Norberto Nehring

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Norberto Nehring
Norberto Nehring
Nascimento 20 de setembro de 1940
São Paulo
Morte 24 de abril de 1970 (29 anos)
São Paulo
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Walter Nehring
  • Nice Monteiro Carneiro Nehring
Alma mater
Ocupação economista

Norberto Nehring (São Paulo, 20 de setembro de 1940São Paulo, 24 de abril de 1970)[1][2] foi um economista brasileiro e professor da Universidade de São Paulo (USP), morto político da ditadura militar brasileira.[3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Nascido, em São Paulo, Norberto era o filho mais velho de Walter Nehring e Nice Monteiro Carneiro Nehring.[2] Depois do ginasial, cursou o Ensino Técnico de Química Industrial no Instituto Mackenzie e trabalhou na Brasilit e na Pfizer.[1][2][4][5]

Casado com Maria Lygia Quartim de Moraes, tiveram em 1964 a filha Marta Nehring, co-diretora do premiado documentário "15 Filhos", sobre os filhos dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira.[2][6][7]

Era amigo próximo de Juca Kfouri, que foi padrinho de sua única filha.[4]

Carreira Profissional[editar | editar código-fonte]

Em 1963, ingressou no curso de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Após se formar em 1967, tornou-se assistente de História Econômica da faculdade, no ano seguinte começou sua pós-graduação no Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, onde passou a lecionar.[1][2][8]

Desde a década de 1960 militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), acompanhou em 1968, Carlos Marighella na fundação da Ação Libertadora Nacional (ALN), fazendo parte da Coordenação de São Paulo, com Joaquim Câmara Ferreira.[2][3][1]

Em janeiro de 1969, foi cercado em sua própria casa e levado a interrogatório por Romeu Tuma, delegado do DOPS/SP. Permaneceu preso por dez dias testemunhando torturas sofridas por outros integrantes da ALN.[2] Foi liberado para comparecer ao aniversário de 5 anos da filha Marta, após a festa fugiu para Cuba. Sua esposa e filha foram depois encontrá-lo em Cuba.[6]

Em abril de 1970, pretendia retornar ao Brasil, enquanto sua esposa e a filha foram para a França. Ficou quarenta dias em Praga, antes de aterrissar no Brasil, de onde enviou cartas para sua esposa Maria Lygia.[6] Apesar de portar documentos falsos que diziam que ele seria argentino, Nehring foi reconhecido por um antigo colega da Pfizer ao chegar no Aeroporto do Galeão.[2] Nervoso, teria também errado seu nome ao se registrar em um hotel. Na busca por despistar as autoridades, ele passaria por Niterói, Campos, Vitória, Belo Horizonte, e enfim São Paulo. Foi na capital paulista que, encurralado, escreveu uma última mensagem de despedida à família em uma caderneta, na qual relatava seu périplo nos dias anteriores.[7]

Morte[editar | editar código-fonte]

A versão oficial emitida pelo governo foi de que Norberto se suicidou, enforcando-se com uma gravata em um quarto do Hotel Pirajá, no centro de São Paulo, entretanto não houve perícia de local, laudo necroscópico e nem fotos do corpo. O sogro de Norberto foi até o hotel, onde lhe informaram que ninguém nunca se suicidou ali.[1][2][3][9]

Após três meses do suposto suicídio, a mãe de Norberto foi convocada à Delegacia Policial para reconhecer a identidade do filho, foi então que a família soube da morte de Norberto, foi então solicitada a exumação do corpo e a transferência para o jazigo da família.[2][9]

O corpo de Norberto foi enterrado como indigente sob o nome falso que utilizava, Ernest Snell Burmann, no cemitério da Vila Formosa.[3][10]

Os responsáveis identificados pelo desaparecimento e assassinato de Norberto são: Sérgio Paranhos Fleury, Romeu Tuma, Ary Casagrande, Geraldo Rebello e Samuel Haberkorn,[2] integrantes do DOPS/SP, na época o órgão atuava sob o comando de Danilo Darcy de Sá da Cunha e Mello, Secretário da Segurança Pública do governador Abreu Sodré.[1]

Em 1996, o relator do processo 176/96 da CEMDP, Paulo Gustavo Gunet Branco, deferiu, com voto aprovado por unanimidade, a retificação da certidão de óbito de Norberto, alterando a falsa informação que se suicidara para a de que ele morreu “por causas não naturais”.[1][3][11]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g BRASIL, Comissão Nacional da Verdade (2014). Mortos e desaparecidos políticos (PDF). Brasília: CNV. p. 431-435. 1996 páginas. ISBN 9788585142636. Cópia arquivada (PDF) em 9 de setembro de 2021 
  2. a b c d e f g h i j k «NORBERTO NEHRING / Mortos e Desaparecidos». Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva. Consultado em 9 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 5 de janeiro de 2022 
  3. a b c d e «NORBERTO NEHRING - Biografias da Resistência». Memórias da Ditadura. Consultado em 9 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 9 de setembro de 2021 
  4. a b DE MORAES, Maria Lygia Quartim (2019). «Maria Lygia Quartim de Moraes (depoimento, 2019). Rio de Janeiro, CPDOC/Fundação Getulio Vargas (FGV), (2h 6min).» (PDF). CPDOC FGV. Consultado em 9 de setembro de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 9 de setembro de 2021 
  5. «Dossiês | Militantes políticos mortos». Grupo Tortura Nunca Mais. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 2 de maio de 2021 
  6. a b c Cruz, Elaine Patricia (27 de setembro de 2013). «Família de Norberto Nehring, torturado e morto durante a ditadura, pede revisão da certidão de óbito». Agência Brasil. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 9 de setembro de 2021 
  7. a b Lobo, Flávio (12 de março de 2012). «As últimas palavras de Norberto Nehring». GGN. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 26 de outubro de 2019 
  8. «Entre 1970 e 1975, Ditadura Militar assassinou 41 alunos e ex-alunos e cinco docentes da USP». Adusp. 10 de maio de 2019. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 8 de maio de 2021 
  9. a b Mendes, Marina (27 de setembro de 2013). «Comissão da Verdade realiza audiência pública sobre o caso Norberto Nehring». Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 9 de maio de 2021 
  10. «Memórias da ditadura: indigentes, não! Presos políticos». Terra. 3 de agosto de 2015. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  11. Capucho, Vera A. C. (2013). «Nascidos, mortos e desaparecidos da cidade de São Paulo» (PDF). Prefeitura de São Paulo. pp. 23–24. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 8 de fevereiro de 2022 
  12. «Mortos na ditadura militar recebem homenagem no cemitério de Perus». G1. 4 de setembro de 2017. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2019 
  13. «CAVC comemora 70 anos». FEA USP. 4 de dezembro de 2015. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2022 
  14. «Centro Acadêmico da FEA completa 70 anos com livro sobre sua história». USP. 1 de dezembro de 2015. Consultado em 8 de fevereiro de 2022. Arquivado do original em 13 de maio de 2018