Língua pomerana

Pomerano (Pommersch) | ||
---|---|---|
Falado em: | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
|
Região: | Europa e América do Sul | |
Total de falantes: | Não há números exatos | |
Família: | Indo-europeia Germânica Germânica ocidental Pomerano |
|
Escrita: | alfabeto latino | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo, Brasil) | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | -- |
|
ISO 639-2: | nds |
|
ISO 639-3: | nds |
O pomerano (Pommersch, Pommerschplatt ou Pommeranisch) é uma variedade do baixo-alemão falada pelos pomeranos e descendentes em várias regiões do Brasil, especialmente nos estados meridionais e no estado do Espírito Santo.[2]
O nome Pomerânia vem do eslavo po more, que significa Terra junto ao Mar.[3]
Quase extinta na Pomerânia histórica, sendo praticamente falada apenas no Brasil,[4] atualmente a língua pomerana já tem uma escrita, dada pelo linguista Ismael Tressmann, e nos municípios mais pomeranos do estado do Espírito Santo já existem aulas de língua pomerana, por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO).[5]
O pomerano é diferente do alemão-padrão, uma vez que ambas as línguas têm origens distintas. O pomerano assemelha-se mais ao holandês, vestfaliano e saxão antigo. [6]
Índice
Classificação linguística[editar | editar código-fonte]
O Pomerano é uma língua baixo-saxônica, pertencente ao grupo de idiomas falados na região do Mar Báltico. Nesse grupo linguístico também estão o vestfaliano, o menonita e o holandês. O inglês, língua anglo-saxônica, também é aparentado com o pomerano. As variedades linguísticas do Pomerano que tiveram maior presença no Espírito Santo foram as provenientes da Pomerânia Oriental. O alemão-padrão, por sua vez, pertence a um outro grupo de línguas, o alto-alemão.[7]
História[editar | editar código-fonte]
A Alemanha, enquanto Estado-nacional, apenas se unificou em 1871, portanto o alemão-padrão hoje existente era, até o século XIX, uma língua literária, usada por Martinho Lutero na sua famosa tradução da Bíblia. O povo alemão, no seu dia a dia, não usava o alemão-padrão para se comunicar, mas diversos dialetos regionais.[8]
Com a imigração alemã no Brasil, no decorrer dos últimos dois séculos, os dialetos alemães também vieram a se estabelecer como uma língua regional. Enquanto na Alemanha o alemão-padrão serviu para os falantes de diferentes dialetos poderem se comunicar, no Brasil, devido à ainda incipiente consolidação do alemão-padrão aquando do início da imigração, esse papel foi desempenhado por um dialeto, o hunsrückisch, falado no oeste da Alemanha.[9] Todavia, em algumas localidades brasileiras, outros falares germânicos predominaram. Nos municípios de Westfália (Rio Grande do Sul) e de Rio Fortuna (Santa Catarina), o dialeto vestfaliano é o usado.[10] Nos municípios de Pomerode (Santa Catarina) e Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo), predominou o pomerano.[11]
Os imigrantes alemães no Brasil eram provenientes de diversas partes da Alemanha,[9] porém, no caso particular do estado do Espírito Santo, 63% dos imigrantes alemães eram provenientes da Pomerânia, uma região entre o norte da Alemanha e da Polônia.[12]
Extinção na Alemanha[editar | editar código-fonte]
O baixo-saxão, ao qual o pomerano pertence, foi língua franca, na forma oral e escrita, em toda a região do mar Báltico. No século XIII, um grupo de comerciantes falantes do baixo-saxão formaram uma aliança mercantil conhecida como Liga Hanseática. Sua atuação espalhou-se por várias cidades portuárias da região do Báltico, e o baixo-saxão tornou-se língua internacional. Na época, o baixo-saxão tinha todas as credenciais de língua, inclusive com escrita própria e tradução da Bíblia feita por um colaborador de Martinho Lutero, meio ano antes da divulgação da famosa tradução feita em alemão; porém, com a decadência da Liga Hanseática, no final do século XVI e no início do século XVII, o baixo-saxão passou a ser tratado como um mero dialeto. Posteriormente, o alemão tornou-se a língua oficial e de prestígio, e os idiomas dos povos saxônicos, como o pomerano, passaram a ser vistos como "línguas do proletariado", inferiores ao alemão-padrão. Após a Segunda Guerra Mundial, o pomerano tornou-se uma língua moribunda na Europa, e seus falantes foram deixando de usá-lo, em detrimento do idioma alemão.[13][14]
Depois da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, toda a Pomerânia ficou sob controle militar soviético e a fronteira polonesa-alemã foi deslocada para oeste, de maneira que a Pomerânia ficou dividida na linha Oder-Neisse, entre a Polônia e a zona alemã sob administração soviética - que se tornou mais tarde a república comunista da Alemanha Oriental [15][16].

A população alemã dos territórios a leste da nova linha de fronteira foi quase completamente expulsa, e a área foi repovoada primariamente com poloneses, russos e ucranianos de ascendência polonesa. Os alemães falantes de pomerano tiveram que se refugiar em outras regiões da Alemanha, onde o pomerano não era falado. Por essa razão, o pomerano está, atualmente, praticamente extinto na Europa.[17][18][19][20][21][22][23][24][25]
Situação no Brasil[editar | editar código-fonte]
O pomerano é falado em diversas regiões do Brasil, especialmente nos estados mais meridionais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, bem como no estado do Espírito Santo. Muitas comunidades alemãs no Brasil surgiram em regiões inóspitas, onde era escassa a presença de falantes de português. Em decorrência, muitas dessas comunidades conseguiram preservar a língua de origem por várias gerações.[26] Esse isolamento linguístico e cultural foi combatido de forma agressiva pelo governo nacionalista de Getúlio Vargas, por meio da campanha de nacionalização, entre 1938 e 1945.[27]
Nos últimos anos, os governos têm promovido o estudo e a preservação do idioma pomerano. Por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO) tem-se buscado incentivar culturalmente os municípios brasileiros que possuem o pomerano como língua co-oficial, ou que tenham muitos falantes dessa língua. O programa busca capacitar professores da rede pública de modo que possam ensinar o idioma pomerano nas escolas locais.[28]
Uma das localidades mais conhecidas do Brasil onde prevalece o bilinguismo pomerano-português é Pomerode, Santa Catarina. Uma das localidades onde se falava o baixo-alemão é Dona Otília, localizada no município de Roque Gonzales, Canguçu, Região das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul. No Espírito Santo, nas cidades de Afonso Cláudio, Pancas, Itarana, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá (onde é língua oficial), Vila Pavão, Domingos Martins e Laranja da Terra o pomerano se tornou a língua corrente por ocasião da chegada dos imigrantes.[29] Até hoje é a língua materna de muitos habitantes da região, e em vários dos distritos das cidades acima citadas é a língua mais falada. No entanto, por muitos anos, a alfabetização dos pomeranos da região era feita em alemão, e posteriormente em português, por isso uma pequena porção de seus falantes a escreve; em geral comunicam-se de forma escrita em alemão ou português.
Também foi aprovada em agosto de 2011 a PEC 11/2009, emenda constitucional que inclui no artigo 182 da Constituição Estadual a língua pomerana, junto com a língua alemã, como patrimônios culturais do Espírito Santo.[30][31][32][33]
Santa Maria de Jetibá também possui estação de rádio em língua pomerana, a Pommer Rádio.[34]
Municípios brasileiros com língua oficial pomerana[editar | editar código-fonte]
Espírito Santo[editar | editar código-fonte]
- Domingos Martins[30][35][36]
- Laranja da Terra[30][36]
- Pancas[30][36][37]
- Santa Maria de Jetibá[30][38]
- Vila Pavão[30][39]
Rio Grande do Sul[editar | editar código-fonte]
Rondônia[editar | editar código-fonte]
- Espigão do Oeste (em fase de aprovação)[44][45][46][47]
Santa Catarina[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ [1], Gazeta, acessado em 24 de maio de 2017
- ↑ Renata Pinz Dietrich. «180 anos de Imigração Alemã». Consultado em 12 de agosto de 2007
- ↑ Der Name Pommern (po more) ist slawischer Herkunft und bedeutet so viel wie „Land am Meer“. (Pommersches Landesmuseum, alemã)
- ↑ Os Pomeranos Reivindicam 5 Ações Prioritárias ao Governo Brasileiro, acessado em 21 de agosto de 2011
- ↑ Pomeranos comemoram 152 anos de história e cultura na Ales, acessado em 2 de novembro de 2011
- ↑ Espírito Santo investe na preservação da língua pomerana
- ↑ Ismael Tressmann. 2007. O uso da língua no cotidiano e o bilinguismo entre pomeranos. V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística Belo Horizonte, 28 de fevereiro - 3 de março de 2007.
- ↑ How Martin Luther’s translation of the Bible influenced the German language
- ↑ a b Martina Meyer (2009). «DEITSCH OU DEUTSCH? MACROANÁLISE PLURIDIMENSIONAL DA VARIAÇÃO DO HUNSRÜCKISCH RIO-GRANDENSE EM CONTATO COM O PORTUGUÊS» (PDF). University of Nebraska -Lincoln
- ↑ A situação de contato plurilíngue no sul do Brasil
- ↑ Do nativo ao pomerano: as línguas, os dialetos e falares vivos de um Brasil pouco conhecido
- ↑ «Estatísticas». 2003. Consultado em 21 de julho de 2012
- ↑ ESTRUTURA SILÁBICA DA LÍNGUA DE IMIGRAÇÃO POMERANA: ANÁLISES PRELIMINARES
- ↑ O POMERANO: UMA LÍNGUA BAIXO-SAXÔNICA
- ↑ Werner Buchholz, Pommern, Siedler, 1999, pp.512-515, ISBN 3886802728
- ↑ Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, pp.373ff, ISBN 839061848
- ↑ Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, pp.381ff, ISBN 839061848
- ↑ Tomasz Kamusella in Prauser and Reeds (eds), The Expulsion of the German communities from Eastern Europe, p.28, EUI HEC 2004/1 [2]
- ↑ Philipp Ther, Ana Siljak, Redrawing Nations: Ethnic Cleansing in East-Central Europe, 1944-1948, 2001, p.114, ISBN 0742510948, 9780742510944
- ↑ Gregor Thum, Die fremde Stadt. Breslau nach 1945", 2006, pp.363, ISBN 3570550176, 9783570550175
- ↑ Werner Buchholz, Pommern, Siedler, 1999, p.515, ISBN 3886802728
- ↑ Dierk Hoffmann, Michael Schwartz, Geglückte Integration?, p142
- ↑ Karl Cordell, Andrzej Antoszewski, Poland and the European Union, 2000, p.168, ISBN 0415238854
- ↑ Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, p.406, ISBN 839061848
- ↑ Selwyn Ilan Troen, Benjamin Pinkus, Merkaz le-moreshet Ben-Guryon, Organizing Rescue: National Jewish Solidarity in the Modern Period, pp.283-284, 1992, ISBN 0714634131, 9780714634135
- ↑ Os Alemães no Sul do Brasil, Editora Ulbra, 2004 (2004)
- ↑ «Monolinguismo e Preconceito Linguístico» (PDF). 2003. Consultado em 21 de julho de 2012
- ↑ A Pátria renascida
- ↑ CO-OFICIALIZAÇÃO DA LINGUA POMERANA EM MUNICÍPIOS CAPIXABAS, acessado em 21 de agosto de 2011
- ↑ a b c d e f O povo pomerano no ES
- ↑ Plenário aprova em segundo turno a PEC do patrimônio
- ↑ Emenda Constitucional na Íntegra
- ↑ ALEES - PEC que trata do patrimônio cultural retorna ao Plenário
- ↑ Pommer Rádio, programação
- ↑ A escolarização entre descendentes pomeranos em Domingos Martins
- ↑ a b c A co-oficialização da língua pomerana
- ↑ Pomerano!?, acessado em 21 de agosto de 2011
- ↑ Lei dispõe sobre a cooficialização da língua pomerana no município de Santa maria de Jetibá, Estado do Espírito Santo
- ↑ Vila Pavão, Uma Pomerânia no norte do Espirito Santo, acessado em 21 de agosto de 2011
- ↑ Vereadores propõem ensino da língua pomerana nas escolas do município, acessado em 21 de agosto de 2011
- ↑ MENSAGEM LEGISLATIVA Nº 040/10, acessado em 2 de novembro de 2011
- ↑ Aprovado projeto para ensino de língua pomerana, acessado em 2 de novembro de 2011
- ↑ Bancada PP comenta cooficialização pomerana
- ↑ Ontem e hoje : percurso linguístico dos pomeranos de Espigão D'Oeste-RO
- ↑ Sessão Solene em homenagem a Comunidade Pomerana
- ↑ percurso linguístico dos pomeranos de Espigão D Oeste-RO, acessado em 2 de novembro de 2011
- ↑ Comunidade Pomerana realiza sua tradicional festa folclórica
- ↑ Lei Nº 2.907, de 23 de maio de 2017 - Dispõe sobre a co-oficialização da língua pomerana à língua portuguesa no munucípio de Pomerode.
- ↑ Pomerode institui língua alemã como cooficial no Município.
- ↑ Patrimônio - Língua alemã