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Vida e obra[editar | editar código-fonte]

Basileia, Suíça (1907-1920))[editar | editar código-fonte]

Frithjof Schuon nasceu na Basileia, na zona de fala alemã da Suíça, no dia 18 de junho de 1907. Era o filho mais novo de Paul Schuon, violinista de origem alemã, e de Margarete Boehler, alsaciana. Em sua casa estava presente não só a música, mas também a literatura e a religião. Os Schuon, ainda que católicos, inscreveram seus filhos no catecismo luterano, denominação predominante na Basileia.[1][2]

Na escola primária, Schuon conheceu o futuro metafísico e especialista em arte Titus Burckhardt, que foi seu amigo toda a vida.[3] Desde os dez anos, a busca de Schuon pela verdade o levou a ler não só a Bíblia, mas também os Upanishads, a Bhagavad-Gītā e o Alcorão, bem como Platão, Emerson, Goethe e Schiller. Schuon diria mais tarde que desde bem jovem quatro coisas sempre o tinham comovido profundamente: "o sagrado, o grande, o belo e a inocência da infância".[4]

França (1920-1940)[editar | editar código-fonte]

Em 1920 seu pai faleceu. Sua mãe decidiu voltar com os filhos pequenos para a sua cidade natal, Mulhouse, na França,[5] onde Schuon, como consequência do Tratado de Versalhes, tornou-se cidadão francês.[6] Um ano depois, aos 14 anos de idade, foi batizado como católico. Em 1923, seu irmão ingressou num monastério trapista e Schuon deixou a escola para manter a família, encontrando trabalho como desenhista têxtil.[7]

Neste período, mergulhou no mundo da Bhagavad-Gītā e do Vedānta; este chamado do Hinduísmo o sustentou durante dez anos, ainda que estivesse totalmente consciente de que ele próprio não poderia se tornar hindu.[7] Em 1924, enquanto ainda vivia em Mulhouse, descobriu as obras do filósofo francês René Guénon, que serviram para confirmar suas intuições intelectuais e apoiar sua já iniciada descoberta dos princípios metafísicos.[8] Schuon diria mais tarde, de Guénon, que este era "o teórico profundo e poderoso de tudo o que [eu] amava".[7]

Em 1930, depois de 18 meses de serviço militar passados em Besançon, Schuon estabeleceu-se em Paris. Ali, retomou sua profissão de desenhista têxtil e começou a estudar árabe na mesquita local.[9]

Ficheiro:Cheikh Al Alawi.jpg
O xeique Ahmad al-Alawi

No final de 1932, completou seu primeiro livro, em alemão, Leitgedanken zur Urbesinnung (Ideias diretivas para a meditação primordial). Seu desejo de abandonar o Ocidente, cujos valores modernos eram tão contrários a sua natureza, junto com seu crescente interesse pelo islã, o levou a ir a Marselha, o grande porto de saída para o Oriente. Ali, conheceu dois personagens-chave, ambos discípulos do xeique Ahmad Al-Alawī, mestre sufi de Mostaganem, Argélia. Schuon viu nestes encontros um sinal de seu destino e embarcou para aquele país.[10] Em Mostaganem, ingressou no islã e passou quatro meses na zāwiya do xeique, o qual lhe deu a iniciação e o nome de `Īsā Nūr al-Dīn ("Jesus, Luz da Religião"). Contudo, sob pressão das autoridades coloniais francesas, Schuon logo se viu obrigado a voltar para a Europa.[11]

Schuon não considerou sua afiliação ao islã como uma conversão, já que não repudiou o cristianismo; em cada religião, ele via a expressão de uma única e mesma verdade, sob diferentes formas. Ele entendia, contudo, que o cristianismo já não oferecia a possibilidade de seguir-se um "caminho do conhecimento" sob a direção de um mestre espiritual, enquanto este caminho continua a existir no sufismo, o esoterismo islâmico.[12][13]

Schuon relata que uma noite de julho de 1934, enquanto estava mergulhado na leitura da Bhagavad-Gītā, vivenciou uma experiência espiritual particular: o Nome divino Allāh tomou posse de seu ser, e durante três dias ele não pôde fazer outra coisa senão invocá-lo sem cessar. Pouco depois, foi informado de que seu xeique tinha falecido naquela mesma noite.[14]

Em 1935, Schuon voltou à zāwiya de Mostaganem, onde o xeique Adda bin Túnis, sucessor do xeique Al-Alawī, lhe conferiu a função de muqaddam, autorizando-o assim a dar a iniciação a aspirantes à confraria Alawī. Ao retornar à Europa, Schuon fundou uma zāwiya na Basileia, outra em Lausanne e uma terceira em Amiens. Retomou também sua profissão de desenhista têxtil, na Alsácia, durante os quatro anos seguintes.[15]

Uma noite no final de 1936, depois de uma experiência espiritual, Schuon sentiu, sem a menor dúvida, que tinha sido investido com a função de mestre espiritual, de xeique. Isto, segundo relatou mais tarde, foi confirmado por sonhos visionários que vários de seus discípulos disseram ter tido naquela mesma noite.[nota 1] As diferenças de perspectiva entre Schuon e a zāwiya de Mostaganem o levam a assumir gradualmente sua independência,[nota 2] apoiado por Guénon.[16]

Em 1938, Schuon viajou para o Egito, onde conheceu pessoalmente Guénon, com quem tinha mantido correspondência por sete anos.[17] Um ano mais tarde, embarcou para a Índia com dois discípulos, fazendo uma longa escala no Cairo, onde voltou a ver Guénon. Pouco de pois de chegar a Bombaim, irrompeu a Segunda Guerra Mundial, o que o obrigou a retornar à Europa. Servindo no exército francês, foi feito prisioneiro pelos nazistas, que planejavam incorporar ao exército alemão todos os soldados de origem alsaciana, para lutarem no fronte russo. Schuon escapou para a Suíça, que seria então seu lar por quarenta anos.[8][18]

Lausanne, Suíça (1941-1980)[editar | editar código-fonte]

Instalou-se em Lausanne, onde continuou a colaborar para a revista guénoniana Études Traditionnelles, como tinha feito desde 1933. Em 1947, após ler Black Elk Speaks (Alce Negro Fala), de John G. Neihardt, Schuon, que tinha sempre tido um profundo interesse pelos povos nativos dos Estados Unidos, convenceu-se de que Alce Negro sabia muito mais sobre a tradição Sioux do que estava contido no livro. Pediu então a seus amigos norte-americanos que procurassem o velho chefe. Em consequência, o etnólogo Joseph Epes Brown recolheu de Alce Negro a descrição dos sete ritos Sioux que compõe o livro The Sacred Pipe (O cachimbo sagrado).[19]

Em 1948, Schuon publicou seu primeiro livro em francês, De l’unité transcendante des religions (Da unidade transcendente das religiões). Todas as suas obras posteriores, mais de vinte, foram escritas em francês.

Em 1949, Schuon se casou com Catherine Feer, suíça-alemã de educação francesa que, além de estar profundamente interessada na religião e na metafísica, também era uma talentosa pintora.[20] Pouco depois de seu matrimônio, Schuon recebeu a cidadania suíça.[6] Sem deixar de escrever, Schuon viajou muito, acompanhado da esposa. Entre 1950 e 1975, o casal visitou o Marrocos cerca de dez vezes, e também foi a muitos países europeus, entre eles a Grécia e a Turquia; perto de Éfeso, visitaram aquela que foi, supostamente, a última casa da Virgem Maria.[21]

Thomas Yellowtail

No inverno de 1953, Schuon e sua esposa viajaram a Paris para assistir às representações organizadas por um grupo de dançarinos Crow. Formaram laços de amizade com Thomas Yellowtail, futuro medicine man e líder da Dança do Sol. Cinco anos mais tarde, os Schuon visitaram a Feira Mundial de Bruxelas, onde 60 índios Sioux faziam apresentações sobre o tema "Velho Oeste". Também nesta ocasião, novas amizades se formaram. Foi assim que em 1959 e, depois, em 1963, a convite de seus amigos índios, os Schuon viajaram para o Oeste americano, onde visitaram várias tribos da pradarias e tiveram a oportunidade de presenciar muitos aspectos de suas tradições sagradas. Durante a primeira dessas visitas, Schuon e sua esposa foram adotados pela família do chefe Sioux James Red Cloud (James Nuvem Vermelha), neto do chefe Nuvem Vermelha, e, algumas semanas depois, num festival índio em Sheridan, no Wyoming, foram recebidos oficialmente na tribo Sioux.[22][23] Os escritos de Schuon sobre os ritos centrais da religião dos índios norte-americanos e suas pinturas sobre temas de sua vida dão fé de sua particular afinidade com esse universo espiritual.[24]

A década de 1970 viu a publicação de três importantes obras compostas por artigos previamente publicados na revista francesa Études Traditionnelles:

  • Logique et transcendance (Lógica e transcendência, inédita em português), na qual o autor examina a filosofia moderna, as provas de Deus, a Substância universal, o emanacionismo e o criacionismo, o intelecto e o sentimento, as qualificações para a via espiritual, o amor de Deus, a realização espiritual, o mestre espiritual, a beleza, a inteligência e a certeza;
  • Forma e Substância nas Religiões: Verdade e Presença divinas, as religiões, Ātmā e Māyā, os graus de realidade, esclarecimentos sobre o Alcorão e o Profeta, a Virgem Maria, as virtudes e as mulheres no Budismo, as duas naturezas de Cristo, o mal e a Vontade divina, textos sagrados, a dialética espiritual, o paraíso e o inferno;
  • O Esoterismo como Princípio e como Caminho: exoterismo e esoterismo, o véu universal, as dimensões hipostáticas do Princípio, a Árvore da Vida, a natureza humana, as virtudes, o sentimento, a sinceridade, a sexualidade, as provas, a realização espiritual, a beleza, a arte, a importância das formas, as relíquias, as aparições celestes, a Dança do Sol e a interioridade espiritual no sufismo.[25]

Outro aspecto relevante da vida de Schuon foi seu grande respeito e devoção pela Virgem Maria, o qual se manifesta em seus ensinamentos e suas pinturas, que estão imbuídos de uma presença mariana particular. Essa reverência pela Virgem foi estudada em detalhe pelo professor James Cutsinger, dos EUA, que relata dois episódios, em 1965, em que Schuon vivenciou uma graça mariana especial.[26] Daí veio o nome Maryammiyya ("Mariana", em árabe) da tarīqa sufi que ele fundou como ramo da ordem Shadhiliyyah-Darqawiyyah-Alawiyyah.[27]

Estados Unidos (1980-1998)[editar | editar código-fonte]

Em 1980, Schuon e sua esposa emigraram para os Estados Unidos, instalando-se em Bloomington, no estado de Indiana, onde já existia uma comunidade de seus discípulos.[28] Os primeiros anos em Bloomington viram a publicação de uma série de obras importantes como Ter um Centro, Raízes da Condição Humana e A Transfiguração do Homem.[29]

Seus numerosos livros, juntamente com seus artigos e cartas, levaram Schuon a se tornar, segundo Patrick Laude, "o principal porta-voz da corrente intelectual às vezes chamada nos países de língua inglesa de Perennialism", ou a "escola tradicionalista".[30] Por isso, durante seus anos em Lausanne e Bloomington, ele recebeu regularmente visitas de "praticantes e representantes de diversas religiões".[31]

Thomas Yellowtail, que viria a morrer em 1993, foi até seus últimos dias amigo íntimo de Schuon, tendo adotado-o na tribo Crow em 1984 e visitado-o em Bloomington todos os anos.[23] Durante essas visitas, Yellowtail compartilhava com os Schuon e alguns de seus seguidores cantos e danças de seu povo em reuniões que foram chamadas de "Dias índios" e nas quais se celebrava o espírito dos índios das pradarias.[32] Estas reuniões não faziam parte do método espiritual, centrado na oração islâmica e no dhikr.[33]

Em 1991, um dos apoiadores de Schuon o acusou de má conduta durante algumas reuniões coletivas. Foi iniciada uma investigação preliminar, mas o procurador-chefe concluiu que "não havia o menor indício" para acusá-lo e apontou o caráter extremamente duvidoso do queixoso, que já havia sido condenado anteriormente por prestar falsas declarações num assunto similar. [34][35]

Até o final de sua vida, Schuon continuou recebendo visitantes e mantendo correspondência com discípulos, estudiosos e leitores. De 1995 a 1997, escreveu mais de três mil poemas nos quais se entrelaçam doutrina e conselho espiritual. Depois de uma primeira séria de composições escritas em árabe e em inglês, estes poemas são redigidos em alemão, como o foram os poemas de sua juventude. Schuon faleceu em 5 de maio de 1998.[36]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Este também foi o caso da investidura de xeique al-Alawī – o mestre de Schuon – pois o xeique al-Būzīdī não havia designado um sucessor. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, pp. 22–23 + Martin Lings, A Sufi Saint of the Twentieth Century, George Allen and Unwin, 1971, p. 63.
  2. Como fez seu próprio xeique, Ahmad al-Alawī, em relação à tariqa Darqāwīyyah. Martin Lings, A Sufi Saint of the Twentieth Century, George Allen and Unwin, 1971, p 84.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 1–2
  2. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, pp. 5–7
  3. Jean-Baptiste Aymard, "Connaissance et voie d'intériorité: approche biographique", revista Connaissance des religions, numéro hors-série Frithjof Schuon, 1999, p. 5
  4. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 3, 6
  5. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 9
  6. a b Pierre-Marie Sigaud, Dossiers H : René Guénon, L’Âge d’Homme, 1984, p. 321 [1]
  7. a b c Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 10
  8. a b Barbara Perry, "Introduction" in Frithjof Schuon, Art from the Sacred to the Profane, World Wisdom, 2007, p. xiv
  9. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, p. 26
  10. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, pp. 16–17
  11. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 32, 34
  12. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, p. 40
  13. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 61
  14. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 36–37
  15. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, pp. 21–22
  16. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, pp. 23–24
  17. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, p. 42
  18. Jennifer Casey (ed.), DVD Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2012, 43'10"
  19. Harry Oldmeadow, Black Elk, Lakota Visionary. The Oglala Holy Man and Sioux tradition, World Wisdom, 2018, p. 116
  20. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 35
  21. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 74–75
  22. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 85, 89
  23. a b Barbara Perry, "Introduction" in Frithjof Schuon, Art from the Sacred to the Profane, World Wisdom, 2007, p. xv
  24. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 39
  25. Seyyed Hossein Nasr, "Introduction" in The Essential Frithjof Schuon, World Wisdom, 2005, pp. 60–61
  26. James Cutsinger, "Colorless Light and Pure Air: The Virgin in the Thought of Frithjof Schuon" revista Sophia, Vol. 6, N° 2, 2000, p. 115
  27. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 99, 83
  28. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 47
  29. Harry Oldmeadow, Frithjof Schuon and the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, p. 16
  30. Patrick Laude, Keys to the Beyond, Frithjof Schuon's Cross-Traditional Language of Transcendence, SUNY, 2020, pp. 7, 97
  31. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 78, 119
  32. Renaud Fabbri, Frithjof Schuon: The Shining Realm of the Pure Intellect, MA diss., Miami University, 2007, p. 30
  33. Jean-Baptiste Aymard, Frithjof Schuon: Life and Teachings, SUNY, 2002, p. 62 + "Approche biographique", revista Connaissance des Religions, numéro hors série Frithjof Schuon, 1999, p. 61
  34. The Herald Times, Bloomington, Indiana, 21 de noviembre de 1991 [2]
  35. Renaud Fabbri, Frithjof Schuon: The Shining Realm of the Pure Intellect, MA diss., Miami University, 2007, p. 47
  36. Michael Fitzgerald, Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy, World Wisdom, 2010, pp. 131–132, 136