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Parnaso de Além-Túmulo: diferenças entre revisões

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Agripino Grieco fez sua a critica aos livros de Humberto "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Crônicas de Além Túmulo", não Parnaso de Além Tumulo
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===Algumas opiniões negativas===
===Algumas opiniões negativas===
[[Agripino Grieco]] escreveu para [[Diário da Noite (São Paulo)|Diário da Noite]]: "Os livros póstumos, ou pretensamente póstumos, nada acrescentam à glória de Humberto de Campos, sendo mesmo bastante inferiores aos escritos em vida. Interessante: de todos os livros que conheço como sendo psicografados, escritos por intermédio de um médium, nenhum se equipara aos produzidos pelo escritor em vida." <ref>Agripino Grieco, Diário da Noite, São Paulo, 28-06-1944</ref>. (Entretanto, sobre ter visto pessoalmente Chico psicografar poemas de Augusto dos Anjos e Humberto de Campos, Agripino emitiu opinião positiva no [[Diário da Tarde]]: "O médium Francisco Xavier escreveu isto ao meu lado, celeremente, em papel rubricado por mim. A atenção que lhe dei e a leitura que fiz em voz alta dos trabalhos por ele apresentados, com as assinaturas de Augusto dos Anjos e Humberto de Campos, não importam em nenhuma espécie de adesão ao credo
espírita, como fiz questão de esclarecer naquele momento. Sempre fui movido por sentimentos de catolicidade, graças à educação recebida na infância, mesmo sem ir a extremos de clericalismo radical. Mas o que é certo é que, como crítico literário, não pude deixar de impressionar-me com o que realmente existe do pensamento e da forma daqueles dois autores patrícios, nos versos de um, e na prosa de outro. Se é mistificação, parece-me muito bem conduzida. Tendo lido as paródias de Alberto Sorel, Paul Reboux e Charles Muller, julgo ser difícil - isso o digo com a maior lealdade - levar tão longe a técnica do pastiche. Não sei como elucidar o caso. Fenômeno nervoso? Intervenção extra-humana? Faltam-me estudos especializados para concluir")<ref>Agripino Grieco, Diário da Tarde, Minas Gerais, 31-07-1939</ref>.

[[João Dornas Filho]], a respeito de Olavo Bilac: "Esse homem que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!" <ref>João Dornas Filho, Folha da Manhã, São Paulo, 19-04-1945</ref>
[[João Dornas Filho]], a respeito de Olavo Bilac: "Esse homem que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!" <ref>João Dornas Filho, Folha da Manhã, São Paulo, 19-04-1945</ref>



Revisão das 21h01min de 14 de abril de 2013

Ficheiro:Parnaso alem tumulo.jpg
Capa do livro

Parnaso de Além-Túmulo é uma obra espírita. Trata-se de uma antologia de poemas cuja autoria é atribuída a poetas mortos.

Constitui-se na primeira obra psicografada pelo então jovem médium brasileiro Francisco Cândido Xavier, lançada em julho de 1932 pela Federação Espírita Brasileira.

Esta primeira edição trazia sessenta poemas, assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo. A partir da segunda edição, publicada em 1935, foram sendo gradualmente incorporados novos poemas à obra até à 6ª edição, publicada em 1955, quando fixou-se a quantidade de poemas em duzentos e cinquenta e nove, atribuídos a cinquenta e seis autores luso-brasileiros, entre renomados e anônimos.

O modelo da obra não era novidade, uma vez que a FEB já detinha os direitos de Do País da Luz, obra em quatro volumes, psicografada na primeira década do século XX pela mediunidade do português Fernando de Lacerda.

Repercussão

Do mesmo modo que a reação obtida em Portugal quando da publicação original de Do País da Luz, Parnaso, por sua peculiaridade, suscitou rapidamente a reação de literatos e intelectuais brasileiros. Elogiando ou criticando seu conteúdo, membros da Academia Brasileira de Letras, poetas, críticos literários e até psiquiatras pronunciaram-se, à época, a respeito da obra, contribuindo em muito para a sua divulgação.

Essa obra, até hoje causa polêmica, constituindo-se como um desafio à ciência e teoria da literatura, como produção de uma prova da reencarnação e/ou comunicação entre vivos e mortos contrapondo-se, no plano da teoria da literatura às dificuldades da definição de criação e autoria, considerando também a qualidade da obra literária e o mérito da capacidade humana, mais especificamente da Inteligência linguística, no domínio dos diversos estilos em referência tanto à individual como ao época, na criação literária. É importante lembrar que Chico Xavier só estudou até a quarta-série do ensino fundamental e na época do lançamento do livro, trabalhava das 7h ás 20h como caixeiro de um armazém em Uberaba. [1][2]

A referida publicação reúne 56 autores de diversas escolas literárias com estilística própria e distinta entre si. Entre os autores se incluem: os simbolistas Cruz e Sousa (1861–1898) e Alphonsus de Guimaraens (1870–1921), o simbolista/parnasiano Augusto dos Anjos (1884–1914); poetas românticos como Casimiro de Abreu (1839–1860) e ; o estilo satírico de Artur Azevedo (1855–1908); o parnasianismo de Olavo Bilac (1865–1918); o realismo de Júlio Dinis (1839–1871); entre outros.

Algumas opiniões positivas

O jornalista Manuel Quintão, prefaciando o livro, analisou: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'." [3]

O escritor Humberto de Campos, escreveu para o jornal Diário Carioca: "Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pelas penas do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos."[4] (Humberto de Campos se referiu a primeira edição de "Parnaso de Além-Túmulo", é a partir da segunda edição que há um texto atribuído a ele "em espírito").

O escritor Zeferino Brasil escreveu numa crônica pública no jornal Correio do Povo: "Seja como for, o que é certo é que – ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram transmitidas do além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Cândido Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar, assombrosamente, os maiores gênios da poesia universal... Em todas elas (nas poesias) se encontram patentes as belezas, o estilo, os arrojos, as imagens próprias, os defeitos, o ‘selo pessoal’, enfim, dos nomes gloriosos que as assinam e vivem imortais na história literária do Brasil e Portugal." [5]

O escritor Menotti del Picchia comentou: "Deve haver algo de divindade no fenômeno Francisco Xavier. O milagre de ressuscitar espiritualmente os mortos pela vivência psicográfica de inéditos poemas é prodígio que somente pode ocorrer na faixa do sobre-humano."[6]

O escritor Monteiro Lobato disse: "Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras".[7][8]

O escritor Mário Donato disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo: "Dei-me ao trabalho de examinar grande número de mensagens psicografadas por Chico Xavier e vários outros médiuns; e, francamente, como não posso admitir que um homem, por mais ilustrado que seja, consiga 'pastichar', tão magnificamente, autores como Humberto de Campos, Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Guerra Junqueiro e, se não me engano, Victor Hugo e Napoleão Bonaparte, opto pela explicação sobrenatural, que não satisfaz minha consciência, é verdade, mas apazigua a minha humaníssima vaidade de literato. Pode lá um homem avultar tantos palmos, por suas próprias forças, sobre as cabeças dos demais? Pode lá plagiar, velozmente como faz o Chico, Humberto, Antero e outros do mesmo naipe, a quem não se 'pasticha' senão depois de larga experiência literária e trabalhosa noite de insônia? Não, absolutamente. É milagre. Coisas assim não podem ser senão milagre, puro milagre. Há qualquer intervenção sobre-humana no fato; não porque o diz Chico Xavier, mas porque assim o exige nossa arrogância...".[9]

O escritor Raimundo Magalhães Júnior disse em entrevista publicada pelo jornal A Noite: "Se Chico Xavier é um embusteiro, é um embusteiro de talento... Sua facilidade de imitar seria um dom especialíssimo, porque ele não imita apenas Antero de Quental, Olavo Bilac e Humberto de Campos, mas Alphonsus de Guimaraes, Artur Azevedo, Antônio Nobre, etc".[10]

Alexandre Caroli Rocha defendeu sua tese de mestrado, "A poesia transcendente de Parnaso de Além-Túmulo", no Instituto de Estudos de Linguagem, na Unicamp (Campinas, SP), tendo sido aprovada. Neste trabalho, utilizando as ferramentas da Análise Literária, Rocha compara os poemas do Parnaso com as obras escritas pelos autores quando ainda encarnados. Segundo ele, "Quanto aos poemas que analisei, foi possível constatar que existe um extraordinário domínio, por parte de quem os concebeu, das particularidades poéticas dos escritores a quem são imputados"[11]

Em sua análise sobre os sonetos de Olavo Bilac em "Parnaso de Além-Tumulo", Pereira, sob supervisão do Prof. Ronaldo Teixeira Martins [12] constatou pontos de intertextualidade entre os textos obtidos por mediunidade e a obra de Bilac, segundo esse autor, os dados obtidos apontam para uma grande proximidade estilística entre os textos, o que sugere identidade autoral, contudo, observa ele que o discurso do autor espiritual afasta-se em alguns pontos do discurso de Bilac quando vivo, o que supõe ser "devido à ideologia espírita veiculada pelo 'Parnaso', a qual faz dele um livro de persuasão".

Algumas opiniões negativas

João Dornas Filho, a respeito de Olavo Bilac: "Esse homem que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!" [13]

O jornalista Osório Borba escreveu: "Levo anos e anos pesquisando. Catei inúmeros defeitos de várias espécies, essenciais ou de forma. A conclusão de minha perícia é totalmente negativa. Aqueles escritos 'mediúnicos', por quem quer que conheça alguma coisa de poesia ou literatura, não podem ser tidos como de autoria dos grandes poetas e escritores a quem são atribuídos. Autores de linguagem impecável em vida aparecem 'assinando' coisas imperfeitíssimas como linguagem e técnica poética. Os poetas 'desencarnados' se repetem e se parodiam, a todo o momento, nos trabalhos que lhes atribuem 'mediunicamente'. Por exemplo, Antero de Quental plagiando em ideia e até em detalhes, literalmente um soneto de Augusto dos Anjos. Tudo isso está exaustivamente documentado, através de um sem número de citações e confrontos." / "As pessoas que se impressionam pela 'semelhança' dos escritos 'mediúnicos' de Chico Xavier com os deixados pelos seus indigitados autores, ou são inteiramente leigas sem maior discernimento em matéria de literatura, ou deixaram-se levar ligeiramente por uma primeira impressão. Se examinarem corretamente a literatura psicográfica verão que tal semelhança é de pastiche, mais precisamente, de caricatura. O pensamento das psicografias (de Chico Xavier) é absolutamente indigno do pensamento dos autores a quem são imputados, e a forma em geral e a técnica poética, ainda piores. E há inúmeros casos de paródia e repetição de temas, frases inteiras, versos, além dos plágios. Por exemplo, Bilac aparece com sonetos verdadeiramente reles, e incorretos, pensamento primário, péssima linguagem, péssima técnica poética, que qualquer ‘Caixa de Malho’ recusaria. De Augusto dos Anjos, os poemas ‘mediúnicos’ repetem assuntos, pensamentos, versos e frases. Etc.”.[14]

Leo Gilson Ribeiro para a revista Realidade: “Uma coisa é clara: quando o ‘espírito’ sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita”.[15]

Referências

  1. http://jefferson.freetzi.com/Chico-X-Parn-Alem-Tum.pdf
  2. http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/diversosautores/asvidasdechicoxavier.pdf
  3. http://www.phydokz.xpg.com.br/pdf/Parnaso_de_alem_tumulo.pdf
  4. Humberto de Campos, Diário Carioca, Rio de Janeiro, 10-07-1932
  5. Zeferino Brasil, Correio do Povo, Rio Grande do Sul, 15-11-1941
  6. http://jefferson.freetzi.com/Chico-X-Parn-Alem-Tum.pdf
  7. http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/2001-chico_xavier-frases.shtml
  8. http://www.jornalolince.com.br/2009/jun/drops/drops.php
  9. Mario Donato, O Estado de São Paulo, São Paulo, 12-08-1944
  10. Raimundo Magalhães Júnior, A Noite, Rio de Janeiro, 04-08-1944
  11. http://www.vinhadeluz.com.br/site/noticia.php?id=659
  12. Pereira, Benedito Fernando. Psicografia e autoria: Um estudo estilístico-discursivo em Parnaso de além-túmulo. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Letras da Universidade do Vale do Sapucaí, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Letras. Pouso Alegre, Universidade do Vale Do Sapucaí , 2008 PDF Jul. 2011
  13. João Dornas Filho, Folha da Manhã, São Paulo, 19-04-1945
  14. Osório Borba, Diário de Minas (10-08-1958)
  15. Leo Gilson Ribeiro, Revista Realidade, Novembro 1971, página 62

Ver também