Roda Viva (peça)

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Roda viva é uma peça de teatro brasileira. Foi escrita por Chico Buarque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Foi a primeira incursão de Chico Buarque na área da dramaturgia.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Na estreia, fizeram parte do elenco Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro, nos papéis principais, e a temporada foi considerada um sucesso.

Durante a segunda temporada, com Marília Pêra, André Valli e Rodrigo Santiago substituindo o elenco original, a obra virou um símbolo da resistência contra a ditadura militar. Um grupo de cerca de vinte pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, espancou os artistas e depredou o cenário.[1] Segundo a Revista O Cruzeiro,[2] de 9 de novembro de 1968, participou do ataque ao elenco do espetáculo Roda Viva João Marcos Monteiro Flaquer.[3]

Após o revés na capital paulista, o espetáculo voltou a ser encenado, desta vez em Porto Alegre. No entanto, os atores da peça voltaram a ser vítimas da violência e intransigência do CCC e, após este segundo incidente, o Roda Viva deixou de ser encenada. Mas esta é considerada uma das mais importantes peças de teatro brasileiras já produzidas na década de 1960.

O enredo[editar | editar código-fonte]

O espetáculo conta a história de um ídolo da canção que decide mudar de nome para agradar ao público, em um contexto de uma indústria cultural e televisiva nascente no Brasil dos anos 60. O personagem é a representação de uma figura manipulada - pela indústria fonográfica e/ou imprensa - que promove uma reflexão a cerca da sociedade de consumo. [4]

A peça é encenada em dois atos, contando a ascensão e queda de Benedito Silva, que passou a adotar o nome de Ben Silver. Mas o que marcou a peça foi a sua agressividade proposital com o intuito de chocar o público para os problemas que cercavam o país na época.

Censura e bombardeamento do teatro[editar | editar código-fonte]

Em julho de 1968, um grupo de vinte pessoas ligadas ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, agrediu artistas e depredou o cenário.[5] Em setembro do mesmo ano a peça estreiou no Rio Grande do Sul, a violência se repetiu e o espetáculo foi proibido pela censura.[6] O espetáculo foi considerado pela censura como "degradante" e "subversivo". Segundo o censor responsável, Mario F. Russomano, Chico Buarque "criou uma peça que não respeita a formação moral do espectador, ferindo de modo contundente todos os princípios de ensinamento de moral e de religião herdados de nossos antepassados". [7]

De acordo com o documentário Beyond Citizen Kane, produzido pela rede de televisão britânica Channel Four, um teatro que apresentava a peça foi bombardeado, logo após a edição do Ato Institucional Número Cinco (AI-5).

Principais personagens e atores[editar | editar código-fonte]

A canção-tema[editar | editar código-fonte]

Chico Buarque, alem de autor da peça, também criou a sua canção-tema, com o mesmo título.

Na década de 60, esta canção foi gravada com o grupo MPB4. Em 2004, a cantora Fernanda Porto regravou, ao lado de Chico, uma versão mais moderna de Roda Viva.

Referências

  1. Banco de dados da Folha de S. Paulo
  2. «CCC ou O Comando do Terror». O Cruzeiro. Consultado em 6 de setembro de 2013 
  3. «Revista Veja, 5 de maio de 1999». Consultado em 6 de setembro de 2013 
  4. http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_biografia&cd_verbete=602
  5. http://redeglobo.globo.com/globoteatro/bis/noticia/2013/09/roda-viva-peca-de-chico-buarque-e-um-marco-do-teatro-nacional.html
  6. «O Teatro na época da ditadura». HistóriaNet. Consultado em 7 de junho de 2011. A tensão chegou ao auge em julho, quando o Comando de Caça aos Comunistas invadiu, em São Paulo, o teatro onde estava em cartaz a peça, "Roda Viva", de Chico Buarque, espancando e maltratando vários membros do elenco e destruindo o cenário e o equipamento técnico. Em setembro, no Rio Grande do Sul, a mesma peça estava em cartaz, e voltaram a ser agredidos, e a censura acabando por proibir o espetáculo. [...] Reunidos na Associação Brasileira de Imprensa, artistas de teatro e cinema protestaram contra a invasão e depredação do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e o espancamento do elenco e de membros da equipe técnica do espetáculo "Roda Viva". Os artistas presentes à reunião, entre eles Tônia Carrero, Paulo Autran, Norma Benguel, Oduvaldo Vianna Filho, Osvaldo Loureiro, Flávio Rangel, Norma Blum e Cecil Thiré, exigiram a detenção dos culpados e a condenação "do terrorismo de direita". O espetáculo já havia terminado quando cerca de 20 pessoas começaram a depredar tudo, gritando que eram do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e que não admitiam obscenidades no teatro. O público retirou-se rapidamente, enquanto os agressores partiram em direção ao camarim dos atores, quebrando o que encontrassem pela frente. Armados de revólveres, cassetetes, soco-inglês e martelos, espancaram o elenco da peça, despiram as atrizes e obrigaram Marília Pêra e Rodrigo Santiago, também despidos, irem para a rua (Michalski, 1985). 
  7. http://brasil.indymedia.org/media/2011/10//498320.pdf

Ligações externas[editar | editar código-fonte]