História ambiental: diferenças entre revisões

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==Bibliografia==
==Bibliografia==
=== Artigos ===
* {{cite book |last=Grove |first=Richard|year=1994 | title=Green Imperialism: Colonial Expansion, Tropical Island Edens and the Origins of Environmentalism, 1600–1860 |location=Cambridge |publisher=[[Cambridge University Press]] |isbn=0-521-56513-8}}
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* {{Citar periódico |url=https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/article/view/402/357 |titulo=Considerações sobre a ética-política na História (Ambiental): escalas e o presentismo da devastação |data=2019-11-08 |acessodata=2022-03-31 |jornal=HALAC - Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña |ultimo=Arruda |primeiro=Gilmar |ultimo2=Colacios |primeiro2=Roger |volume=9 |número=2|ref=harv}}
* {{Citar periódico |url=https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/article/view/187/182 |titulo=História ambiental e a paisagem |data=2012-09-30 |acessodata=2022-06-23 |jornal=Revista HALAC (Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña |número=1 |volume=2| ultimo=Corrêa |primeiro=Dora Shellard |paginas=47–69 |lingua=pt |ref=harv}}
* {{Cite journal| doi = 10.32991/2237-2717.2019v9i2.p16-44| volume = 9| issue = 2| pages = 16–44| last = Horta Duarte| first = Regina| title = História dos animais no Brasil: tradições culturais, historiografia e transformação| journal = Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha| accessdate = 2020-01-29| date = 2019-12-13| url = https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/article/view/401|ref=harv}}
* {{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/j/ea/a/Q4JBvrMMzw6gBvWhsshnKXN/?lang=pt |titulo=As bases teóricas da história ambiental |data=2010 |acessodata=2022-03-04 |jornal=Estudos Avançados |ultimo=Pádua |primeiro=José Augusto |paginas=81–101 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40142010000100009 |issn=0103-4014|ref=harv}}.
* {{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/j/hcsm/a/4ZNMfLkYp3mp7gwK3GnK4dg/?lang=pt |titulo=A construção de um país tropical: uma apresentação da historiografia ambiental sobre o Brasil |data=2020-12-18 |acessodata=2022-03-18 |jornal=História, Ciências, Saúde-Manguinhos |ultimo=Pádua |primeiro=José Augusto |ultimo2=Carvalho |primeiro2=Alessandra Izabel de |paginas=1311–1340 |lingua=pt |doi=10.1590/s0104-59702020000500015 |issn=0104-5970|ref=harv}}


*{{citar periódico |url=http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1039.htm |titulo=A Dimensão Urbana Da Natureza: Considerações Sobre A História Ambiental |data=2013-08-30 |acessodata=2022-03-31 |jornal=Biblio 3W - Revista Bibliográfica De Geografía Y Ciencias Sociales |publicado=Universidad de Barcelona |ultimo=Simonini |primeiro=Yuri |ultimo2=Ferreira |primeiro2=Angela Lúcia |volume=XVIII |número=1039|ref=harv}}
* {{cite book |editor-last=Worster |editor-first=Donald |year=1988 |author-link=Donald Worster |title=The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History |location=Cambridge |publisher=[[Cambridge University Press]] |isbn=0-521-34846-3 |url=https://archive.org/details/endsofearthpersp0000unse}}
* {{Citar periódico |url=https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2324 |titulo=Para fazer história ambiental |data=1991-12-01 |acessodata=2022-03-18 |jornal=Revista Estudos Históricos |número=8 |ultimo=Worster |primeiro=Donald |paginas=198–215 |lingua=pt |issn=2178-1494|ref=harv}}
* {{cite book |editor-last1=MacEachern |editor-first1=Alan |editor-last2=Turkel |editor-first2=William J. |year=2009 |title=Method & Meaning in Canadian Environmental History |location=Toronto |publisher=Nelson Education |isbn=978-0-17-644116-6}}
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=== Livros e capítulos de livros ===
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* {{Citar livro|título=O gosto do mundo: exercícios de paisagem|ultimo=Besse|primeiro=Jean-Marc|data=2014|editora=EdUERJ|local=Rio de Janeiro|isbn=978-85-7511-339-4|ref=harv}}

* {{cite book|last=Grove|first=Richard|year=1994|title=Green Imperialism: Colonial Expansion, Tropical Island Edens and the Origins of Environmentalism, 1600–1860|location=Cambridge|publisher=[[Cambridge University Press]]|isbn=0-521-56513-8|ref=harv}}

* {{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/847985664|título=Environmental Problems of the Greeks and Romans: Ecology in the Ancient Mediterranean|ultimo=Hughes|primeiro=J. Donald|data=2014|edicao=2|local=Baltimore|oclc=847985664|ref=harv}}

* {{Cite book|edition=2|publisher=Polity|isbn=978-0745688428|last=Hughes|first=J. Donald|title=What is environmental history?|location=Cambridge|date=2016|ref=harv}}

* {{Citar livro|url=http://noosfero.ucsal.br/articles/0010/5206/ianni-octavio-teorias-da-globalizac-o.pdf|título=Teorias da globalização|ultimo=Ianni|primeiro=Octavio|data=2001|editora=Civilização Brasileira|local=Rio de Janeiro|isbn=85-200-0397-4|ref=harv}}

* {{cite book|editor-last1=MacEachern|editor-first1=Alan|editor-last2=Turkel|editor-first2=William J.|year=2009|title=Method & Meaning in Canadian Environmental History|location=Toronto|publisher=Nelson Education|isbn=978-0-17-644116-6|ref=harv}}

* {{Cite book|edition=1|publisher=Oxford University Press|isbn=9780198064480|editors=McNeill, John Robert, José Augusto Pádua, and Mahesh Rangarajan|title=Environmental history: as if nature existed|location=New Delhi|series=Ecological economics and human well-being|date=2010|ref=harv}}

* {{cite book|last=Melosi|first=Martin V|year=2000|title=The Sanitary City: Urban Infrastructure in America from Colonial Times to the Present. Creating the North American Landscape|location=Baltimore|publisher=[[Johns Hopkins University Press]]|isbn=9780801861529|ref=harv}}

* {{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/51534931|título=Um sopro de destruição : pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888|ultimo=Pádua|primeiro=José Augusto|data=2002|editora=Jorge Zahar Editor|local=Rio de Janeiro|oclc=51534931|ref=harv}}

* {{Citar livro|url=https://www.degruyter.com/document/doi/10.1525/9780520943483-014/html|título=The Environment and World History|ultimo=Sedrez|primeiro=Lise|data=2009|editora=University of California Press|editor-sobrenome=Burke|editor-nome=Edmund|páginas=255-275|lingua=en|capitulo=10. Latin American Environmental History: A Shifting Old/New Field|isbn=978-0-520-94348-3|local=Berkeley|ref=harv|editor-sobrenome2=Pomeranz|editor-nome2=Kenneth}}

* {{Citar livro|url=https://www.academia.edu/5125128/O_corpo_na_Hist%C3%B3ria_Ambiental_de_corpos_d_%C3%A1gua_a_corpos_t%C3%B3xicos|título=Corpo: Sujeito e Objeto|ultimo=Sedrez|primeiro=Lise|editora=Editora Ponteio|ano=2012|editor-sobrenome=Martins|editor-nome=William|páginas=265-281|lingua=|capitulo=O corpo na História Ambiental: de corpos d‘água a corpos tóxicos|isbn=|local=Rio de Janeiro|ref=harv|editor-sobrenome2=Mega Mega|editor-nome2=de Andrade|editor-sobrenome3=Sedrez|editor-nome3=Lise}}

* {{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/51534931|título=Japan: an environmental history|ultimo=Totman|primeiro=Conrad|editora=[[Bloomsbury Publishing]]|ano=2014|local=Londres|isbn=1848851162|ref=harv}}

* {{cite book|editor-last=Worster|editor-first=Donald|year=1988|author-link=Donald Worster|title=The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History|location=Cambridge|publisher=[[Cambridge University Press]]|isbn=0-521-34846-3|url=https://archive.org/details/endsofearthpersp0000unse|ref=harv}}

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== Ligações externas ==
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Revisão das 15h04min de 14 de setembro de 2022

A História Ambiental é o estudo do impacto humano no meio ambiente ao longo do tempo, enfatizando o papel ativo que a natureza exerce em influenciar as questões humanas e vice-versa.

A história ambiental emergiu inicialmente do movimento ecologista nos Estados Unidos durante a década de 1960 e 1970, e muito do seu impeto ainda tem como fonte a preocupação contemporâneo com os problemas ambientais.[1] O campo foi fundado sobre questões conservacionistas, mas ampliou seu escopo para incluir elementos mais gerais de história social e científica and abordar questões como as cidades, população e sustentabilidade. Como toda história acontece no mundo natural, a história ambiental tende à focar em escalas de tempo particulares, regiões geográficas, e temas chave. É também um assunto fortemente multidisciplinar que absorve influências tanto das humanidades como das ciências naturais.

O assunto de interesse da história natural pode ser dividido em três componentes principais.[2] O primeiro, a própria natureza e suas mudanças ao longo do tempo, o que inclui o impacto físico dos humanos na terra. A segunda categoria, como os humanos usam a natureza, inclui as consequências ambientais de uma população crescente, tecnologias mais efetivas e padrões em mudança de produção e consumo.[3]

Historiografia

Apesar da preocupação como algo correlato aos problemas ambientais serem presentes no pensamento ocidental desde o século XVIII,[4] o surgimento da História ambiental como entendemos hoje se deu apenas no século XX.

Mas é nos anos 1980 e 90, que o campo ganha status cientifico e institucional, com a criação de cursos de pós-graduação, de periódicos (Environmental History) e de uma sociedade, a American Society for Environmental History, principalmente nos Estados Unidos. (Stewart, 1998). Na Europa, em 1999, é fundada a European Society for yEnvironmental Histor e a revista Environmental and History. Essas eventos nos mostram que o esforço por parte dos historiadores de estabelecer esta especialidade, procurando institucionalizar as discussões teóricas e metodológicas da nova abordagem.

Os precursores dessa nova História são encontrados entre os autores da chamada História das Civilizações, onde se destacam autores como Arthur Toynbee ( Mankind and Mother Earth: A Narrative History of the World) e Gordon Childe (Man Makes Himself). Esses autores analisaram como sociedades tiveram sua existência vinculada ao uso dos recursos naturais (Drummond, 1991).

Na Europa, Marc Bloch e Lucien Febvre lançaram a "Revue des Annales" que deu origem à chamada "Nova História". Esta nova corrente historiográfica propunha a construção de uma história recorrendo a tudo o que estivesse relacionado ao homem, incluindo a natureza. Em seu estudo sobre a vida rural na França, Bloch, assim como Febvre, deu uma atenção especial ao meio-ambiente (Freire, 2004).

Mas foi Fernand Braudel e a sua concepção de que o ambiente molda a vida humana, quem mais contribuiu e continua influenciando os historiadores dessa nova modalidade. Na sua obra sobre o mundo Mediterrânico ele estuda a história "do homem em relação ao seu meio", ou como o próprio Braudel chamava, uma "geo-história" (Dosse, 1992:133-143). Em sua visão, a geo-história é a história que o meio impõe aos homens por suas constantes ou leves variações. Essas variações não são percebidas ou acabam sendo negligenciadas na "curta medida do homem". (Dosse, 1992; Aguirre Rojas, 2000, Burke 1997, Drummond, 1991, Worster, 1991).

A geo-história se preocupa em estudar os vínculos homem-natureza, pensada na forma de uma ação e reação ao longo do tempo. Braudel divide os processos históricos segundo suas diferentes velocidades, cabendo à história lenta, quase imóvel, as relações do homem e o seu meio, sendo a base onde as outras duas histórias, a social e a individual são desenvolvidas. Assim Essa nova história "rejeita a premissa de que a experiência humana se desenvolveu sem restrições naturais, de que as consequências ecológicas de seus feitos passados podem ser ignoradas" e tem como objetivo "entender como os seres humanos foram afetados pelo ambiente natural e inversamente como eles afetaram esse ambiente e com que resultados" (Worster, 1991:01).

Bases teóricas

Mundo natural e mundo humano

A História ambiental entende a humanidade como parte de uma relação com o meio ambiente, dependendo diretamente de um complexo sistema de inter-relações entre processos físicos, químicos e biológicos.[5] Essa visão contrasta com o que geralmente entendemos pela visão moderna de homem e natureza, sendo o primeiro o sujeito que observa o segundo, que é o objeto do conhecimento. A Natureza, dessa forma é entendida como um recurso, um meio para se atingir um fim. O homem, o sujeito, é colocado, ao mesmo tempo em oposição e como dominador do objeto, no caso o mundo natural. É o que chama-se de antropocentrismo [6]. A ruptura entre homem e Natureza acelera-se ao mesmo tempo que inicia a "mecanização do planeta" [7]. Esse fenômeno de caracterizar o que é humano em contrapartida do que é natural, também pode ser verificado em outros conceitos como arte versus natureza, técnica versus natureza, sociedade versus natureza.[8]

Para alguns autores, como Terry Eagleton, a relação entre o mundo humano e o mundo natural é mais complexa do que apenas a oposição conceitual. Para ele, a própria ideia de cultura existe a partir da ideia de natureza. Na origem da palavra cultura, ela está em concordância com a ideia de lavoura e cultivo, sendo então derivada do vínculo entre os homens e a produção agrícola sobre a natureza.[9] Assim, a cultura, a produção humana, refere-se diretamente ao natural, é a natureza que permite a criação da cultura, que também pode ser instrumento para alterá-la.[10]

Contudo, é ainda no século final do século XIX que as Ciências Naturais começam a questionar o postulado de que não era necessário mais que alguns poucos milênios para investigar e conceitualizar as sociedade humanas, normalmente associada com a escrita. As ciências naturais se propunham a investigar processos onde o "tempo cultural" não era mais suficiente. Assim as ciências Naturais lançam mão do "tempo geológico", que jogava luz sobre o papel do ambiente na história da evolução humana, e que empurrava a história da humanidade para muitos milênios antes da escrita (Drummond, 1991:3).

No caso específico da História a adoção desse paradigma também repousa na própria definição do campo de atuação: o estudo da trajetória humana e da formação e transformações das civilizações através do tempo (Ribeiro 2005:15). O que implica uma visão de superioridade dos seres humanos em relação à natureza. Consequentemente, o período em que supostamente estivemos mais subordinados à Natureza torna-se parte da Pré-História, objeto de estudo da arqueologia. Contudo, os problemas ambientais, a emergência dos movimentos ecológicos e a percepção da amplitude da ação humana no ambiente, levaram as ciências humanas, a partir segunda metade do século XX, a uma mudança de postura, principalmente no que diz respeito às relações entre o seu objeto, os humanos, e o ambiente natural. No rastro destas tendências, as ciências humanas iniciam várias frentes de aproximação com as ciências naturais. Como por exemplo, o aparecimento a partir da década de trinta, da Ecologia Cultural, tendo à frente Julian Steward e da Ecologia Humana da Escola de Chicago.

É nesse contexto que a História Ambiental começa a se desenvolver.

A História Ambiental como Campo de estudo

Vários autores (Stewart, 1998, Worster, 1991, Drummond, 1991, 1997) concordam em afirmar que a História Ambiental tem sido feita, de modo geral, em três categorias de análises: reconstrução de ambientes naturais do passado, estudo dos modos humanos de produção e seu impacto sobre o ambiente; e a análise da história das ideias, das percepções e dos valores sobre o mundo natural. Esses níveis podem aparecer integrados, como no estudo sobre a mata Atlântica de Warren Dean (1996) ou de forma separadas, como no estudo das ideias conservacionistas de Pádua (2002) em "Um sopro de destruição".[11] Embora possa haver maior ênfase neste ou naquele plano, há a preocupação entre a maior parte dos estudos de evitar uma "racionalização das necessidades do estômago" ou um extremado ideacionismo, evitando a dicotomia "Barriga" e "Pensée".

A necessidade da integração de diferentes níveis de análises fez com que uma das principais características da História Ambiental seja o diálogo com outras disciplinas como a geologia, biologia, geografia, antropologia e, principalmente, a ecologia. Worster (1991:06) qualifica esse diálogo da seguinte maneira:

No seu conjunto as ciências naturais são instrumentos indispensáveis para o historiador ambiental, que precisa sempre começar com a reconstrução de paisagens do passado, verificando como eram e como funcionavam antes que as sociedades humanas as penetrassem e as modificassem. Trata-se de colocar a natureza na História (Cronom, 1983), ou ir mais além, "colocar a história humana no contexto da natureza não-humana" (Soffiati, s/d).

Perspectivas e abordagens

História ambiental urbana

A poluição atmosférica na Cidade do México, a mais populosa das Américas, é resultado de processos e conflitos históricos, em particular do século XX, e de suas características geofísicas.

A história ambiental urbana surge como um subcampo da história ambiental na década de 1990. Inicialmente, a história ambiental urbana se aproximava muito da história da tecnologia, uma vez que a tecnologia era considerada como a força ativa responsável por transformações materiais.[12] Assim, a história ambiental urbana tratava de mudanças técnicas em sistemas de saneamento, em construção, ou em transporte, por exemplo. Textos pioneiros nesta perspectiva incluem o livro de Martin Melosi [13], sobre a construção dos sistemas de saneamento dos EUA, ou Gerald Koeppel [14], sobre o abastecimento de água da cidade de Nova York.

Esta perspectiva trouxe novas possibilidades de estudo para a História Ambiental, já que até então esta se concentrava em áreas florestais ou agrárias, como o clássico livro de Warren Dean, sobre a história da Mata Atlântica. [15] ou o livro de Fernand Braudel [16], no qual o ambiente físico, como montanhas e planícias, tem um papel importante. Um dos pioneiros da história ambiental, Donald Worster, por exemplo, excluia como tema pertinente para a história ambiental "o ambiente construído ou fabricado, aquele conjunto de coisas feitas pelos homens e que podem ser tão ubíquas a ponto de for­marem em torno deles uma espécie de 'segun­da natureza' " em um texto introdutório publicado no Brasil em 1991 [17]. A história ambiental urbana rejeita esta exclusão, e incorpora como tema de estudo também esta natureza transformada do ambiente construído ou fabricado.

Posteriormente, o campo de estudos foi melhor delineado pela incorporação das sociedades na composição orgânica das cidades,[12] como por exemplo nos estudos sobre a política de arborização e criação de jardins em Paris[18], ou as disputas políticas sobre o destino do lixo na cidade de Bogotá [19]. Estas são matérias de história social urbana, mas também têm grandes consequências para as relações entre cidades e seu meio ambiente. Estudos sobre cidades antigas e medievais no mundo ocidental e sua relação com o meio ambiente aparecem nesta perspectiva, com na obra de Donald Hughes sobre a história ambiental do mundo antigo, no qual o funcionamente das cidades de Roma e Atenas tem grande relevância.[20] Da mesma forma, estudos de amplo espectro sobre a história ambiental de sociedades não ocidentais incluem capítulos sobre a influência das cidades na formação dessas sociedades, como os livros sobre história ambiental da China [21] ou do Japão [22].

Na era moderna, os processos de urbanização e industrialização são historicamente associados à modificação de ecossistemas e maiores demandas de recursos naturais, em mineração, extrativismo, conversão de áreas florestais e grandes plantações, etc. O adensamento e congestionamente humanos nas áreas urbanas, agora organizadas de acordo com as novas relações de trabalho, produzem também novas relações entre sociedade e natureza. A expansão urbana em novos territórios, assim como a modificação do ar, solo, água, ecossistemas nas áras já ocupadas, são emblemáticas destes processos e da contínua pressão sobre recursos naturais. Estes são temas frequentes em história ambiental urbana, como lembram Simonini e Ferreira.[23]

"Metabolismo social" e "colonização da natureza", por exemplo, são dois conceitos utilizados por estudiosos da história ambiental urbana. A concepção de metabolismo social inclui elementos da biosfera, geosfera e sociedade nas narrativas históricas. Já a concepção de colonização da natureza propõe que existe um processo de instrumentalização da natureza construído historicamente em favor dos interesses humanos.[12]

Outras vertentes de pesquisa dentro de história ambiental urbana analisam o impacto das cidades sobre o meio ambiente e vice-versa - como na poluição ou transformação de corpos d'água; as relações de responsabilidade social por trás desses impactos; e o papel do planejamento do espaço urbano e gestão territorial na vida das sociedades.[24]

Bibliografia

  • AGUIRRE ROJAS, C. A. Os Annales e a historiografia francesa: tradições críticas de Marc Bloch a Michel Foucault. Maringá: Eduem, 2000.
  • BRAUDEL, Fernand (2002): Geohistória. IN: Entre passado e futuro. Nº 1. São Paulo: Maio.
  • BURKE, P. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da Unesp. 1997.
  • CRONON, W. Changes in the land: indians, colonists and ecology of New England. New York: Hill and Wang, 1983.
  • Crosby, Alfred W. (1986): Ecological imperialism: the biological expansion of Europe, 900 - 1900. Cambridge: Cambridge University Press. (Studies in environment and history).
  • DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. Trad. São Paulo, Cia. Das Letras, 1996.
  • DOSSE, F. A história em migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Ensaio. Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1992.
  • DRUMMOND, José Augusto. A História Ambiental e o choque das civilizações. In Ambiente e Sociedade, Ano III, n5, 2ª Semestre, 1999.
  • ________________________. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. In Estudos Históricos, RJ, vol.4, n. 8. 1997 Abstracts, Texto integral
  • GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des) Caminhos do Meio Ambiente. São Paulo: Ed. Contexto, 1998.
  • MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 1º capítulo, seguido das teses sobre Feuerbach. Trad. de Álvaro Pina. Lisboa: Avante, 1981. (Biblioteca do Marxismo-Leninismo/16)
  • OLIVEIRA, Ana Maria de. Relação Homem/Natureza no Modo de Produção Capitalista. In Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografia Y Ciencias Sociales. Vol. VI, n. 119 (18), 1 de Agosto de 2002.
  • Pádua, José Augusto (2002). Um sopro de destruição : pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. OCLC 51534931 
  • PONTING, Clive. Uma História Verde do Mundo. RJ: Civilização Brasileira, 1995.
  • RIBEIRO, Ricardo Ferreira. Florestas anãs do Sertão – O Cerrado na História de Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
  • Shepard Krech III, J.R. McNeill, and Carolyn Merchant (Editors)(2004): Encyclopedia of World Environmental History. New York: Routledge.
  • SILVA, E. R. DA. & SCHRAMM, F. R. A questão ecológica: entre a ciência e a ideologia de uma época. Cad. Saúde Publica, 13(3): 255-382, RJ. 1997
  • SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (1997): História das paisagens. IN: CARDOSO, Ciro Flamarion et VAINFAS, Ronaldo (orgs.) Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus.
  • SOFFIATI, A. Destruição e proteção da Mata Atlântica no Rio de Janeiro: ensaio bibliográfico acerca da eco-história. (texto eletrônico), s/d.
  • STEWART, M.A. Environmental History: Profile of a developing Field. IN The History Teacher, vol. 31, nº 3, 1998.
  • Winiwarter, Verena (1998): Was ist Umweltgeschichte? Ein Überblick. (= Social Ecology Working Paper 54). Wien: Institut für Soziale Ökologie, Fakultät für Interdisziplinäre Forschung und Fortbildung IFF.
  • WORSTER, D. Para fazer História Ambiental. In Estudos Históricos, vol. 4, n. 8, 1991.
  • ____________. Transformações da Terra: Para uma Perspectiva Agroecológica na História. Ambiente e Sociedade. V.5, n.2 . Campinas, 2003

Referências

Bibliografia

Artigos

Livros e capítulos de livros

  • Besse, Jean-Marc (2014). O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Rio de Janeiro: EdUERJ. ISBN 978-85-7511-339-4 
  • Hughes, J. Donald (2016). What is environmental history? 2 ed. Cambridge: Polity. ISBN 978-0745688428 
  • MacEachern, Alan; Turkel, William J., eds. (2009). Method & Meaning in Canadian Environmental History. Toronto: Nelson Education. ISBN 978-0-17-644116-6 
  • McNeill, John Robert, José Augusto Pádua, and Mahesh Rangarajan, eds. (2010). Environmental history: as if nature existed. Col: Ecological economics and human well-being 1 ed. New Delhi: Oxford University Press. ISBN 9780198064480 
  • Sedrez, Lise (2012). «O corpo na História Ambiental: de corpos d'água a corpos tóxicos». In: Martins, William; Mega Mega, de Andrade; Sedrez, Lise. Corpo: Sujeito e Objeto. Rio de Janeiro: Editora Ponteio. pp. 265–281 

Ligações externas