Mor Gonçalves de Sousa

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Mor Gonçalves de Sousa
Rica-Dona
Nascimento 1210
Morte 7 de setembro de 1283
Sepultado em Mosteiro de Salzedas, Tarouca, Viseu, Portugal
Cônjuge Afonso Lopes de Baião
Dinastia Sousa
Pai Gonçalo Mendes II de Sousa
Mãe Teresa Soares de Ribadouro
Religião Catolicismo romano
Brasão

Mor Gonçalves de Sousa (c.12107 de setembro de 1283[1]) foi uma Rica-dona do Reino de Portugal tendo o seu período de vida, de aproximadamente 70 anos, abrangido os reinados de D. Sancho I de Portugal, D. Afonso II de Portugal e dos irmãos D. Sancho II de Portugal e D. Afonso III de Portugal, ainda sobrevivendo a este último. Foi senhora, por casamento, de Baião e Penaguião. Poderá ter estado ligada ao movimento trovadoresco português, sendo a sua família a maior patrocinadora da arte e o seu marido parece estrear-se na composição durante a crise política de 1247.

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Mor era filha de Gonçalo Mendes II de Sousa, influente magnate e chefe da família de Sousa, e de Teresa Soares de Ribadouro, neta de Egas Moniz IV de Ribadouro, conhecido como O Aio, outra figura não menos influente no passado. Pertencia assim a uma das cinco principais famílias nobres do Reino de Portugal, a Casa de Sousa.

O conflito dos Sousas com a corte e a saída de Portugal[editar | editar código-fonte]

Mor nasceu num período especialmente conturbado para a sua família. Tivera início o turbulento reinado de Afonso II de Portugal, marcado por violentos conflitos internos entre o rei e as suas irmãs Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal, a quem Sancho legara em testamento, sob o título de rainhas, a posse dos castelos de Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos. Ora, Afonso, tentando evitar a supremacia da influência dos nobres no seu governo, pretendia centralizar o seu poder, mas para isso incorria contra as irmãs e em último caso contra o testamento paterno, do qual Gonçalo Mendes, pai de Mor, ficara encarregue de defender. Foi a primeira vez que a, firme apoiante da realeza portuguesa desde a sua fundação, se lhe opôs., o que levou ao afastamento da corte, intensificando o desacordo[2].

Este conflito seria resolvido com intervenção do Papa Inocêncio III; o rei indemnizaria as infantas com uma soma considerável de dinheiro, e a guarnição dos castelos foi confiada a cavaleiros templários, mas era o rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e não as infantas. Porém os Sousas seriam renegados durante todo o reinado, e assim sendo saíram de Portugal, refugiando-se em outras cortes peninsulares.[3].

Regresso e o patrocínio da cultura[editar | editar código-fonte]

Trovadores, representados no Cancioneiro da Ajuda.

A morte prematura de Afonso II em 1223 permitiu o regresso da família de Mor, aproveitando a menoridade de Sancho II de Portugal para voltarem a ganhar influência. De facto, o seu pai consegue novamente a mordomia em dezembro de 1224, mantendo-se depois na corte sem o cargo até 1226[4], e fica à frente do governo de várias tenências, sobretudo na região da Beira. Em algumas delas terá acedido por morte do cunhado, Lourenço Soares de Ribadouro[2]. Há notícias de atos violentos durante o seu período de governo em Lamego[4].

Gonçalo acompanha ainda o monarca em novas batalhas contra os muçulmanos, presenciando as tomadas de Elvas (24 de setembro de 1230) e Arronches. Em Elvas, a comitiva do rei teria chegado tarde, uma vez que as tropas do infante D. Pedro já haviam tomado a cidade com o auxílio de freires portugueses e das tropas de Afonso IX de Leão. Porém tanto Elvas como Juromenha são entregues a Sancho II[4].

A família de Sousa seria a maior patrocinadora da trovadorismo, e Mor estava ligada a variados trovadoresː o seu tio, Garcia Mendes II, os primos Gonçalo Garcia e Fernão Garcia, e o seu marido, Afonso Lopes de Baião. O trovador D. Abril confirma uma doação do seu pai, que ainda arma cavaleiro Gonçalo Gomes de Briteiros, irmão do trovador Rui Gomes de Briteiros[5].

O ambiente geralmente régio em que se centrava esta atividade deparava-se em Portugal com um ambiente mais senhorial, que era o que de facto recebia e fazia florescer o trovadorismo, na língua vernácula (galego-português), em oposição à preferência da cúria régia pelo latim tradicional que continuava a manifestar-se em documentos desta proveniência[5].

Da guerra civil ao casamento[editar | editar código-fonte]

O seu pai, Gonçalo Mendes II, começa a preparar a sua redenção por todas as injustiças e maus atos que fizera no passado. com doações ao Mosteiro de Pombeiro, ligado desde cedo à família. O seu pai viria a falecer a 25 de abril de 1243, tendo sido sepultado na abadia de Alcobaça.[2].

Ambiente de corte[editar | editar código-fonte]

O ambiente na corte pioraria após morte de Gonçalo; Sancho II revelar-se-ia apoiante da política do pai, mas não a consegue pôr em prática, pois os nobres que o influenciaram no início do reinado começaram a provocar várias atrocidades contra as populações, gerando-se uma sensação generalizada de insegurança, agravada pelo facto de o rei deixar de cumprir as obrigações que protegem o povo. Desta forma há imensas notícias de povoações que entregam a sua segurança ao nobre ao invés do rei[4]. Mais do que nunca, o rei rebaixava-se ao primeiro entre pares. O constante descontentamento das várias classes levou a que o Papa Inocêncio IV o declarasse incapaz e o depusesse formalmente, gerando-se uma guerra que opôs o rei ao conde Afonso de Bolonha, seu irmão, apoiado pelo Papa. A vitória de Afonso e a sua ascensão ao trono viria a mudar o ambiente de tensão que Mor teria talvez vivido nos primeiros anos de vida.

Afonso, o conde de Bolonha, acaba por se declarar vencedor da guerra em 1247, e o rei Sancho, que havia sido deposto por uma bula do Papa Inocêncio IV, sai definitivamente de Portugal e refugia-se em Toledo, Reino de Castela, onde falece no ano seguinte. Afonso só se começa a designar III após a morte do irmão, usando até então o título de Regente de Portugal.

Casamento[editar | editar código-fonte]

Foi por esta altura, certamente antes de 1251, que casou com Afonso Lopes de Baião, filho de Lopo Afonso de Baião e Aldara Viegas de Alvarenga. Este casamento foi frutífero para ambas as famílias, pois mantiveram-se unidas até à sua extinção (que curiosamente se terá dado na mesma alturaː a década de 80 do século XIII). Porém eram parentes próximos, pelo que se obteve, a 11 de outubro de 1252, a bula Affectu benevolentia, com a qual obtinha do Papa a dispensa necessária para continuarem casados. O casal não teve descendência. A ascensão de Afonso III significou também o início da ascensão do marido de Mor, que foi largamente recompensado com várias tenências, a partir de 1246, e ainda com um assento no conselho régio.

O casamento abriu também, para Afonso Lopes, as portas para o florescimento cultural que a família de Mor presenciava desde a segunda década do século, quando se começou a afirmar como um centro de cultura trovadoresca.

Gestão fundiária[editar | editar código-fonte]

Mor e as irmãs viriam a tornar-se nas herdeiras fundiárias do pai nos termos de Lamego, Armamar, Tarouca, entre outros. A ausência do irmão delas, Mendo Gonçalves II de Sousa, pode sugerir que tenha falecido antes do pai[6].

Mor deteve muitos haveres nas terras de Basto, sobretudo no concelho de Celorico de Basto e vizinhosː alguns partilhados com as suas irmãs, outros deteve-os sozinha, e partilhando-os depois com o seu marido.

Em 1270 entra em conflito com o seu primo Gonçalo Garcia de Sousa pela herança dos pais. Tendo o seu marido exercido como seu representante junto de Gonçalo Garcia e do Rei, a quem pediram para mediar a partilha, a Mor couberam-lhe os bens de sua mãe acima do rio Douro, e a Gonçalo Garcia o restante. Este tornar-se-ia genro do rei no ano seguinte[7].

Morte e posteridade[editar | editar código-fonte]

Mor Gonçalves falece a 7 de setembro de 1283. É provável que não tenha sobrevivido ao marido, uma vez que há notícias, de 1284, que provam uma contenda do viúvo Afonso com a Sé de Lamego pelo testamento da sua falecida esposa, por bens em Lamego, na qual a Sé saiu vitoriosa. Afonso não teria sobrevivido muito mais a essa contenda[7]. É provável que possa ter saído novamente de Portugal em 1280, e morreria pouco depois do seu regresso em 1284. Sabe-se que por falta de descendência as suas terras foram distribuídas entre o Mosteiro de Salzedas e a Coroa[8]. Deve ter-se sepultado no Mosteiro de Salzedas, dado que nesse mosteiro celebra-se o seu aniversário mortuário[9].

Referências

  1. Ventura 1992, p. 599.
  2. a b c Sottomayor-Pizarro 1997.
  3. Há várias referências, neste período, a membros da família em outras cortesː Garcia Mendes II, tio de Mor, ter-se-ia refugiado em Leão ou na Galiza; há notícias também de Gonçalo Garcia, seu primo, na corte aragonesa.
  4. a b c d Ventura 1992, p. 432.
  5. a b Oliveira 2001.
  6. GEPB 1935-57, vol.29, p. 897-98.
  7. a b Sottomayor-Pizarro 1997, p. 294.
  8. Ventura 1992, p. 294.
  9. Reis 1934.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo XII-P-pg. 147
  • Oliveira, António Resende de (2001). O trovador galego-português e o seu mundo. I. Lisboa: Editorial Notícias. ISBN 972-46-1286-4 
  • Oliveira, António Resende de (1992). Depois do Espetáculo Trovadoresco - A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos sécs. XIII e XIV. Porto: [s.n.] 
  • Reis, Baltasar dos (1934). Livro da fundação do Mosteiro de Salzedas. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa 
  • Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Universidade do Porto 
  • Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário das Famílias de Portugal, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989. vol. X-pg. 322 (Sousas).
  • Ventura, Leontina (1992). A nobreza de corte de Afonso III. II. Coimbra: Universidade de Coimbra 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]