Hospitalidade

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Hospitalidade (do latim hospitalĭtas, -ātis) é definido pelo dicionário Michaelis como 1) Ato de hospedar; 2) Qualidade de hospitaleiro; 3) Por extensão, Bom tratamento; amabilidade, gentileza.[1] Os estudos sobre tema mostram que hospitalidade é o ato de acolhimento do outro. O outro poderá ser um viajante, um turista, um estrangeiro, um migrante etc. Acolhimento pode ser definido como oferta de recepção, alojamento, alimentação e entretenimento.[2]

Sociabilidade primária e dádiva[editar | editar código-fonte]

Do ponto de vista sociológico, a hospitalidade é entendida como uma "sociabilidade primária" (que está base dos vínculos sociais) que se baseia no processo da dádiva e do dom que existem desde as sociedade mais antigas: dar, receber e retribuir. Segundo o antropólogo Marcel Mauss, o processo da dádiva é que mantém os laços sociais e constituiu a base primordial dos contratos.[3][4]

Hospitalidade instrumental[editar | editar código-fonte]

Do ponto economicista, a hospitalidade é reduzida à estrutura e a rede de serviços que visa a atender a demanda turística, de lazer e de eventos. Traslado no destino, hospedagem (hotelaria), entretenimento (atrações) e alimentação (restaurantes turísticos). Trata-se de um visão limitadora e instrumental, voltada à gestão de organizações de comércio da hospitalidade e as relações contratuais entre hóspede e empresa.

Escolas de pensamento sobre a hospitalidade[editar | editar código-fonte]

Pode-se dizer, grosso modo, que há três escolas da hospitalidade:

  • Escola francófona: se interessa pela visão da sociabilidade e pelas dimensões doméstica e pública com base na teoria da dádiva de Marcel Mauss[3] e outros autores franceses como Alain Montandon, Emmanuel Levinas, Michel Maffesoli[5] e o argelino Jacques Derrida, dentre outros;[6]
  • Escola anglossaxônica: a palavra hospitality em inglês designa 'hotelaria', o que mostra que um estreitamento do tema; os pensadores dessa escola abordam a hospitalidade de forma instrumental reduzindo o processo social da dádiva à hospitalidade comercializada; estuda as organizações que comercializam a hospitalidade: hotéis, restaurantes, operadoras de recepção, transportadoras etc.;
  • Escola brasileira: esforça-se em estabelecer pontes entre a visão da hospitalidade como sociabilidade e a visão da hospitalidade turística procurando uma perspectiva mais holística do fenômeno. Autores representativos: Luiz Octávio Lima de Camargo[2] que aborda o tema de forma mais sociológica e Geraldo Castelli,[7] fundador da primeira faculdade de hotelaria no Brasil e autor de várias obras a respeito da gestão hoteleira.

Tempos e espaços da hospitalidade[2][editar | editar código-fonte]

Espaços e tempos da hospitalidade
Recepcionar Hospedar Alimentar Entreter
Doméstica Receber pessoas em casa, de forma intencional ou casual Fornecer pouso e abrigo em casa para pessoas Receber em casa para refeições e baquetes Receber para recepções e festas
Pública A recepção em espaços e órgãos públicos de livre acesso A hospedagem proporcionada pela cidade e pelo país, incluindo hospitais, casa de saúde, presídios... A gastronomia local Espaços públicos de lazer e eventos
Comercial Os serviços profissionais de recepção Hotéis A restauração Eventos e espetáculos. Espaços privados de lazer
Virtual Folhetos, cartazes, folderes, internet, telefone, e-mail Sites e hospedeiros de sites Programas na mídia e sites de gastronomia Jogos e entretenimento na mídia.

A noção de hospitalidade é talvez a mais antigo expressão da cultura humana. Na percepção do acolhimento do "outro" é possível de se reconhecer o "eu". Para Camargo (2004, p.52):

Hospitalidade pode ser definida como o ato humano, exercido em contexto doméstico, público e profissional, de recepcionar, hospedar, alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu hábitat natural".[2]

Ética da acolhida e hospitalidade incondicional[editar | editar código-fonte]

A filosofia da alteridade e a "ética da acolhida" do autor francês Emmanuel Levinas foram o ponto de partida para o filósofo argelino Jacques Derrida pensar num hospitalidade incondicional no contexto de uma "democracia por vir" ultrapassando a ideia de cidadania mundial e propondo "cidades-refúgio".[8][9]

Programas de Pós-Graduação em Hospitalidade no Brasil[editar | editar código-fonte]

Atualmente, existem dois Programas de Pós-Graduação em Hospitalidade:

Referências

  1. «Hospitalidade». Michaelis On-Line. Consultado em 4 de agosto de 2023 
  2. a b c d CAMARGO, Luiz Octávio Lima de. (2004). Hospitalidade. São Paulo: Aleph. p. 52-53. ISBN 978-8585887971 
  3. a b MAUSS, Marcel (2008). Ensaio Sobre a Dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas 1ª ed. [S.l.]: Edições 70 
  4. SANTOS, Marcia Maria Cappellano dos; BAPTISTA, Isabel, eds. (1 de janeiro de 2014). Laços Sociais: por uma Epistemologia da Hospitalidade 1ª ed. Caxias do Sul: Educs 
  5. MAFFESOLI, Michel. Mesa espaço de comunicação. In: DIAS, Cecilia Maria de Moraes (Org.). Hospitalidade: reflexões e perspectivas. São Paulo: Editora Manole, 2002.
  6. MONTADON, Alan (2011). O Livro Da Hospitalidade: a acolhida do estrangeiro na história e nas culturas 1ª ed. [S.l.]: Senac SP 
  7. CASTELLI, Geraldo (1 de janeiro de 2003). Administração Hoteleira 9ª ed. [S.l.]: Educs 
  8. DERRIDA, Jacques; DUFOURMANTELLE, Anne (1 de março de 2003). Da Hospitalidade: Anne Dufourmantelle Convida Jacques Derrida a Falar da Hospitalidade 1ª ed. [S.l.]: Editora Escuta 
  9. DERRIDA, Jacques (2003). «Da Hospitalidade». Palimage. Consultado em 4 de agosto de 2023 
  10. UAM (2023). «Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade – Mestrado e Doutorado». Portal Anhembi 
  11. UCS (2023). «Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul - PPGTURH». Site da UCS