, aos 22 anos, foi um dos criadores do Jornal de São Paulo, dirigido pelo poeta Guilherme de Almeida. Em 1947, passa pelos Diários Associados, e, no início de 1948, começa a colaborar com O Estado de São Paulo.

Entre 1951 e 1952, Abramo frequentou a a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) de Paris, a convite do governo francês. Naquela cidade, morou no Hotel de L'Academia, na rua de Saint-Pères, assim como outros brasileiros, de quem viria a ser amigo: o artista plástico Geraldo de Barros, o matemático Carlos Lira e o físico Jorge Leal. Estabeleceu relação muito próxima de Mário Pedrosa, que dividia, também em Paris, um apartamento com o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Passou a ter Pedrosa, declaradamente, como seu mestre no jornalismo – e Pedrosa era um dos poucos de quem, já perto dos sessenta anos, ainda aceitava repreensões. Sobre o período passado em Paris, "ele sempre dizia que foram os anos mais lindos de sua vida," segundo Geraldo de Barros.[5] Nesse período, inicia o namoro com Radha Abramo, que viria a ser sua segunda esposa.

Em 1953, de volta ao Brasil, assumiu o cargo de secretário de Redação de O Estado de S. Paulo, sendo o jornalista mais jovem a assumir essa posição.[5] Junto com Giannino Carta, então diretor do Estado, iniciou o processo de modernização e profissionalização do jornal.[6] A partir de 1962, a família Mesquita, dona do jornal, se aproximou de militares e civis que planejavam um golpe contra o presidente João Goulart. Oficiais do Exército que participavam da conspiração começaram a pressionar o jornal contra ele e, em julho de 1963, Abramo pediu demissão.

Passou a assessorar o então ministro da Fazenda Carvalho Pinto, que deixou o cargo no fim daquele ano. Foi contratado para reformar o tabloide A Nação, mas, após demitir quase toda a redação, fechou o jornal em janeiro de 1964.[7] Desempregado, sem perspectivas de trabalho, foi procurado por Octavio Frias de Oliveira, dono da Folha, para quem começou a trabalhar no ano seguinte como chefe de produção. Foi recebido com um abaixo-assinado da redação, liderado por chefias contrárias à sua contratação. Nos primeiros anos, devido a instabilidade financeira do jornal, pouco conseguiu fazer. Acabou afastado da direção em 1972.[7]

Quando a Folha apostou em uma mudança editorial, focando na abertura política da Ditadura, voltou a ter prestígio e contratou profissionais de projeção como Paulo Francis e Alberto Dines, além de intelectuais de várias correntes ideológicas para as recém-criadas páginas de opinião.[7] Entre as mudanças estabelecidas no jornal, buscou uma primeira página mais agressiva e maior rigor na apuração das notícias, independente das pressões. Coordenou, a partir de 1978, o recém-criado conselho editorial do jornal. As reformas que implantou na Folha influenciaram os rumos do jornalismo brasileiro na década de 70.

Nessa época, foi perseguido pela ditadura e chegou a ser preso, em 1975, acusado de subversão.[7] Em 1977, um cronista da Folha, Lourenço Diaféria, foi preso após publicar um texto debochando de Duque de Caxias, patrono do Exército. O jornal, em protesto, publicou sua coluna em branco, a que Abramo se opôs. A ala dura do governo pressionou e Abramo foi afastado do cargo, sendo substituído por Boris Casoy mas permanecendo no jornal, escrevendo editoriais e participando do Conselho Editorial. Em 1979, na greve dos jornalistas, desagradou a ambos os lados ao entrar no prédio da Folha mas não trabalhar.[7]

Deixou o jornal em seguida, juntando-se a Mino Carta, recém-saído da Veja também por perseguição política, para fundar o Jornal da República. Também esteve à frente da Leia Livros, publicação criada em sociedade com a editora Brasiliense em 1978.[7] Colaborou com a revista Senhor Vogue, (de Luis Carta, Mino Carta e Domingo Alzugaray) de abril de 1978 a abril de 1979. Foi correspondente da Folha em Londres, de 1980 a 1982, e em Paris, até 1984. Em 1984, assumiu a coluna São Paulo, na página 2 da Folha, bem como, em novembro de 1985, retomou colaboração com a revista (então, apenas) Senhor. Estas colaborações só se interromperam com seu falecimento.

Em 1985, chegou a lecionar em jornalismo na pós-graduação na Universidade de São Paulo, na condição de professor Notório saber.

Vítima de insuficiência cardíaca, morreu no dia 14 de Agosto de 1987, enquanto tomava seu café-da-manhã em companhia da companheira, lendo sua própria coluna na Folha em casa, aos 64 anos.[4]

No ano seguinte à sua morte, publicou-se A regra do jogo,[8] livro que reúne artigos sobre política e um ensaio autobiográfico.

Cláudio Abramo gostava de desenhar e se desenvolveu nessa área também de modo autodidata. Aos 24 anos participou da exposição "19 pintores" realizada na Galeria Prestes Maia e foi premiado logo em sua primeira mostra. Mas preferia esconder seu talento, mesmo com incentivos de amigos como Geraldo de Barros, a quem respondia "Sou jornalista, não artista."[3]

Publicações

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Referências

  1. «Cláudio Abramo, que faria 100 anos, defendia regra do jogo e criou a própria». Folha de S.Paulo. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023 
  2. O Estado de S. Paulo, 15 de agosto de 1987, p. 13 .
  3. a b Folha de S. Paulo, 15 de agosto de 1987, p. A5 .
  4. a b «Cláudio Abramo soube decifrar e revolucionar as regras do jogo da imprensa brasileira». Imprensa 
  5. a b Folha de S. Paulo, 15 de agosto de 1987, p. A5 .
  6. Veja, 19 de agosto de 1987, p. 89
  7. a b c d e f «Cláudio Abramo, que faria 100 anos, defendia regra do jogo e criou a própria». Folha de S.Paulo. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023 
  8. A regra do jogo, Companhia das lebras 
  9. Brasil, Decreto de 25 de agosto de 2005.
  10. «Vencedores do 38º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos». Vladimir Herzog. 7 de outubro de 2016. Consultado em 28 de março de 2020. Cópia arquivada em 29 de março de 2020 
  • ABRAMO, Lélia (1997), Vida e Arte: Memórias de Lélia Abramo, São Paulo: Fundação Perseu Abramo .
  • ———, Entrevista, II (5), Teoria e Debate .
  • ABRAMO, Fúlvio, Entrevista, I (1), Teoria e Debate .
  • ——— (1984), Frente Única Antifascista, 1934-1984, I (1), SP: Cadernos do Centro de Documentação Mário Pedrosa .

Ligações externas

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