Armadeira
aranha-armadeira, armadeira Phoneutria | |||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||
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Espécies | |||||||||||||
P. bahiensis P. boliviensis P. eickstedtae P. fera P. keyserlingi P. nigriventer P. pertyi P. reidyi |
Phoneutria (do grego φονεύτρια, latinizado: phoneútria, "assassina") é um gênero de aranhas conhecidas pelos nomes comuns de armadeira, aranha-macaco ou aranha-de-bananeira, pertencentes à família dos ctenídeos. O nome comum armadeira vem da sua atitude invariável de ataque, com as patas dianteiras erguidas. São encontradas no Brasil, Paraguai, norte da Argentina e Uruguai, onde teria sido introduzida.
Características
[editar | editar código-fonte]Apresenta patas grandes, com 13 a 15 cm de comprimento, com um tamanho corporal de 1,7 a 4,8 cm. A espécie tem a reputação de se esconder nos cachos de bananas, o que deu origem ao nome comum de aranha-bananeira (em inglês: banana spider). Esse comportamento, aliado ao seu tamanho (ocupa toda a palma de uma mão), grandes quelíceras, autênticos colmilhos, de coloração avermelhado-pardo, dois grandes olhos frontais e dois olhos menores de cada lado, a que se juntam patas grossas e peludas, fazem com que esta aranha, que é muito veloz, seja muito temida nos navios de transporte de bananas, nas plantações de bananas, nos portos tropicais. São muito agressivas se perturbadas e produzem um veneno cujo componente neurotóxico é tão potente que apenas 0,006 mg é suficiente para matar um rato de 20 gramas, (6 μg) por via intravenosa e de 134 μg por via subcutânea, comparado com 110 μg e 200 μg respectivamente para o veneno de Latrodectus mactans (Viúva Negra). Frequentemente entram em habitações humanas à procura de alimento, parceiros sexuais ou mesmo abrigo, escondendo-se em roupas e sapatos.
Acidentes
[editar | editar código-fonte]Dos 128.932 casos de acidentes com aranhas durante 2009 a 2013, apenas 59.700 (46,3%) tiveram o gênero de aranha causador do envenenamento registrado (Tabelas 6 e 7). A maioria dos casos correspondeu ao loxoscelismo (Aranha Marrom) com 66,3%, seguido pelo foneutrismo (Armadeira) com 32,8% e latrodectismo (Viuva Negra ) com 0,9% do total. Foram atribuídos durante o período estudado, 66 óbitos por envenenamentos por aranhas e, destes, apenas 24 tiveram o gênero de aranha causador do acidente identificado. A maioria dos óbitos (18) foi atribuída ao gênero Loxosceles (Letalidade de 0,04%), seguido por Phoneutria com 5 óbitos (0,02%) e Latrodectus com 1 óbito (0,17%).
Veneno
[editar | editar código-fonte]A peçonha da Phoneutria é composta por polipeptídeos, além de histamina e serotonina. Sua ação é neurotóxica e cardiotóxica. A ação neurotóxica ocorre no SNC, mais precisamente nos canais de sódio, provocando despolarizações nas terminações nervosas, (sinapses) sensitivas e motoras, fibras musculares e no sistema nervoso autônomo, induzindo a liberação de neurotransmissores (principalmente a acetilcolina e catecolaminas.[1]). A ação cardiotóxica interfere na atividade contrátil do músculo estriado cardíaco, ativação do sistema de calicreína tissular, ativação de fibras sensoriais e esvaziamento gástrico. A picada da Phoneutria é relativamente letal para ratos.
Além de causar dor intensa, o veneno da aranha pode também causar priapismo em humanos. Ereções resultantes da picada são incômodas, podem durar várias horas e causar impotência. O componente do veneno (Tx2-6) está sendo estudado para uso em tratamentos de disfunção erétil.[2][3][4]
É considerada a espécie de aranha mais peçonhenta e uma das mais agressivas do mundo[5]
Sintomatologia
[editar | editar código-fonte]Os pontos de inoculação sobre a pele são vistos acompanhados de inchaço, vermelhidão e sudorese local. A dor é queixa comum, pode ser local ou irradiada, tem intensidade variada e é acompanhada de parestesias (formigamento). Dependendo do estado da pessoa, além da dor, os sintomas mais comuns são taquicardia com alterações no eletrocardiograma, hipertensão arterial, sudorese com visão turva e vômitos ocasionais. O hemograma pode apresentar leucocitose com neutrofilia e hiperglicemia.[6]
O quadro em crianças com menos de seis anos e idosos muito debilitados pode evoluir para edema pulmonar e choque representando um risco não desprezível de morte.[7]
Tratamento
[editar | editar código-fonte]Apesar da alta toxicidade da peçonha da armadeira, a absoluta maioria dos casos registrados são considerados leves e de prognóstico benéfico. Nestes casos o tratamento é sintomático resumindo-se a analgésicos via oral e anestésico local xilocaína e, em caso de ânsia de vômito, um antiemético como Plasil (Metoclopramida). Nos moderados que apresentam sudorese acompanhada de leve taquicardia e hipertensão, o tratamento sintomático é acompanhado do específico com soro antiaracnídeo. Nos casos graves que apresentam grandes alterações na pressão arterial com taquicardia/bradicardia e sudorese profusa, uma dose maciça de soro antiaracnídeo juntamente com cuidados médicos intensivos tornam-se necessários.[8]
Espécies
[editar | editar código-fonte]O género inclui as seguintes espécies:[10]
- Phoneutria bahiensis Simó & Brescovit, 2001 — Mata atlântica do Brasil.
- Phoneutria boliviensis (F. O. Pickard-Cambridge, 1897) — América Central e do Sul (listada na Costa Rica, Panamá, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia)
- Phoneutria eickstedtae Martins & Bertani, 2007 — Brasil
- Phoneutria fera Perty, 1833 — Equador, Peru, Brasil, Suriname, Guiana e Colômbia.[11]
- Phoneutria keyserlingi (F. O. Pickard-Cambridge], 1897) — Mata atlântica do Brasil.
- Phoneutria nigriventer (Keyserling, 1891) — Brasil, norte da Argentina; introduzida no Uruguai.
- Phoneutria pertyi (F. O. Pickard-Cambridge, 1897) — Mata atlântica do Brasil.
- Phoneutria reidyi (F. O. Pickard-Cambridge, 1897) — Venezuela, Peru, Brasil, Guiana.
Alimentação
[editar | editar código-fonte]Alimenta-se de insetos e pequenas lagartixas.[12]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Cartillo, Juan C. Quintana; Patiño, Rafael Otero: Envenenamiento aracnídico em las Américas Arquivado em 5 de janeiro de 2009, no Wayback Machine. – Revista MEDUNAB. Vol. 5, número 13 - Mayo de 2002.
- ↑ "Venom From the Banana Spider Could Be the New Viagra". National Geographic, September 10, 2012. Accessed June 11, 2013.
- ↑ Natural Viagra: Spider bite causes prolonged erection. Live Science, April 30, 2007. Accessed March 30, 2012.
- ↑ Pat Hagan (29 de agosto de 2012). «Venom from world's deadliest spider could cure erectile dysfunction within 20 minutes | Mail Online». Dailymail.co.uk. Consultado em 16 de outubro de 2012
- ↑ Dale, Jay (2011). Deadly and Incredible Animals Top 10 Minibeasts. Australia: Macmillian Library. p. 24. ISBN 978-1-4202-8246-7
- ↑ CUPO P; AZEVEDO-MARQUES MM & HERING SE: Acidentes por animais peçonhentos: Escorpiões e aranhas Arquivado em 11 de junho de 2007, no Wayback Machine. – Medicina, Ribeirão Preto, 36: 490-497, abr./dez. 2003.
- ↑ Cicco, Lúcia H. Salveti de: Armadeira ou Aranha da banana Arquivado em 29 de maio de 2008, no Wayback Machine. – Animais Perigosos.
- ↑ Ministério da Saúde: Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos – 2ª ed. - Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. ISBN 85-7346-014-8
- ↑ Wandering Spiders of the Amazon (2013). Phoneutria - toxicity. Staatliches Museum für Naturkunde Karlsruhe (State Museum of Natural History Karlsruhe). Retrieved 23 February 2013.
- ↑ The world spider catalog, version 12.5. American Museum of Natural History. Accessed March 30, 2012.
- ↑ Silva, B. J. F., & Overal, W. L. (1999). Ocorrência de Phoneutria fera (Araneae: Ctenidae) no Estado do Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Zoologia, 15(2), 135-141.
- ↑ «Aranha-armadeira»