N/T Santa Maria

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Santa Maria
   Bandeira da marinha que serviu
Data de encomenda abril de 1951
Construção Société Anonyme John Cockerill (Bélgica)
Batimento de quilha 2 de junho de 1951

entrega = 1953

Porto de registro Lisboa
Número de registro H 421
Indicativo de chamada CSAL
Período de serviço 1953 - 1973
Estado Abatido e demolido
Características gerais
Tipo de navio Navio a turbinas de passageiros
Arqueação 20 906 t (bruta)
12 398 t (líquida)
Deslocamento 21 750 t
Comprimento 185,6 m
Boca 23,09 m
Calado 8,41 m
Propulsão 2 grupos de turbinas com 25 500 cv
2 hélices
Velocidade 22 nós
Tripulação 293
Passageiros 1182

O N/T Santa Maria foi um paquete português. Pertenceu à Companhia Colonial de Navegação (CCN), em cuja frota se integrou de outubro de 1953 a julho de 1973.

História[editar | editar código-fonte]

Foi construído nos estaleiros da Société Anonyme John Cockerill, na Bélgica, entre 1951 e 1953. A sua encomenda resultou de um requerimento ao Governo feito pela Companhia Colonial com data de 17 de fevereiro de 1951 no sentido de ser autorizada a "construir um segundo VERA CRUZ extra Despacho 100", o que foi autorizado pelo ministro Américo Tomás pelo seu Despacho 33 de 9 de março de 1951, complementando o Plano de Renovação da Marinha de Comércio - conhecido por Despacho 100 - implementado por Américo Tomás, então ministro da Marinha de Portugal, a partir de 1945. Ao abrigo desse plano, foram construídos 56 novos navios para a marinha mercante portuguesa - entre os quais vários grandes paquetes como o "N/T VERA CRUZ" - que ficaram conhecidos como "navios do Despacho 100". O SANTA MARIA não fez parte do Despacho 100, como erradamente se afirma com frequência.

O seu projecto era baseado no do "N/T Vera Cruz", também pertencente à CCN, e que entrara ao serviço em 1952. Ambos tinham cerca de 20 000 toneladas, 20 nós de velocidade e lotação para 1 200 passageiros.[1] O Santa Maria contava com 280 camarotes: 156 passageiros alojados em 1.ª classe, 226 em 2.ª classe e 800 em 3.ª classe.

A 2 de junho de 1951 efetuou-se o assentamento da quilha do Santa Maria, na mesma data em que o Vera Cruz foi lançado à água. Lançado ao mar em 1952, foi entregue à Companhia Colonial de Navegação a 20 de outubro de 1953, no porto de Antuérpia, tendo sido visitado pelo Rei Balduíno dos Belgas a 19-10-1953. Dois dias mais tarde irá largar de Antuérpia com destino a Lisboa, comandado por Mário Simões da Maia.[2]

A sua viagem inaugural iniciou-se a 12 de novembro de 1953, ligando Portugal ao Brasil, Uruguai e Argentina, levando a bordo o ministro Américo Tomás. Este recebeu a bordo os presidentes Getúlio Vargas e Peron durante as primeiras escalas no Rio de Janeiro e em Buenos Aires.[3]

Durante a sua carreira foi empregue na ligação entre Portugal e as Américas (do Norte, Central e do Sul). Foi o único paquete português com ligações regulares a portos dos Estados Unidos da América.

Assalto ao Santa Maria[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Operação Dulcineia

O "Santa Maria" ficou célebre pelo seu sequestro, de 21 para 22 de janeiro de 1961, por um grupo de 24 exilados políticos portugueses e espanhóis - integrantes da Direção Revolucionária Ibérica de Libertação (DRIL) -, que então faziam oposição política aos governos de António de Oliveira Salazar e de Francisco Franco, sob o comando do capitão Henrique Galvão e de Jorge de Soutomayor, desencadeando a chamada "Operação Dulcineia". O paquete foi então chamado de "Santa Liberdade".[4] Durante a ação foi assassinado[5] o 3.º piloto, o oficial João José Nascimento Costa. O paquete acabou por fundear no porto do Recife, no Brasil, em 2 de fevereiro seguinte. O episódio constitui-se no primeiro sequestro político de um transatlântico na história contemporânea.

Além de 192 viagens regulares, ao Brasil e América Central, e Angola (uma viagem em 1958, a única na linha de África), o Santa Maria fez 11 cruzeiros turísticos, à Madeira e Canárias (fim de ano), Mediterrâneo (2), Norte da Europa (1) assim como cruzeiros às Caraíbas em 1969 e 1970, partindo de La Guaira, Venezuela. As viagens eram intercaladas com a carreira normal da América do Sul e Central, sendo que estas custavam (em modo cruzeiro) de 17 a 37 contos por passageiro, dependendo este preço do alojamento num camarote de 4 pessoas de classe turísitica ou numa suite. Este cruzeiro incluía uma viagem que partia de Lisboa e retornava em 28 depois de fazer escala em Vigo, Funchal, Tenerife, Curaçao, São João do Porto Rico e Port Everglades.[6]

No dia 16 de abril de 1973 o paquete o Santa Maria teve uma avaria numa das turbogeradoras (máquinas auxiliares) ao sair do porto de Lisboa, tendo voltado a atracar, no cais de Alcântara e sido posteriormente transferido para o Mar da Palha. Com apenas 19 anos foi vendido para ser desmantelado pelo sucateiro Yuta Steel & Iron Works Co. Ltd em Kaohsiung, República da China. Neste estaleiro reencontraria uma última vez o paquete Vera Cruz, ambos construídos em Antuérpia.[7]

Referências

  1. Correia, Luís Miguel (1992). Paquetes Portugueses. Lisboa: Edições Inapa. p. 115 
  2. Correia, Luís Ribero (1992). Paquetes Portugueses. Lisboa: Edições Inapa. p. 119 
  3. Correia, Luís Miguel (1992). Paquetes Portugueses. Lisboa: Edições Inapa. p. 123 
  4. O assalto ao ‘Santa Maria’ inː antt.dglab.gov.pt Consultado em 16 mai 2017.
  5. O assalto ao ‘Santa Maria’, eficaz golpe publicitário. Inː Diário de Notícias, 13 set 2014. Disponível emː http://150anos.dn.pt/2014/09/13/o-assalto-ao-santa-maria-eficaz-golpe-publicitario/ Arquivado em 26 de outubro de 2016, no Wayback Machine. Consultado em 16 mai 2017.
  6. Correia, Luís Miguel (1992). Paquetes Portugueses. Lisboa: Edições Inapa. p. 175 
  7. Correia, Luís Miguel (1992). Paquetes Portugueses. Lisboa: Edições Inapa. p. 191 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Correia, Luís Miguel "O Paquete Santa Maria de 1953". In Revista de Marinha n.º 1016, de julho/agosto de 2020
  • Correia, Luís Miguel Correia. Paquetes portugues, Edição de Edições Inapa, Lisboa, 1992
  • Galvão, Henrique. Santa Maria. My crusade for Portugal. London: Weidenfeld & Nicolson, 1961.
  • Zeiger, Henry A. The seizing of the Santa Maria. New York: Popular Library, 1961.
  • Soutomaior, Jorge: Eu roubei o Santa Maria. Relato de uma aventura real, Vigo: Galaxia, 1999, ISBN 84-8288-271-6

Ligações externas[editar | editar código-fonte]