Gás de xisto

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Estimativas dsponíveis sobre as reservas de gás de xisto em 48 grandes bacias (38 países), segundo a Energy Information Administration (EIA).
  Bacias com recursos estimados
  Bacias com recursos não estimados
  Países estudados
  Países não estudados

O gás de xisto ou gás não-convencional é um gás natural encontrado no interior de um tipo poroso de rocha sedimentar denominado xisto argiloso. Basicamente, possui a mesma composição química do petróleo, porém seu invólucro e modo de produção são diferentes.

Comprimido no interior da rocha sedimentar porosa, o gás de xisto é explorado através de uma tecnologia denominada fraturamento hidráulico: uma técnica que utiliza as fraturas produzidas pela alta pressão hidráulica e introdução de água, areia e uma mistura de produtos químicos, sendo alguns tóxicos, no interior do reservatório, o que permite que o gás flua e seja extraído. Tal precisão requer uma tecnologia avançada de fraturamento hidráulico de rochas para exploração das zonas que englobam o gás.

A extração do gás de xisto é polêmica, pois o processo de fraturamento hidráulico pode provocar a contaminação de lençóis freáticos e da água destinada ao consumo humano. O risco ambiental envolvido na extração do gás, que ocorre com a utilização de uma mistura tóxica de aproximadamente 600 produtos químicos, é considerável, e não há estudos que comprovem que a tecnologia usada na extração não ofereça riscos.[1] Em 2014, foi anunciado o re-fracking, como um aperfeiçoamento dessa técnica que possibilitaria voltar a explorar poços antigos, já abandonados (chamados vintage), proporcionando às empresas petroleiras uma redução dos custos da ordem de 90% na exploração de gás de xisto e outros combustíveis fósseis.[2] A extração do gás também causam terremotos.[3]

História do gás de xisto[editar | editar código-fonte]

O conhecimento e utilização do xisto como um recurso energético data do final do século XVIII, quando na costa leste dos Estados Unidos, com pequenas usinas que extraíam petróleo de xisto. Isto mesmo, a primeira exploração do xisto como fonte energética, foi o petróleo de xisto. Já o gás de xisto, teve seu início em 1920 na antiga União Soviética, numa região onde hoje está a Estônia, onde foram implantadas fábricas de alcatrão, benzina e gás. A cidade de Tallinn era iluminada com o gás de xisto, vindo do município Kohtla-Järve.

No Brasil, a primeira tentativa de se utilizar o xisto como fonte energética foi na cidade de Codó (MA) por Gonzaga Campos, no final do século XIX, que montou uma destilaria para fornecer gás à cidade de São Luís. Tal tentativa fracassou e após muitos anos, em 1922, São Luís foi iluminada durante quase um mês com gás, resultado do xisto processado em Codó.[4]

Em 1881, no Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, teve o surgimento de um empreendimento para fornecer gás à cidade de Taubaté. No começo teve algum sucesso, mas logo acabou fracassando após troca de proprietário, investimento sem retorno e deficiência técnica. Após o fracasso, o gás de xisto foi esquecido. No ano 2000, a produção americana de gás de xisto passou de zero para 1⁄4 do gás natural e deverá chegar à metade em meados de 2030, de acordo com dados do Instituto de Políticas Públicas James A. Baker, da Universidade Rice em Houston, no Texas.[5]

Reservas de gás não-convencional no mundo[editar | editar código-fonte]

O volume total de reservas de gás não-convencional no mundo é de aproximadamente 5 975 trilhões de pés cúbicos. Essas reservas estão geograficamente distribuídas como segue:

Continentes[6]
Américas Europa África Ásia Oceania
Países e Reservas (Trilhão pés cúbicos) Canadá ( 388 ) França ( 180 ) Argélia ( 231 ) China ( 1275 )
Estados Unidos ( 862 ) Polônia ( 187 ) Líbia ( 290 ) Austrália ( 396 )
México ( 681 ) África do Sul ( 485 )
Brasil ( 226 )
Argentina ( 774 )
Total Parcial 2931 367 1006 1275 396
Total 5975

Jazidas de xisto no Brasil[editar | editar código-fonte]

Algumas bacias sedimentares com potencial de gás não convencional no território brasileiro são Bacia do Parnaiba (xisto cretáceo da formação Codó - Maranhão), Bacia do Recôncavo, Bacia do São francisco (xisto permiano da formação Santa Brígida - Bahia), Bacia Parecis (xisto permiano da formação Irati), Bacia do Paraná (xisto permiano da formação Irati) e Bacia da Foz do Amazonas (xisto devoniano da formação Curuá no Pará, Amazonas e Amapá).[6][7]

Jazida de xisto na Argentina[editar | editar código-fonte]

A maior reserva de xisto argentino está em Vaca Muerta ( Bacia de Neuquén ).[8]

Jazida de xisto nos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Áreas de produção de gás de xisto nos Estados Unidos.

A maior reserva de xisto americano é a formação de Green River que se estende entre três estados americanos Colorado, Wyoming, e Utah. Temos ainda jazida em Mowry, Niobrara, Baxter, Mancos, Monterey, McClure, Cane Creek, Hovenweep Lewis e Mancos, Pierre, Palo Duro, Barnett, Pearsall, Woodford, Haynesville/ Bossier, Caney and Woodford, Fayetteville, Floyd e Conasauga/Neal, Chattanooga, Huron, Marcellus, Utica, Horton Bluff, Antrim, New Albany, Excello/Mulky, Bakken, Gammon.[9][10]

Gás de Xisto por país[editar | editar código-fonte]

A tabela abaixo é baseada em dados recolhidos pela agência Administrativa de Informação sobre Energia do Departamento de Energia dos Estados Unidos.[11]

Item País Estimativa tecnicamente recuperável de gás de xisto
(Trilhão pés cúbicos)
As reservas comprovadas de gás natural de todos os tipos
(Trilhão pés cúbicos)
Ano[11]
1  China 1,115 124 2013
2  Argentina 802 12 2013
3  Argélia 707 159 2013
4  Estados Unidos 665 318 2013
5  Canadá 573 68 2013
6  México 545 17 2013
7  África do Sul 485 - 2013
8  Austrália 437 43 2013
9  Rússia 285 1,688 2013
10  Brasil 245 14 2013
11  Indonésia 580 150 2013

Compostos químicos usados na extração do gás de xisto[editar | editar código-fonte]

Parte dos compostos químicos atualmente usados na extração do gás de xisto está sob segredo industrial, o que tem gerado incerteza e preocupações sobre seus possíveis impactos ambientais. [carece de fontes?] Entre 2005 e 2009, os mais usados, como aditivos do fluido do fraturamento hidráulico, foram:[12]

  1. Metanol (álcool metílico)
  2. Isopropanol (álcool isopropílico, Propan-2-ol)
  3. Sílica cristalina - de quartzo (SiO2)
  4. Etileno-glicol de éter monobutílico (2-butoxietanol)
  5. Etileno-glicol (1,2-etanodiol)
  6. Destilados de petróleo leve tratados com hidrogénio
  7. Hidróxido de sódio (soda cáustica).

A Tabela 1 lista esses produtos químicos tóxicos e sua frequência de uso.

Tabela 1. Componentes químicos preocupantes
Componente de Química Categoria de Risco Freqüência de uso
Metanol (álcool metílico) Pol. Atm. Perig. 342
Etileno-glicol (1,2-etanodiol) Pol. Atm. Perig. 119
Diesel Subst. canc.
Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
51
Naftalina Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
44
Xileno Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
44
Cloreto de hidrogénio (ácido clorídrico) Pol. Atm. Perig. 42
Tolueno Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
29
Etilbenzeno Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
28
Dietanolamina (2,2-iminodietanol) Pol. Atm. Perig. 14
Formaldeído Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
12
Ácido sulfúrico Subst. canc. 9
Tioureia Subst. canc. 9
Cloreto de benzil Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
8
Cumeno Pol. Atm. Perig. 6
Ácido nitrilotriacético Subst. canc. 6
Dimetil formamida Pol. Atm. Perig. 5
Fenol Pol. Atm. Perig. 5
Benzeno Subst. canc.
Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
3
Di (2-etilhexil) ftalato Subst. canc.
Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
3
Acrilamida Subst. canc.
Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
2
Fluoreto de hidrogênio (ácido fluorídrico) Pol. Atm. Perig. 2
Anidrido ftálico Pol. Atm. Perig. 2
Acetaldeído Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
1
Acetofenona Pol. Atm. Perig. 1
Cobre Quí. regul. 1
Óxido de etileno Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
1
Chumbo Subst. canc.
Quí. regul.
Pol. Atm. Perig.
1
Óxido de propileno Subst. canc.
Pol. Atm. Perig.
1
p-Xileno Pol. Atm. Perig. 1
Nota
Subst. canc. - Substâncias cancerígenas
Quí. regul. - Química regulada
Pol. Atm. Perig. - Poluentes Atmosféricos Perigosos

Impactos ambientais da extração do gás de xisto[editar | editar código-fonte]

A extração e uso do gás do xisto pode produzir danos ambientais decorrentes do vazamento de produtos químicos utilizados na extração, incluindo a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, além da liberação de gases de efeito estufa durante a extração e da poluição causada pelo processamento inadequado do gás natural. A dificuldade de evitar a poluição deve-se sobretudo à grande variação das características da extração, mesmo entre os poços de um mesmo projeto. Assim, os processos que reduzem significativamente a poluição em uma extração podem não ser suficientes em outra.[13]

Em 2013, o Parlamento Europeu tornou não obrigatória a avaliação de impacto ambiental para as atividades de exploração do gás do xisto, que passaram a ser sujeitas às mesmas regras de extração de outros gases .[14]

Emissões e tremores[editar | editar código-fonte]

Em maio de 2010, o Conselho dos Presidentes de Sociedades Científicas, entidade que congrega cerca de 1,4 milhão de cientistas, alertava em carta ao presidente Obama que a política nacional de incentivo ao gás de xisto seria temerária, dada a falta de maior embasamento científico, e que a atividade poderia ter um impacto no aquecimento global bem maior do que o anteriormente estimado.[15]

De fato, em fins de 2010, a Agência de Proteção Ambiental Norte-americana, em seu relatório de atualização sobre as emissões de gases de efeito estufa da indústria de óleo e gás nacional concluía que a extração de gás de xisto emite mais metano que a extração do gás convencional.

No ano seguinte, um estudo publicado na Climatic Change Letters, previsível e vigorosamente contestado pela indústria, aponta que a produção de eletricidade com gás de xisto emite tanto ou mais gases de efeito estufa ao longo de seu ciclo produtivo quanto àquela baseada em gás ou carvão.

Pesam ainda sobre a atividade a suspeita de ter culpa no cartório no aumento significativo na frequência de tremores de intensidade igual ou superior a 3 na escala Richter na região central do continente norte-americano. O serviço geológico dos Estados Unidos, coletando dados desde 2001, concluiu que a atividade sísmica na região, em 2011, seria seis vezes superior à média do século XX.

Um pesquisador[quem?] do Centro para Pesquisa e Informação sobre Terremotos dos EUA, da Universidade de Memphis, opina que a injeção de água em falhas geológicas tende a causar sismos devido ao escorregamento das mesmas. Há pelo menos um caso de sismo inequivocamente relacionado à extração de gás de xisto, no noroeste da Inglaterra, em 2011. Ele levou a empresa Cuadrilla Resources a suspender todas as suas operações.[carece de fontes?]

Referências

  1. SANTIAGO, Emerson (25 de maio de 2013). «Gás de xisto». InfoEscola 
  2. Refracking brings 'vintage' oil and gas wells to life. Reuters, 20 de agosto de 2014.
  3. Shale Oil & Gas Production – Seismic Activity
  4. Heracto Kuzycz Assunção (9 de outubro de 2002). «Parque Industrial do Xisto: estratégia de desenvolvimento local para São Mateus do Sul- PR» (PDF) 
  5. A revolução do gás de xisto nos EUA: passado e futuro
  6. a b SIX/Mineração (27 de Agosto de 2010). «Unidade de Industrialização do Xisto» (PDF) 
  7. Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC (12 de Agosto de 2013). «Água, Energia e o 'Gás de Xisto' como Ameaça Ambiental» (PDF) 
  8. Solanas presenta “La guerra del fracking” en Italia
  9. Gás de xisto estimula economia dos EUA e pode derrubar preço do petróleo
  10. U.S. Energy Mapping System (em inglês)
  11. a b «Technically Recoverable Shale Oil and Shale Gas Resources: An Assessment of 137 Shale Formations in 41 Countries Outside the United States» (em inglês) 
  12. «CHEMICALS USED IN HYDRAULIC FRACTURING (Produtos químicos utilizados em fraturamento hidráulico)» (PDF) (em inglês) 
  13. Stevens, Paul (agosto de 2012). «The 'Shale Gas Revolution': Developments and Changes». Chatham House. Consultado em 15 de agosto de 2012 
  14. «EIA studies won't be required for shale gas exploration». The Lithuania Tribune. 24 de dezembro de 2013. Consultado em 31 de dezembro de 2013 
  15. «Toward a better understanding and quantification of methane emissions from shale gas development» (em inglês) 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]