Eusebio Tejera

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Eusebio Tejera

O Uruguai antes do Maracanaço. O sorridente Tejera é o segundo
jogador em pé, da esquerda para a direita.
Informações pessoais
Nome completo Eusebio Ramón Tejera Kirkerup
Data de nascimento 6 de janeiro de 1922
Local de nascimento Montevidéu, Uruguai
Data da morte 9 de novembro de 2002 (80 anos)
Local da morte Montevidéu, Uruguai
Informações profissionais
Posição zagueiro
Clubes profissionais
Anos Clubes Jogos e gol(o)s
1942-1943
1944
1945-1950
1951-1952
1953-1958
Bella Vista
River Plate
Nacional
Cúcuta
Defensor


155
Seleção nacional
1945-1954 Uruguai 31 (0)

Eusebio Ramón Tejera Kirkerup (Montevidéu, 6 de janeiro de 19229 de novembro de 2002) foi um futebolista uruguaio que jogava como zagueiro. Foi titular no Maracanaço mesmo fora de forma, o que havia atraído críticas da imprensa em seu país natal.[1][2]

No futebol doméstico, foi ídolo no Nacional, clube pelo qual foi três vezes campeão uruguaio (1946, 1947 e 1950).[1] Vestiu a camisa da Celeste Olímpica em 31 ocasiões oficiais, entre 1945 e 1954.[3]

Há fonte na mídia brasileira a aponta-lo como sobrinho de Domingo Tejera, por sua vez campeão da Copa do Mundo FIFA de 1930,[4] informação ausente em meios estrangeiros,[5] incluindo perfil seu em livro uruguaio dedicado aos ídolos do Nacional.[1]

Carreira em clubes[editar | editar código-fonte]

O Nacional em 1945. Tejera, de bigode, é o segundo jogador em pé.

Tejera começou nas divisões inferiores do campeonato uruguaio, no Bella Vista,[2] ausente da elite entre 1941 e 1950.[6] De lá, passou ao River Plate uruguaio.[2] Estreou pela Seleção Uruguaia em 24 de janeiro de 1945,[3] data em que enfrentou o Equador pela Copa América daquele ano. Tejera ainda era jogador do River,[7] ainda que o clube tenha sido oitavo colocado de dez times no campeonato uruguaio de 1944, a um ponto do rebaixado Racing de Montevidéu.[6]

O Uruguai ficou apenas em quarto na Copa América, mas Tejera, que no torneio iniciou dupla com Raúl Pini,[7] passou a reedita-la no Nacional, que o contratou no decorrer de 1945. Um primeiro título veio em 1946,[8] ano em que Tejera, mesmo recém-chegado e mais novo que alguns colegas, foi escolhido o novo capitão para suceder o aposentado Roberto Porta,[1] ex-jogador das seleções italiana e uruguaia.[9]

A conquista seguida de um bicampeonato em 1947.[10] Assim, o Nacional foi o representante Uruguai no Campeonato Sul-Americano de Campeões realizado no início de 1948, considerado precursor da Taça Libertadores da América. A competição foi sediada no Chile e a equipe uruguaia foi a que recebeu as melhores condições econômicas para participar.[11]

Na competição, o Nacional venceu por 3-0 o River Plate, no que foi considerada a melhor exibição de um dos participantes.[11] O campeão terminou sendo o Vasco da Gama, com os uruguaios culpando uma arbitragem tendenciosa no confronto contra o time anfitrião, o Colo-Colo. O ano, porém, ficou marcado por uma longa greve, que paralisou o campeonato após a primeira rodada do segundo turno. O Nacional era o líder invicto e foi declarado campeão em função do longo tempo de greve.[11]

Como a greve alongou-se demais, decidiu-se que o Nacional seria declarado campeão. Naquele ano, o clube também venceu a Copa Ricardo Aldao válida ainda pelo ano de 1946, com uma goleada de 7-2 sobre o San Lorenzo. O torneio era um tira-teima contra o campeão argentino para definir o melhor time do Rio da Prata. A disputa se atrasou em virtude de excursão do San Lorenzo à Europa.[11] O próprio futebol argentino também enfrentou greve na época, levando ao êxodo de muitos dos grandes astros de lá ao chamado "Eldorado Colombiano". Eram tempos em que a atividade de futebolista, embora já profissionalizada, não era lucrativa, com contratos considerados "escravagistas".[12]

A liga colombiana, por sua vez, oferecia contratos capazes de atrair até jogadores europeus, ainda que fosse banida pela FIFA por descumprir diretrizes sobre as transferências.[12] A greve levaria o parceiro de Tejera, Raúl Pini, ao Millonarios,[11] a principal equipe do "Eldorado", a contratar também os astros argentinos Alfredo Di Stéfano, Adolfo Pedernera e Néstor Rossi.[12] Sem Pini, Tejera passou a fazer dupla de zaga com José Santamaría, posteriormente colega do próprio Di Stéfano no Real Madrid e na seleção espanhola.[13] O Peñarol terminou campeão em 1949, em campanha que fez com que três adversários deixassem o estádio durante o intervalo: Rampla Juniors, o Liverpool e o próprio Nacional, que abandonou a partida no intervalo após derrota parcial de 2-0 na qual tivera dois jogadores expulsos, no que ficou conhecido como Clásico de la Fuga.[14] Um dos expulsos havia sido Tejera.[1]

O Peñarol, naturalmente, foi a base da seleção na Copa do Mundo FIFA de 1950, com seis dos titulares no Maracanaço. Já Tejera foi um dos três tricolores, junto com Schubert Gambetta e Julio Pérez, ainda que estivesse visivelmente fora de forma, com uma barriga saliente.[2] Tejera estava oito quilos acima do ideal em função de uma lesão que o deixara muito tempo parado. Seu armário nos vestiários do clube era descrito como uma verdadeira "farmácia".[1] O Nacional terminou campeão uruguaio em 1950, motivo de orgulho especial por definir-se como campeão do país campeão mundial. Mas, curiosamente, os jogadores vencedores da Copa tiveram escassa participação, casos dele, de Gambetta, Pérez e de Aníbal Paz e Rodolfo Pini,[13] reservas na seleção - Rodolfo era irmão de Raúl, cuja presença no exterior o privou de participar da Copa.[15]

O próprio Tejera também foi em seguida jogar na "liga pirata" colombiana, defendendo por dois anos o Cúcuta. Voltou ao Uruguai posteriormente para jogar no Defensor,[2] clube que defendia quando foi convocado à Copa do Mundo FIFA de 1954.[16] Parou de jogar em 1958.

Seleção[editar | editar código-fonte]

Tejera estreou pela Seleção Uruguaia em 24 de janeiro de 1945,[3] data em que enfrentou o Equador pela Copa América daquele ano, no estádio Nacional em Santiago. Ainda era jogador do River Plate uruguaio. A seleção ficou apenas em quarto lugar.[7] Já como jogador do Nacional, esteve em mais duas edições da Copa América, em 1946 e 1947,[1] com a Celeste terminando respectivamente em quarto e em terceiro.[17][18] Na de 1949 toda a seleção foi desfalcada, sendo representada por um time juvenil em face da longa greve deflagrada no ano anterior.[19]

Tejera foi titular d Copa do Mundo FIFA de 1950 mesmo oito quilos acima do ideal,[1] com as fotografias da época registrando uma barriga saliente. A convocação não deixou de ser bastante criticada pela imprensa de seu país.[2] Tejera fez dupla de zaga com Matías González desde a primeira partida, o 8-0 sobre a Bolívia.[20] Mas a falta de forma lhe atrapalhou nas partidas seguintes. Contra a Espanha, o Uruguai começou vencendo, mas o placar foi revertido par 2-1 após Tejera não conseguir acompanhar a velocidade do ponta adversário Estanislao Basora. Os sul-americanos conseguiram o empate graças a uma jogada individual de Obdulio Varela.[21]

Contra a Suécia, o desenrolar foi semelhante: os uruguaios começaram ganhando e sofreram virada parcial de 2-1. Tejera foi o único jogador de linha a permanecer recuado enquanto os demais colegas avançaram para evitar a derrota, tática premiada com nova virada, agora favorável, com a Celeste vencendo por 3-2 graças a dois gols nos quinze minutos finais.[22] No dia do Maracanaço, Tejera e os demais uruguaios pareciam relaxados quando estavam perfilados nas cerimônias pré-jogo contra o Brasil.[23] Quando as duas seleções posaram para fotografias, o grosso dos repórteres posicionou-se para registrar os brasileiros. Tejera então chegou a exclamar:[1]

Venham para cá, que o campeão está aqui [1]

Na partida, Tejera foi encarregado de marcar Zizinho,[1] sendo auxiliado na tarefa pelo meia-direita Juan Alberto Schiaffino, que recuava com o outro meia, Julio Pérez, para reforçar a marcação a fim de evitar as trocas de passes entre Zizinho, Ademir de Menezes e Jair da Rosa Pinto, jogadas que haviam feito o Brasil golear os adversários anteriores. Tejera também ocasionalmente, pelo centro, auxiliava Matías González na marcação sobre Ademir. A tática surtiu efeito no primeiro tempo, encerrado em 0-0 e com os lances mais perigosos sendo criados pelos visitantes.[24] No segundo tempo, ele não teve culpa no gol brasileiro, de Friaça.[25]

Após o mundial, Tejera foi jogar na equipe colombiana do Cúcuta,[2] o que lhe rendeu alguns anos de ausência na seleção, que só na década de 1970 passou a admitir a convocação de quem jogasse no exterior.[26] Voltou ao Uruguai para jogar no Defensor,[2] a tempo de ser convocado à Copa do Mundo FIFA de 1954.[16] Porém, não jogou nenhuma partida, com a defesa celeste sendo composta por José Santamaría, William Martínez e Víctor Rodríguez Andrade.[27] A última partida de Tejera pelo Uruguai deu-se em 5 de junho daquele ano, data da última partida anterior ao mundial, em que goleou-se por 7-1 a extinta seleção do Sarre em Saarbrücken.[28]

Após parar[editar | editar código-fonte]

Tejera largou o futebol assim que parou de jogar, passando a levar uma vida modesta como funcionário público, como a maioria dos ex-colegas de Maracanaço.[29] Também foi taxista e faleceu aos oitenta anos, em 9 de novembro de 2002.[2] Sua morte deu-se próximo das datas de falecimento de outros colegas da seleção de 1950, casos de Julio Pérez, também do Nacional, e Juan Alberto Schiaffino, do rival Peñarol. Assim, um clássico Nacional vs. Peñarol realizado em 24 de novembro homenageou o trio com um minuto de silêncio, com as duas torcidas rivais unindo-se nos aplausos.[1]

Títulos[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n BASSORELLI, Gerardo (2012). Julio Pérez. Héroes de Nacional. Montevidéu: Editorial Fin de Siglo, pp. 128-132
  2. a b c d e f g h i j GEHRINGER, Max (dez. 2005). Os campeões. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, pp. 40-41
  3. a b c PASSO ALPUIN, Luis Fernando (11 de maio de 2017). «Appearances for Uruguay National Team». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  4. GEHRINGER, Max (set. 2005). Os campeões. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 1 - 1930 Uruguai". São Paulo: Editora Abril, p. 43
  5. ARRUDA, Marcelo Leme de (23 de junho de 2016). «World Cup Trivia - Fathers, Sons and Brothers, Uncles and Nephews». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  6. a b ABBINK, Dinant; TABEIRA, Martín (11 de fevereiro de 2006). «Uruguay - List of Final Tables 1900-2000». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  7. a b c TABEIRA, Martín (11 de fevereiro de 2016). «Southamerican Championship 1945». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  8. MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1946. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 100-101
  9. BASSORELLI, Gerardo (2012). El Tano Porta. Héroes de Nacional. Montevidéu: Editorial Fin de Siglo, pp. 24-29
  10. MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1947. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 102-103
  11. a b c d e MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1948. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 102-103
  12. a b c LEAL, Ubiratan (dez. 2007). A lenda do El Dorado. Trivela n. 22. São Paulo: Trivela Comunicações, pp. 42-43
  13. a b MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1950 - Nacional campeón en el país campeón del mundo. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 110-113
  14. BRANDÃO, Caio (20 de outubro de 2014). «20 anos sem Juan Hohberg, o argentino que quase eliminou a Hungria da Copa de 1954». Futebol Portenho. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  15. BASSORELLI, Gerardo (2012). Los hermanos Pini. Héroes de Nacional. Montevidéu: Editorial Fin de Siglo, pp. 134-135
  16. a b TABEIRA, Martín (20 de julho de 2010). «Uruguayan Squads in the World Cup». RSSSF. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  17. TABEIRA, Martín (2 de janeiro de 2013). «Southamerican Championship 1946». RSSSF. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  18. TABEIRA, Martín (2 de fevereiro de 2017). «Southamerican Championship 1947». RSSSF. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  19. TABEIRA, Martín (4 de janeiro de 2013). «Southamerican Championship 1949». RSSSF. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  20. GEHRINGER, Max (dez. 2005). "Um jogo menor". Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 33
  21. GEHRINGER, Max (dez. 2005). Jogadas ensaiadas. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 35
  22. GEHRINGER, Max (dez. 2005). Virada no fim. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 35
  23. GEHRINGER, Max (dez. 2005). "Já ganhou". Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 38
  24. GEHRINGER, Max (dez. 2005). "Silêncio de morte". Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 38
  25. GEHRINGER, Max (dez. 2005). Os gols da final. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, p. 39
  26. BRANDÃO, Caio (20 de outubro de 2014). «40 anos da 3ª parte do tetra do Independiente na Libertadores – sobre o São Paulo». Futebol Portenho. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  27. «World Cup 1954». RSSSF. Consultado em 28 de setembro de 2017 
  28. TABEIRA, Martín (15 de junho de 2017). «Uruguay - International Results». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 
  29. A derrota (19 jun. 1970). Placar n. 14-A. São Paulo: Editora Abril, pp. 8-15

Ligações externas[editar | editar código-fonte]