Manuel Firmo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manuel Firmo
Dados pessoais
Nascimento 9 de setembro de 1909
Barreiro
Morte 30 de junho de 2005
Barcelona
Nacionalidade Portugal Portugal
Cônjuge Josefa Ramos

Manuel Firmo (Barreiro, 9 de setembro de 1909Barcelona, 30 de janeiro de 2005) foi um militante anarcossindicalista, esperantista e escritor português, combatente da Guerra Civil Espanhola pela Facção republicana, prisioneiro no Campo de concentração de Gurs, no Campo de Concentração de Argelès-sur-Mer e pelo regime do Estado Novo no Campo de Concentração do Tarrafal. Autor do livro autobiográfico Nas Trevas da Longa Noite.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Manuel Firmo tinha dois irmãos mais novos. O seu pai trabalhava como maquinista do Caminho de Ferro do Sul e Sueste, tendo sido transferido para Faro em 1914. Será por isso nesta cidade que Manuel Firmo irá frequentar a escola primária. A família retorna ao Barreiro em Dezembro de 1918.

O primeiro emprego de Manuel Firmo será como operário de uma fábrica corticeira, aos 12 anos de idade. Será despedido após aderir a uma greve. Posteriormente trabalhará como servente de pedreiro, contínuo nos escritórios da CUF, dos quais será despedido por não querer denunciar dois colegas, e por fim mais uma vez operário corticeiro.

Esperantista[editar | editar código-fonte]

Integra o grupo "Terra e Liberdade" que edita no Barreiro um jornal diário desse mesmo nome, nos anos de 1930 e 1931. A instrução intelectual de Manuel Firmo será por si obtida através da frequência da Biblioteca da Associação dos Corticeiros e da Biblioteca do Sindicato dos Ferroviários. É nesta época que Manuel Firmo trava conhecimento com a Sociedade Esperantista Operária Barreirense, que passa a integrar. Torna-se um convicto adepto do Esperanto, do qual viria a ser professor, inclusive nos campos de concentração onde anos depois estará preso. Aprende a profissão de serralheiro nas Oficinas Gerais do Caminho de Ferro do Sul e Sueste.

Caso do vapor Évora[editar | editar código-fonte]

Manuel Firmo esteve envolvido na resistência activa à acção da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado de 23 de Maio de 1936 nas Oficinas Gerais dos Caminhos‐de‐Ferro do Sul e Sueste, à qual a PVDE se desloca para prender o serralheiro José Francisco. Os operários, entre eles vários importantes futuros agentes políticos como Jaime Serra, em solidariedade com o colega, perseguiram a polícia política à pedrada até ao histórico navio Évora no qual os agentes fugiram para Lisboa, respondendo a tiro às pedras arremessadas pelos operários, ferindo 4 trabalhadores. A grande maioria dos operários presentes seria suspenso ou despedido. No dia 5 de Junho, agentes da polícia política patrulham num veículo dotado de metralhadora as ruas do Barreiro visando a detenção dos ferroviários José Pedro dos Santos, Rodas Nepervil Pinto de Sousa, Augusto Ferreira Durant e Amadeu dos Santos Silva, Reinaldo de Castro, Manuel António Boto, Manuel António Ferro e Manuel Firmo.[3]

Fuga para Espanha[editar | editar código-fonte]

Perseguidos pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado em função do seu envolvimento no caso do vapor Évora, Manuel Firmo e Manuel Boto, companheiros anarcosindicalistas do sindicato ferroviário, atravessam a 7 de Junho de 1936 a fronteira de Portugal para Espanha. Detidos pela polícia espanhola em função da travessia ilegal da fronteira, Manuel Firmo fica preso em Badajoz. Passadas semanas de prisão, escreve a Bernardino Machado, então exilado em Madrid, que consegue obter a sua libertação.[4]

Guerra Civil Espanhola[editar | editar código-fonte]

Acabado de ser colocado em liberdade, Manuel Firmo parte para Madrid onde assiste ao eclodir do Golpe de Estado Fascista de Julho de 1936. Junta-se às milícias da Confederação Nacional do Trabalho, integrando o batalhão número 140 da Brigada Internacional, e parte para a frente de batalha em Somosierra. É ferido por estilhaço de granada. Mais tarde estará ao serviço da aviação republicana como sargento mecânico. Será evacuado para Barcelona em resultado das derrotas dos republicanos e, após a conquista de Barcelona pelos franquistas será um dos muitos milhares de refugiados que em simultâneo atravessarão a pé os Pirenéus para atravessar a fronteira com a França.[5]

Refugiado em França[editar | editar código-fonte]

Será um dos milhares de refugiados da Guerra Civil Espanhola detidos no Campo de Concentração de Argelès-sur-Mer, e posteriormente, no Campo de concentração de Gurs. Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial e a declaração de guerra dos Aliados à Alemanha, Manuel Firmo conseguirá sair do campo de concentração para trabalhar numa fábrica de material aeronáutico nos arredores de Toulouse. Com a derrota da França na guerra será aprisionado de novo no campo de concentração de Argelès-sur-Mer. Será posteriormente integrado em unidades de trabalhos forçados destinadas a colmatar a ausência de mão de obra perdida na guerra.

Regresso a Portugal[editar | editar código-fonte]

Manuel Firmo decide fugir de França para Portugal de modo a não ser forçado a integrar a unidade de trabalhadores refugiados espanhóis enviados à Alemanha pela França de Vichy. Será capturado ao tentar atravessar a fronteira entre Espanha e Portugal, e será aprisionado por motivos políticos durante meses nas cadeias do Aljube, de Caxias e do Forte de Peniche, até ser encarcerado, sem julgamento, no Campo de Concentração do Tarrafal. Beneficiará da amnistia decretada pelo Estado Novo com o fim da Segunda Guerra Mundial e será libertado em 1945, após 53 meses de prisão. Impossibilitado de encontrar emprego em Portugal, partirá para Angola, acompanhado da sua esposa, Josefa Ramos.

Após a Revolução dos Cravos[editar | editar código-fonte]

Manuel Firmo e Josefa Ramos refugiar-se-ão em Barcelona a partir de 1964. Após a Revolução dos Cravos permanecerão nesta cidade, embora mantendo estreitas relações com Portugal, que visitarão todos os verões. Manuel Firmo será colaborador assíduo do jornal A Batalha e membro do Centro de Estudos Libertários de Lisboa. Em 1977 publica o seu importante registo documental de memórias Nas Trevas da Longa Noite.

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Nas Trevas da Longa Noite: Da Guerra de Espanha ao Campo do Tarrafal, 1977, Mem Martins, Edições Europa-América;[6]
  • Caderno d' A Batalha, 2003, Jornal A Batalha;
  • Escritos Inéditos

Referências

  1. A-Infos (9 de março de 2005). «A Morte de Manuel Firmo». A-Infos. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  2. Carlos Fontes (11 de março de 2021). «Anarquismo em Portugal (1796-2021» (PDF). filorbis.pt. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  3. Madga Pinheiro e Ana Cardoso de Matos (4 de fevereiro de 2011). «Do Caso do Vapor Évora ao Tarrafal – Histórias de Ferroviários» (PDF). Câmara Municipal do Barreiro. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  4. Rastros de Rostros (13 de dezembro de 2014). «Manuel Firmo.Sindicalista, Anarquista Y Esperantista.». rastrosderostros.wordpress.com. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  5. Miguel de Sousa (5 de fevereiro de 2005). «Morte de Manuel Firmo, Sindicalista, Anarquista e Esperantista». Câmara Municipal do Barreiro. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  6. Manuel Firmo (7 de maio de 1978). «Nas trevas da longa noite : da guerra de Espanha ao Campo do Tarrafal / Manuel Firmo». Biblioteca Municipal de Ílhavo. Consultado em 10 de agosto de 2021