Arariboia

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 Nota: Para outros significados, veja Arariboia (desambiguação).
Arariboia
Arariboia
Estátua do Arariboia, na praça do mesmo nome, em frente à estação das Barcas, em Niterói.
Nascimento ?
Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, no Brasil
Morte 1589
Niterói, no Brasil
Nacionalidade brasileira
Ocupação líder temiminó
Religião católica

Arariboia (? - 1589)[1] foi um chefe da tribo dos temiminós, grupo indígena tupi que habitava o litoral brasileiro no século XVI. Ajudou os portugueses na conquista da baía de Guanabara frente aos tamoios e franceses, em 1567. Como recompensa, os portugueses lhe cederam uma região na entrada da baía que viria a dar origem à atual cidade de Niterói, cidade da qual é considerado o fundador.

Etimologia

"Arariboia" procede do tupi araryboîa, que designava a espécie de cobra conhecida na língua portuguesa como araramboia.[2]

Biografia

Arariboia era filho do chefe temiminó Maracajá-guaçu e habitava a ilha de Paranapuã (hoje, ilha do Governador), na baía de Guanabara, quando os tamoios, seus tradicionais inimigos, os expulsaram da ilha em 1555. Tendo perdido as suas terras, a tribo temiminó seguiu para a então Capitania do Espírito Santo, onde reorganizou a sua aldeia, foi catequizada pelos jesuítas e ajudou os portugueses a expulsar invasores neerlandeses.

Quando a Coroa de Portugal enviou ao Brasil o seu terceiro governador-geral, Mem de Sá, com um contingente de soldados bem armados para retomar a baía de Guanabara aos franceses, os portugueses estabeleceram aliança com Arariboia, que havia sucedido a seu pai como líder dos temiminós, conseguindo, desse modo, reforçar os seus efetivos em cerca de 8 000 indígenas conhecedores do território e inimigos tradicionais dos tamoios.

Martim Afonso, Arariboia (cobra feroz), chefe dos temiminós.

A esquadra francesa se instalara na Guanabara em 1555, ocupando a ilha de Serigipe (a atual ilha de Villegagnon) e, ali, erguendo um forte, o Forte Coligny. Para se contrapor às forças portuguesas, o comandante dos invasores, Nicolas Durand de Villegagnon, firmou uma aliança com os índios tamoios, cerca de 70 000 homens naquela faixa do litoral. O acordo permitiu que as forças enviadas de Salvador por Mem de Sá, governador-geral do Brasil, em 1565, não conseguissem uma vitória definitiva contra os franceses. Com a unidade da colônia correndo perigo, Mem de Sá mandou vir do reino seu sobrinho Estácio de Sá e o incumbiu de adotar a mesma estratégia dos franceses: arregimentar apoio indígena.

O confronto mais violento ocorreu em 20 de janeiro de 1567, em Uruçumirim, no atual outeiro da Glória, onde os franceses e tamoios estavam aquartelados. Galgando penhascos, Arariboia foi o primeiro a entrar no baluarte inimigo. Empunhava uma tocha, com a qual explodiu o paiol de pólvora e abriu caminho para o ataque. Durante a luta, uma flecha envenenada raspou o rosto de Estácio de Sá, que morreu posteriormente, vítima de infecção. Ao ataque, seguiu-se uma matança noturna, da qual as forças portuguesas e temiminós saíram vitoriosas.

Em episódio com contornos de lenda, Arariboia teria atravessado as águas da baía a nado para liderar o assalto. O fato é que, com o seu apoio, a operação portuguesa contra os franceses foi coroada de sucesso, tendo os portugueses recuperado o controle sobre a baía de Guanabara. A partir daí, a cidade do Rio de Janeiro, que, entrementes, havia sido fundada por Estácio de Sá em 1565 no sopé do [morro Cara de Cão]], teve assegurada sua sobrevivência. Após a derrota dos tamoios, como recompensa pelos seus feitos, Arariboia recebeu, da Coroa Portuguesa, primeiramente um terreno no atual bairro de São Cristóvão, que fica próximo à ilha do Governador. Posteriormente, em 1573, recebeu um terreno no outro lado da baía de Guanabara, onde teria a missão de proteger o outro lado da entrada da baía.

Tal sesmaria recebeu o nome de São Lourenço dos Índios, a qual foi o início da atual cidade de Niterói (termo que, traduzido da língua tupi, quer dizer "rio verdadeiro frio", pela junção de 'y, "rio; eté, "verdadeiro"; e ro'y, "frio").[3] Converteu-se ao cristianismo e adotou o nome de Martim Afonso de Sousa, em homenagem ao homônimo navegador português. Terminou os seus dias em conflito com o novo governador-geral da Repartição Sul do Estado do Brasil (com sede no Rio de Janeiro), Antônio Salema (1575-1577). Na cerimônia oficial de posse, tendo Arariboia se deslocado de Niterói até o Rio de Janeiro, sentou-se cruzando as pernas.

O fato veio a desagradar o governador, que o repreendeu. Arariboia rebateu tal repreensão retrucando: "Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui!" O idoso cacique voltou, então, para a sesmaria de Niterói, não mais tendo retornado ao Rio de Janeiro. Arariboia morreu em 1589, vitimado por uma epidemia (possivelmente, varíola) que devastou a aldeia de São Lourenço. É considerado o fundador da cidade de Niterói; uma estátua sua, erguida em 1965, pode ser vista em uma praça homônima no Centro da cidade, fronteira à estação das barcas, com os olhos voltados para a baía de Guanabara e protegendo a cidade de Niterói às suas costas. A antiga sede da prefeitura municipal tem o nome de Palácio Arariboia em sua homenagem. Dotado de grande personalidade, teria servido de inspiração ao escritor brasileiro José de Alencar (1829-1877) na confecção de sua obra O Guarani (1857).[carece de fontes?]

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Ligações externas

Ver também

Referências

  1. BUENO, E. Brasil: uma história. 2ª edição. São Paulo. Ática. 2003. p. 79.
  2. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 60.
  3. NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª edição. São Paulo. Global. 2005. 463p.