José António Falcão

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José António Falcão
José António Falcão
Nascimento 15 de agosto de 1961
Lisboa
Cidadania Portugal
Ocupação historiador de arte, historiador
Prêmios
  • Grande-Oficial da Ordem do Mérito
  • Cross of the Civil Order of Alfonso X the Wise

José António Nunes Mexia Costa Falcão[1] GOMCvNSC (Lisboa, São Jorge de Arroios, 15 de Agosto de 1961) é um historiador da arte, académico e conservador de museus português.

Actividade académica[editar | editar código-fonte]

José António Falcão é formado em História da Arte e Arquitectura.[2]

Enquanto docente, vem colaborando com a Universidade Católica Portuguesa e outras instituições portuguesas, espanholas, brasileiras na formação de conservadores do património e em projetos científicos no âmbito da inventariação, defesa e valorização de monumentos históricos e bens culturais. A sua bibliografia conta com cerca de três centenas de títulos, a maioria dos quais dedicados à história da arte e da arquitectura e ao património imaterial.[3]

Em 1997, era assistente na Universidade Católica Portuguesa, sendo professor de História da Arquitectura Religiosa na mesma universidade em 2000.[4]

Museologia[editar | editar código-fonte]

O Padre António Morais, S.J., e José António Falcão inventariando um sino medieval em Melides

A actividade de José António Falcão incide especialmente no património cultural do Sul de Portugal.[3]

Entre 1993, foi conservador da Casa dos Patudos, em Alpiarça, dirigindo a mesma instituição entre 2003 e 2008.[5]

Em 1997 era secretário da Comissão Nacional de Arte Sacra e do Património Cultural da Igreja, na Conferência Episcopal Portuguesa, sendo então considerado um experiente conhecedor do património religioso português.[2]

Exerceu funções técnicas no Museu de Évora e no Museu Calouste Gulbenkian, vindo a organizar a Rede de Museus da Diocese de Beja, com oito pólos em Santiago do Cacém, Cuba, Castro Verde, Moura, Sines, Beja e Grândola.[5]

Dirigiu o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, fundado em 1984 pelo bispo D. Manuel Franco Falcão, desde a sua fundação até à sua extinção, em 2016,[6] trabalhando de perto com a equipa técnica designada para esse serviço por D. Manuel Franco Falcão e D. António Vitalino Dantas, num período em que o DPHADB se tornou bastante conhecido pelas atividades no âmbito do estudo, salvaguarda e a valorização dos bens culturais religiosos do Baixo Alentejo.[7] Segundo Maria Isabel Roque, "o trabalho desenvolvido neste departamento foi considerado exemplar, servindo de modelo procurado por outras comissões diocesanas ligadas à conservação artística".[8]

Entre as suas iniciativas destacaram-se a celebração de protocolos com institutos do Ministério da Cultura e municípios da região; a conservação de igrejas históricas e o restauro dos seus tesouros artísticos; a organização de exposições em Portugal e no estrangeiro; a criação da Rede de Museus da Diocese de Beja;[9] e a realização do Festival Terras sem Sombra.[10]

Foram vários os galardões recebidos pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja durante a direcção de José António Falcão. Em 1999 e 2000 recebeu dois louvores públicos da Santa Sé, sendo agraciado com em 2001 com a Medalha de Mérito Municipal - Grau Prata, outorgada pelo Município de Beja. Em 2004, o Ministério da Cultura português atribuiu ao Departamento a Medalha de Mérito Cultural, tendo o então ministro da Cultura, Pedro Roseta, reconhecido "o inestimável trabalho desenvolvido na área de conservação e do restauro do património móvel e imóvel do Baixo Alentejo".[11] Em 2005, recebeu numa cerimónia em Bergen, na Noruega, o Prémio Europa Nostra da União Europeia, na categoria de Serviços Consagrados à Conservação do Património, “pela sua perseverança exemplar, competência e eficiência na defesa do inestimável património cultural religioso contra a destruição e o abandono”.[12] Em Fevereiro de 2009, recebeu o Prémio Vasco Vilalva 2008, da Fundação Calouste Gulbenkian, no valor de 50 mil euros, pelo seu contributo para a defesa do património artístico da região e pelos projectos “Monumentos Vivos” e “ Festival “Terras sem Sombra” de Música Sacra do Baixo Alentejo.[13] Finalmente, em 2010 recebeu o Prémio Árvore da Vida - P. Manuel Antunes, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Conferência Episcopal Portuguesa.[7]

Por sua vez, no programa de exposições temporárias organizadas desde 1990 pelo Departamento dirigido por Falcão, destacou-se a exposição "Entre o Céu e a Terra - Arte Sacra da Diocese de Beja", patente entre 1989 e 1999 na Pousada de São Francisco, em Beja, e entre 2000 e 2001 no Panteão Nacional, em Lisboa, premiada com o Prémio Professor Reynaldo dos Santos para a melhor exposição temporária, recebendo ainda o Prémio da Associação Portuguesa de Museologia.[11]

Foi também responsável pela redescoberta dos percursos do Caminhos de Santiago através de sucessivas campanhas de investigação no terreno e propôs uma nova carta das rotas jacobeias em Portugal.[14]

Presidiu, em 2014-2015, ao Conselho de Administração do Opart - Organismo de Produção Artística, EPE, que integra o Teatro Nacional de São Carlos, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Companhia Nacional de Bailado (que funciona no Teatro Camões).[15]

Em 2016, esteve na génese do Centro UNESCO de Arquitectura e Arte, um organismo vocacionado para a disseminação de boas práticas de conservação e gestão do património cultural.[16]

Ainda em 2016, foi eleito presidente da International Commission of Sacred Art (ICSA), a que se seguiria, em 2017, a escolha para vice-presidente de Europae Thesauri. É igualmente membro da organização pan-europeia Future for Religious Heritage, com sede em Bruxelas. Em 2018, foi nomeado perito do International Scientific Committee on Places of Religion and Ritual (PRERICO), um dos comités especializados do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), sediado em Paris.[17]

No decurso dos últimos anos, tem vindo a dedicar especial atenção ao estudo, salvaguarda e musealização do património de comunidades rurais e piscatórias, desenvolvendo uma metodologia para a sua documentação, preservação e dinamização que cruza o património cultural e o património natural.[18]

Extinção do Departamento do Património da Diocese de Beja[editar | editar código-fonte]

Em 1984 dirigiu o projecto Atlas, criado pelo bispo D. Manuel Falcão, com o objectivo de inventariar o património religioso da Diocese de Beja. Contratualizado para ser concluído até ao fim de Abril de 2011, o projecto acabou, alegadamente, por não ser concluído, e foi esquecido com a extinção do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHA) em 2016.[6]

Segundo foi noticiado, juntamente com o Festival Terras sem Sombra, foram pagos mais de 200 mil euros a duas empresas criadas por José António Falcão e sua mulher, Sara Fonseca, enquanto director e vogal, respectivamente, da DPHA. Adicionalmente, outros montantes na ordem das centenas de milhares de euros foram igualmente cobrados por serviços não relacionados com os projectos pelas empresas de José António Falcão. O projecto foi comparticipado em 700 mil euros pelo programa Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Tanto os apoios da União Europeia como cerca de 430 mil euros pagos pela Diocese de Beja foram devolvidos, segundo a mesma fonte noticiosa.[6]

Em sede de resposta, José António Falcão negou essas acusações.[19]

Prémios e condecorações[editar | editar código-fonte]

A 8 de Junho de 2009, recebeu da Presidência da República Portuguesa o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, pela Presidência da República Portuguesa, em reconhecimento pelos serviços prestados ao país.[20] No mesmo ano, recebeu a Medalha de Mérito, do município de Santiago do Cacém.[21]

Em 2011, recebeu da Presidência da República Francesa a Médaille de la jeunesse, des sports et de l'engagement associatif.[22]

A 19 de Junho de 2012, foi agraciado com a Cruz da Ordem Civil de Afonso X o Sábio, pelo Rei Juan Carlos de Espanha.[23][24]

Pela pesquisa realizada sobre a figura de Martim Soares Moreno natural de Santiago do Cacém e capitão-mor do Ceará na primeira metade do século XVII, recebeu em setembro de 2012 a Medalha Barão de Studart, atribuída pelo Instituto do Ceará,[25] sendo agraciado em 2019 pelo Ministério da Defesa do Brasil com a Medalha Martim Soares Moreno.[26]

Em outubro de 2012, foi investido Cavaleiro de Graça e Devoção da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém do Vaticano ou da Santa Sé,[24] recebendo o mesmo grau em 2014 na Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, em 2014, e na Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, da Casa Real Portuguesa (2012).[carece de fontes?].

Referências

  1. «Diário da República». Ministério da Cultura - Instituto Português do Património Arquitectónico. Consultado em 17 de janeiro de 2021 
  2. a b «Criminalidade à porta» (PDF). Diário de Notícias (Madeira), ARBPM. 27 de outubro de 1997. Consultado em 29 de abril de 2024 
  3. a b Margarida Ochôa, "Perfis de Longe: José António Falcão, Sábio Peregrino", em Diário do Sul, Évora, 4 de Janeiro de 2010, p. 9.
  4. «Beja dá exemplo no património» (PDF). Diário de Notícias (Madeira), ARBPM. 24 de janeiro de 2000. Consultado em 29 de abril de 2024 
  5. a b Maria Isabel Roque, O Sagrado no Museu, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2011, pp. 138-143.
  6. a b c «Projecto pioneiro não serviu para nada e custou meio milhão de euros à Diocese de Beja». PÚBLICO. Consultado em 4 de julho de 2020 
  7. a b «Bispo de Beja diz que Prémio Árvore da Vida é estímulo para dioceses com poucos recursos | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura». www.snpcultura.org. Consultado em 14 de setembro de 2020 
  8. Isnart, Cyril; Mus-Jelidi, Charlotte; Zytnicki, Colette, eds. (2018). «Une histoire du patrimoine religieux au Portugal (XIX-XXe siècles)». Fabrique du tourisme et expériences patrimoniales au Maghreb, XIXe-XXIe siècles (em francês). [S.l.]: Centre Jacques-Berque. p. 11. Dans cette dernière catégorie, le département du patrimoine historique et artistique du diocèse de Beja, créé en 1984 par l'évêque D. Manuel Franco Falcão (1922-2012) et dirigé par José António Falcão (né en 1961), est considéré comme exemplaire et est devenu le modèle que d'autres commissions diocésaines d'art ont cherché à suivre. 
  9. Francisco Torrado, "Museu de Arte Sacra de Grândola", em Invenire, III, Lisboa, 2011, pp. 72-73.
  10. "O povo alentejano mantém-se muito fiel àquilo que são as suas origens", https://sol.sapo.pt/artigo/665113/-o-povo-alentejano-mantem-se-muito-fiel-aquilo-que-sao-as-suas-origens/ Consultado em 20 de Setembro de 2020
  11. a b Lusa (1 de junho de 2004). «Departamento da Diocese de Beja recebe Medalha de Mérito Cultural». PÚBLICO. Consultado em 14 de setembro de 2020 
  12. «Prémio EUROPA NOSTRA da União Europeia para o Património Cultural atribuído a Portugal». Centro Nacional de Cultura. 3 de junho de 2005. Consultado em 14 de setembro de 2020 
  13. «Departamento da Diocese de Beja recebeu Prémio Vasco Vilalva». Agência ECCLESIA. 5 de fevereiro de 2009. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  14. Cfr. a síntese apresentada em Itinerante, III, Lisboa, 2010, pp. 38-45 e 55-58.
  15. "José António Falcão vai presidir ao Conselho de Administração do Opart", em Sol, Lisboa, 13 de Fevereiro de 2014, p. 23
  16. «Centro UNESCO para a Arquitetura e a Arte Religiosas nasce no Alentejo | e-cultura». www.e-cultura.pt. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  17. Informação, Sul (3 de abril de 2018). «José António Falcão é o primeiro português no Comité Internacional para os Lugares Religiosos». Sul Informação. Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  18. «Projecto "Sonotomia" no Litoral Alentejano - Correio Alentejo». Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  19. «Direito de Resposta referente à notícia "Arte sacra de Beja começa a aparecer"». Correio da Manhã. Consultado em 30 de janeiro de 2021 
  20. «- Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  21. «Comemoracoes Dia do Municipio Santiago do Cacem Cerimonia de Entrega de Condecoracoes Municipi». Rostos on-line. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  22. «Remise de la Médaille de la Jeunesse et des Sports à M. José António Falcão.». La France au Portugal. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  23. "Espanha atribuiu Mérito ao Homem do Património!", em Correio Alentejo, Beja, 11 de Março de 2011, pp. 1 e 6.
  24. a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca "José António Nunes Mexia Beja da Costa Falcão". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 6 de outubro de 2015 
  25. Século, Jornal O. (10 de setembro de 2012). «Historiador José António Falcão condecorado pelo Brasil com Medalha Barão de StudartO Século de Joanesburgo | O Século de Joanesburgo». Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  26. «José António Falcão recebe Medalha Martim Soares Moreno | Rádio Voz da Planície». Rádio Voz da Planície - 104.5FM - Beja. Consultado em 11 de janeiro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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