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Paulo (de Ballester-Convallier)

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Paulo (de Ballester-Convallier)
Info/Prelado de Igreja Oriental
Monumento ao Bispo Paulo de Nazianzo em Naucalpan, México.
Atividade Eclesiástica
Diocese Diocese Titular de Nazianzo, no México
Predecessor Dionísio (Psiáchas), na Nova Zelândia
Sucessor Estêvão (Charalambídis), na França
Mandato 19701984
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral 26 de junho de 1954
Catedral Metropolitana de Atenas
por Metropolita Crisóstomo de Maratona
Nomeação episcopal 1970
Ordenação episcopal Nova Iorque
por 1970
Dados pessoais
Nome secular Pablo Ballester-Convallier
Nascimento Barcelona, Espanha
3 de julho de 1927
Morte Cidade do México, México
31 de janeiro de 1984
Nacionalidade espanhola e grega
Eparcas
Projeto Cristianismo

Paulo (de Ballester-Convallier), Bispo de Nazianzo, (Barcelona, Espanha, 3 de julho de 1927Cidade do México, México, 31 de janeiro de 1984) foi um religioso e acadêmico espanhol. Convertido do catolicismo romano para a Igreja Ortodoxa, foi consagrado Bispo de Nazianzo no México em 1970, onde, além de sua atividade missionária, tornou-se professor da Universidade Autônoma do México e uma personalidade culturalmente influente no país. Sua atividade chegou ao fim em 1984, quando foi assassinado a tiros após celebrar a Divina Liturgia, pelo que é lembrado como um hieromártir por alguns ortodoxos.

Além de suas intensas atividades religiosas e pastorais, o Bispo Paulo foi um historiador, filósofo e humanista. Em adição a seus idiomas nativos (o catalão e o espanhol), ele também sabia grego, francês, italiano, inglês, latim e português.[1]

Biografia

Pablo de Ballester-Convallier nasceu em 3 de julho de 1927, em Barcelona, Espanha, filho do banqueiro Francisco Ballester Galés e da cirurgiã Concepción Convalier Comas, sendo, através de seu pai, membro de uma tradicional família catalano-aragonesa, que produzira personalidades do Ducado de Atenas, onde um de seus membros mais proeminentes foi Antonio Ballester, Arcebispo de Atenas.[2] A desagregação de sua família durante a Guerra Civil Espanhola o impactou profundamente, levando-o a seguir a vida religiosa e estudar teologia entre os Capuchinhos de Sarrià antes de se tornar um noviço em um mosteiro da Ordem dos Capuchinhos em Arenys de Mar.[1]

Trabalhando na biblioteca do mosteiro, teve contato com um histórico de anátemas da Inquisição contra todos os que apoiavam a validade apostólica autônoma do Apóstolo Paulo, que mais tarde, descobriu serem repetidos pelos papas João XXII, de Clemente VI, Pio X e Bento XV.[3] Sendo assim, desencorajado por seu confessor a estudar a Bíblia e os Padres da Igreja, ele renunciou às doutrinas católicas do Papado, movendo-se para Madri, onde pôde juntar-se à Igreja Anglicana e estabeleceu contato com o Conselho Mundial de Igrejas, com o tempo conhecendo cristãos ortodoxos.[3]

A Igreja Ortodoxa tornou-se cada vez mais interessante para Pablo, levando-o a comprar livros gregos e russos de lojas ocidentais, bem como receber alguns fornecidos pelo Arquimandrita Bento Katsenavakis, de Nápoles. Em 1953, ciente que ainda não havia presença ortodoxa na Espanha, entrou em contato com a Igreja da Grécia e o Patriarcado Ecumênico, sendo recebido em Atenas pelo Arcebispo Espiridão de Atenas e o Metropolita Dionísio de Sérvia e Kozani, sendo ordenado ao diaconato por este no mesmo ano, e ao sacerdócio pelo Bispo Crisóstomo de Maratona em 26 de junho de 1954, na Catedral Metropolitana de Atenas.[1] Pablo serviu na Igreja de Constantinopla até 1959, ano em que obteve a nacionalidade grega, e, em seguida, foi sacerdote na Arquidiocese Greco-Ortodoxa da América por mais onze anos, servindo como delegado arquidiocesano no México e, adicionalmente, trabalhando como professor na Universidade Autônoma do México. Em 1966, fundou a Associação Cultural Santorini, a fim de difundir a cultura, a história e as artes através de conferências ministradas por especialistas nas áreas.[4]

Em 1970, foi nomeado Bispo Titular de Nazianzo pelo Santo Sínodo presidido pelo Patriarca Atenágoras, após o antigo titular, Dionísio (Psiáchas), ser eleito Metropolita da Nova Zelândia.[5] Paulo foi consagrado ao episcopado no mesmo ano, em uma cerimônia em Nova Iorque presidida pelo Arcebispo Tiago da América.[6] O trabalho do hierarca no país como clérigo, professor e autor foi notável, com os seus feitos incluindo a fundação do Instituto Cultural Helênico na Cidade do México em 1973, com o propósito de divulgar e fomentar a cultura helênica no México através de conferências, cursos, workshops, licenciatura e mestrado em artes, história, cultura e ciências humanas, bem como uma diversidade de atividades culturais.[7] Através do Instituto, o hierarca tornou-se um grande expoente do teatro clássico no país, tendo como uma de suas fiéis seguidoras a atriz Ofelia Guilmáin.[8] Em sua carreira acadêmica, chegou a ocupar a cátedra de grego clássico na Universidade Autônoma do México até sua morte. Sua amizade com Carmen Romano, primeira-dama do México de 1976 a 1982, fez dele uma das personalidades mais influentes no âmbito cultural mexicano durante a incumbência da mesma.[8]

Suas atividades, no entanto, chegaram ao fim em 22 de janeiro de 1984, depois de celebrar a Divina Liturgia dominical, quando foi alvejado quatro vezes por Rafael Román, ex-general mexicano mentalmente perturbado que morava na vizinhança, que depois atirou contra si próprio em uma aparente tentativa de suicídio frustrada. Não resistiu aos ferimentos, falecendo no dia 31 do mesmo mês. As autoridades não descartaram a possibilidade de que o assassino, que apresentava confusão mental, teria sido motivado por alguma espécie de fanatismo religioso.[8][9][6]

Legado

O assassinato do hierarca teve repercussão mundial, ocupando a primeira página do jornal grego Kathimerini e rendendo-lhe elogios no espanhol El País.[8][9] Foi sepultado no Cemitério Espanhol do México no dia 2 de fevereiro, seu funeral sendo assistido pelo Arcebispo Tiago da América, primaz da Arquidiocese. Estêvão (Charalambídis), protossincelo na Metrópole da Gália, foi consagrado o próximo Bispo Titular de Nazianzo em 1987.[10]

Apesar de não ter sido formalmente canonizado, o Bispo Paulo é lembrado como um Neo-Hieromártir por muitos cristãos ortodoxos.[6][11] Em uma visita ao México em 2006, o Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla pediu ao Metropolita Atenágoras do México e América Central que transferisse suas relíquias para serem sepultadas na Catedral de Santa Sofia, em Naucalpan, onde há um monumento é dedicado ao falecido bispo.[3][12]

A Associação Cultural Santorini, fundada por Paulo em vida com finalidades gerais enquanto o mesmo ainda era apenas um arquimandrita, hoje se dedica exclusivamente a preservar e divulgar o legado intelectual que o erudito bispo deixou enquanto acadêmico helenista.[4]

Obras como autor

Paulo de Nazianzo publicou em vida os seguintes livros:[13][14]

  • O concílio de Elvira (em castelhano: El concilio de Elvira, 1949)
  • Objetivismo e subjetivismo na vida religiosa (em francês: Objectivisme et Subjectivisme dans la vie Religieuse, 1949)
  • Nosso Deus, Vosso Deus e Deus (em castelhano: Nuestro Dios, Vuestro Dios y Dios, 1951)
  • O Bispo Ósio de Córdoba (em castelhano: El Obispo Osio de Córdoba, 1951)
  • A Interpretação do Primado de Pedro entre os Padres Ocidentais (em francês: L'Interpretation du 'Primatus Petri' chez les Péres Occidentaux, 1951)
  • As passagens evangélicas do Primado e sua interpretação patrística (em castelhano: Los pasajes Evangélicos del Primado y su interpretación Patrística, 1951)
  • Relação das Igrejas ibéricas com a Igreja Norte-Africa de São Cipriano a Santo Agostinho (em francês: Relations des Eglises Iberiques Avec L'Eglise Nord Africaine Des St. Cyprien Jusqua St. Augustin, 1952)
  • Os catalães na Acrópole durante o século XIV (em grego: Οι Καταλανοί στην Ακρόπολη κατά τον ΙΔ' αιώνα, 1953)[15]
  • O Cristianismo Oriental visto por um ocidental (em grego: Ο ανατολικός χριστιανισμός σταχάζομενος από έναν δυτικό, 1954)
  • Minha Conversão à Ortodoxia (em grego: Η μεταστροφή μου στην Ορθοδοξία, 1954)[nota 1]
  • História crítica do Cristianismo, 5 volumes (em grego: Κριτική ιστορία του χριστιανισμού, 1954-1956)
  • Um interessante incidente durante a perseguição de Décio (em grego: Ένα ενδιαφέρον γεγονός κατά τον διωγμό του Δεκίου, 1959)
  • Dicionário de mitologia cristã, 2 volumes (em grego: Λεξικό της χριστιανικής μυθολογίας, 1961-1962)
  • A Divina Liturgia de São João Crisóstomo (em castelhano: La Sagrada liturgia de San Juan el Crisóstomo, 1961)
  • Algumas considerações sobre a didática e a pronúncia do grego clássico (em castelhano: Algunas consideraciones respecto a la didáctica y pronunciación del griego clásico, 1964)
  • S.T.S. Atenágoras I, Patriarca da Reconciliação (em castelhano: S.T.S. Athenágoras I, Patriarca de Reconciliación, 1974)

Ainda publicou traduções livres para o espanhol de Eurípides, Aristófanes e Sófocles, através do Instituto Cultural Helênico.

Notas

  1. Esta obra foi veiculada em inglês como Why I abandoned Papism (em português: Por que abandonei o papismo) em 2009 pelo teólogo leigo John Sanidopoulos[6] e publicada em 2010 como My Exodus from Roman Catholicism (em português: Meu êxodo do catolicismo) pela Editora São Nicodemo.[3]

Referências

  1. a b c «Biografía del Doctor Pablo de Ballester». Asociación Cultural Santorini (em espanhol) 
  2. Saravia 2013, p. 6.
  3. a b c d Ballester 2010.
  4. a b «Introducción». Asociación Cultural Santorini (em espanhol). Consultado em 8 de fevereiro de 2018 
  5. «Ιεραρχία του Θρόνου». Patriarcado Ecumênico (em grego). Consultado em 7 de fevereiro de 2018 
  6. a b c d «"Why I Abandoned Papism" by Bishop Paul Ballaster-Convallier» (em inglês). 6 de agosto de 2009. Consultado em 8 de fevereiro de 2018 
  7. «Página Principal». Instituto Cultural Helénico (em espanhol) 
  8. a b c d «Un general mexicano asesina a un obispo ortodoxo español». El País (em espanhol). 4 de fevereiro de 1984. Consultado em 3 de fevereiro de 2018 
  9. a b «Δολοφονημένος στο Μεξικό ο Ελληνορθόδοξος Επισκόπος Παύλος». Η Καθημερινή: 1. 4 de fevereiro de 1984 
  10. «Presentation of Estonian Orthodox Church». Orthodox Church of Estonia. Consultado em 7 de fevereiro de 2018 
  11. «Wednesday, January 18, 2018». Orthodox Calendar (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2018 
  12. «Iglesia Ortodoxa Griega en México felicita a Carlos Aguiar y pide diálogo teológico». Periodista Digital (em espanhol). Consultado em 7 de fevereiro de 2018 
  13. «Libros y Publicaciones». Asociación Cultural Santorini (em espanhol). Consultado em 8 de fevereiro de 2018 
  14. Saravia 2013, pp. 38-40.
  15. Saravia 2013, p. 13.

Bibliografia

Ligações externas

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