Futuro da Marinha do Brasil

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A Marinha do Brasil tem um grande número de projetos ativos e planejados, sob os planos de modernização das Forças Armadas brasileiras, definidas no Livro Branco da Defesa Nacional.[1] A partir de 2010, o Brasil iniciou uma mudança radical na sua política militar, com o objetivo de se consolidar como a maior potência da América Latina.[2][3] Então, os estrategistas militares do país viram a grande importância na modernização da Marinha, tanto no plano global como na projeção e dissuasão contra possíveis ameaças aos interesses nacionais por potências estrangeiras a partir do ano 2040; o orçamento total estimado para o plano foi estimado em US $ 119 bilhões em 2010.[2]

A análise de cenários desenvolvida em 2005 pelo Pentágono dos Estados Unidos para o ano de 2035, prevê um crescimento permanente da influência do Brasil nas relações internacionais. A intensificação da projeção e sua maior inserção nas decisões globais, conduzem as Forças Armadas a uma nova estrutura compatível com o novo status político-estratégico do país.[4] Em 2023, o orçamento da Marinha caiu de 2,1 para 1,9 bilhões de reais.[5]

Projetos ativos[editar | editar código-fonte]

O Livro Branco da Defesa Nacional

Submarinos nucleares[editar | editar código-fonte]

A partir de 2018 no âmbito do programa PROSUB (sigla para Programa de Desenvolvimento de Submarinos), o Brasil iniciou a construção do primeiro submarino nuclear nacional da classe Álvaro Alberto; os custos estimados relacionados ao desenvolvimento e construção ultrapassaram os US $ 7,4 bilhões em 2020.[6][7] O país planeja seis unidades da classe até 2047.[8]

Submarinos convencionais[editar | editar código-fonte]

Submarino brasileiro Scorpene

Em 2009, no âmbito do PROSUB, o Brasil assinou acordos de cooperação com a França para o desenvolvimento conjunto e construção de quatro da classe Scorpène, num negócio de US $ 10 bilhões, com construção dos quatro barcos no Brasil e transferência total de tecnologia.[9] Em 2021 o país ja havia lançado duas embarcações, o Riachuelo em 2018 (comissionados em 01/09/2022) e o Humaitá em 2020. Os outros dois, Tonelero e Angostura, têm o lançamento previsto para 2022 (Tonelero) e 2023 (Angostura), respectivamente.[10]

Fragatas[editar | editar código-fonte]

No âmbito do programa PROSUPER, o Brasil assinou em 2020 um contrato de € 2 bilhões com a alemã ThyssenKrupp Marine Systems,[11] para o desenvolvimento conjunto e construção de quatro fragatas de uso geral da classe Tamandaré. Semelhante aos acordos dos Scorpenes, este contrato define a construção dos quatro barcos no Brasil e também a transferência total de tecnologia da Alemanha.[12] No mesmo ano, foi noticiado que a Marinha do Brasil planeja encomendar mais duas fragatas da classe até 2024-25, estendendo o total para seis barcos.[13]

Navios de patrulha oceânica[editar | editar código-fonte]

O país está realizando a construção de duas embarcações-patrulha da classe Macaé. Dos barcos designados como Maracanã (P-72)[14] e Mangaratiba (P-75),[14] outros dois navios foram comissionados em 2009 e 2010 respectivamente, o Macaé (P-70) e Macau (P-71). Entre 2012 e 2013, o Brasil também encomendou três embarcações da classe Amazonas de 2 000 toneladas.[15]

Navios quebra-gelo e hospital[editar | editar código-fonte]

Em 2020, a Marinha lançou um projeto para a construção de um novo navio quebra-gelo de pesquisa para o Programa Antártico Brasileiro, a fim de substituir o navio Ary Rongel (H-44), em operação desde 1994;[16] o novo barco estará totalmente operacional em 2025.[17] O novo navio-hospital, chamado Anna Nery (U-170), está em construção.[18]

Helicópteros[editar | editar código-fonte]

CE 725 em voo

Desde 2008 a Marinha recebe anualmente novos Eurocopter EC 725 da fábrica Helibras, em Itajubá, Minas Gerais, como parte de um pedido inicial de 50 EC 725 para as Forças Armadas Brasileiras; o acordo era estimado em US $ 1 bilhão na época.[19][20] A partir de 2018, o Brasil também fez negócios para o SH-60 Seahawk, sendo que em 2020 oito unidades já estavam em operação.[21] A Marinha também tem um programa de modernização do Westland Lynx Mk.21, com atualização das oito unidades com novos motores CTS800 e aviônicos; o helicóptero foi redesignado como Super Lynx Mk.21B.[22]

Armamentos[editar | editar código-fonte]

No início da década de 2010 os estrategistas militares brasileiros viram a necessidade do desenvolvimento de um míssil antinavio e um torpedo pesado para uso nos futuros navios e submarinos da Marinha a partir de 2020, e para garantir a independência tecnológica nesses tipos de armamentos. Em 2011 o Ministério da Defesa lançou os programas MANSUP e TPNer para o desenvolvimento dos primeiros mísseis anti-navio nacionais e torpedos pesados. Em 2021 o MANSUP completou três testes de disparo,[23] e o TPNer ainda está em desenvolvimento.[24] A Marinha recebeu em 2020 o primeiro lote do torpedo francês F21 Artemis para os submarinos Scorpene[25] e o Mark 54 para uso nos Seahawks S-70B.[26][27]

SisGAAz[editar | editar código-fonte]

O Sistema de Gestão da Amazônia Azul, é um sistema de vigilância desenvolvido pela Marinha do Brasil, com o objetivo de fiscalizar a Amazônia Azul, zona econômica exclusiva do país e uma área rica em recursos que cobre cerca de 4,500,000 km2 (1,700,000 sq mi). Esta área abriga uma enorme diversidade de espécies marinhas, valiosos minerais metálicos e outros recursos minerais, petróleo e a segunda maior reserva de terras raras do mundo.[28] O SisGAAz integra equipamentos e sistemas compostos por radares incorporados em terra e embarcações, além de câmeras de alta resolução e recursos como a fusão de informações recebidas de sistemas colaborativos.[29]

Projetos planejados[editar | editar código-fonte]

Porta-aviões[editar | editar código-fonte]

O futuro porta-aviões possivelmente denominado Rio de Janeiro está previsto no programa PAEMB (iniciais para Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil), com o objetivo de ser um porta-aviões totalmente operacional em 2040. O plano foi revisado na última edição do LBDN e aceite pelo Ministério da Defesa, pelo Congresso Nacional e pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020.[30] Em 2018 o ex-comandante da Marinha do Brasil, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, confirmou os planos de um porta-aviões nacional de 50 mil toneladas,[2] possivelmente utilizando os projetos originais do porta-aviões francês Charles de Gaulle, oferecido ao Brasil em 2012, mas a dúvida residia no sistema de propulsão e os seus custos, estimados em US $ 3,5 bilhões para um porta-aviões convencional com catapultas e US $ 5,25 bilhões para um porta-aviões nuclear, usando uma versão adaptada do reator naval em desenvolvimento para os submarinos da classe Álvaro Alberto.[31]

Contratorpedeiro de defesa aérea[editar | editar código-fonte]

Sob o PROSUPER, a Marinha também planeja até 5 contratorpedeiros de defesa aérea de 6000-7000 toneladas para fazer parte do futuro grupo de ataque de porta-aviões.[2] Em 2019 o Almirantado começou a avaliar o negócio para os navios que já operavam em marinhas estrangeiras; o contratorpedeiro classe Arleigh Burke foi relatado como um dos candidatos, com orçamento estimado de US $ 1 bilhão para futuras negociações.[32] Em 2020, a Thyssenkrupp Marine Systems apresentou à Marinha o seu mais moderno contratorpedeiro de defesa aérea MEKO A-400 de 7200 toneladas, uma versão atualizada das fragatas alemãs da classe F-125. As semelhanças das fragatas da classe F-125 com a fragata da classe Tamandaré causaram uma boa impressão no Almirantado.[13]

Caças[editar | editar código-fonte]

A Marinha do Brasil planeja até 48 caças navais para uso no novo porta-aviões.[2] A Marinha demonstra interesse na versão naval do Saab JAS-39 Gripen, já em operação na Força Aérea Brasileira.[33]

Sistema de defesa aérea de médio alcance[editar | editar código-fonte]

O Ministério da Defesa iniciará na década de 2020[34] a aquisição de um sistema de defesa aérea de médio alcance. Em dezembro de 2020, o ministério aprovou os pré-requisitos. O sistema será operado pelos três ramos das Forças Armadas Brasileiras, a fim de reduzir custos operacionais e facilitar a integração entre todos os sistemas já em operação nas forças. Esta defesa aérea terá que cumprir os seguintes requisitos operacionais: deve ser capaz de engajar efetivamente ameaças aeroespaciais simultaneamente num alcance mínimo de engajamento horizontal não superior a 2000 metros, alcance máximo de engajamento horizontal não inferior a 40 mil metros, alcance mínimo de engate vertical não superior a 50 metros, e alcance máximo de engajamento vertical não inferior a 15 mil metros. O sistema deverá ainda ser capaz de atacar aeronaves de asa fixa, helicópteros, UAVs, mísseis de cruzeiro e bombas guiadas.[34]

Cortes[editar | editar código-fonte]

Devido a reduções em investimentos, à natural degradação e obsolescência dos meios e envelhecimento do efetivo e a crise financeira que se instala na Força, o alto comando da Marinha prevê a desativação de 40% de seu efetivo. 43 embarcações estão no fim de sua vida útil e devem ser desativadas até 2028, pois, segundo estimativas do órgão, seriam necessários duzentos milhões a 3,5 bilhões de reais para a manutenção destes meios. Também é estudado pelo alto comando a redução do efetivo militar e a contratação de substitutos temporários, além da realização de concursos para vagas civis a fim de cortar gastos e priorizar o desenvolvimento e entrega de doze embarcações nesse mesmo período.[35]

Referências

  1. «Livro Branco da Defesa Nacional» (PDF). Brazilian Government. Consultado em 2 de julho de 2021 
  2. a b c d e «Brazilian Navy modernization». GlobalSecurity.org. Consultado em 7 de maio de 2019 
  3. «La Marina Brasilera avanza en un ambicioso Plan Estratégico para el 2040». Zona Militar. 24 de setembro de 2020 
  4. Fan, Ricardo (20 de dezembro de 2017). «O Futuro carro de Combate do Brasil». DefesaNet. Consultado em 14 de fevereiro de 2024 
  5. «Orçamento para a Defesa prevê aumento de R$ 2,6 bilhões com pensões e salários e queda de investimentos na Marinha». O Globo. 2 de setembro de 2023. Consultado em 26 de janeiro de 2024 
  6. «Atrasado pela crise, projeto do submarino nuclear já recebeu R$ 21 bilhões». Gazeta do Povo. 8 de fevereiro de 2018 
  7. «Programas da MB em 2019: PROSUB». Poder Naval. 12 de janeiro de 2020 
  8. «Brasil planeja frota com seis submarinos nucleares - Política». Estadão. Consultado em 12 de setembro de 2021 
  9. «O Prosub e o submarino nuclear brasileiro SN-BR». Poder Naval. 20 de fevereiro de 2018 
  10. «LAAD 2017: Brazilian submarine programme moves into construction». IHS Jane's 360. 11 de abril de 2017. Consultado em 10 de fevereiro de 2018. Cópia arquivada em 13 de abril de 2017 
  11. «Marinha compra quatro fragatas por R$ 9,1 bilhões». UOL. 4 de março de 2020 
  12. «Classe Corveta Tamandaré - As corvetas podem virar fragatas». Defesa Net. 10 de janeiro de 2018 
  13. a b «EXCLUSIVO: Marinha já planeja a quinta Tamandaré». Poder Naval. 28 de dezembro de 2019 
  14. a b «Marinha vai concluir a construção dos NPa Maracanã e Mangaratiba no AMRJ». Poder Naval. 29 de dezembro de 2019 
  15. «BAE Systems sells patrol vessels to Brazil». BBC News. 2 de janeiro de 2012 
  16. «Marinha do Brasil anuncia a Short List para o NApAnt». Defesa Aérea & Naval. 25 de fevereiro de 2021 
  17. «Marinha receberá propostas para NApAnt até 30 de novembro». Defesa Aérea & Naval. 25 de novembro de 2020 
  18. Brasil, Marcelo Barros, com informações da Marinha do (30 de junho de 2023). «O Progresso do Navio de Assistência Hospitalar 'Anna Nery': Promessa de Saúde e Esperança». www.defesaemfoco.com.br. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  19. Farias, Ivy (8 de setembro de 2008). «Brasil produzirá em Minas Gerais helicópteros para as Forças Armadas». Agência Brasil  Retrieved on 11 July 2009.
  20. "Brazil’s $1B+ Order for EC725 Cougar Helicopters." Arquivado em 25 julho 2015 no Wayback Machine Defense Industry Daily, 5 January 2012.
  21. Hoyle, Craig (4 de dezembro de 2018). «ANALYSIS: 2019 World Air Forces Directory». Flight Global. Consultado em 14 de abril de 2019. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2019 
  22. Harding, Ian (dezembro de 2017). «Modernised Super Lynx for Brazilian Navy». Air International. 93. p. 16. ISSN 0306-5634 
  23. «Marinha do Brasil lança terceiro protótipo do Míssil Antinavio de Superfície (MANSUP)». Poder Naval. 10 de julho de 2019 
  24. «Ministério da Defesa coloca o Projeto do Torpedo Pesado Nacional como Produto Estratégico de Defesa». Defesa Aerea e Naval. 30 de novembro de 2014 
  25. «Naval Group entrega torpedos pesados F21 a Marinha do Brasil». Tecnodefesa. 1 de março de 2020 
  26. «Proposed Purchase of MK 54 Torpedoes by Brazil Approved». U.S. Embassy and Consulates in Brazil. 2 de dezembro de 2019 
  27. «Brazil - Mk 54 Lightweight Torpedoes». DSCA. 2 de dezembro de 2019 
  28. «Brasil tem segunda maior reserva mundial de terras raras, mas não aparece entre os maiores produtores». O Globo. 30 de maio de 2019 
  29. «SisGAAz: Proteção e Monitoramento das Águas Jurisdicionais Brasileiras». Brazilian Navy 
  30. «Em documento, Ministério da Defesa vê risco de crises e tensões no entorno estratégico do Brasil». G1. 16 de julho de 2020 
  31. «Marinha considera auxílio francês no projeto do futuro porta-aviões brasileiro». SINAVAL. 19 de fevereiro de 2021 
  32. «Marinha do Brasil avalia compra de navios usados da Austrália, do Canadá, dos EUA e do Japão». Portos e Navios. 2 de junho de 2019 
  33. Jennings, Gareth (18 de dezembro de 2013). «Brazilian F‐X2 gives fresh impetus to Saab's Sea Gripen concept». IHS Jane's Defence Weekly. Cópia arquivada em 30 de janeiro de 2014 – via IHS Jane's 360 
  34. a b «MD aprova os Requisitos Operacionais Conjuntos para o Sistema de Artilharia Antiaérea de Média Altura/Médio Alcance». Defesa Aerea e Naval. 27 de dezembro de 2020 
  35. Fan, Ricardo (30 de outubro de 2023). «Segundo o Almirante Marcos Sampaio Olsen, a redução de recursos financeiros compromete a segurança nacional, e aproximadamente 40% das embarcações serão retiradas de serviço.». DefesaNet. Consultado em 26 de janeiro de 2024