José Cutileiro
José Cutileiro | |
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Pseudônimo(s) | A. B. Kotter |
Nascimento | 20 de novembro de 1934 Évora, Portugal |
Morte | 17 de maio de 2020 (85 anos) Bruxelas, Bélgica |
Cidadania | Portugal |
Alma mater | |
Ocupação | Diplomata, antropólogo e escritor |
Prémios | Grande Prémio da Crónica (2008) |
Empregador(a) | London School of Economics |
Género literário | Crónica |
Obras destacadas | O amor burguês |
José Pires Cutileiro GCC • OIH (Évora, 20 de novembro de 1934 — Bruxelas, 17 de maio de 2020) foi um diplomata, antropólogo e escritor (cronista) português.
Biografia
[editar | editar código-fonte]De família burguesa, de raízes alentejanas, nasceu em Évora. Sua mãe, de nome Amália Pires, dona de casa, era de Pavia, no Alto Alentejo, e foi viver para Évora, onde se casou com José Cutileiro, um médico da Organização Mundial da Saúde aí sediado. Dos três filhos do casal, o seu irmão, o escultor João Cutileiro era o do meio. Em Lisboa, a família Cutileiro vivia na Av. Elias Garcia, numa casa afamada por ser frequentada pela chamada intelligentsia, um grupo de personalidades da época. A família do pai era republicana e oposicionista ao regime do Estado Novo; a família da mãe era católica conservadora, além de apoiante do regime de Salazar.
Quando tinha três anos, a família deixou a cidade de Évora e passou a viver em Lisboa. Mais tarde, o seu pai, sofrendo constrangimentos na direção do Centro de Saúde de Lisboa por motivos políticos — antes, fora afastado de um concurso para professor na Faculdade de Medicina de Lisboa, por interferência da PIDE — passa a exercer a sua profissão ao serviço da Organização Mundial da Saúde. É assim que, por força da atividade profissional do pai, Cutileiro passa parte da sua adolescência em países tão distintos como a Suíça, a Índia e o Paquistão[1].
De novo em Lisboa, termina os estudos secundários no Colégio Valsassina, passando em seguida pelos cursos de Arquitetura e de Medicina, na Escola Superior de Belas-Artes e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, respetivamente. Esse é também o tempo das tertúlias no Almanaque, com José Cardoso Pires e Luís de Sttau Monteiro.
Abandonando os estudos em Portugal, decidiu viajar para o Reino Unido, onde viria a licenciar-se em Antropologia Social, na Universidade de Oxford. Subsequentemente, no ano de 1968, completou o doutoramento na mesma disciplina com a tese "A Portuguese Rural Society", descrição antropológica de Monsaraz, uma freguesia rural alentejana, referida na obra apenas como Vila Velha[2]. Ingressou depois no St. Antony's College, como fellow (1968-1971), passando, em seguida, para a London School of Economics and Political Science, como lecturer (1971-1974)[1].
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, é nomeado conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Londres, cargo que desempenhará de 1974 até 1977. Torna-se, de seguida, embaixador e representante de Portugal junto do Conselho da Europa, cargo que desempenhou até 1980. Passou ainda pela Embaixada de Portugal em Maputo. A 16 de agosto de 1983, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.[3] A 14 de janeiro de 1984, foi nomeado representante permanente de Portugal junto da Conferência de Desarmamento na Europa, realizada em Estocolmo.
Em 1987, era primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, foi chamado a Lisboa para assumir o cargo de diretor-geral dos Negócios Político-Económicos. Nessa altura, negociou a adesão de Portugal à União da Europa Ocidental e chefiou a delegação que negociou com os Estados Unidos os termos da utilização da Base das Lajes, nos Açores, em 1988 e 1989. Foi depois nomeado embaixador de Portugal em Pretória em 1989, passando depois a exercer a função de conselheiro especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros para a Presidência Portuguesa da Comunidade Europeia. Nessa qualidade, coordenou a Conferência de Paz para a Jugoslávia, de janeiro a agosto de 1992, presidida por Lord Carrington[1]. A 7 de maio de 1990 foi feito Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra de França e a 15 de novembro de 1990 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Fénix da Grécia.[4]
Presidia ao Instituto Diplomático, desde março de 1994, quando assumiu a secretaria-geral da União da Europa Ocidental (UEO), em 16 de novembro de 1994, após uma eleição em que contou com o apoio explícito da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e da Holanda. A escolha recaiu sobre um diplomata de carreira atlantista numa altura em que a UEO ganha nova vida após a ratificação do Tratado de Maastricht, enquanto pilar da defesa comum. A 3 de fevereiro de 1995, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo.[3] Em maio de 1997, foi reconduzido na secretaria-geral da UEO[1].
Além da diplomacia, era sobejamente conhecido pela sua atividade como cronista na imprensa escrita. Foi o autor das crónicas ficcionadas, escritas sob o alter-ego de Alfred Barnaby Kotter, um aristocrata inglês elitista residente em Colares, Sintra, filho de uma mãe pró-fascista, e as suas experiências e opiniões sobre o Portugal pós-25 de Abril (supostamente traduzidas pelo seu «criado» português),[5] que a princípio foram percecionadas como crónicas reais.[6] Aquelas crónicas que surgiram no jornal O Independente (entre 1993 e 1998) foram, em 2004, recolhidas em livro em Bilhetes de Colares de A. B. Kotter (1982-1998), publicado pelo jornal na sua coleção Horas Extraordinárias Série Inéditos da Impressa,[7] sendo a partir de então considerado por vezes um brilhante romance (pelo texto longo, embora episódico, e o seu caráter ficcionado)[5] e noutras um brilhante livro de crónicas (mesmo se ficcionadas). Todas as crónicas, publicadas desde 1982 até 1998, foram publicadas pela editora Assírio & Alvim, em 2007.[8]
Sendo um relativo sucesso de popularidade, textos deste livro surgem por vezes em blogues portugueses[9]. Bilhetes de Colares de A. B. Kotter recebeu em 2009 o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores.[10]
Fora da ficção, era reconhecido enquanto escritor de crónicas no jornal Expresso e em blogues.
O seu nome encontra-se na lista de colaboradores da publicação académica Quadrante [11] (1958-1962) publicada pela Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.
Em 4 de dezembro de 2008, recebeu o Grande Prémio da Crónica 2008, da Associação Portuguesa de Escritores e da Câmara Municipal de Sintra, e distinguindo as obras em português de autores portugueses publicadas em primeira edição no biénio anterior à entrega do prémio, pela antologia Bilhetes de Colares de A. B.Kotter (1982-1998)[12].
Morreu a 17 de maio de 2020, em Bruxelas, na Bélgica, onde se encontrava hospitalizado.[13]
Obras
[editar | editar código-fonte]- O amor burguês: poesia (1959);
- Versos da mão esquerda (1961);
- A Portuguese Rural Society (1971);
- Ricos e pobres no Alentejo : uma sociedade rural portuguesa (1977);
- Ricos e pobres no Alentejo : uma análise de estrutura social (1973);
- Bilhetes de colares (1982-1987) (sob o pseudónimo A. B. Kotter; antologia de Vítor Cunha Rego para o jornal Semanário, 1990);
- Vida e morte dos outros : a comunidade internacional e o fim da Jugoslávia (2003);
- Bilhetes de Colares de A. B. Kotter (1982-1998) (antologia publicada em 2004);
- Visão global : conversas para entender o mundo (com Ricardo Alexandre, 2009);
- Abril e Outras Transições (2017);
- Inventário (2020).
Referências
- ↑ a b c d Observador
- ↑ «Município de Reg. Monsaraz emite votos de pesar pelos falecimentos de José Cutileiro e Gabriel Raminhos - Rádio Campanário». www.radiocampanario.com. Consultado em 30 de maio de 2020
- ↑ a b «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Pires Cutileiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de maio de 2020
- ↑ «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "José Pires Cutileiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de maio de 2020
- ↑ a b Livros da Década (II), Henrique Raposo, 29 de dezembro de 2009
- ↑ Bilhetes de Colares de A. B. Kotter, Wook.com
- ↑ Bilhetes de Colares de A. B. Kotter (1993-98) - José Cutileiro, Bibliofeira
- ↑ Outra vez José Cutileiro, blogue Dito assim, 24 de agosto de 2014
- ↑ [http://riodasmacas.blogspot.pt/2009/12/bilhetes-de-colares.html Bilhetes de Colares, blogue Rio das Maçãs, 4 de dezembro de 2009
- ↑ Bilhetes de Colares de A. B. Kotter, Wook.com
- ↑ Ana Cabrera. «Ficha histórica:Quadrante – a revolta de uma elite perante a crise da universidade» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 30 de março de 2015
- ↑ Bilhetes de Colares, blogue Rio das Maçãs, 4 de Dezembro de 2009
- ↑ Morreu o embaixador José Cutileiro, Lusa 17.5.2020
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Nascidos em 1934
- Mortos em 2020
- Homens
- Professores de Portugal
- Escritores de Portugal
- Representantes permanentes de Portugal no Conselho da Europa
- Alunos da Universidade de Oxford
- Doutores honoris causa da Universidade de Évora
- Diplomatas de Portugal
- Embaixadores de Portugal em Moçambique
- Embaixadores de Portugal na África do Sul
- Grã-Cruzes da Ordem do Infante D. Henrique
- Grã-Cruzes da Ordem Militar de Cristo
- Comendadores da Ordem Nacional da Legião de Honra