Língua dos pássaros
Uma língua dos pássaros, linguagem mística, perfeita, divina, mítica ou mágica utilizada pelos pássaros para se comunicar com os iniciados, é postulada pela mitologia, literatura medieval e ocultismo.
História
[editar | editar código-fonte]Pássaros interpretaram um importante papel na religião Indo-Europeia, usados para divinação pelos áugures, e, de acordo com uma sugestão de Walter Burkert, estes costumes podem ter sua origem no Paleolítico, quando, durante a Idade do Gelo, os primeiros humanos costumavam procurar carniça observando os pássaros.
A partir da marcia Renascença, foi a inspiração para algumas línguas a priori mágicas. Línguas assobiadas, baseadas ou construídas sobre línguas naturais articuladas usadas em algumas culturas são por vezes também citadas como, e comparadas com, a língua dos pássaros.
Mitologia
[editar | editar código-fonte]De acordo com Apolónio de Rodes, a figura de proa do Argo, o navio de Jasão, foi construída com carvalho do bosque sagrado de Dodona e podia falar a língua dos pássaros. A proficiência na língua dos pássaros na mitologia grega podia ser obtida por meios mágicos. Demócrito, Anaximandro, Apolônio de Tiana, Tirésias, Melampo e Esopo são citados como tendo o conhecimento da língua dos pássaros.
Várias sagas nórdicas e célticas (Edda e Mabinogion) relatam que o sangue de dragão dá a quem o bebe o poder de entender a língua dos pássaros. Um eco disto está na ópera Siegfried de Richard Wagner, onde o herói, após beber o sangue do dragão Fafnir, passa a entender o canto dos pássaros.
Na mitologia celta, os pássaros (principalmente os corvos) representam conhecimentos proféticos, particularmente quanto ao derramamento de sangue.
Folclore
[editar | editar código-fonte]O conceito é apresentado também em muitos contos folclóricos em Gales, Rússia, Alemanha, Estónia e Grécia), onde geralmente ao protagonista é dado o poder de compreender a língua dos pássaros, seja por alguma transformação mágica, ou como recompensa por alguma boa ação feita para o rei dos pássaros. Os pássaros, então, passam a informar ou avisar o herói sobre perigos ou tesouros ocultos.
Religião
[editar | editar código-fonte]- No sufismo, a língua dos pássaros é uma língua dos anjos mística. A Conferência dos Pássaros (mantiq at-tair), é um poema místico de 4647 versos escrito no século XII pelo poeta persa Farid ud-Din Attar.
- Diz-se que São Francisco de Assis pregou para os pássaros.
- No Talmude, (segundo as Lendas da Bíblia de Louis Ginzberg, 1909), a proverbial sabedoria de Salomão devia-se a lhe ter sido concedida por Deus a compreensão da língua dos pássaros.
Alquimia
[editar | editar código-fonte]Na Cabala, na alquimia e no Renascimento, a língua dos pássaros era considerada uma língua perfeita e secreta, a chave para o perfeito conhecimento, chamada algumas vezes de langue verte (ou língua verde, por Jean Julien Fulcanelli e por Heinrich Cornelius Agrippa em sua De Occulta Philosophia).
Cultura
[editar | editar código-fonte]- Na França medieval, a língua dos pássaros (la langue des oiseaux) era uma linguagem secreta dos trovadores, ligada ao Tarô, alegadamente baseada em trocadilhos e simbolismo extraído da homofonia. Por exemplo, uma estalagem chamada Au Lion d'Or ("O Leão de Ouro"), seria supostamente um código para au lit on dort ("no leito alguém dorme"). Todavia, o exemplo dado pode não ser exatamente medieval, visto que o t final era pronunciado até o francês médio, conforme se depreende de bonnet, um galicismo do século XIV incorporado à língua inglesa.
- Aristófanes ("Os Pássaros") e Geoffrey Chaucer ("Parlamento das Aves") também escreveram peças teatrais satíricas tomando a língua das aves por base.
- O autor de livros infantis Rafe Martin escreveu uma obra intitulada "The Language of Birds" ("A Língua dos Pássaros") como adaptação de um conto folclórico russo. O livro foi convertido numa ópera infantil pelo compositor John Kennedy.
- Há um filme alemão de 1991 chamado Die Sprache der Vögel ("A Língua dos Pássaros").
- No árabe falado no Egito, a forma escrita hieroglífica é chamada de "o alfabeto dos pássaros". No próprio Antigo Egito os hieróglifos eram chamados de medu-netjer ("palavras dos deuses" ou "língua divina")
Ciência
[editar | editar código-fonte]- «Pesquisas recentes» sobre o canto das aves têm revelado um certo montante de fonologia combinatória, um aspecto compartilhado com as línguas humanas.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- DAVIDSON, H.R. Ellis. Myths and Symbols in Pagan Europe: Early Scandinavian and Celtic Religions. Syracuse University Press: Syracuse, NY, E.U.A., 1988.
- «KHAITZINE, Richard. La Langue des Oiseaux» (em inglês). -Quand ésotérisme et littérature se rencontrent
- GUENON, Rene. The Language of the Birds in Revista Sufi australiana "The Treasure" # 2 (1998).
- «Simbolismo Animal na Mitologia Céltica» (em inglês). , por Lars Noodén (1992)
- «A Conferência dos Pássaros» (em inglês). www.metmuseum.org
- «LE VERLAN DES OISEAUX» (em francês). (O Verlan dos Pássaros), Coleção "Pommes Pirates Papillons", Poèmes de Michel Besnier. Ilustrações de Boiry, Editions Møtus
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Occultopedia» (em inglês). www.occultopedia.com
- «Sacred Texts» (em inglês). - Contos folclóricos russos
- «Revista Online da Herança Judaica» (em inglês). , por Ellen Frankel
- «Le Tarot» (em inglês)
- «A Sociedade da Luz Interior» (em inglês). www.innerlight.org.uk
- «Belén Gache» (em inglês). www.findelmundo.com.ar