Cripta Real de Superga

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Cripta Real de Superga
Cripta Reale di Superga
Cripta Real de Superga
Salão dos Reis (primeira sala) da Cripta Real. No centro, o sarcófago de Carlos Alberto de Saboia, atrás dele o altar da deposição, à esquerda a estátua da fé, à direita a estátua da caridade
Estilo dominante Barroco
Arquiteto Filippo Juvarra
Francesco Martinez
Início da construção 1774
Fim da construção 1778
Promotor / construtor Vítor Amadeu III
Religião Catolicismo
Website
Geografia
País  Itália
Cidade Turim
Coordenadas 45° 04' 51" N 7° 46' 03" E

A Cripta Real (em italiano: Cripta Reale di Superga), construída sob a Basílica de Superga, é o tradicional cemitério dos membros da Casa de Saboia. As únicas exceções são aqueles que foram reis ou rainhas da Itália, cujo local de sepultamento é o Panteão de Roma ou o santuário de Vicoforte.

História[editar | editar código-fonte]

Desde a concepção da basílica, em 1715, Filippo Juvarra previu, sob o presbitério da igreja, um compartimento subterrâneo a ser utilizado para o sepultamento dos membros da Casa de Saboia. Porém, por falta de recursos, a ideia foi temporariamente arquivada. As primeiras notícias da existência de algumas obras para a construção de uma cripta remontam a agosto de 1728 quando, numa descrição da basílica, há menção à «escavação de terra no choro e santuário para formação da capela subterrânea».[1]

No entanto, a encomenda propriamente dita da obra só surgiu em 1774, quando Vítor Amadeu III ordenou ao arquiteto Francesco Martinez, sobrinho de Juvarra, que organizasse as áreas subterrâneas para torná-la um mausoléu, em colaboração com os arquitetos Bosio, Ravelli e Rana. As obras, iniciadas em 1774, terminaram em 1778. Em 1778 Vítor Amadeu III inaugurou a cripta e iniciou o sepultamento dos corpos, transferindo-os dos diversos locais onde anteriormente haviam sido sepultados.

Visto que foi precisamente a partir da colina de Superga que, em 1706, Vítor Amadeu II e o príncipe Eugénio planejaram o assalto aos franceses durante o cerco de Turim, assalto que seria decisivo para a vitória piemontesa em dezembro de 1798, durante o domínio francês da cidade, para apagar qualquer memória da derrota francesa, propôs-se a hipótese de esvaziar os túmulos dos Saboia e substituí-los pelos túmulos dos jacobinos. Em 16 de janeiro de 1799, na Gazzetta Piemontese, o governo provisório francês publicou a ordem: «É extinta a Congregação dos Cônegos de Superga. Todas as insígnias e inscrições serão retiradas tanto do Templo como do Subterrâneo, de onde se poderá recordar a memória dos acontecimentos que deram origem à sua construção e dos reis que o consagraram ao seu esplendor. O porão também será limpo das cinzas dos reis e príncipes nele coletadas. O Templo de Superga será no futuro o Templo da Gratidão e estará destinado a receber as cinzas dos Patriotas Piemonteses que morreram pela Liberdade, cujos nomes serão colocados numa coluna”.[2]

No entanto, em 26 de maio de 1799, os exércitos do general Alexander Vasilyevich Suvorov libertaram Turim, forçando os franceses a se renderem e frustrando os seus planos. Nada do que haviam planejado, portanto, se concretizou.

Estrutura[editar | editar código-fonte]

O acesso à cripta é feito pelo lado externo esquerdo da basílica, após seguir uma escadaria de mármore e um grande corredor. A sala semicircular no final da escadaria é embelezada com uma escultura em mármore de Carrara que Vítor Emanuel II ali colocou em 1878. A escultura, obra de Carlo Finelli, aluno de Antonio Canova, anteriormente exposto no hall de entrada do Arsenal Real de Turim, retrata São Miguel Arcanjo derrotando um demônio antropomórfico e é aqui colocado como uma defesa simbólica dos túmulos.

A cripta real está perfeitamente localizada sob o piso da basílica e sua planta tem o formato de uma cruz latina. O interior, em estilo barroco, é ricamente decorado com estuques e esculturas monumentais. Em toda a estrutura, símbolos e referências mágicas, alquímicas e esotéricas abundam.[3] Os pisos e revestimentos são em cores vivas (principalmente preto, branco e vermelho) e há mármore verde de Susa, alabastro de Busca, molduras em mármore de Valdieri e ouro nas abóbadas de estuque.

No centro da planta em cruz, no chamado "Salão dos Reis", encontra-se o maior sarcófago, o de Carlos Alberto de Saboia.[4] A tradição ditava que, com a morte de cada soberano, ele fosse colocado no centro da cripta e depois, com a morte do próximo soberano, fosse transferido para os nichos laterais para lhe deixar o lugar central. Carlos Alberto, porém, ainda aqui está, pois os seus sucessores tornaram-se reis da Itália e por isso foram sepultados no Panteão de Roma. Em torno do sarcófago central existem quatro nichos nas paredes onde se encontram quatro estátuas em mármore branco, sobre fundo preto, representando a (que tem a cruz e o cálice nas mãos e que lembra as estátuas colocadas nas laterais da igreja da Grande Mãe de Deus de Turim), a Caridade, a Clemência e a Ciência, que segura na mão um triângulo com o vértice voltado para baixo, apoiado numa esfera. As estátuas são obra de Ignazio e Filippo Collino. Junto às estátuas, ainda na mesma sala, encontram-se os nichos com os restos mortais de Vítor Emanuel I,[5] Vítor Amadeu III, Maria Teresa de Áustria-Este[6] e Maria Antônia da Espanha, e o cenotáfio de Carlos Emanuel IV[7] (sepultado em Roma) e de Carlos Félix (sepultado na Abadia de Hautecombe).

Os quatro braços do plano cruzado partem então do sarcófago central: na extremidade do braço curto, ou seja, atrás do sarcófago de Carlos Alberto, encontra-se o altar, sobre o qual se encontra um grupo de mármore representando a deposição de Jesus, obra por Agostino Cornacchini. Na ala direita encontra-se a chamada "Segunda Sala", com o monumento funerário a Carlos Emanuel III, obra do escultor turinense Ignazio Collino, de onde uma porta dá acesso ao "Salão das Rainhas", que alberga, entre outros, os túmulos de Maria Teresa da Toscana, da autoria de Santo Varni, de Maria Adelaide, esculpida por Salvatore Revelli e Pietro della Vedova, e de Maria Vitória dal Pozzo, outra obra de Della Vedova.

No lado oposto, no braço esquerdo, encontra-se a "Quarta Sala", onde se encontra o monumento dedicado ao primeiro rei da Sardenha, Vítor Amadeu II, onde estão sentadas as personificações da Fertilidade segurando a cornucópia, e da Justiça, que aperta os fasces; no topo está um anjo com o braço levantado portando um medalhão com a efígie do falecido. Da quarta sala há uma porta que dá acesso ao "Salão dos Infantes" (que abriga as crianças, príncipes e princesas que nunca reinaram).

Não está claro se a cripta real também abriga o coração do príncipe Eugénio de Saboia, que morreu em Viena em 1736. Seu corpo foi enterrado na catedral de Viena, enquanto o coração, segundo alguns, foi levado para Superga. No entanto, alguns afirmam que o coração foi trazido de volta à Viena em 1799 para salvá-lo da fúria dos invasores franceses, que queriam destruí-lo. Segundo outros, porém, o coração do príncipe nunca foi tirado da Áustria e, portanto, nunca esteve na cripta de Superga.

Mafalda de Saboia, que morreu no campo de concentração de Buchenwald em 1944 e foi sepultada no cemitério do castelo de Hesse, em Kronberg im Taunus, é lembrada na cripta real por um cenotáfio.

Lista dos Saboia atualmente sepultados em Superga[editar | editar código-fonte]

Primeira sala: Salão dos Reis[editar | editar código-fonte]

Segunda sala[editar | editar código-fonte]

Terceira sala: Salão das Rainhas[editar | editar código-fonte]

Quarta sala[editar | editar código-fonte]

Quinta sala: Salão dos Infantes[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Outros projetos[editar | editar código-fonte]

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Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Cenni storici sulla Basilica di Superga». Consultado em 4 de fevereiro de 2013. Arquivado do original em 25 de janeiro de 2011 
  2. «Il sacco di Superga» (PDF). Consultado em 4 de fevereiro de 2013 [ligação inativa] 
  3. «Superga, un mistero nelle tombe dei Savoia». Consultado em 4 de fevereiro de 2013 
  4. A inscrição no sarcófago de Carlos Alberto diz:
    REGI KAROLO ALBERTO PRAEMIA VIRTUTIS ET MERITORUM AETERNA QUOTIDIANIS PRECIBUS A DEO FLAGITAMUS DEPOSITUS DIE XIV OCTOBRIS MDCCCXLIX
  5. A inscrição no túmulo de Vítor Emanuel I diz:
    VICTORIVS EMMANVEL I VICTORII AMEDEI III FILIVS V. SARDINIAE REX PACATA EVROPA HAC INSVLA REDVX AN. MDCCCXIV REGNVM A KAROLO EMMANVELE IV ABDICATUM LIGVRIA ADAVCTVM PVBLICAM REM IVVATVRVS K. FELICI SEPTEM POST ANNOS TRADIDIT SPONTE NON PERITVRA IVSTITIAE MANSVETVDINIS PIETATIS CONSTANTIAE IN ADVERSIS TESTIMONIA RELINQVENS VIXIT AN. LXIV MENSES VI. REGNAVIT AN. XVIII
  6. A inscrição no túmulo de Maria Teresa de Áustria-Este diz:
    QVIETI. MARIAE. THERESIAE. AVSTRACAE. VXORIS. REGIS. VICTORII. EMMANVELIS MATRIS. FILIORVM. SEX. QVAE. FORMA. EGREGIA. INGENIO. SINGVLARI. PIA VIXIT ANNOS. LVII. M. IV. D. XXIX OBIIT. IANVAE. IV. KAL. APRILIS. ANNO. MDCCCXXXII
  7. O cenotáfio de Carlos Emmanuel IV diz:
    CAROLVS. EMMANVEL. IV VICT. AM. SAB. FILIVS REX. SARD. CYPRI. ET HIEROS. RELIGIONE. AC. DOCTRINA. PRAECLARVS N. AVG. TAVRIN. VII KAL. IVNII. A. MDCCLI OBIIT. ROMAE. PRID. NON. OCT. MDCCCIX VMBERTVS I. ITAL. REX NE. HIC. QVOQVE MAIORIS SVI LAVDATISSIMI DEESSET MEMORIA P.
  8. A inscrição no túmulo de Maria Adelaide de Saboia diz:
    MARIA. ADELAIDA CLOTILDA. CAROLA VIXIT. MENS. X. TANTVM CAELO. RECEPTA. KAL. AVG. MDCCXCV CVM. PATER. EIVS. VICT. EMMANVEL. REGIS. FILIVS ESSET. SEGVSII. IN PROCINCTV
  9. A inscrição no túmulo de Maria Ana Vitória de Saboia diz::
    ANNA VICTORIA A SABAVDA LVD THOMAE SVESSIONVM COMITIS JOSEPHI A SAX HILDBVRGHAVSEN DVCIS VXOR MORTE TAVRINI EREPTA ANNOR LXXIX DIE XI OCT MCCLXIII A CVRIAE EVSEBIANAE VULCO S.PHILIPPI CRIPTVS VICTORII EMM III ITALIAE REGIS JVSSV HVC TRANSLATA EST A MDCCCCXXI

Ligações externas[editar | editar código-fonte]