Queima de livros na Alemanha Nazista: diferenças entre revisões

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'''''Bücherverbrennung''''' é um termo [[Língua alemã|alemão]] que significa '''queima de livros'''. É, muitas vezes, associado à ação [[propaganda|propagandística]] dos [[nazistas]], organizada entre 10 de maio e [[21 de junho]] de [[1933]], poucos meses depois da [[Ascensão de Hitler ao poder|chegada ao poder de Adolf Hitler]]. Em várias cidades alemãs, foram organizadas, nesta data, queimas de livros em [[praça]]s públicas, com a presença da [[polícia]], [[bombeiro]]s e outras [[autoridade]]s.
'''''Bücherverbrennung''''' é um termo [[Língua alemã|alemão]] que significa '''[[queima de livros]]'''. É, muitas vezes, associado à [[Propaganda nazista|ação propagandística dos nazistas]], organizada entre 10 de maio e [[21 de junho]] de [[1933]], poucos meses depois da [[Ascensão de Hitler ao poder|chegada ao poder de Adolf Hitler]]. Em várias cidades alemãs, foram organizadas, nesta data, queimas de livros em [[praça]]s públicas, com a presença da [[polícia]], [[bombeiro]]s e outras [[autoridade]]s.


Tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi destruído. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelas [[Studentenverbindung|fraternidades estudantis]]. Os estudantes, em particular os membros das [[Studentenverbindung|fraternidades]], do [[Sturmabteilung|Destacamento Tempestade]] (SA) e da [[Schutzstaffel|Tropa de Proteção]] (SS), participaram nestas queimas. A organização deste evento coube às associações de estudantes alemãs [[Liga dos Estudantes Alemães Nacional-Socialistas]] (NSDStB) e Comitê Geral dos Estudantes (AStA), que, com grande zelo, competiram entre si, tentando, cada uma, provar que era melhor do que a outra. Foram queimados cerca de 20 000 livros, a maioria dos quais pertencentes às [[Biblioteca pública|bibliotecas públicas]], de autores oficialmente tidos como "não alemães" (''undeutsch'').
Tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi destruído. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelas [[Studentenverbindung|fraternidades estudantis]]. Os estudantes, em particular os membros das [[Studentenverbindung|fraternidades]], do [[Sturmabteilung|Destacamento Tempestade]] (SA) e da [[Schutzstaffel|Tropa de Proteção]] (SS), participaram nestas queimas. A organização deste evento coube às associações de estudantes alemãs [[Liga dos Estudantes Alemães Nacional-Socialistas]] (NSDStB) e Comitê Geral dos Estudantes (AStA), que, com grande zelo, competiram entre si, tentando, cada uma, provar que era melhor do que a outra. Foram queimados cerca de 20 000 livros, a maioria dos quais pertencentes às [[Biblioteca pública|bibliotecas públicas]], de autores oficialmente tidos como "não alemães" (''undeutsch'').


O poeta nazista [[Hanns Johst]] foi um dos que justificaram a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a "necessidade de purificação radical da [[literatura alemã]] de elementos estranhos que possam [[Alienação|alienar]] a [[cultura alemã]]".
O [[poeta]] nazista [[Hanns Johst]] foi um dos que justificaram a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a "necessidade de purificação radical da [[literatura alemã]] de elementos estranhos que possam [[Alienação|alienar]] a [[cultura alemã]]".

== Lista de Autores banidos ==
== Lista de Autores banidos ==
{{Principal|Lista de autores banidos na Alemanha Nazista }}
[[Image:Bundesarchiv Bild 102-14597, Berlin, Opernplatz, Bücherverbrennung.jpg|thumb|esquerda|Queima de livros na praça da Ópera, em Berlim]]{{Artigo principal|Lista de autores banidos na Alemanha Nazista}}Entre os livros queimados pelos Nazistas, contavam-se obras quer de autores falecidos, como também contemporâneos, perseguidos pelo regime, muitos deles tendo emigrado. Na lista, encontramos, entre outros:

[[Image:Joseph Schorer Bücherverbrennung 1933.jpg|thumb|direita|Queima de livros em 1933 (fotografia de [[Joseph Schorer]]).]]

Entre os livros queimados pelos Nazistas, contavam-se obras quer de autores falecidos, como também contemporâneos, perseguidos pelo regime, muitos deles tendo emigrado. Na lista, encontramos, entre outros:


[[Thomas Mann]], [[Heinrich Mann]], [[Walter Benjamin]], [[Bertolt Brecht]], [[Lion Feuchtwanger]], [[Leonhard Frank]], [[Erich Kästner]] (que, anônimo, assistia na multidão), [[Alfred Kerr]], [[Robert Musil]], [[Carl von Ossietzky]], [[Erich Maria Remarque]], [[Joseph Roth]], [[Nelly Sachs]], [[Ernst Toller]], [[Kurt Tucholsky]], [[Franz Werfel]], [[Sigmund Freud]], [[Albert Einstein]], [[Karl Marx]], [[Heinrich Heine]] e [[Ricarda Huch]].<ref>{{Citar web|url=https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2018/05/10/1933-grande-queima-de-livros-pelos-nazistas.htm|titulo=1933: Grande queima de livros pelos nazistas|acessodata=2022-05-11|website=noticias.uol.com.br|lingua=pt-br}}</ref>
[[Thomas Mann]], [[Heinrich Mann]], [[Walter Benjamin]], [[Bertolt Brecht]], [[Lion Feuchtwanger]], [[Leonhard Frank]], [[Erich Kästner]] (que, anônimo, assistia na multidão), [[Alfred Kerr]], [[Robert Musil]], [[Carl von Ossietzky]], [[Erich Maria Remarque]], [[Joseph Roth]], [[Nelly Sachs]], [[Ernst Toller]], [[Kurt Tucholsky]], [[Franz Werfel]], [[Sigmund Freud]], [[Albert Einstein]], [[Karl Marx]], [[Heinrich Heine]] e [[Ricarda Huch]].<ref>{{Citar web|url=https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2018/05/10/1933-grande-queima-de-livros-pelos-nazistas.htm|titulo=1933: Grande queima de livros pelos nazistas|acessodata=2022-05-11|website=noticias.uol.com.br|lingua=pt-br}}</ref>


== "Queimem os meus livros!" ==
== "Queimem os meus livros!" ==

[[Oskar Maria Graf]] não foi incluído na lista. Para seu espanto, os seus livros não foram banidos como até foram recomendados pelos nazis. Em resposta, ele publicou um artigo intitulado ''Verbrennt mich!'' ("Queimem-meǃ") no jornal de Viena ''Arbeiter-Zeitung'' (Jornal dos Trabalhadores) (texto em alemão [http://www.lettern.de/spbrenn1.htm aqui]). Em 1934, o seu desejo foi tornado realidade e os seus livros foram, também, banidos pelos nazistas.
[[Oskar Maria Graf]] não foi incluído na lista. Para seu espanto, os seus livros não foram banidos como até foram recomendados pelos nazis. Em resposta, ele publicou um artigo intitulado ''Verbrennt mich!'' ("Queimem-meǃ") no jornal de [[Viena]] ''[[Arbeiter-Zeitung]]'' (Jornal dos Trabalhadores) (texto em alemão [http://www.lettern.de/spbrenn1.htm aqui]). Em 1934, o seu desejo foi tornado realidade e os seus livros foram, também, banidos pelos nazistas.


== Repercussão ==
== Repercussão ==

A [[opinião pública]] e a [[intelectual]]idade alemãs ofereceram pouca resistência à queima. Editoras e distribuidoras reagiram com oportunismo, enquanto a [[burguesia]] tomou distância, passando a responsabilidade aos [[universitário]]s. Também os outros países acompanharam a destruição de forma distanciada, chegando a minimizar a queima como resultado do "[[fanatismo]] estudantil".
A [[opinião pública]] e a [[intelectual]]idade alemãs ofereceram pouca resistência à queima. Editoras e distribuidoras reagiram com oportunismo, enquanto a [[burguesia]] tomou distância, passando a responsabilidade aos [[universitário]]s. Também os outros países acompanharam a destruição de forma distanciada, chegando a minimizar a queima como resultado do "[[fanatismo]] estudantil".


Entre os poucos [[escritor]]es que reconheceram o perigo e tomaram uma posição, estava [[Thomas Mann]], que havia recebido o [[Nobel de Literatura]] em 1929. Em 1933, ele [[Emigração|emigrou]] para a [[Suíça]] e, em 1939, para os [[Estados Unidos]]. Quando a Faculdade de Filosofia da [[Universidade de Bonn]] lhe cassou o título de [[doutor honoris causa]], ele escreveu, ao [[reitor]]:
Entre os poucos [[escritor]]es que reconheceram o perigo e tomaram uma posição, estava [[Thomas Mann]], que havia recebido o [[Nobel de Literatura]] em 1929. Em 1933, ele [[Emigração|emigrou]] para a [[Suíça]] e, em 1939, para os [[Estados Unidos]]. Quando a Faculdade de Filosofia da [[Universidade de Bonn]] lhe cassou o título de [[doutor honoris causa]], ele escreveu, ao [[reitor]]:

{{quote2|Nestes quatro anos de [[exílio]] involuntário, nunca parei de meditar sobre minha situação. Se tivesse ficado ou retornado à Alemanha, talvez já estivesse morto. Jamais sonhei que, no fim da minha vida, seria um emigrante, despojado da [[nacionalidade]], vivendo desta maneira!}}
{{quote2|''Nestes quatro anos de [[exílio]] involuntário, nunca parei de meditar sobre minha situação. Se tivesse ficado ou retornado à Alemanha, talvez já estivesse morto. Jamais sonhei que, no fim da minha vida, seria um emigrante, despojado da [[nacionalidade]], vivendo desta maneira!''}}
[[Image:Commemorative Plaque book burning Frankfurt Hesse Germany.JPG|thumb|Memorial para a queima de livros de 1933, no chão da praça Römerberg, em frente à prefeitura de [[Frankfurt]], em [[Hesse]], na Alemanha.]]Também [[Ricarda Huch]] retirou-se da [[Academia Prussiana de Artes]]. Na carta ao seu presidente, em 9 de abril de 1933, a escritora criticou os ditames culturais do regime nazista: "A centralização, a opressão, os métodos brutais, a [[difamação]] dos que pensam diferente, os autoelogios, tudo isso não combina com meu modo de pensar", justificou. Em 1934, a "lista negra" incluía mais de três mil obras proibidas pelos nazistas.

Também [[Ricarda Huch]] retirou-se da [[Academia Prussiana de Artes]]. Na carta ao seu presidente, em 9 de abril de 1933, a escritora criticou os ditames culturais do regime nazista: "A centralização, a opressão, os métodos brutais, a [[difamação]] dos que pensam diferente, os autoelogios, tudo isso não combina com meu modo de pensar", justificou. Em 1934, a "lista negra" incluía mais de três mil obras proibidas pelos nazistas.


Como disse o poeta [[Heinrich Heine]]: "Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas."
Como disse o poeta [[Heinrich Heine]]: "Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas."

== Praças da cerimónia ==
== Praças da cerimónia ==

[[Image:Commemorative Plaque book burning Frankfurt Hesse Germany.JPG|thumb|Memorial para a queima de livros de 1933, no chão da praça Römerberg, em frente à prefeitura de [[Frankfurt]], em [[Hesse]], na Alemanha.]]

* Em [[Munique]], foi usada a ''[[Königsplatz]]'' (Praça do Rei), no dia [[10 de Maio]] de [[1933]].
* Em [[Munique]], foi usada a ''[[Königsplatz]]'' (Praça do Rei), no dia [[10 de Maio]] de [[1933]].
* Em [[Berlim]], foi usada a ''Opernplatz'' (Praça da Ópera. Atualmente, praça Bebel).
* Em [[Berlim]], foi usada a ''Opernplatz'' (Praça da Ópera. Atualmente, praça Bebel).{{clr}}

== Ver também ==
== Ver também ==

* [[Arte degenerada]]
* [[Arte na Alemanha Nazista]]
* [[Deutsche Freiheitsbibliothek]] (Biblioteca Alemã da Liberdade), inaugurada em [[Paris]] um ano depois da queima de livros, reunindo obras de autores banidos (mais de onze mil volumes), por [[Heinrich Mann]].
* [[Deutsche Freiheitsbibliothek]] (Biblioteca Alemã da Liberdade), inaugurada em [[Paris]] um ano depois da queima de livros, reunindo obras de autores banidos (mais de onze mil volumes), por [[Heinrich Mann]].

{{Referências}}


{{Portal3|Literatura}}
{{Portal3|Literatura}}

Revisão das 01h35min de 6 de setembro de 2022

Queima de livros na Alemanha Nazista

Queima de livros na praça da Ópera, em Berlim
Características
Classificação queima de livros
evento
(censorship in Nazi Germany)
Data/Ano março 1933
Categoria Book burning in Nazi Germany
Parte de história da Alemanha Edit this on Wikidata
Localização
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Bücherverbrennung é um termo alemão que significa queima de livros. É, muitas vezes, associado à ação propagandística dos nazistas, organizada entre 10 de maio e 21 de junho de 1933, poucos meses depois da chegada ao poder de Adolf Hitler. Em várias cidades alemãs, foram organizadas, nesta data, queimas de livros em praças públicas, com a presença da polícia, bombeiros e outras autoridades.

Tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi destruído. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelas fraternidades estudantis. Os estudantes, em particular os membros das fraternidades, do Destacamento Tempestade (SA) e da Tropa de Proteção (SS), participaram nestas queimas. A organização deste evento coube às associações de estudantes alemãs Liga dos Estudantes Alemães Nacional-Socialistas (NSDStB) e Comitê Geral dos Estudantes (AStA), que, com grande zelo, competiram entre si, tentando, cada uma, provar que era melhor do que a outra. Foram queimados cerca de 20 000 livros, a maioria dos quais pertencentes às bibliotecas públicas, de autores oficialmente tidos como "não alemães" (undeutsch).

O poeta nazista Hanns Johst foi um dos que justificaram a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a "necessidade de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam alienar a cultura alemã".

Lista de Autores banidos

Queima de livros em 1933 (fotografia de Joseph Schorer).

Entre os livros queimados pelos Nazistas, contavam-se obras quer de autores falecidos, como também contemporâneos, perseguidos pelo regime, muitos deles tendo emigrado. Na lista, encontramos, entre outros:

Thomas Mann, Heinrich Mann, Walter Benjamin, Bertolt Brecht, Lion Feuchtwanger, Leonhard Frank, Erich Kästner (que, anônimo, assistia na multidão), Alfred Kerr, Robert Musil, Carl von Ossietzky, Erich Maria Remarque, Joseph Roth, Nelly Sachs, Ernst Toller, Kurt Tucholsky, Franz Werfel, Sigmund Freud, Albert Einstein, Karl Marx, Heinrich Heine e Ricarda Huch.[1]

"Queimem os meus livros!"

Oskar Maria Graf não foi incluído na lista. Para seu espanto, os seus livros não foram banidos como até foram recomendados pelos nazis. Em resposta, ele publicou um artigo intitulado Verbrennt mich! ("Queimem-meǃ") no jornal de Viena Arbeiter-Zeitung (Jornal dos Trabalhadores) (texto em alemão aqui). Em 1934, o seu desejo foi tornado realidade e os seus livros foram, também, banidos pelos nazistas.

Repercussão

A opinião pública e a intelectualidade alemãs ofereceram pouca resistência à queima. Editoras e distribuidoras reagiram com oportunismo, enquanto a burguesia tomou distância, passando a responsabilidade aos universitários. Também os outros países acompanharam a destruição de forma distanciada, chegando a minimizar a queima como resultado do "fanatismo estudantil".

Entre os poucos escritores que reconheceram o perigo e tomaram uma posição, estava Thomas Mann, que havia recebido o Nobel de Literatura em 1929. Em 1933, ele emigrou para a Suíça e, em 1939, para os Estados Unidos. Quando a Faculdade de Filosofia da Universidade de Bonn lhe cassou o título de doutor honoris causa, ele escreveu, ao reitor:

Também Ricarda Huch retirou-se da Academia Prussiana de Artes. Na carta ao seu presidente, em 9 de abril de 1933, a escritora criticou os ditames culturais do regime nazista: "A centralização, a opressão, os métodos brutais, a difamação dos que pensam diferente, os autoelogios, tudo isso não combina com meu modo de pensar", justificou. Em 1934, a "lista negra" incluía mais de três mil obras proibidas pelos nazistas.

Como disse o poeta Heinrich Heine: "Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas."

Praças da cerimónia

Memorial para a queima de livros de 1933, no chão da praça Römerberg, em frente à prefeitura de Frankfurt, em Hesse, na Alemanha.

Ver também

Referências

  1. «1933: Grande queima de livros pelos nazistas». noticias.uol.com.br. Consultado em 11 de maio de 2022