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Biodesign[editar | editar código-fonte]

O Biodesign é uma prática que consiste na concepção de um produto de design a partir da natureza, isto é, com base em materiais, formas ou até estratégias de adaptação advindas de algum ser vivo. Entende-se como principal característica dessa prática a utilização de organismos vivos ou resíduos — resultantes desses seres — em produtos ou serviços, que consequentemente, possibilitam trabalhar com a modificação e a criação de novos organismos. E esses organismos servirão como produtores de outras estruturas utilizadas como base para o desenvolvimento de um produto.[1][2] Dessa forma, a técnica coloca a biologia em favor do design e também da arquitetura.

O Biodesign vem ganhando cada vez mais espaço dentre os designers e arquitetos. Há uma conscientização a respeito da necessidade de adoção de técnicas sustentáveis e ecológicas na produção em prol da preservação ambiental e de todos os benefícios alcançados no desempenho dos produtos em si. Sejam eles, na estética formal e nos custos envolvidos desde a confecção até o uso desses artefatos.[3]

Características[editar | editar código-fonte]

O conceito de Biodesign surgiu na década de 1970, através do designer alemão Luigi Colani. Ele acreditava que "a natureza possui formas perfeitas" e diante disso, buscava aplicar em seus projetos soluções observadas, por ele mesmo, no ambiente natural. Como por exemplo, a forma da cabeça e de bicos de pássaros — que os auxiliam no voo — nos designs de carros e aeroplanos, com o objetivo de ampliar a velocidade e desempenho destes. É importante destacar que Colani não foi o primeiro a utilizar o Biodesign em suas criações, já que outros de seus contemporâneos também utilizavam técnicas semelhantes em seus projetos. Entretanto, Colani foi o primeiro a nomear esse ato, estudando-o de modo aprofundado e defendendo-o como a melhor maneira de projetar — reproduzindo a superioridade da natureza.[4]

"Sempre que falamos de biodesign, devemos simplesmente ter em mente o quão incrivelmente superior a teia de uma aranha é em relação a qualquer estrutura de sustentação que o homem tenha criado — e depois derivar dessa percepção de que devemos procurar a superioridade da natureza para as soluções. Queremos realizar uma nova tarefa no estúdio, então é melhor sair primeiro e ver quais respostas milenares já podem existir para o problema".[5]

Um dos principais fatores que diferem o Biodesign das tecnologias verdes é que, necessariamente, utiliza-se de alguma maneira os organismos vivos tanto em sua fase de concepção quanto de produção, o que nem sempre ocorre no desenvolvimento das tecnologias verdes. Ademais, o Biodesign não é obrigatoriamente sustentável, já que o conceito de sustentabilidade refere-se ao "mínimo impacto ambiental e energético".[1] No entanto, a geração de bioprodutos em Biodesign deve, por regra, respeitar os padrões de sustentabilidade, como uma  maneira de se respeitar a matéria prima trabalhada.[6][7] Uma das grandes vantagens do Biodesign, é que, quando desenvolvidos com base na materialidade, os produtos criados ao serem descartados, são reabsorvidos pelo meio ambiente no ciclo de nutrientes da natureza, impactando positivamente os índices de geração de lixo no planeta.[8]

Origens do Biodesign[editar | editar código-fonte]

Antes do surgimento do Biodesign, a relação do ser humano com a natureza já existia e esteve presente em diferentes momentos históricos:

Durante o Renascimento, o vínculo do ser humano com a natureza teve uma abordagem e observação de forma mais precisa. Um período marcado por grandes descobertas científicas e por significativos avanços na humanidade. Leonardo da Vinci, um grande entusiasta da época, empregou muitas de suas análises em projetos de arquitetura e desenvolvimento de produtos.[8]

No final do século XIX surge o Art Nouveau, com manifestações artísticas e projetuais, em que a natureza estava fortemente presente nas composições. Utilizavam-se as formas naturais como inspiração formal, método que foi viabilizado graças ao progressivo desenvolvimento da indústria como um todo, que possibilitou a utilização de novas matérias-primas. Dentre outros, destacaram-se nesse período, tanto no design quanto na arquitetura, as figuras de Gustav Klimt e Antoni Gaudí.[8]

"A replicação de formas da natureza no design de produtos e estruturas acontece há anos e marcou o século XIX, principalmente com o Art Nouveau. Essa abordagem do design regido pela forma faz referência à natureza utilizada como efeito metafórico, simbólico ou decorativo."[9]

Já em 1950, a informatização representou um salto que alterou significativamente as esferas sociais e industriais. Desencadeiam-se inovadores meios de produção e técnicas projetuais, que reduziram custos relacionados à ferramentas e processos de fabricação. Além de fomentar a valorização do trabalho do profissional de designer, devido à demanda por mão-de-obra qualificada nas diferentes etapas de projeto. Uma dessas técnicas desenvolvidas foi a Biomimética, que obteve um aprofundamento em seus estudos em virtude do avanço da informatização.[8][10]

Só com acesso às novas tecnologias podemos aplicar, de maneira mais eficaz, conceitos como a Biônica e a Biomimética.[11]

Atualmente o campo da biologia tem realizado descobertas inéditas em áreas como a biogenética, a microbiologia e principalmente a biotecnologia. Dessa maneira, vemos como esses estudos ganharam força ao longo da história e principalmente desde o século passado, sendo hoje essas relações entre o ser humano, a natureza e a tecnologia as bases que, entrelaçadas, orientam e principiam o Biodesign.[8]

Biodesign, Biomimética e Biônica[editar | editar código-fonte]

Por meio da informatização e a crescente conscientização acerca das questões ligadas à sustentabilidade, que ocorreu a partir da segunda metade do século XX, surgem termos que correlacionam o Design, a natureza e a tecnologia. Biônica, Biodesign e Biomimética são facilmente confundíveis entre si, por suas origens, conceitos, métodos e bases de investigação serem semelhantes.[8][10]

A Biomimética é uma abordagem interdisciplinar que estuda os modelos da natureza e os imitam, inspira-se neles e/ou em seus processos para resolver problemas e realizar projetos.[12] Apesar da sua nomenclatura vir da combinação das palavras gregas bios, que significa vida, e mimesis, que significa imitação, seu propósito vai para além de uma simples reprodução da natureza. Aprende-se com ela através de uma investigação precisa e categórica de seus elementos e introduz seus conceitos na produção de produtos. Apresenta um caráter fundamentalmente ecológico, que busca solucionar problemáticas cotidianas do ser humano de forma sustentável, prezando uma convivência harmônica com o meio ambiente.[13]

A Biônica, por sua vez, assemelha-se quase que fielmente ao Biodesign. Ambos estudam os princípios básicos da natureza para aplicação em soluções tecnológicas, que combinam a biologia com diversas outras áreas. Porém, a Biônica possui como áreas das ciências determinantes para sua investigação, seu desenvolvimento e sua implementação de soluções, a biologia junto com a engenharia. [14]

Apesar das semelhanças nas definições, observa-se que a Biônica e/ou o Biodesign caracterizam-se por se tratar da previsão, manipulação e controle da natureza. Enquanto a Biomimética integra uma maior contribuição para os aspectos da sustentabilidade e na compreensão do mundo natural.[15]

O Biodesign no mundo[editar | editar código-fonte]

Desde a década de 1970, muitas empresas, designers e arquitetos vêm adotando a técnica, de diferentes maneiras, como forma projetual. Alguns dos nomes existentes no campo do Biodesign são:

Luigi Colani[editar | editar código-fonte]

O fundador do conceito de Biodesign, através de formas orgânicas influenciou profissionais das décadas seguintes, projetando modelos aerodinâmicos dentro do automobilismo, da aeronáutica e até aeroespaciais. Atuou em diversas empresas como Canon, Alfa-Romeo, Volkswagen, Japan Airlines, NASA, dentre outras. Muitas de suas obras permaneceram apenas como protótipos de criações como o Vehicle Cx 019, cuja forma foi inspirada por peixes-dragão e o Ekroplano Leda, “navio voador” em forma de cisne com asas abertas.[16]

Alice Potts[editar | editar código-fonte]

Designer britânica com uma percepção ampliada acerca do Design de moda, é desenvolvedora de acessórios adornados com cristais feitos com o suor do corpo humano. Após observar as "linhas brancas" — formadas por minúsculos cristais de sal que o suor deixado nas roupas de academia das pessoas — Alice percebeu que poderia explorar essa matéria-prima, utilizando-a em suas criações.[17]

Usando a biologia, cada país será capaz de materializar os designs com os materiais disponíveis no seu entorno.[18]

Neri Oxman[editar | editar código-fonte]

Arquiteta israelense, trabalha com biocompostos e materiais como a pectina da casca da maçã, corais e a seda do bicho da seda. Estuda suas estruturas e desenvolve uma matéria-prima artificial, biodegradável e não poluente. Essa matéria é colocada em uma impressora 3D, onde são construídas enormes estruturas, que vão desde instalações artísticas até abrigos de grande porte.[2]

Andrea Bandoni[editar | editar código-fonte]

Arquiteta brasileira, designer e pesquisadora em Biodesign. Fundou a startup Cuia Colab, que faz parte do programa Inova Amazônia Pará. Junto com sua equipe, projeta cuias a partir de frutos da Amazônia e também desenvolve biomateriais, como por exemplo, a celulose bacteriana.[19]

Suzanne Lee[editar | editar código-fonte]

A norte-americana, designer de moda e pesquisadora na área, trabalha com cientistas para produzir organismos otimizados para o cultivo de futuros produtos de consumo. Sua principal atividade é criar roupas e acessórios à partir da biocultura, por meio de celulose bacteriana.[20]

Jihee Moon e Hyein Hailey Choi[editar | editar código-fonte]

Com interesse voltado à utilização de "materiais naturais, novos ou negligenciados", as designers sul-coreanas, são desenvolvedoras da Sea Stone (Pedra do Mar, em português). Um material feito de conchas marinhas (descartadas pela indústria alimentícia), com propriedades físicas semelhantes às do plástico.[1][21]

Tomas Libertiny[editar | editar código-fonte]

O designer eslovaco trabalha com artes plásticas e cria peças literalmente feitas por abelhas. O artista gera um molde, onde cultiva abelhas por um determinado período de tempo e estas geram uma estrutura modular (favo de mel), com sua cera dentro do molde. Cada objeto é único, já que variam em cor e cheiro dependendo das flores usadas como fonte de alimentação pelos animais.[22]

Carlos Ozeko[editar | editar código-fonte]

O brasileiro que é arquiteto e consultor em estratégia e business intelligence, afirma que o Biodesign não é uma tendência, e sim um movimento contínuo e crescente de ressignificação de elementos e produtos. Ozeko acredita que o Biodesign é uma técnica acessível, barata e fácil de produzir, e busca sempre aplicá-la, tanto em seus projetos arquitetônicos, quanto em seus designs de produto.[3]

Empresas[editar | editar código-fonte]

Além dos profissionais de design e/ou arquitetura, muitas empresas também aplicam o Biodesign em seus produtos e serviços, como por exemplo:

Osklen[editar | editar código-fonte]

A Osklen é a marca brasileira pioneira no recebimento do prêmio da GCC (Green Carpet Challenge) Brandmark, que certifica a excelência sustentável. Conjuntamente ao Instituto-E, a empresa utiliza a pele do peixe Pirarucu (descartada após consumo do animal) para fabricar diversos produtos como bolsas e acessórios. Além disso, durante o processo de fabricação do biomaterial, várias famílias ribeirinhas são beneficiadas tanto pela pesca, quanto pelos benefícios da geração de emprego e renda.[17]

Reebok[editar | editar código-fonte]

Em 2019 a marca norte-americana lançou o tênis biodegradável Cotton + Corn. O modelo é confeccionado em tecido 100% algodão, sendo o solado produzido a partir do milho e a palmilha contendo óleo de mamona na composição. Além disso, a própria embalagem do produto é inteiramente reciclável.[17]

Shell Works[editar | editar código-fonte]

A equipe de trabalho multidisciplinar da empresa anglo-holandesa de petróleo e gás, Shell, desenvolveu um biomaterial denominado Vivome. Esse biomaterial é feito a partir da extração de um biopolímero chamado quitina, proveniente dos resíduos de frutos do mar, como conchas e cascas de lagostas. O Vivome é utilizado em embalagens e foi projetado para se degradar totalmente em qualquer ambiente natural entre quatro e seis semanas após descartado, ainda fertilizando o solo onde se encontrar.[17][23]

Adidas[editar | editar código-fonte]

A multinacional alemã investe consideravelmente em produtos de Biodesign. Como por exemplo, através da produção de tênis de corrida de alta performance feitos de plásticos, retirados dos oceanos, e de camisetas de material reciclado, como as utilizadas pelos jogadores de futebol, de clubes como o Bayern de Munique, da Alemanha. Além disso, a empresa foi pioneira na confecção do primeiro tênis feito com Biosteel, fibra de alta performance completamente natural e biodegradável.[17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c LEAL, Gabrielle (21 de julho de 2022). «Biodesign: a integração da arte e arquitetura à ciência». Revista Blog do Profissão Biotec. Biotecnologia, Blog do Profissão Biotec. v.9. Consultado em 14 de julho de 2022 
  2. a b FERREIRA, Rosana (21 de abril de 2021). «O biodesign valoriza a relação entre homem e natureza». Revista Casa e Jardim. Consultado em 14 de julho de 2022 
  3. a b «Você sabe o que é o Biodesign? - Revista Síndico». 15 de junho de 2021. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  4. Caradisiac.com. «DESIGNERbyBellu - Luigi Colani, l'apôtre du bio-design». Caradisiac.com (em francês). Consultado em 31 de agosto de 2022 
  5. COLANI, Luigi. «Colani: VISIONS IN DESIGN - made by In Mind GmbH». www.colani.ch. Consultado em 14 de setembro de 2022 
  6. 03/09/2013. «Mestre do biodesign fala à Casa Vogue». Casa Vogue. Consultado em 27 de agosto de 2022 
  7. Myers, William (2012). Bio design : nature, science, creativity. London: [s.n.] OCLC 794706904 
  8. a b c d e f «BIOSTUDIO: SERES VIVOS, TECIDOS E INOVAÇÃO | MIX Sustentável». 26 de setembro de 2017. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  9. MYERS, William (2012). Bio design : nature, science, creativity. London: Thames & Hudson. p. 11. ISBN 9780500516270. OCLC 794706904 
  10. a b SANTOS, Nuno Miguel Teixeira dos Reis (dezembro de 2013). «Integração de biónica em design do produto. Modelo de design generativo e paramétrico em estruturas efêmeras.». Consultado em 1 de setembro de 2022 
  11. PAPANEK, Victor (2007). Arquitectura e Design: Ecologia e ética. [S.l.]: Edições 70. p. 132. ISBN 978-9724414966 
  12. «Design de Produto II». www.um.pro.br. Consultado em 2 de setembro de 2022 
  13. de Aguiar, Rafael; Queiroz, Natália; de Araújo, Rodrigo (2017). Design & Complexidade. são paulo: [s.n.] p. 127 
  14. de Castro, Maria Inês; Ruivo, Martins Secca (2018). Design para indivíduo o indivíduo para o futuro: natureza (PDF). portugal: [s.n.] 
  15. Arruda, Amilton (2018). Métodos e Processos em Biônica e Biomimética: a Revolução Tecnológica pela Natureza. São Paulo: Blucher. pp. 7–34. ISBN 9788580393491 
  16. «Luigi Colani | Revista Cliche». www.revistacliche.com.br. Consultado em 27 de agosto de 2022 
  17. a b c d e MARQUES, Nikolas (13 de outubro de 2021). «Você conhece o Biodesign? Saiba como essa união pode salvar o planeta». Design com Café. Consultado em 27 de agosto de 2022 
  18. POTTS, Alice (30 de Junho de 2021). «Esta designer cria acessórios a partir de suor humano». Elle. Consultado em 7 de setembro de 2022 
  19. «Biodesign + Amazônia: CUIA COLAB». Instagram. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  20. «Suzanne Lee: Biocouture». LAUNCH (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2022 
  21. «Home». Mysite (em inglês). Consultado em 1 de setembro de 2022 
  22. «The Honeycomb Vase 2007 by Studio Libertiny». Dezeen (em inglês). 30 de agosto de 2007. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  23. «Shellworks — Making plastic waste a thing of the past». www.theshellworks.com (em inglês). Consultado em 27 de agosto de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MYERS, William; ANTONELLI, Paola, Bio design: nature, science, creativity. New York: Thames and Hudson, 2018. ISBN 9780500294390
  • PAPANEK, Victor, Arquitectura e Design: Ecologia e ética. Edições 70, 2007. ISBN 978-9724414966

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]