Comando de Operações Aeroespaciais

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Comando de Operações Aeroespaciais
País  Brasil
Corporação Forças Armadas do Brasil
Subordinação Comandante da Força Aérea Brasileira
Criação 2017
Sede
Guarnição Brasília[1]

O Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) é um comando conjunto das Forças Armadas do Brasil encarregado do planejamento, coordenação e condução do emprego dos meios aeroespaciais brasileiros. Embora integre a estrutura da Força Aérea Brasileira (FAB), seu efetivo inclui militares do Exército Brasileiro e Marinha do Brasil. Como órgão central do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), o COMAE é o responsável direto pela defesa aeroespacial do território brasileiro e pode controlar unidades da Força Aérea, Exército e Marinha.

O SISDABRA detecta ameaças aéreas através da infraestrutura dos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), que é compartilhada com o controle de tráfego aéreo civil do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Contando também com sistemas de comunicações e comando e controle, seu órgão central direciona a defesa aeroespacial ativa, composta de aeronaves de intercepção e forças de defesa antiaérea.

Criado em 2017, o COMAE herdou as atribuições do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), antigo órgão central do SISDABRA, e parte das atribuições do Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR). Sua função na Força Aérea é comparável à do Comando de Operações Terrestres (COTer) do Exército e Comando de Operações Navais (ComOpNav) da Marinha: ele não tem unidades subordinadas, mas controla as unidades que lhe são adjudicadas conforme a necessidade. Portanto, além da defesa aeroespacial, suas missões incluem o transporte aerologístico, busca e salvamento, patrulha marítima e operações conjuntas do Ministério da Defesa.

Organização[editar | editar código-fonte]

Visita do ministro da Defesa ao CINDACTA I e COMDABRA

O COMAE, criado em 2017, substituiu o antigo Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).[2] A criação desse antecessor era prevista desde 1980, como órgão central do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), e se concretizou efetivamente a partir de 1989.[3]

A FAB define o SISDABRA como um “conjunto de organizações que têm em comum a realização de atividades, ou a posse de meios que podem ser empregados em benefício da finalidade de assegurar o exercício da soberania no Espaço Aéreo Brasileiro”.[4] Ele abrange sistemas de vigilância (radares de grande alcance), telecomunicações, comando e controle e defesa aeroespacial ativa e passiva, oriundos das três Forças Armadas e mesmo da administração pública. Esses elementos podem ser elos permanentes ou eventuais do sistema.[5] O órgão central exerce o “controle operacional” sobre os elos, o que é uma autoridade mais limitada do que o “comando operacional”.[6] Por exemplo, o órgão central não é responsável pela logística das forças que emprega, mas expede normas técnicas para garantir sua interoperabilidade.[7]

O COMDABRA era subordinado ao Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR) e composto de militares da Força Aérea, Marinha e Exército;[3] assim, a Doutrina de Operações Conjuntas de 2011, aprovada pelo Ministério da Defesa, definiu o COMDABRA e o Comando de Defesa Cibernética (COMDCIBER) como os únicos comandos conjuntos ativados permanentemente.[8] Seu efetivo é composto de militares do Exército, Marinha e Força Aérea.[3] Outros comandos conjuntos podem ser ativados em momentos de crise.[8] A permanência da defesa aeroespacial se deve ao curtíssimo tempo de reação necessário para resistir às ameaças aéreas.[7]

A reorganização da FAB em 2017 suprimiu o COMGAR e COMDABRA. Este teve suas atribuições transferidas ao COMAE, e aquele teve as atribuições divididas entre o COMAE e o Comando de Preparo (COMPREP), ambos subordinados ao Comandante da Aeronáutica. A ideia era separar no COMAE as atividades-fim da Força Aérea, e portanto ele não tem unidades subordinadas e apenas emprega as unidades que lhe são adjudicadas conforme a necessidade.[9] Como órgão de emprego da Força Aérea, ele é comparável ao Comando de Operações Terrestres (COTer) do Exército e o Comando de Operações Navais (ComOpNav) da Marinha.[10] Sua área de atuação abrange todas as missões da Força Aérea, não só a defesa aeroespacial. Sua missão é definida oficialmente como o “planejamento, coordenação e condução do emprego do Poder Aeroespacial Nacional”.[11][2] Como herdeiro do COMDABRA, o COMAE permaneceu sendo o comando conjunto e órgão central do SISDABRA,[3] e portanto, é o “responsável direto pela defesa aeroespacial do território nacional”.[5]

Comandado por um tenente-brigadeiro, o COMAE é constituído de um Gabinete, Seções de Apoio ao Comando e Estado-Maior Conjunto. Este último, comandado por um major-brigadeiro, é composto por um Centro Conjunto de Operações Aeroespaciais (CCOA), Centro de Operações Espaciais (COPE), Centro Conjunto Operacional de Inteligência (CCOI) e Centro de Planejamento, Orçamento e Gestão Institucionais (CPOGI). Em 2023, 24 oficiais e sargentos do Exército participavam da estrutura, incluindo um general de brigada na chefia do CCOI.[11]

Meios[editar | editar código-fonte]

Infraestrutura[editar | editar código-fonte]

Destacamento de Controle do Tráfego Aéreo (DTCEA) do Morro da Igreja, Santa Catarina

Os quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA) da FAB estão entre os principais elos permanentes do SISDABRA.[5] Através de sua cobertura de radares e meios de comunicação e controle, os CINDACTA mantêm o CCOA informado da situação do espaço aéreo em suas respectivas regiões. Assim, o COMAE estabelece a situação aérea geral no país,[12] o “cenário permanente de todos os movimentos aéreos adentrando ou evoluindo no espaço aéreo brasileiro”.[6]

A infraestrutura utilizada tem dupla função,[12] pois é compartilhada com o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), cujo órgão central é o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). O mesmo pessoal e orçamento servem para fins civis e militares. Esta é uma peculiaridade brasileira, herança da centralização dessas atividades, desenvolvidas em separado em outros países, pelo Ministério da Aeronáutica.[3][13]

A integração dos radares dos navios de guerra ao SISDABRA ainda era uma hipótese quando o tema foi examinado numa monografia da Escola de Guerra Naval, em 2010.[14] Já os radares SABER, desenvolvidos para a artilharia antiaérea, já levam em conta uma possível integração ao SISDABRA no projeto.[15]

Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P), em Brasília

O SISDABRA, SISCEAB, SisGAAz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul) e SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) são os grandes sistemas de monitoramento e controle das Forças Armadas.[16] A possível integração do SISDABRA com o SisGAAz (organizado pela Marinha) e o SISFRON (organizado pelo Exército) é discutida desde o Livro Branco da Defesa Nacional de 2012.[17]

Após a criação do COMAE, ele recebeu a atribuição de gerenciar os satélites de comunicação e futuras constelações de satélites de órbita baixa.[1] Fazem parte de sua estrutura dois Centros de Operações Espaciais, o Principal (COPE-P), em Brasília, e Secundário (COPE-S), no Rio de Janeiro, que correspondem ao componente terrestre do Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS). Eles operam o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC).[18][19][20]

Aeronaves[editar | editar código-fonte]

Mirage 2000 e F-5 da FAB em 2014

As unidades aéreas de Alerta, Defesa Aérea e Controle e Alarme da FAB são elos permanentes do SISDABRA.[6] As aeronaves de intercepção, na categoria da defesa aérea, são meios de defesa aeroespacial ativa.[5] Este papel cabia, desde antes da fundação do COMDABRA, ao Mirage III,[3] primeira aeronave supersônica na região, complementada pouco depois pelo F-5. Com a desativação dos Mirage III, em 2005 a FAB contratou temporariamente o Mirage 2000 enquanto o Projeto FX-2 definia o sucessor do F-5, que foi o Gripen NG.[21]

Ao tomar o lugar do COMDABRA, o COMAE assumiu o emprego dos meios da FAB anteriormente conduzido pelo Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR) e as quatro unidades chamadas Força Aérea (FAE). Portanto, suas atribuições incluem o transporte aerologístico, busca e salvamento, patrulha marítima e operações conjuntas do Ministério da Defesa.[1] Na busca e salvamento, por exemplo, é o COMAE que disponibiliza as aeronaves quando solicitado.[22] Em 2023 o COMAE formou a Força Aérea Componente utilizada na resposta federal à crise humanitária ianomâmi.[11]

A Aviação Naval pode ser elo eventual do SISDABRA. A Doutrina Básica da Marinha de 2004 previu uma possível “Força Naval de Defesa Aeroespacial”, criada para destruir porta-aviões e aeronaves inimigas em suas bases; vislumbrava-se a participação do porta-aviões São Paulo com sua aviação embarcada.[6] As operações embarcadas foram curtas nesse navio, mas mesmo após sua desativação, o 1.º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), criado para as operações de porta-aviões, permaneceu em operação. Em 2020, a participação no alerta de defesa aérea brasileiro permanecia como ambição do VF-1, que aumentava seu treinamento para o combate ar-ar.[23]

Artilharia antiaérea[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Defesa antiaérea do Brasil
Exercício de artilharia antiaérea do Exército

A defesa antiaérea é o outro aspecto da defesa aeroespacial ativa. A 1.ª Brigada de Defesa Antiaérea (1.ª BDAAé) da Infantaria da Aeronáutica[24] e o Comando de Defesa Antiaérea do Exército (Cmdo DAAe Ex, antiga 1.ª Brigada de Artilharia Antiaérea) são elos permanentes do SISDABRA.[25][26]

A defesa antiaérea da Marinha pode participar do SISDABRA como elo eventual, na forma de navios utilizados na defesa antiaérea local ou dos meios terrestres do Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe) do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).[6] A artilharia antiaérea do Exército, FAB e CFN consiste somente em sistemas de curto alcance, deixando aberta a lacuna da defesa em médio alcance/média altura.[27] O Ministério da Defesa tem um projeto para a aquisição de mísseis antiaéreos dessa categoria, a ser distribuídos às três Forças Armadas.[28]

A inter-relação entre a defesa aeroespacial das Forças Armadas pode ser exemplificada pelo Exercício Escudo Antiaéreo, sediado pelo COMAE em 2019. Aeronaves da FAB e da Marinha simularam um ataque aéreo, que foi detectado, além dos sistemas de vigilância usuais, pelos sensores do porta-helicópteros Atlântico e da fragata Liberal. As defesas antiaéreas do Exército e FAB, como parte do SISDABRA, simularam a reação.[29]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Força Aérea Brasileira (16 de janeiro de 2017). «FAB ativa o Comitê de Implantação do Comando de Operações Aeroespaciais». Defesa Aérea & Naval. Consultado em 13 de outubro de 2023 
  2. a b Rossato, Nivaldo Luiz (21 de dezembro de 2016). «Em artigo, Comandante da Aeronáutica explica as razões das mudanças na FAB». Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança. Consultado em 13 de outubro de 2023 
  3. a b c d e f Jasper, Flavio Neri Hadmann (janeiro–junho de 2023). «El Sistema de Defensa Aeroespacial Brasileño y la Estrategia de Defensa Nacional» (PDF). Escuela de Postgrados de la Fuerza Aérea Colombiana. Ciencia y Poder Aéreo. 18 (1) 
  4. Força Aérea Brasileira (6 de agosto de 2022). «Veja como a FAB atua na defesa e controle do espaço aéreo da Amazônia». Poder Aéreo. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  5. a b c d Gonçalves, Laura Castro (2019). A defesa antiaérea e a segurança do Brasil (PDF) (Trabalho de conclusão). Universidade Federal do Rio Grande do Sul . p. 58-59.
  6. a b c d e Gomes, Artur Varella (2011). A integração de sistemas de detecção do SISDABRA a MB, em proveito da defesa das plataformas de exploração e explotação de petróleo (PDF) (Monografia). Escola de Guerra Naval . p. 30, 37-40.
  7. a b Lins, Leonardo José (2018). O planejamento conjunto e interoperabilidade das tropas de operações especiais das Forças Singulares (PDF) (Trabalho de Conclusão de Curso). Escola de Comando e Estado-Maior do Exército . p. 41.
  8. a b Resende Júnior, Márcio Nunes de (2021). Comando Conjunto de Operações Especiais: uma Proposta (PDF) (Monografia). Escola Superior de Guerra . p. 16.
  9. Oliveira, Bruno de Melo (2022). «Força Aérea Brasileira». In: Silva, Francisco Carlos Teixeira da, et al. (org.). Dicionário de história militar do Brasil (1822-2022): volume I. Rio de Janeiro: Autografia . p. 567-568
  10. Oliveira, Rafael Tavares de; et al. (outubro de 2023). «O comando e controle e sua prática por militares: um estudo baseado em operações de ajuda humanitária» (PDF). XLIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção . p. 5.
  11. a b c Souza, José Alexandre Ferreira da (17 de maio de 2023). «A coordenação da Operação de Apoio ao Povo Yanomami pelo Comando de Operações Aeroespaciais: geração de sinergia no emprego conjunto das Forças Armadas». Blog do Exército Brasileiro. Consultado em 13 de outubro de 2023 
  12. a b Sperduto, Hugo Marques (2019). A necessidade de uma Bateria de Artilharia Antiaérea junto à 7ª Brigada de Infantaria Mecanizada para a defesa antiaérea da Região Nordeste (PDF) (Trabalho de Conclusão de Curso). Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea . p. 22-25, 31-32.
  13. Jasper, Flavio Neri Hadmann (2017). «The Brazilian model of air space control». In: Ricco, Maria Filomena Fontes (ed.). Culture and Defence in Brazil: An Inside Look at Brazil's Aerospace Strategies. [S.l.]: Taylor & Francis . p. 71.
  14. Pinheiro, Luís Cláudio da Fonseca Bragança (2010). A Defesa Aeroespacial das Plataformas de Exploração/Explotação de Petróleo no Mar: uma proposta (PDF) (Monografia). Escola de Guerra Naval . p. 63.
  15. Bezerra, Marcus Emanuel Azevedo (2019). O projeto Radar SABER e as capacidades da indústria brasileira para seu desenvolvimento (PDF) (Monografia). Escola de Comando e Estado-Maior do Exército . p. 29.
  16. Brasil (2020). Livro Branco de Defesa Nacional (PDF). Brasília: Ministério da Defesa . p. 49-50.
  17. Silva, Marcílio Muniz da (2016). O Contrabando e o tráfico na fronteira Centro-Oeste do Brasil: ações das Forças Armadas no seu combate e desenvolvimentos futuros (PDF) (Tese). Instituto Universitário Militar  p. 14, 32.
  18. «Riscos de acesso desautorizado a sistemas militares é alvo de nova norma». Revista Sociedade Militar. 20 de março de 2023. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  19. «Centro de Operações Espaciais é inaugurado em Brasília». Rádio EBC. 24 de junho de 2020. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  20. «Centro de Operações Espaciais garantirá serviços prestados pelo SGDC». Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. 20 de novembro de 2018. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  21. Gilberto, Helmer Barbosa (2019). O reaparelhamento da Força Aérea Brasileira e o futuro das relações entre os países da América do Sul (PDF) (Tese). Escola de Guerra Naval . p. 60-61.
  22. Fan, Ricardo (18 de abril de 2022). «Saiba como funciona o Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico da FAB». DefesaNet. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  23. Leite, Humberto (2020). «Clássicos e modernos» (PDF). Revista Asas (Edição especial (105): Força Aeronaval da Marinha do Brasil). Consultado em 22 de janeiro de 2023 . p. 68, 70.
  24. «Defesa Aeroespacial». COMPREP. Revista da Infantaria, Edição Especial - 80 anos da Infantaria da Aeronáutica. Dezembro de 2021 . p. 23-24.
  25. «Histórico». Comando de Defesa Antiaérea do Exército. 3 de novembro de 2022. Consultado em 15 de outubro de 2023 
  26. Lima, Paulo Davi de Barros (2021). «Combate anti SARP: o emprego da Artilharia Antiaérea alocada ao SISDABRA». Informativo antiaéreo: publicação cientifica. 13 (13) . p. 57-58.
  27. Moralez, João Paulo (1 de janeiro de 2021). «Brasil avança na obtenção da defesa antiaérea de média altura». Tecnologia & Defesa. Consultado em 19 de abril de 2023 
  28. «Exército é designado como força líder para aquisição de "escudo anti-mísseis", um sistema de artilharia de médio alcance para as três Forças Armadas». Revista Sociedade Militar. 18 de junho de 2021. Consultado em 9 de outubro de 2023 
  29. «FAB treina Defesa Antiaérea em Exercício Conjunto com Marinha e Exército». Força Aérea Brasileira. 30 de outubro de 2019. Consultado em 15 de outubro de 2023