Usuário(a):Alexandremgl/Roque Dalton

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Roque Dalton
Roque Antonio García
Alexandremgl/Roque Dalton
Roque Dalton na entrega do Prêmio de Poesia da Casa de las Américas em 1970.
Nascimento 14 de maio de 1935Predefinição:Fecha
San Salvador, El Salvador
Morte Predefinição:Fecha10 de maio de 1975 (Predefinição:Edad)
San Salvador, El Salvador
Nacionalidade El Salvador Salvadorenho

Roque Antonio Dalton García (San Salvador, 14 de maio de 1935- idem, 10 de maio de 1975), nascido Roque Antonio García e mais conhecido como Roque Dalton, foi um poeta, ensaísta, jornalista, militante político e intelectual salvadorenho. Ainda que não tenha recebido nenhum título acadêmico, realizou seus estudos superiores na Universidad de Chile e na Universidad de El Salvador, onde estudou Direito, e também passou pelas salas da Universidade Nacional Autónoma de México. No Chile começou a estudar marxismo e quando retornou a seu país se tornou um irrequieto protagonista da política local. Também se iniciou na poesia ao integrar ao Círculo Literário Universitário. Em 1957 viajou à União Soviética, o que marcou sua militância política, e se integrou ao Partido Comunista Salvadoreño. Sua intensa atividade revolucionária provocou sua prisão no período presidencial de José María Lemus.

Em 1961, foi expulso de El Salvador, e exilou-se no México, na Tchecoslovaquia e também em Cuba, onde terminou de se forjar como escritor. Envolveu-se na vida cultural deste país e também recebeu instrução militar depois da batalha de Girón (invasão à Baía dos Porcos). Apesar de conseguir retornar a El Salvador em 1964, acabou preso e submetido a interrogatório por um agente estadounidense da Agência Central de Inteligência (CIA). Em 1969 regressou a Cuba e ganhou o Prêmio de Poesia Casa de las Américas pelo livro Taberna y outros lugares.

Depois de partir de Cuba, Dalton decidiu se envolver na luta armada em El Salvador, e se integrou ao Exército Revolucionário do Povo (ERP) em 1973. Em tal organização, foi protagonista de uma séria polémica interna com o líder Alejandro Rivas Olha, que se elevava a influente liderança do grupo armado. Dalton acabou acusado de «revisionismo» e a direcção do ERP decidiu pela sua execução em conjunto com a de José Armando Arteaga.[1]

Lembrado por sua vida boêmia e uma personalidade jovial e irreverente, refletida em sua obra literária, tinha como preocupação principal o destino de seu próprio país, El Salvador; e, apesar de ser um conhecedor da teoria marxista, sua obra se caracteriza por ser heterogênea. É considerado o máximo expoente da poesia revolucionária em El Salvador e um dos literatos mais influentes deste país; ademais, encontra-se entre os melhores representantes da poesia latinoamericana. De forma póstuma, tem recebido os reconhecimentos de «Hijo Meritísimo» e «Poeta Meritísimo» por parte do estado salvadorenho, e doutor honoris causa da Universidad de El Salvador.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Infância e juventude[editar | editar código-fonte]

O pai de Roque Dalton foi Winnal Dalton jr., nascido em Tucson, Arizona, Estados Unidos, em 1894. Ele provinha de uma família que tinha caído na ruína económica, e abandonou seu país provavelmente em 1916 com rumo à América Central.[2][3] Viveu em Honduras e posteriormente mudou-se para El Salvador, onde se casou com Aída Ulloa. Naquele país se tornou um proprietário de terras e manteve relações com a elite local.[4]

O temperamento irascível era uma das características de Winnal. Um entreveiro com o banqueiro Benjamín Bloom por conta de um empréstimo levou-o ao hospital com feridas de bala por parte dos guarda-costas do empresário. Enquanto estava internado, conheceu a enfermeira María García, com quem acabou tendo um romance que resultaria no nascimento de Roque Antonio em 14 de maio de 1935.[5][6]

Roque cresceu na casa materna localizada na rua 5 de Novembro da capital San Salvador, onde também havia uma loja de nome «A Royal». Seu pai, pelo que dizem, somente o reconheceu legalmente aos dezassete anos, porém o matriculou na escola infantil Santa Teresita de Jesús, localizada numa casa antiga do centro de San Salvador. Dita casa de estudos era de educação católica e reservada para famílias de posses.[7] Posteriormente estudou no colégio Batista e desde 1946 no Externato de San José, outra instituição exclusiva e tradicional.[8]

Já desde sua juventude, Dalton realizava seus primeiros trabalhos de poesia e um de seus professores, o sacerdote jesuita Alfonso de María Landarech, o animava para seguir se aprimorando na literatura.[9] Por outra parte, não era alheio às contendas estudantis ou discussões em partidas de futebol; de facto, terminou com seu nariz fraturado ao receber uma tijolada da parte de um jogador costarriquenho por discutir sobre a cobrança de um pênalti. Esse episódio Roque deixou registrado no poema «Não, nem sempre fui tão feio».[10]

Obteve o título de Bachiller (equivalente ao ensino médio) em 1952, e por seu destacado aproveitamento foi eleito para dar o discurso em nome dos estudantes. Segundo Claribel Alegria, aproveitou a ocasião para criticar as autoridades da instituição pela discriminação com filhos "bastardos" e por sua subserviência às famílias dos estudantes ricos .[11]

Viagem ao Chile[editar | editar código-fonte]

Ao terminar seus estudos do segundo grau, Roque decidiu estudar Direito. Seu pai deu apoio para viajar ao Chile, em 1953, despedindo-se de sua mãe no Panamá. Já em Santiago, pretendia ingressar na Universidade Católica, mas o decano da faculdade de Teologia dessa instituição recomendou-lhe que se matriculasse na Universidade do Chile, que poderia fazê-lo se afastar da educação católica que tinha conhecido desde sua infância.[12]

Na Universidade do Chile, Dalton entrou em conhecimento de diversas ideologias, especialmente a comunista. A experiência foi importantíssima para sua vida:

Entrei em contato com os comunistas, tive amigos comunistas, e em princípio sem saber que eram, depois com um pouco mais de consciência, ao menos dei um passo adiante no Chile e, de católico conservador que era, passei a ser um católico progressista, um social-cristão; naquele momento, essa corrente de pensamento no chile me pareceu muito atraente.[13]

Além disso, o jovem começou a colaborar numa revista universitária, e como parte de seu trabalho sustentou uma memorable entrevista com o muralista mexicano Diego Rivera. Sucedeu que em dito encontro o artista lhe perguntou por seu filiación política, se tinha lido sobre marxismo, bem como por sua idade, ao que o salvadoreño respondeu que era social cristão com dezoito anos de vida e que nunca tinha lido dessa doutrina. Rivera, sem ambages, lhe espetó que tinha dezoito anos «de ser um imbecil» e lhe jogou do lugar. Diz-se que pese a se sentir contrariado pelo incidente num primeiro momento, Dalton, movido pela curiosidade, começou a adentrarse tanto no marxismo como na obra do mexicano. Sabe-se também que neste período viajou a Buenos Aires e Montevideo.[14]

Volta a El Salvador[editar | editar código-fonte]

Depois de onze meses de estadía em Chile, retornou a El Salvador. Com novos instrumentos ideológicos para conhecer a realidade do país, incorporou-se à Universidade de El Salvador onde ingressou à Associação Geral de Estudantes Universitários (AGEUS) em 1954.[15] Seu padrino político nesse então era o historiador Jorge Arias Gómez, dirigente do Partido Comunista Salvadoreño (PCS).[16]

Nesse tempo o país era governado pelo general Óscar Osorio, quem, apesar de outorgar certa abertura democrática, conformava o estamento militar que tinha regido ao país desde Maximiliano Hernández Martínez. Por sua vez, Dalton começou a destacar como activista estudiantil e articulista defensor dos princípios da AGEUS. Para 1955 colaborava com o jornal O Independente que se converteu numa tribuna crítica da realidade do país. Para o mês de março desse ano, e com 19 anos de idade, contraiu casal com Aída Canas com quem procrearía três filhos: Roque Antonio, Juan José e Jorge.[17]

Em 1956 integrou-se ao grupo conformado pelos literatos Manlio Argueta, José Roberto Cea, Roberto Armijo e Tirso Canais, entre outros, que tomou por nome Círculo Literário Universitário.[18] Os trabalhos deste grupo apareceriam de forma asidua no suplemento Sábados de Diário Latino de Juan Felipe Toruño. Eles também fizeram parte dos desfiles bufos que ridiculizaban ao regime em turno.[19]

Nesse mesmo ano Dalton ganhou o Prêmio Centroamericano de Poesia da universidade com o trabalho Minha junto aos pássaros, e no mês de maio saiu publicado o conto «A espera» na revista Letras de Cuscatlán.[20] Também escreveu, junto ao guatemalteco Otto René Castillo, refugiado em El Salvador depois do derrocamiento de Jacobo Árbenz, o poemario Dois punhos pela terra que ganhou o prêmio Francisco Gavidia.[21] Ambos cultivaram uma amizade mútua e se diz que foi Castillo quem lhe animou a abraçar a militancia comunista.

Nesses anos, o poeta hondureño Rafael Paz Paredes deixou uma descrição do jovem estudante:

Roque Dalton tiene 22 años, es delgado, de mediana estatura, ágil, nervioso, de músculos casi elásticos que vibran y se encrespan continuamente bajo las descargas de su corazón de poeta [...] escribe poesía, cuentos y crítica literaria. Distribuye el tiempo entre sus estudios universitarios y su indeclinable vocación de escritor que lo lleva de un lado a otro de la ciudad, con juvenil y generoso entusiasmo, siempre en busca de alguna tarea que cumplir.[22]

Viagem à União Soviética[editar | editar código-fonte]

Fotografia do dia da abertura do VI Festival Mundial da Juventude e os Estudantes.

Óscar Osorio foi sucedido na presidência pelo tenente coronel José María Lemus. Em seu mandato, as críticas tanto a sua pessoa como à cultura tradicional do país aumentaram por parte da oposição e os estudantes. Um meio que representou esta atividade contestadora foi o jornal La Jodarria onde Dalton começou a redigir seus escritos políticos, junto a outras personagens do Círculo Universitário.

Para o ano 1957, Roque soube da celebração na União Soviética (URSS) do VI Festival Mundial da Juventude e os Estudantes pela Paz e a Liberdade, por meio de boletins da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) e da União Internacional de Estudantes (UIE); pelo que se decidiu a realizar a viagem junta a quatro acompanhantes. Aparte das dificuldades de conseguir o dinheiro para costear a aventura, todos eles sabiam as consequências pelo facto de visitar ao país comunista, tanto em seus respectivos trabalhos como nas mesmas relações familiares.[23]

O periplo para a União Soviética foi dificultoso entre as numerosas escalas e mudanças de comboios. Em Checoslovaquia conseguiram reunir com outras delegações e por fim arribaron ao país de destino o 21 de julho e a Moscovo dois dias depois.

Os salvadoreños tiveram uma intensa participação no festival. O mesmo Dalton dirigiu as palavras de agradecimento pela calurosa acolhida à delegação, que foram transmitidas por Rádio Moscovo à América Latina. O grupo assistiu a todo o tipo de reuniões científicas e culturais, bem como conheceram a vida diária da União Soviética. Enquanto seus acompanhantes partiram a Checoslovaquia uma vez concluído o festival, Dalton permaneceu no país por convite da União de Escritores da URSS junto a outros literatos como Miguel Ángel Astúrias —a quem os integrantes do Círculo tinham em alta estima— bem como Graham Green. Ademais teve a oportunidade de conhecer a Nazim Hikmet e ao argentino Juan Gelman, de quem escutou um poema que representava a nova corrente latinoamericana. Também fez amizade com o nicaragüense Carlos Fonseca com quem conversou sobre a união centroamericana «ao nível popular».[24]

A viagem à União Soviética determinou que Dalton se incorporasse à militancia política por inteiro. Empero, como se tinha previsto, a volta a El Salvador terminou sendo acidentado entre detenções e interrogatórios em Espanha, Venezuela e Panamá. Já em sua pátria decidiu ingressar ao PCS nesse mesmo ano de 1957 por intermediário de seu amigo Otto René Castillo, a quem o poeta considerava um modelo de militante revolucionário. Ambos eram da opinião que não era suficiente ser um «marxista individual para ser revolucionário», sina «se comprometer organizadamente, ingressar ao Partido».

Diz-se que Dalton e outros militantes lhe deram vida ao PCS no sentido que o sacaram do isolamento da vida política salvadoreña, e também enaltecieron o Levantamento camponês de 1932 ao que alguns comunistas consideravam como um erro por seu escasso fundamento na teoria marxista. Quanto a sua actividade literária, para 1958 ganhou o segundo lugar dos Jogos Florais de San Salvador com a obra Doze poemas.

Actividade política e literária em El Salvador. Exílio em México[editar | editar código-fonte]

Pese ao compromisso político, Dalton, como outros poetas e escritores salvadoreños, fez da actividade política, a poesia e a bohemia uma sozinha coisa. Ele mesmo destacava nas reuniões como um grande conversador, aparte que se distinguia por seu bom humor e comentários jocosos.[25] Não era estranho que servidores públicos públicos, pintores e artistas se reunissem todos num mesmo lugar, tal como sucedia na casa da poetisa hondureña Clementina Suárez. Ademais, Dalton frequentava ao grupo que se reunia ao redor da figura de Oswaldo Escobar Velado, de grande actividade intelectual durante o regime do general Maximiliano Hernández Martínez; e recebeu também o elogio por parte de Pedro Geoffroy Rivas, outra personalidade admirada da época e quem lhe tinha como o melhor dos poetas que frequentavam a Escobar Velado.[26]

No meio de um ambiente político agitado, uniu-se à associação juvenil 5 de Novembro e incrementou sua colaboração em diferentes meios escritos como Abril e Maio, Opinião Estudiantil e Vida Universitária. Exerceu ademais como redactor para noticieros de televisão a cargo de seu amigo Álvaro Menen Desleal, com quem compartilhou travesuras, borracheras, bromas e riñas, ainda que tratavam de levar seu trabalho em bom rumo.[27]

Nesses anos eram também de agitação política mundial. Em El Salvador incrementaram-se os protestos contra o regime de José María Lemus, que já se tinham ido gestando desde 1955.[28] Mas o que particularmente exerceu uma influência decisiva nos movimentos populares foi a Revolução cubana que culminou o 1 de janeiro de 1959. De facto, nesse mesmo ano viajou junto a Menen Desleal à quinta reunião de consulta chanceleres da Organização de Estados Americanos (OEA) que teve lugar em Chile, onde foi testemunha da incomodidad que gerava entre os estados americanos o novo estado cubano.[29]

Em tanto, os levantamentos não armados em El Salvador chegaram a um ponto álgido tanto em San Salvador como em Santa Ana e desembocaram no derrocamiento de Lemus o 26 de outubro de 1960. Dalton esteve envolvido nos incidentes. O 14 de dezembro de 1959 tinha caído preso, depois de ser capturado pela polícia ao participar na vaia colectiva de um desfile oficial de Lemus. Sua esposa interpôs um recurso de exibição pessoal ante corte-a Suprema de Justiça. Dos onze que foram atrapados pela polícia junto a Dalton ficaram libertos nove, e os dois que se mantiveram depois das grades foram o poeta e o operário Carlos Hidalgo. Ambos sustentaram uma greve de fome por sua liberdade. Depois do processo legal, Dalton ficou livre o 7 de janeiro de 1960. Posteriormente decidiu avocarse à defesa nos tribunais de outros apresados, ao dar-se conta que careciam recursos económicos para fazer de um advogado. Ele mesmo chamou a outros estudantes através da Associação de Estudantes de Direito para que se anotassem na iniciativa.[30]

Para março de 1960, e enquanto encontrava-se em #o Guatemala por convite dos estudantes da Universidade San Carlos a uma semana cultural, voltou a ser apresado desta vez junto a Roberto Armijo. Enquanto este foi liberto no território, Dalton terminou expulsado do país devido a seus antecedentes políticos segundo comunicado da secretaria de comunicação da presidência guatemalteca. Quando retornou a El Salvador caiu capturado novamente o 13 de outubro no departamento de La Paz em presença de sua esposa. Seu paradeiro permaneceu desconhecido por vários dias e inclusive temeu-se por sua vida.[31] Ao fim, e depois da pressão pública, o governo aceitou sua detenção, mas também se lhe inculpó de vários cargos sem fundamento como uma viagem a Chile para preparar um sabotagem, ou o envolvimento no assassinato do poeta Armando López Muñoz. De facto, imputaram-se-lhe os delitos de rebelião e sedición pelos que podia ter enfrentado a pena de morte. No entanto, depois do derrocamiento de Lemus em outubro os presos políticos foram libertos, entre os que estava Roque, quem ao sair do cárcere foi recebido com algarabía e alçado em ombros pelo público que lhe esperava afora do recinto.[32]

Pese a isto, Dalton saiu expulsado do país em fevereiro de 1961, pois sucedeu que a dirigente Junta Cívico Militar tinha sido deposta por um Diretório Cívico-Militar de tendência conservadora e repressiva.[33] Graças às gestões do embaixador mexicano em El Salvador, Emilio Calderón Puig, conseguiu assentar-se em México onde viajou junto a Alejandro Castrorrivas que se converteu em seu secretário pessoal. Neste país publicou o livro A janela no rosto com prólogo de Mauricio da Selva no que se faz menção da afirmação de Astúrias que considerava a Dalton entre os três melhores poetas jovens com que contava Centroamérica.[34] Iniciou ademais estudos de Antropologia na Universidade Nacional Autónoma, e este conhecimento académico contribuiria a uma parte prehispánica do poemario Os depoimentos (1964). Assim mesmo, em México conheceu a personalidades como León Felipe, Salomón da Selva, Efraín Huerta, Margarita Paz Paredes e Eraclio Zepeda; ainda que seu estadía era seguida de perto pela Direcção Federal de Segurança.[35][36][37]

Exílio em Cuba[editar | editar código-fonte]

Roque Dalton como representante de El Salvador na Conferência dos Povos em Havana, 1962.

Nos primeiros anos de seu exílio o poeta viajou a Cuba por breve tempo. Em 1962 transladou-se novamente para assistir à Conferência dos Povos como delegado salvadoreño, e ficou vivendo em Havana por um ano. Neste país terminou de formar-se como escritor: {{Quote|texto=Como poeta, fue en Cuba donde adquirí conciencia de lo que significa escribir en serio, de ser (para emplear una palabra ya vieja) un escritor profesional, alguien que escoge la literatura como oficio.[35]|Como poeta, fue en Cuba donde adquirí conciencia de lo que significa escribir en serio, de ser (para emplear una palabra ya vieja) un escritor profesional, alguien que escoge la literatura como oficio.Erro de citação: Elemento de fecho </ref> em falta para o elemento <ref> Pelo contrário, existe a versão que devido a seu aplicativo durante a instrução conseguiu ser treinado para se converter em agente da Direcção Geral de Inteligência cubana (DGI).[38] Por outra parte, seu trabalho literário voltava-se infatigable: em 1963 ganhou uma menção honorífica por parte de Casa das Américas com o poemario O turno do ofendido e veio à tona seu monografía El Salvador. Ademais conheceu em Cuba a sua irmã por parte de pai, Margarita Dalton.

No ano 1964 retornou a El Salvador, mas caiu capturado pela polícia. Nesse lapso não reportou nenhuma actividade à DGI e acabou expulsado do território. Retornou em junho e voltou a cair preso o 4 de setembro enquanto departía num bar com outros amigos. Foi transladado a Cojutepeque e submetido a interrogatório no que interveio o agente da CIA Harold F. Swenson, quem questionou-lhe sobre seus vínculos com Cuba e de passagem propôs-lhe trabalhar como espião para a agência, mas o poeta negou-se.

As longas jornadas estenderam-se inclusive na casa de um militar salvadoreño num ambiente mais relaxado mas sem proveito algum para Swenson, pese a que Dalton foi careado com um desertor cubano da DGI. O poeta, quiçá alongando o tempo para que afora do cárcere se pedisse por sua libertação, negava qualquer vínculo com o governo cubano. Enviou-se novamente a Cojutepeque, de onde, segundo contou à imprensa salvadoreña, o 25 de outubro se escapou «aproveitando uma debilidade na parede de minha cela ocasionada por tremores e trabalhos de construção nas cercanias», depois chegou por sua conta a San Salvador. A versão de Castrorrivas, muito pelo contrário, assegurava que saiu por intermediação do antropólogo Geoffroy Rivas.[39][40]

Pese a que pôde escabullirse a Guatemala foi atrapado pelos agentes de segurança deste país quem lhe transladaram à fronteira com México, onde, quase em harapos, também foi submetido a interrogatório. Ao conseguir retornar a Cuba, fungió como parte de conselho de colaboração de Casa das Américas.

Na Tchecoslovaquia[editar | editar código-fonte]

No ano 1965 transladou-se a Checoslovaquia. Ali exerceu como representante do PCS ante o Conselho de Redacção da Revista Internacional, órgão de difusão dos partidos comunistas a nível mundial; e também instalar-se-ia em Praga junto a sua esposa e seus três filhos. De acordo a Jorge Arias Gómez, quem visitou-lhe nesse tempo, a família vivia em estrechez económica pelo modesto salário que recebia Dalton. Aparte disto, o poeta foi vapuleado depois de ser objeto de um assalto que lhe deixou com graves lesões.

Em Checoslovaquia conheceu ao sindicalista salvadoreño Miguel Mármol, e fruto de suas conversas surgiu o livro Miguel Mármol. Os acontecimentos de 1932 em El Salvador. Em 1967 inteirou-se da morte de Ernesto Guevara, de quem escreveu:

Su desaparición física es un hecho irreparable para el cual no debemos escatimar lágrimas de hombres y revolucionarios; la actitud fundamental a que nos obliga su actual inmortalidad histórica es la de hacernos verdaderamente dignos de su ejemplar revolucionario.[41]

De volta em Cuba[editar | editar código-fonte]

Roque Dalton (à direita) com Heberto Padilla em Havana.

Enquanto encontrava-se em México no ano 1968, a Roque indignou-lhe a invasão do exército soviético a Checoslovaquia; pelo que esperava uma condenação de parte do Secretário Geral do Partido Comunista de Cuba, Fidel Castro, o que não ocorreu.[42] Nesse ano regressou a Cuba onde pediu sua separação do PCS, partido que se encontrava em crise interna pela deserción de militantes que posteriormente somar-se-iam à luta armada.[43] Também dedicou seu tempo às actividades literárias: publicou uma selecção de contos de Salarrué e a Editorial Universitária da Universidade de El Salvador, dirigida por Ítalo López Vallecillos, plotou a antología Poemas o que se considera a primeira consagración de sua obra no país.[44] Ademais escreveu junto a Nina Serrano a obra produzida para a televisão cubana Dalton e cía onde têm protagonismo os «irmãos Dalton», personagens que engendraram vários mitos sobre os ancestros do poeta.[45]

Para 1969 seu livro Taberna e outros lugares, o mais celebrado pelos críticos de sua obra, ganhou o Prêmio de Poesia de Casa das Américas.[46] Para este tempo tinha mudado sua admiração por Miguel Ángel Astúrias, ao acusá-lo de traição junto a outros intelectuais de esquerda por ter aceitado o cargo de embaixador durante o governo de Julio César Méndez Montenegro.[47]

A vida intelectual na ilha voltou-se intensa. Vivia no bairro O Vedado da cidade de Havana, para perto de a sede de Casa das Américas. Nesses anos conseguiu terminar sua obra Um livro vermelho para Lenin e As histórias proibidas do pulgarcito. No entanto, crescia o dilema pessoal de incorporar ao processo revolucionário em seu país ou dedicar a seu trabalho literário.[48]

Em 1970 cresceu sua decisão de integrar à luta armada em El Salvador, depois de renunciar ao comité de colaboração de Casa das Américas. Nesse ano, dita organização tinha convocado ao prêmio de poesia, pelo que convidaram a um grupo de intelectuais estrangeiros para que servisse como júri, um deles era o nicaragüense Ernesto Cardeal. O peculiar do caso era que alguns membros do júri queriam entrar em contacto com a realidade cubana, o que Casa das Américas não compartilhava. No meio destas discordâncias encontrava-se Roque Dalton quem finalmente mostrou-se em desacordo com a atitude das autoridades cubanas e especialmente teve um altercado com Roberto Fernández Retamar.[49][50]

Manuel Galich, Dalton, Onelio Jorge Cardoso e Haydée Santamaría numa reunião da Casa de las Américas.

Ante a intransigencia da organização, Roque renunciou a Casa das Américas o 20 de julho por meio de duas cartas, uma dirigida a Retamar e outra a Haydée Santamaría. Nessa etapa o poeta Ernesto Cardeal deixou plasmado em seu livro Em Cuba, uma opinião nada favorável de Dalton sobre os partidos políticos comunistas de América Latina e em especial o de seu país:

... son lo más corrompido que te podés imaginar. Te hablo con conocimiento de causa, porque soy miembro militante del Partido Comunista de mi país. Pero yo entré al Partido Comunista Salvadoreño porque creo que las personas decentes deben entrar a esos partidos y no dejarlo solo a los cabrones.[51]

Diz-se que Dalton acusava ao PCS de localizar à «direita do movimento revolucionário» e sugeria o construir a partir das «vanguardias armadas».[52] Ademais, esse tempo coincidiu com o desencanto de Dalton com a política oficial cubana. O primeiro desengaño foi com o tratamento de «reaccionario» por parte da União de Escritores e Artistas de Cuba ao poeta Heberto Padilla no prólogo do poemario Fosse do jogo que tinha ganhado um prêmio adjudicado por dita entidade em 1968. A segunda decepção ocorreu em 1971 quando o Congresso Nacional do Sindicato de Trabalhadores da Educação, a Cultura e o Desporto, deixou a impressão que a literatura devia exercer uma função mais bem propagandística e subsumida à função educativa.[53]

Dalton e Roberto Fernández Retamar.

Para 1972 publicou-se seu livro Miguel Mármol.... Também apareceu publicado um artigo de sua autoria na revista Marcha, onde denunciava a intervenção estadounidense nas eleições salvadoreñas desse ano na que à oposição lhe foi arrebatada a vitória eleitoral em favor dos militares. Para 1973 encontrava-se em Chile, convidado pelo governo de Salvador Além, e na revista Casa apareceu outro artigo no que protestou contra a intervenção militar na Universidade de El Salvador. Para este tempo, diz-se que tentou se unir às recém fundadas Forças Populares de Libertação (FPL), mas foi recusado pelo líder Salvador Cayetano Carpio quem achava que servia melhor à causa como poeta e escritor marxista que como combatente.[54] No entanto, ele mantinha a convicção que só a luta armada levaria a El Salvador à mudança.[55]

Clandestino em El Salvador[editar | editar código-fonte]

Para incorporar ao movimento revolucionário de seu país, Havana contactou-lhe com Alejandro Rivas Olha (de seudónimo Sebastián Urquilla), dirigente do Exército Revolucionário do Povo (ERP). Cuba brindaria apoio a dita organização e o enlace seria o mesmo Dalton como assessor de comunicações e de estratégia política e militar. Diz-se que arribó a El Salvador no dia de Nochebuena de 1973, e se identificou com um nome diferente: Julio Delfos Marín (ou também Julio Dreyfus Marín). Sabe-se que se submeteu a cirurgia plástica para mudar seu rosto, a qual foi realizada pelos mesmos especialistas que trataram ao Ché Guevara quando ingressou a Bolívia. Para esse então começou a escrever os Poemas clandestinos que publicar-se-iam após sua morte.

Pese a que trabalhou em actividades de propaganda e redacção de folletos políticos, os conflitos com os dirigentes começaram a surgir. Aparte que a diferença de idade era notável com respeito aos militantes do ERP, bem mais jovens, Dalton introduziu a polémica numa organização inmersa em conflitos internos.[56] Por documentos posteriores dados a conhecer pelo ERP depois de sua morte, revelou-se a luta entre a tendência denominada como «burocrática» ao comando de «pequenos burgueses pensantes», representados pelo mesmo Dalton, que se opunha à tendência «operativa» encabeçada por Rivas Olha, que mais bem punha ênfase na «condução política e militar». Ambos chocaram na defesa de suas posições e as diferenças de personalidades se faziam notar: Dalton era intelectual e Rivas Olha autoritario; e no ideológico, o poeta inclinava-se por uma luta prolongada, enquanto Rivas Olha propunha a acção imediata da luta armada.[57]

Esta última tendência terminou de impor na organização e as acusações sobre o poeta começaram a surgir. Culpou-se-lhe de encabeçar essa mesma «tendência pragmática e pequeno burguesa» e por tanto «revisionista». E com sua verdadeira identidade revelada, acusou-se-lhe de ser um agente cubano no país para infiltrar o movimento guerrilheiro, isto é, que fazia parte do denominado «revisionismo internacional» que interferia no processo revolucionário exclusivo do povo e que não era parte do jogo político das superpotências (se chame a União Soviética ou os Estados Unidos).[58] Aparentemente, ao não ser consistente esse cargo, se lhe acusou de pertencer à CIA, pelo possível contacto que teve com os estadounidenses depois de sair da prisão de Cojutepeque. Aparte, alegavam-se certas faltas de indisciplina do intelectual num momento em que se esperava um levantamento popular.

Assassinato[editar | editar código-fonte]

A pugna entre a corrente militarista do ERP e seus opositores, teve como resultado o apresamiento de Dalton e seu colega Pancho (José Armando Arteaga) —a quem supostamente instigó uma conduta em «rebeldia»— no dia 13 de abril. Diz-se que ante a perigosa situação, Eduardo Sancho e Lil Milagre Ramírez, sua colega de vida nesse tempo, trataram de lhe convencer de fugir para salvar sua vida, mas ele se negou, incrédulo, sobre a base de que ainda tinha confiança em seus colegas.

Para o 1 de maio se escindió a chamada Resistência Nacional do ERP, o que provocou que a dirigencia deste grupo ordenasse a execução de vários deles, que ao que parece foram frustrados. Em consequência, decidiu-se a execução de Dalton e Pancho, supostamente o 10 de maio. A ordem partiu de Alejandro Rivas Olha. Um comunicado do ERP após o facto consigna estas palavras: «A execução de Dalton desencadeou uma furiosa campanha de parte da “intelectualidad” pequeno burguesa... pensam colocar-se eles como sector através da bandeira de Dalton, poeta e escritor, já que é isto o que volta importante sua morte e o converte no herói quando a verdade é que foi vítima e hechor de sua própria morte».

Sabe-se que se lhe realizou um julgamento sumário no que Eduardo Sancho fungió como seu defensor. Ademais, diz-se que a acusação de pertencer à CIA se fundamentou em factos imprecisos, como um relato do livro Pobrecito poeta que era eu..., no que Dalton descreve sua captura e posterior interrogatório por parte de agentes estadounidenses.

Até esse momento, a mesma família de Dalton desconhecia seu paradeiro, até que no mês de setembro um comunicado de Casa das Américas, através de Rádio Habana, confirmou sua morte. Um jornal salvadoreño recolheu essa notícia com esta descrição: «Dalton ingressou com instruções de Havana à célula salvadoreña, mas aqui (em El Salvador) encontraram-no muito moderado, “revisionista”, “vendido ao imperialismo”, “ao serviço da CIA” [...] Os informantes enfatizaram que os assassinos são maoístas, ou cheguevaristas, quem encontraram ao poeta fora de sua linha, e como traidor, coisa inexplicable, concluíram». Em documentos posteriores da organização guerrillera, reconheceu-se que o señalamiento de pertencer à CIA tinha sido «uma montagem para eliminar a alguém a quem só podiam acusar de ser um intruso e um aventurero. “Um indisciplinado que era perjudicial e daninho para o processo revolucionário salvadoreño”».[59]

La de Dalton no fue una muerte cualquiera. No fue una más de la colección en la escalada de violencia política que por esos años sacudía a El Salvador. La muerte de Dalton fue un "punto de quiebre" de las divisiones dentro del mismo movimiento guerrillero.[60]

De acordo a um relatório da Missão de observadores das Nações Unidas em El Salvador (Onusal) Dalton teria sido executado no Playón, uma zona de restos vulcânicos do vulcão de San Salvador. Seu cadáver e o de Pancho foram deixados à intemperie onde os animais selvagens os devoraram. Em contraparte, a família do poeta tem aseverado que o crime teve lugar numa casa do bairro Santa Anita de San Salvador e posteriormente abandonaram os corpos naquele lugar. Arias Gómez também deixou o depoimento que ambos foram adormecidos com somníferos e posteriormente assassinados. Até o mês de maio de 1998 a Prefeitura de San Salvador estendeu a partida de morte aos familiares do poeta.[61]

Os envolvidos na decisão de executar ao poeta nada têm revelado sobre as circunstâncias em que se desenvolveram os factos. Para o mês de maio de 2010, os filhos de Dalton, Jorge e Juan José, interpuseram uma denúncia na contramão de duas dos sobrevivientes da dirigencia do ERP daqueles anos, Jorge Meléndez e Joaquín Villalobos, alegando um crime de lesa humanidade, cargo que consideravam não era de exclusivo do Estado como sujeito activo.[62] Mas dois anos depois a demanda foi desestimada por um julgado de primeira instância e ratificado por um tribunal de apelação, porque considerou-se um delito comum e por tanto já prescrito.[63]

Humor daltoniano[editar | editar código-fonte]

Para quem conheceram-lhe, Roque Dalton tinha uma «personalidade de grande magnetismo e um humor corrosivo».[64] Reveladores são os bilhetes que se escreveram a respeito desta particularidade do poeta; por exemplo, para Elena Poniatowska:

Roquito hacía reír hasta a las piedras, como lo escribió Eduardo Galeano. Hacía reír porque rompía los lugares comunes. Nadie menos solemne que Roque Dalton, nadie más capaz de hacer reír hasta las horas negras, más dispuesto a aventarse a pecho abierto contra el peligro, nadie más accidentado.[65]

Por sua vez, Ernesto Cardeal tem deixado esta impressão:

Roque Dalton yo lo recuerdo riendo. Flaco, de un blanco pálido, huesudo, narizón como yo, y siempre riendo. No sé por qué siempre te recuerdo riendo, Roque Dalton. Un revolucionario reidor. No es que los revolucionarios sean especialmente serios ni mucho menos, pero es que él era un revolucionario especialmente reidor. Se reía en primer lugar de él mismo. Se reía de cosas ridículas de El Salvador, y siempre estaba hablando de El Salvador y es que quería muchísimo a su país, Pulgarcito. Se reía de la burguesía salvadoreña naturalmente, y nos hacía reír a todos. Se reía de los jesuitas con los que se había educado y en cuyo colegio había «perdido la fe» (también se reía de esta expresión) para entrar al Partido Comunista y también se reía de cosas de su Partido Comunista (pero de todos modos era su partido).[64]
— Su ética y su estética personales, forjadas en la incandescente realidad de El Salvador, produjeron a un ser humano cuya poesía y vida personal eran una sola cosa. Tenía el gran don del sentido del humor, se burlaba de todo, empezando por sí mismo, y eso lo salvó de la mojigatería que suele acompañar al fervor revolucionario.[66]

Diz-se que o argentino Julio Cortázar aseveraba que «falar com Roque era como viver mais intensamente, como viver por dois».[67] Ademais, deixou este retrato do poeta:

Roque Dalton era un hombre que a los cuarenta años daba la impresión de un chico de diecinueve. Tenía algo de niño, conductas de niño, era travieso, juguetón. Era difícil saber y darse cuenta de la fuerza, la seriedad y la eficacia que se escondían detrás de ese muchacho.[68]

Inevitável que seu humor se transladasse a sua poesia, Mario Benedetti assinalou que a agudeza de Dalton, plasmada em seu poemas, partia de uma «verdade estrita», pelo que se o leitor se ate a seu humor poético, se pode cair em «o risco de dar uma imagem superficial de sua atitude ante a vida». Especificamente, a preocupação de Dalton foi sua pátria, El Salvador, com a que teve uma relação de amor/odeio, até o ponto de ridiculizarla, ainda que no fundo existia um «imborrable traço de amor».[69]

Afirma-se que as contribuições de Dalton «à literatura nacional e latinoamericana são a incorporação do humor à linguagem poética, o sarcasmo na metáfora, a burla no confronto político e ideológico com o sistema».[70] Roque Dalton, com seu humor e o uso de elementos da identidade salvadorenha, enfrentou o poder, inclusive dentro da própria esquerda revolucionária, ainda que essa irreverência o levasse também a um trato injusto de certas figuras como Alberto Masferrer ou Hugo Lindo, como ressalvaram algumas opiniões, entre elas a de David Escobar Galindo.[71]

Não obstante, «por esse humor implacável para assinalar e rir dos terríveis “Papas” ideológicos, foi-lhe difícil seu militancia política, independentemente —ou sobretudo— de que a tradição de rejeição aos intelectuais viesse desde a fundação das organizações revolucionárias que depois dar-lhe-iam morte».

Obra[editar | editar código-fonte]

Imagem tirada em Praga pelo fotógrafo cubano Salvador Corratgé.

Para Luis Melgar Brizuela, o estudo da poesia de Roque Dalton é um «repto maiúsculo [...] pelo amplo e desigual de sua obra».[72] Pese a tudo, e como ciente de sua obra, distingue três grandes períodos: O primeiro Dalton dos anos 1956-1964, onde realça a influência de Pablo Neruda, e os temas que rondam «o indigenismo, o lírico-social, o erótico autobiográfico, o político, a melancolia e a morte...» Nessa etapa, recebeu também influência de Pedro Geoffroy Rivas e César Vallejo, e para Rafael Lara Martínez «o conteúdo ético de sua poesia o justifica em nome de Miguel Ángel Astúrias».[73][74] Os trabalhos representativos são A janela no rosto, O turno do ofendido e Os depoimentos.

O segundo Dalton (1965-1971) é o período de plenitude poética com versos livres mais «desbordados e um maior prosaísmo». Há um predominio de «a ironía, a metonimia e a antítese», e caracteriza-se pelo «humor, a autoburla, a irreverencia rayana em blasfemia, a crítica dura, o erotismo, e o sentido sacrificial que o poeta prevê para si mesmo», bem como o conflito interno entre cristianismo e marxismo. Coincide com sua etapa mais intensa de militante e escritor, com a ruptura com o Partido Comunista Salvadoreño e Casa das Américas. Aqui suas ideias são mais radicais, pois a luta armada é a única opção «para fazer realidade o projecto socialista em Latinoamérica». Obras destes anos são Taberna e outros lugares, O amor cai-me mais mau que a primavera, Um livro levemente odioso e Os fungos. Para Lara Martínez, já com O turno do ofendido, Dalton tinha renegado de seu «passado nerudiano» e se faz parte do «credo poético do peruano César Vallejo».[75]

No terceiro Dalton (1971-1975) existiu maior radicalidad política, uma volta ao «verso livre convencional», de «maior narratividad, e de dialogía e teatralidad média», e uma «preocupação maior pelo testimonialismo, com verdadeiro ênfase na cultura nacional popular», ainda que perde seus «valores estéticos por excesso de ideologia e de pragmatismo político».[76] Desta época são os poemarios: Um livro vermelho para Lenin, As histórias proibidas do pulgarcito e Poemas clandestinos.

Toda essa complexidade demonstra, por tanto, que pese a estar alinhado com o marxismo, até o ponto que Regis Debray afirmou que era «um dos melhores conhecedores da história do marxismo internacional e, em particular, latinoamericano», a obra de Dalton se considera heterodoxa; de facto afirma-se que nunca se apartou do cristianismo.[77] Sua temática, por tanto, abarca «a morte, a figura de Cristo, o indígena, o amor, a bohemia, a metapoética, o riso», e seu «obsesión central» é a busca da transformação de seu país, El Salvador.

Depois da consecução do Prêmio Casa das Américas em 1969, o escritor e poeta uruguaio Mario Benedetti realizou uma esclarecedora entrevista a Roque Dalton que apareceu na revista Marcha, na que deixou plasmada os princípios ideológicos e políticos que guiaram sua obra. Especialmente, destaca-se um fragmento a respeito de seu compromisso político e seu trabalho literário:

Mario Benedetti: Por los fragmentos que conozco de tu libro, y por lo que ahora me cuentas, veo que podría ser considerado como poesía comprometida. Ahora bien, ¿qué sentido le das al compromiso?
Roque Dalton: Me parece que para nosotros latinoamericanos ha llegado el momento de estructurar lo mejor posible el problema del compromiso. En mi caso particular, considero que todo lo que escribo está comprometido con una manera de ver la literatura y la vida a partir de nuestra más importante labor como hombres: la lucha por la liberación de nuestros pueblos. Sin embargo, no debemos dejar que este concepto se convierta en algo abstracto. Yo creo que está ligado con una vía concreta de la revolución, y que esa vía es la lucha armada. A este nivel, entiendo que nuestro compromiso es irreductible, y que todos los otros niveles del compromiso teórico y metodológico de la literatura con el marxismo, con el humanismo, con el futuro, con la dignidad del hombre, etc., deben discutirse y ampliarse, a fin de aclararlos para quienes van a realizar prácticamente ese compromiso en su obra y en su vida; pero en nosotros, escritores latinoamericanos que pretendemos ser revolucionarios, el problema del compromiso de nuestra literatura debe concretarse hacia una determinada forma de lucha.

Nesse encontro, também deixou constancia dos literatos que tinham exercido uma importante influência em sua obra, entre eles destacou a César Vallejo, Henri Michaux, Jacques Prevert, Saint-John Perse, T. S. Eliot, e Ezra Pound, e deu crédito ademais a outros géneros como o conto, o cinema e novela, entre cujos autores mencionou a William Faulkner e Ernest Hemingway.

Desde seu exílio em México, Dalton converteu-se no autor mais conhecido de El Salvador, e era considerado o líder de sua geração: o «mais audaz em termos estéticos e políticos», e por tanto muito polémico.[78] Dalton considerou-se o máximo expoente da poesia social revolucionária em El Salvador, o autor de uma das produções literárias mais influentes na segunda metade do século XX neste mesmo país; e uma figura entre os melhores representantes da poesia em Latinoamérica.[79][80][81][82]

Desde os anos setenta, anos prévios ao estallido da guerra civil salvadoreña, a lenda ao redor da vida de Dalton começou a gestarse, mas ao mesmo tempo sua obra também foi proscrita do país. Uma vez finalizada a Guerra Fria, suas criações viram novamente a luz e não escapou de converter num «produto mais de consumo». No entanto, não têm faltado as investigações e reimpresiones de seus trabalhos, entre os que se destacam a antología Na humidade do segredo de Rafael Lara Martínez de 1994; o primeiro layout biográfico: O ciervo perseguido de Luis Alvarenga, de 2002, e a recopilación da poesia completa em três tomos Não pronuncies meu nome, que foram editados pelo Conselho Nacional para a Cultura e a Arte (Concultura) no 2005.

Livros publicados:

  • Mía junto a los pájaros, plaquette, San Salvador, 1957.
  • La ventana en el rostro, poesia, Ediciones de Andrea, México, 1962. 
  • El turno del ofendido, poesia Casa de las Américas, La Habana, 1962. 
  • El mar. Variaciones, poesia, Ediciones La Tertulia, La Habana, 1962. 
  • El Salvador, monografia, Casa de las Américas, La Habana, 1963. 
  • César Vallejo, Cuadernos de la Casa de las Américas, La Habana, 1963. 
  • Los testimonios, poesía, Ediciones Unión, La Habana, 1964. 
  • Taberna y otros lugares, Casa de las Américas, La Habana, 1969. 
  • Miguel Mármol. Los sucesos de 1932 en El Salvador, testemunho, Editorial Universitaria Centroamericana, Costa Rica, 1972. 
  • Pobrecito poeta que era yo..., novela, Editorial Universitaria Centroamericana, Costa Rica, 1975. 
  • Poemas clandestinos, El Salvador, 1975 (Universidad Autónoma de Puebla, México, 1980). 
  • Las historias prohibidas del Pulgarcito, Siglo XXI, México, 1974. 
  • Un libro levemente odioso, com prólogo de Elena Poniatowska, La Letra Editores, México D.F., 1988. 
  • Um livro vermelho para Lênin, Editorial Nueva Nicaragua, Managua, 1986. 
  • Últimos poemas, Nuestra América, Buenos Aires, 2005.

Legado[editar | editar código-fonte]

Monumento a Roque Dalton na praça da Cultura da Universidad de El Salvador.

A criação literária de Dalton compreende 13 poemarios, uma novela, um depoimento, ao redor de três peças de teatro, contos, reseñas críticas, ensaios literários e políticos, grande parte deles dispersos em revistas. Parte de sua poesia tem sido traduzida ao inglês, francês, checo, russo e italiano. Para Luis Melgar Brizuela sua maior influência abarcou o período desde 1967 até a finalização da guerra civil salvadoreña em 1992, especialmente em sectores literários e intelectuais de esquerda, entre eles os grupos literários Pedra e Século, A Masacuata e Xibalbá; bem como no conteúdo de revistas Abra e Oficina de Letras da Universidade Centroamericana «José Simeón Canas», bem como o #Suplemento literário 3000 de Diário Co Latino; e as revistas Amate, e A Universidade.

Homenagens e reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

  • Exposição itinerante «A palavra do vulcão» do Museu da Palavra e a Imagem.
  • Nomeação do Teatro de Câmara Municipal «Roque Dalton» em San Salvador.
  • Monumento a Roque Dalton em Praça das Culturas da Universidade de El Salvador.
  • «Medalha Roque Dalton» entregada em México por parte da Cooperação com a Cultura e a Ciência em El Salvador.
  • Nomeação de «Poeta Meritísimo de El Salvador» por parte da Assembleia Legislativa salvadoreña em 1997.
  • Nomeação de «Filho Meritísimo de El Salvador» por parte da Assembleia Legislativa salvadoreña em 2003.
  • Nomeação da Pinacoteca Roque Dalton da Universidade de El Salvador em 2004.
  • Declaração do «Dia da poesia» em El Salvador a cada 14 de maio, data de nascimento de Roque Dalton, por meio do Decreto Legislativo não. 374 do 9 de maio de 2013, publicado no Diário Oficial não. 99, Tomo 399, do 31 de maio do mesmo ano.[83]
  • Doctorado honoris causa por parte da Universidade de El Salvador em 2014.
  • Prêmio Latinoamericano de Cinema «Roque Dalton» por parte de Rádio Habana Cuba.

Filmografía[editar | editar código-fonte]

  • ¡Fusilemos la noche!, documentário dirigido por Tina Leisch (2013).

Música[editar | editar código-fonte]

  • Entre os temas musicais com letras de poemas de Roque Dalton encontram-se: Poema de amor (1980 aproximadamente) do conjunto salvadoreño Yolocamba I Ta, da obra Las historias prohibidas del pulgarcito; bem como Tercer poema de amor de Vicente Feliú de 1983, extraído do livro Poemas clandestinos.[84][85]
  • O tema Unicornio (1982), incluído no disco homónimo do cantautor cubano Silvio Rodríguez, foi dedicado a Dalton sobre a base da amizade que ambos sustentaram.[86]

Referências[editar | editar código-fonte]

2

  1. Urtecho, Mario. Pobrecito poeta que era yo. Confidencial, 9 de mayo 2016, Managua, Nicaragua. https://confidencial.com.ni/pobrecito-poeta-que-era-yo/
  2. (Atwood 2011, p. 129)
  3. (Atwood 2011, p. 132)
  4. (Atwood 2011, p. 136)
  5. (Atwood 2011, p. 139)
  6. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 14)
  7. (Alvarenga 2002, p. 30)
  8. David Escobar Galindo. «Roque Hoy» 
  9. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 17)
  10. «Antología de Roque Dalton» (PDF) 
  11. (Alvarenga 2002, p. 33)
  12. (Alvarenga 2002, p. 35-36)
  13. Guajardo, 2013, p. 1
  14. (Lara Martínez 2005, p. 114)
  15. (Alvarenga 2002, p. 38)
  16. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 18)
  17. Roque Dalton Archivo Digital. «Roque Dalton: el más prominente de todos los tiempos» 
  18. (Alvarenga 2002, p. 37)
  19. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 19-20)
  20. (Alvarenga 2002, pp. 40-41)
  21. SEP. «Roque Dalton y la Guatemala feliz» 
  22. Alvarenga, 2002, p. 42
  23. (Alvarenga 2002, p. 44)
  24. (Alvarenga 2002, pp. 45-49)
  25. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 22)
  26. (Alvarenga 2002, p. 50)
  27. (Alvarenga 2002, p. 52)
  28. (Alvarenga 2002, p. 56)
  29. (Alvarenga 2002, p. 68)
  30. (Alvarenga 2002, p. 57-58)
  31. (Alvarenga 2002, p. 60)
  32. (Alvarenga 2002, pp. 62-63)
  33. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 23)
  34. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 24)
  35. a b (Alvarenga 2002, p. 71-74)
  36. (Melgar Brizuela (II) 2006, p. 316)
  37. Factum. «Roque Dalton: bajo el espionaje mexicano» 
  38. Contrapunto. «Dalton y Swenson: "Reclutar, desertar o anular"» 
  39. (Alvarenga 2002, p. 81)
  40. (Alvarenga 2002, p. 84-87)
  41. Alvarenga, 2002, p. 89
  42. (Alvarenga 2002, p. 90)
  43. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 29)
  44. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 93-94)
  45. (Atwood 2011, pp. 144-146)
  46. (Atwood 2011, p. 142)
  47. Geovani Galeas. «Historia de una injusticia» 
  48. (Alvarenga 2002, pp. 92-93)
  49. «Recopilación de artículos sobre Roque Dalton en paginadigital.com.ar» 
  50. Miguel Huezo Mixco. «Cuando Roque Dalton salió de La Habana...» 
  51. Alvarenga, 2002, pp. 97-106
  52. (Lara Martínez 2005, pp. 135-136)
  53. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 32-33)
  54. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 34-35)
  55. (Lara Martínez 2005, p. 141)
  56. Luis Alvarenga. «El intelectual "pensante" versus el intelectual "operativo". El discurso antiintelectual en el "proceso" de Roque Dalton» 
  57. Diario El Mundo. «¿Quién mató a Roque Dalton? Lucha de egos y la política» 
  58. Luis Alvarenga Vásquez. «La "ruptura" de Roque Dalton con Casa de las Américas» 
  59. El Faro. «La "prueba" en el asesinato de Dalton que la justicia salvadoreña se niega a analizar» 
  60. BBC Mundo. «Roque Dalton, el poeta guerrillero del "Unicornio azul" que todavía buscan en El Salvador a cuatro décadas de su asesinato». Consultado em 28 de dezembro de 2016 
  61. Departamento de Ciencias Políticas y Sociales de la UES. «Doctorado Honoris Causa para Roque Dalton García» (PDF) 
  62. La Página. «Demanda contra Villalobos y Meléndez por asesinato de Roque Dalton» 
  63. El Diario de Hoy. «Exoneran a Joaquín Villalobos por muerte Roque Dalton» 
  64. a b «Roque Dalton-Selección de textos» 
  65. Poniatowska, 1988, p. 9
  66. Carátula. «Claribel Alegría habla sobre Roque Dalton». Consultado em 4 de dezembro de 2014 
  67. La Jornada. «Roque Dalton: vivir por dos» 
  68. Diario Co Latino. «Roque Dalton en la memoria de Julio Cortázar». Consultado em 4 de dezembro de 2014. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2014 
  69. Roque Dalton Archivo Digital. «Roque Dalton: el más prominente de todos los tiempos» 
  70. Diario Co Latino. «El humor y la identidad cultural en Roque Dalton» 
  71. (Østergard 1984, p. 49)
  72. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 13)
  73. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 37-38)
  74. (Lara Martínez 2005, p. 117)
  75. (Lara Martínez 2005, p. 127)
  76. (Melgar Brizuela (I) 2005, pp. 101-102)
  77. Camilo Retana. «El Carlos Marx de Roque Dalton». p. 128 
  78. (Melgar Brizuela (I) 2005, p. 90)
  79. (Østergard 1984, p. 45)
  80. Jaime Rivas. «Perpetuando el "mito de la Taberna": Un libro sobre Roque Dalton» (PDF) 
  81. La Jornada. «Roque Dalton la fuerza literaria del compromiso» 
  82. Televisión Educativa y Cultural Iberoamericana. «Para una lectura crítica de Roque Dalton» 
  83. Asamblea Legislativa de El Salvador. «Decreto legislativo no. 374 del 9 de mayo de 2013» 
  84. Perrerac.com. «Yolocamba I ta: El Salvador: Su pueblo, su lucha, su canto. Canciones de combate (1980)» 
  85. «Disco "El tiempo está a favor de los pequeños"» 
  86. Veinte Mundos. «Silvio Rodríguez-Mi Unicornio Azul» 

Outras fontes[editar | editar código-fonte]

  • Alvarenga, Luis (2002)..El ciervo perseguido. San Salvador: [s.n.] ISBN 99923-0-094-9 
  • Atwood, Roger (2011). Gringo iracundo (en inglés). 
  • Guajardo, Ernesto (2013). Por aquí pasó un «imbécil» de 18 años: Roque Dalton en Chile
  • Lara Martínez, Rafael (2005). Estudio introductorio: En las manos de un pequeño país, en Tomo I de No menciones mi nombre, poesía completa. San Salvador: Concultura. ISBN 99923-0-150-3.
  • Melgar Brizuela (I), Luis (2005). Roque Dalton: El espejo que te denuncia con su gran carcajada, prólogo al Tomo I de No menciones mi nombre, poesía completa. San Salvador: Concultura. ISBN 99923-0-150-3. 
  • Melgar Brizuela (II), Luis (2006). El primer Dalton (1961-1964).
  • Østergard, Ole (1984). La poesía social revolucionaria en El Salvador y Nicaragua: Roque Dalton, Ernesto Cardenal. ISBN 99923-0-150-3.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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