Larvacea

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaLarvacea

Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Urochordata
Classe: Larvacea
Ordens
Copelata
 Nota: Se procura género botânico, veja Appendicularia.

O plâncton marinho é composto por organismos que sofrem influências por meio de mudanças ambientais, seja por correntes, temperatura, salinidade, nutrientes, marés ou ecológicas como predação e competição por recursos[1] [2][3]. Alguns desses seres podem fornecer indicativos sobre a qualidade ambiental relacionados a sua distribuição, composição e abundância, sendo possíveis bioindicadores de condições ambientais e/ou oceanográficas[4] .

Dentre os animais do zooplâncton estão os Larvacea ou Appendicularia, classe de animais marinhos pertencentes ao subfilo Urochordata. Herbívoros comuns e cosmopolitas, principalmente em águas quentes costeiras de até 100 m de profundidade. Das cerca de 70 espécies descritas, 25 ocorrem no litoral brasileiro. Ocupam importante lugar na teia trófica, tendo papel de transferência energética para os organismos predadores[5] [6]. Além disso, há evidências que esses organismos atuam no consumo de partículas coloidais de carbono orgânico dissolvido, podendo relacioná-los a distribuição do carbono orgânico no meio [7].

Características gerais[editar | editar código-fonte]

Casa de um larváceo
Esquema da casa de um indivíduo do gênero Oikopleura

Os apendiculários são organismos planctônicos hermafroditas, com exceção de uma única espécie, Oikopleura dioica, sendo gonocórica. São típicos desses animais a manutenção de características larvais, pedomorfose, tendo corpo dividido em tronco e cauda. Possuem notocorda, fendas faringeanas e cauda pós-anal, mas não se desenvolvem e permanecem com morfologia larval durante toda a vida. No tronco estão presentes as principais estruturas reprodutivas, gastrointestinais e circulatórias. A cauda muscular abriga a notocorda, além de células anficordais ou subcordais, utilizadas na identificação das espécies[8] [9].  A característica mais marcante desses animais é a presença de uma estrutura gelatinosa “casa”, constituída de polimucossacarídeos, secretada por uma região epidérmica especializada, o oicoplasto. Essa estrutura gelatinosa é diferenciada em cada família e atua na filtragem de partículas para alimentação, processo que envolve redes de muco secretado pelo endóstilo e o batimento caudal do animal. Sendo esse processo dividido em três momentos: 1) Cauda bate lentamente, inflando a câmara e iniciando a circulação de água; 2) Cauda bate vigorosamente, a pressão aumenta acionando a abertura do esfíncter para a saída de água; 3) A cauda para, ocorre o refluxo de partículas, a ingestão de partículas pode parar e iniciar o processo de reversão a qualquer momento [10][9].

Detalhe do tronco de indivíduo de Oikopleura dioica

Classificação taxonômica[editar | editar código-fonte]

A classificação mais aceita até os dias atuais foi proposta por Lohman [11], dividindo-os em três famílias: Oikopleuridae, Fritillaridae e Kowaleskidae.

1.1.Família Oikopleuridae[editar | editar código-fonte]

A família Oikopleuridae apresenta como características diagnósticas um tronco compacto, em formato de pêra, lateralmente compacto ou deprimido dorsoventralmente; endóstilo reto; espirais com abertura na região retal; esôfago com entrada no estômago lateralmente ou na porção superior; estômago formado por muitas células pequenas e algumas de glândulas; cauda maior que o tronco[8].

1.2.Família Fritillaridae[editar | editar código-fonte]

Fritillaridae têm como características diagnósticas: Tronco geralmente alongado e achatado dorsoventralmente; endóstilo reto ou envolto ao final; espirais anteriormente localizados na cavidade faríngea; esôfago com entrada frontal no estômago; estômago constituído de poucas células grandes; cauda raramente maior que tronco[8].

1.3.Família Kowalevskiidae[editar | editar código-fonte]

Enquanto que a família Kowalevskiidae é caracterizada pelo tronco curto e anteriormente deprimido; quatro fileiras de processos ciliares unicelulares; fendas faríngeas de formato alongado e elipsoidais; esôfago com entrada frontal no estômago; estômago composto por células grandes, cauda com formato de eixo[8].

Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

A distribuição desses organismos planctônicos muitas vezes se faz relacionada a fatores abióticos, sendo a temperatura um dos principais citados pela literatura, que relaciona a distribuição e desenvolvimento desse tipo de plâncton[12] [6][5][13]. Os resultados obtidos nesses estudos, condições ambientais e em laboratório, relacionam o aumento da temperatura com o aumento da taxa de crescimento desses organismos e consequente diminuição do seu tempo de vida [5][13]. Além disso, regiões costeiras foram indicativas de maior concentração e distribuição de espécies de apendiculários, estando geralmente relacionados ao aporte de nutrientes em regiões costeiras de desembocadura de rios e de turbulência, como por exemplo em estudos desenvolvidos no Pacífico [14][6][13][15] e Atlântico [12][2][16] [5][17].

Importância trófica[editar | editar código-fonte]

Appendicularia é considerado uma importante fonte energética na teia trófica. Como parte do mezoplânton esses organismos trabalham no controle da produção primária do fitoplâncton, por meio do efeito top-down. Além de serem aproveitados como importante fontes de alimentos para pequenos invertebrados e grandes recursos pesqueiros, seguindo efeito botow-up [18][5][19][20][21]. Pesquisas recentes também relacionam a sua importância na filtração de partículas de microplástico em áreas oceânicas, podendo ser utilizados como bioindicadores de poluição marinha [22][23].

Estudos globais[editar | editar código-fonte]

Esses seres vem sendo estudados desde o século XIX, a maioria das suas pesquisas são voltadas a taxonomia do grupo, sendo definidos até meados do século XX [11][2][10][5][8].  Porém devido a forma em que eram realizadas as amostragens e falta de informações taxonômicas , ainda nos tempos atuais são publicadas validações e ocorrências de espécies novas por todo o globo [17][16][15]. Alguns grupos de trabalho do Pacífico [14][6][13][15] e Atlântico [12] [2][16][5][15][17] tiveram destaques em estudos de apendiculários, porém ainda são poucos os trabalhos desse grupo de animais para o Atlântico Sul, em especial o litoral do Brasil [12][2][24].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Eskinazi-Sant'Anna, Eneida Maria; Tundist, José Galízia (1996). «Zooplâncton do estuário do Pina (Recife-Pernambuco-Brasil): composição e distribuição temporal». Brazilian Journal of Oceanography (1). ISSN 1679-8759. doi:10.1590/s1679-87591996000100003. Consultado em 1 de julho de 2021 
  2. a b c d e Tundisi, T. M (1970). «On the seasonal occurrence of appendicularians in waters off the coast of São Paulo state». Boletim do Instituto Oceanográfico (0): 131–144. ISSN 0373-5524. doi:10.1590/s0373-55241970000100005. Consultado em 1 de julho de 2021 
  3. Morgado, Fernando; Queiroga, Henrique; Melo, Fernando; Sorbe, Jean-Claude (maio de 2003). «Zooplankton abundance in a coastal station off the Ria de Aveiro inlet (north-western Portugal): relations with tidal and day/night cycles». Acta Oecologica: S175–S181. ISSN 1146-609X. doi:10.1016/s1146-609x(03)00037-7. Consultado em 1 de julho de 2021 
  4. Cavalcanti, Eliane A. H.; Neumann-Leitão, Sigrid; Vieira, Dilma A. do N. (setembro de 2008). «Mesozooplâncton do sistema estuarino de Barra das Jangadas, Pernambuco, Brasil». Revista Brasileira de Zoologia (3): 436–444. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/S0101-81752008000300008. Consultado em 1 de julho de 2021 
  5. a b c d e f g Hopcroft, Russell R.; Roff, John C.; Bouman, Heather A. (1998). «Zooplankton growth rates: the larvaceans Appendicularia, Fritillaria and Oikopleura in tropical waters». Journal of Plankton Research (3): 539–555. ISSN 0142-7873. doi:10.1093/plankt/20.3.539. Consultado em 1 de julho de 2021 
  6. a b c d Uye, Shin-ichi; Ichino, Seiko (junho de 1995). «Seasonal variations in abundance, size composition, biomass and production rate of Oikopleura dioica (Fol) (Tunicata: Appendicularia) in a temperate eutrophic inlet». Journal of Experimental Marine Biology and Ecology (1-2): 1–11. ISSN 0022-0981. doi:10.1016/0022-0981(95)00004-b. Consultado em 1 de julho de 2021 
  7. Flood, Per R.; Deibel, Don; Morris, Claude C. (fevereiro de 1992). «Filtration of colloidal melanin from sea water by planktonic tunicates». Nature (6361): 630–632. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/355630a0. Consultado em 1 de julho de 2021 
  8. a b c d e Demetrio., Boltovskoy, (1999). South Atlantic zooplankton. [S.l.]: Backhuys. OCLC 860511273 
  9. a b E., Ruppert, Edward (2005). Zoologia dos invertebrados : uma abordagem funcional-evolutiva. [S.l.]: Roca. OCLC 61150684 
  10. a b Fenaux, Robert (outubro de 1986). «The house of Oikopleura dioica (Tunicata, Appendicularia): Structure and functions». Zoomorphology (4): 224–231. ISSN 0720-213X. doi:10.1007/bf00312043. Consultado em 1 de julho de 2021 
  11. a b LOHMANN, H. (1896). Die Appendicularien der Plackton-Expediction. Col: Ergebnisse der Plankton-Expedition der Humboldt-Stiftung,. [S.l.: s.n.] 148 páginas 
  12. a b c d Forneris, Liliana (1965). «Appendicularian species groups and southern Brazil water masses». Boletim do Instituto Oceanográfico (0): 53–113. ISSN 0373-5524. doi:10.1590/s0373-55241965000100004. Consultado em 1 de julho de 2021 
  13. a b c d Sato, R.; Tanaka, Y.; Ishimaru, T. (1 de abril de 2001). «House Production by Oikopleura dioica (Tunicata, Appendicularia) Under Laboratory Conditions». Journal of Plankton Research (4): 415–423. ISSN 0142-7873. doi:10.1093/plankt/23.4.415. Consultado em 1 de julho de 2021 
  14. a b SHIGA, N. (1985). «Seasonal and vertical distributions of Appendicularia in Volcano Bay, Hokkaido, Japan.». Bulletin of Marine Science. 37 (2): 425–439 
  15. a b c d Hopcroft, Russell R.; Robison, Bruce H. (junho de 2005). «New mesopelagic larvaceans in the genus Fritillaria from Monterey Bay, California». Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom (3): 665–678  line feed character character in |titulo= at position 52 (ajuda)
  16. a b c CAPITANIO, F.L.; DAPONTE, M.C.; ESNAL, G.B. (dezembro de 2003). «The classification of Antarctic appendicularians: the Oikopleura gaussica group». Antarctic Science (4): 476–482. ISSN 0954-1020. doi:10.1017/s0954102003001585. Consultado em 1 de julho de 2021 
  17. a b c ARAVENA, GUILLERMO; PALMA, SERGIO (junho de 2002). «Taxonomic identification of appendicularians collected in the epipelagic waters off northern Chile (Tunicata, Appendicularia)». Revista chilena de historia natural (2). ISSN 0716-078X. doi:10.4067/s0716-078x2002000200005. Consultado em 1 de julho de 2021 
  18. Odum, Eugene P. (1988). Ecologia 1ª ed. [S.l.]: Guanabara Koogan. 448 páginas 
  19. Flood, P. R. (1 de setembro de 2003). «House formation and feeding behaviour of Fritillaria borealis (Appendicularia: Tunicata)». Marine Biology (3): 467–475. ISSN 0025-3162. doi:10.1007/s00227-003-1075-y. Consultado em 1 de julho de 2021 
  20. Lombard, F; Legendre, L; Picheral, M; Sciandra, A; Gorsky, G (5 de janeiro de 2010). «Prediction of ecological niches and carbon export by appendicularians using a new multispecies ecophysiological model». Marine Ecology Progress Series: 109–125. ISSN 0171-8630. doi:10.3354/meps08273. Consultado em 1 de julho de 2021 
  21. Spinelli, Mariela; Guerrero, Raúl; Pájaro, Marcelo; Capitanio, Fabiana (junho de 2013). «Distribution of Oikopleura dioica (Tunicata, Appendicularia) associated with a coastal frontal system (39°- 41°S) of the SW Atlantic Ocean in the spawning area of Engraulis anchoita anchovy». Brazilian Journal of Oceanography (2): 141–148. ISSN 1679-8759. doi:10.1590/s1679-87592013000200006. Consultado em 1 de julho de 2021 
  22. Di Mauro, Rosana; Kupchik, Matthew J.; Benfield, Mark C. (novembro de 2017). «Abundant plankton-sized microplastic particles in shelf waters of the northern Gulf of Mexico». Environmental Pollution: 798–809. ISSN 0269-7491. doi:10.1016/j.envpol.2017.07.030. Consultado em 1 de julho de 2021 
  23. Katija, Kakani; Choy, C. Anela; Sherlock, Rob E.; Sherman, Alana D.; Robison, Bruce H. (agosto de 2017). «From the surface to the seafloor: How giant larvaceans transport microplastics into the deep sea». Science Advances (8): e1700715. ISSN 2375-2548. doi:10.1126/sciadv.1700715. Consultado em 1 de julho de 2021 
  24. Vega-Pérez, Luz Amelia; Campos, Meiri Aparecida Gurgel de; Schinke, Katya Patrícia (dezembro de 2011). «Checklist da classe appendicularia (Chordata: Tunicata) do Estado de São Paulo, Brasil». Biota Neotropica (suppl 1): 761–769. ISSN 1676-0603. doi:10.1590/s1676-06032011000500037. Consultado em 1 de julho de 2021 
Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
Commons Imagens e media no Commons
Wikispecies Diretório no Wikispecies


Ícone de esboço Este artigo sobre Invertebrados, integrado no Projeto Invertebrados é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.