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Biografia[editar | editar código-fonte]

Rogério Duarte Guimarães (Ubaíra, Bahia, 1939 - Brasília, Distrito Federal, 2016). Sobrinho do sociólogo Anísio Teixeira, foi um intelectual multimédia baiano. Rogério Duarte é artista gráfico, músico, compositor, poeta, tradutor e professor. Nos anos 60 mudou-se para o Rio de Janeiro, para estudar arte industrial com o alemão Max Bense, um dos mestres da semiótica e da poesia concreta, o que influenciaria seu trabalho no futuro. No Rio trabalhou como diretor de arte da UNE e da Editora Vozes. Foi o autor de vários cartazes para filmes de seu amigo Glauber Rocha, como Deus e o diabo na terra do sol (símbolo do cinema nacional, o cartaz se transformou em referência e é apontado como o despertar da pós-modernidade no Brasil) e A idade da terra. Também criou, para este último, a trilha sonora. Entre os vários artistas com os quais colaborou, contam-se Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Gilberto, Jorge Ben e Gal Costa.

Capa do albúm Tropicália de Caetano Veloso, realizada por Rogério Duarte


Considerado um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, Rogério foi também um dos primeiros a ser preso e a denunciar publicamente a tortura no regime militar. Preso juntamente com seu irmão Ronaldo Duarte, o caso mobilizou artistas e mereceu ampla divulgação no jornal carioca Correio da Manhã, que publicou uma carta coletiva pedindo a libertação dos "Irmãos Duarte".

Com o endurecimento da ditadura e a promulgação do AI-5, Rogério foi para a clandestinidade e iniciou a sua fase "transcendental" que o levou a estudar o sânscrito e iniciar a tradução do Bhagavad Gita, lançado por ele anos mais tarde, acompanhado de um CD com a participação de vários artistas, com o título de Canção do Divino Mestre.  Também é de sua autoria o livro Tropicaos onde, entre outras coisas, fala da prisão, tortura e de sua versão sobre o movimento tropicalista.

Morreu em 14 de abril de 2016, aos 77 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília.  Ele estava internado há dois meses e lutava contra um câncer ósseo e câncer no fígado.

Trajetória[editar | editar código-fonte]

Muda-se de Salvador para o Rio de Janeiro em 1959, onde frequenta a Escola de Belas Artes, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). Em 1961, começa a trabalhar com o designer Aloísio Magalhães (1927-1982). Com o ingresso na União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1962, torna-se coordenador de comunicação visual e produz todos os cartazes da entidade. Também nessa época cria cartazes da Bossa Nova e participa da revista Movimento, uma das primeiras publicações de design gráfico moderno no Brasil. Amigo do diretor de cinema e mentor do movimento do Cinema Novo, Glauber Rocha (1939-1981), com quem divide a direção do filme A Cruz na Praça em 1959, Rogério Duarte cria o cartaz do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, em 1964. De 1964 a 1969, realiza outros cartazes de filmes como O Desafio (1965) de Paulo César Saraceni (1933-2012), A Opinião Pública (1967) de Arnaldo Jabor (1940), entre outros.[1]

Em 1965, leciona Design Gráfico no MAM/RJ, atividade que dura até 1967. Ainda em 1965, publica o texto Notas sobre o Desenho Industrial, documento importante para a produção escrita sobre design no Brasil. De 1965 a 1970, produz capas de LPs de Gal Costa (1945), Caetano Veloso (1942), Gilberto Gil (1942), Os Mutantes, entre outros artistas do movimento Tropicália.

Entre os anos de 1966 e 1968, é diretor de arte da editora Vozes. Em 1968 é preso e torturado pela ditadura militar junto com seu irmão Ronaldo Duarte. Após a prisão, é internado em hospitais psiquiátricos até 1971. Após estes acontecimentos, Rogério tornou-se hinduísta na década seguinte. Nas décadas de 1970 e 1980, ligado a movimentos da contracultura, compõe músicas de rock brasileiro e participa de publicações como o jornal Flor do Mal (1970) e a revista Navilouca (1974). De 1972 a 1975 é diretor de arte da revista DIA (Desenho Industrial de Audiovisuais). Em seguida, ocupa o mesmo cargo até 1978 na Desígnio.

Capa do álbum Gilberto Gil, feita por Rogério Duarte

Na década de 1980, seu trabalho é recuperado e transformado em ícone nacional do pós-modernismo. Em 1980, o filme A Idade da Terra foi lançado, seu primeiro trabalho como compositor, além de designer do cartaz da obra[2]. O produto audiovisual foi o último filme de é Glauber Rocha e o longa consta na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Em 1987, volta para a Bahia. No início da década de 1990, passa a lecionar na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que lhe confere título de Notório Saber em 1997. Em 1990, tem sua tradução do livro Bhagavad Gita editada pela Companhia das Letras, trabalho que realiza durante 20 anos. Aprendeu A obra, intitulada Canção do Divino Mestre, foi publicada em 1998, e teve como encarte um CD com musicalizações de trechos do livro, gravadas por vários artistas da MPB, entre eles Gil, Gal, Tom Zé, Chico César, Lenine, Arnaldo Antunes e Elba Ramalho.

Em 2003 é lançado o livro Tropicaos pela editora Azougue Editorial, que reúne diversos escritos do artista, com toda a obra escrita de Rogério. Seu papel como um dos grandes teóricos da história do design no Brasil foi então resgatado, dando novas dimensões históricas à sua figura. Em 2011, publica Gita Govinda – A Cantiga do Negro Amor.

Passou a morar sozinho em Salvador, distante dos trabalhos de arte e continuou sendo praticante do Hare Krishna até falecer em 2016, aos 77 anos, em Brasília após lutar contra câncer ósseo e câncer no fígado.

Em 2018, foi lançado o documentário chamado Rogério Duarte, o Tropikaoslista que procura refletir sobre a carreira e vida do artista e de sua importância para o design brasileiro.

Análise dos principais trabalhos[editar | editar código-fonte]

O crítico de cinema Ismail Xavier (1947) chama a multiplicidade de linguagens e estilos presentes na obra de Rogério Duarte de “jogo de contaminações”.[3] De fato, a polifonia dos trabalhos do artista e os campos diversos nos quais ele atua não permitem classificação de sua obra em apenas um movimento. Sua obra engloba cartazes do Cinema Novo, Capas de LPs do movimento Tropicália, letras de rock, poemas, traduções, textos teóricos etc.

O primeiro trabalho que tira Rogério Duarte do anonimato é o cartaz do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, feito em 1964. Segundo o designer Chico Homem de Melo, se por um lado o cartaz tem “preocupação modernista com clareza diagramática”, por outro há “camadas cromáticas que parecem um sol em torno da cabeça do [...] Corisco e acabam por ofuscar a nitidez do retrato [...] ”.[4] Nas palavras do crítico Jorge Caê Rodrigues, “Rogério mantém o rigor e o conhecimento técnico, mas faz uma síntese entre o racionalismo e a exuberância tropical”.[5]

Cartaz do filme Deus e Diabo na Terra do Sol, idealizada por Rogério Duarte

Existem evidentes características no cartaz de Deus e o diabo na terra do Sol que indicam influências construtivistas, na composição, e do Estilo Internacional, na tipografia. A fotomontagem, as cores, a tipografia sem serifa, o leiaute limpo e o uso de formas geométricas são o indício disso. O autor do cartaz, Rogério Duarte, afirma ter-se inspirado na obra de Sergei M. Eisenstein. Duarte, todavia, não adere totalmente aos princípios construtivistas em sua arte. Aumenta a complexidade da linguagem ao sobrepor elementos e camadas cromáticas – inclusive com um sobretom de magenta e vermelho que pode causar dificuldades de reprodução. O vermelho, classicamente associado ao calor, ao sangue e à paixão, também se refere à revolução e à rebeldia. Por um lado, refere-se à realidade do sertão bárbaro, por outro, aos ideais imbuídos no filme. Lançado em junho de 1964, dois meses após o golpe militar que destituiu João Goulart da presidência da República, pode-se imaginar o impacto que as cores do cartaz devem ter causado na opinião pública.[6]

Segundo o próprio Rogério Duarte no livro Tropicaos (2003) "Neste cartaz eu utilizo toda uma nova concepção de cor, que é fruto de toda uma pesquisa profunda. O offset se caracteriza pela pouca quantidade de tinta. Então se você pega uma fotografia, por mais bela que seja, e apenas a reproduz sem conhecer direito as especificidades do offset, e se você imprime só o vermelho, fica desbotado. [...] Então você tem que estudo o meio que trabalha e tirar dele o máximo partido. E foi o que eu fiz. Por exemplo, no cartaz do Deus e diabo na terra do sol, era o vermelho que assustava. Para dar mais colorido, conseguir uma cor mais forte, possibilitar que o espectador sinta a tinta, eu formei o vermelho com seus componentes, utilizando a teoria da cor moderna. Misturei o magenta com o amarelo, que são os componentes em termos de pigmento para formar o vermelho. E aquilo causou um efeito muito forte. O que era a concretização de toda minha pesquisa sobre design. E assim eu consegui que meus trabalhos passassem a ser não mais uma referência de uma outra coisa, mas obras em si, reais. O papel expressava."[7]

A ida de Rogério Duarte ao Rio de Janeiro, em 1959, permite que ele trave conhecimento com Alexandre Wollner (1928), Max Bense (1910-1990), Tomás Maldonado (1922), Otl Aicher (1922-1991), entre outros herdeiros da Escola de Ulm. Em 1963, é inaugurada a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), que segue as diretrizes ulmianas de simplicidade, racionalidade e funcionalidade. Conhecedor desses preceitos, Rogério Duarte escreve, em abril de 1965, as Notas Sobre o Desenho Industrial, nas quais define o desenho industrial como “a ideação de formas para a produção em série”.[8] O texto apresenta o movimento Art Nouveau, a Bauhaus e a Escola de Ulm. Sobretudo contra essas duas últimas escolas, afirma o perigo da transformação do designer em técnico e insiste na relação entre arte e desenho industrial.

O poeta Waly Salomão (1943-2003) considera Rogério Duarte, junto com o artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980), fundador da Tropicália, movimento que inova a cultura em diversos de seus campos – teatro, música, cinema etc. – misturando cultura popular brasileira com influências diversas. Se na música brasileira, a utilização da guitarra elétrica marca a ruptura provocada pelos tropicalistas, nas capas de discos realizadas por Rogério Duarte, é unindo diversos estilos (o kitsch, as letras psicodélicas, o Arte Pop etc.) que há inovação.

A capa do disco Qualquer Coisa, de 1975, de Caetano Veloso, por exemplo, tem influências da Arte Pop e da capa do disco Let it Be, de 1970, do grupo de rock inglês Beatles. Para Rogério Duarte, “tudo aquilo que não tinha status de ´bom desenho`, para usar o termo maniqueísta que Ulm usava, interessava à Tropicália”. [9]Se por um lado, Rogério Duarte rompe com os ulmianos, por outro, há nos seus projetos esforço de afirmação do Design Gráfico no Brasil. No documentário Rogério Caos e os experimentalismos tropicais, de Claudio César Gonçalves, o artista situa seu trabalho da década de 1960 em novo espaço. O design brasileiro significa, até essa época, a criação de logomarcas no mundo corporativo ou o design funcionalista proposto pela Esdi. Ao utilizar o design gráfico em capas e cartazes, Rogério Duarte transforma-o em veículo de comunicação de massas. Além disso, insere o design em campo antes ocupado pela pintura e pelo desenho. Assim, surge a figura do capista conhecedor da tipografia e da maquinaria das gráficas.

Referências

  1. Enciclopédia Itaú: Rogério Duarte
  2. ↑SILVA, Victor Hugo O. “NÓ QUE NÃO DESATA”: ARTE, RAZÃO E TRANSCENDÊNCIA NA TRAJETÓRIA DE ROGÉRIO DUARTE
  3. GONÇALVES, Thomas. CARDOSO, Suzana. Design e Desenho na Terra do Cinema: Análise Estética da Arte de Rogério Duarte
  4. MELO, Chico H. de. 1960-1969. In: MELO, Chico H. de. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2011.p.343.
  5. RODRIGUES, Jorge C. O Design Tropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.196.
  6. DUARTE, Rogério. Tropicaos. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003.p.111.
  7. RODRIGUES, Jorge C. O Design Tropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.207.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • A reclusão de Rogério Duarte, mentor do tropicalismo
  1. «Enciclopédia Itaú: Rogério Duarte» 
  2. SILVA, VICTOR HUGO OLIVEIRA SILVA. «"NÓ QUE NÃO DESATA": ARTE, RAZÃO E TRANSCENDÊNCIA NA TRAJETÓRIA DE ROGÉRIO DUARTE»  line feed character character in |titulo= at position 53 (ajuda)
  3. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac Naify. 2011. p. p.343. 
  4. RODRIGUES, Jorge C. O Design Tropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.196. [S.l.: s.n.] 
  5. RODRIGUES, Jorge C. O DesignTropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.207. [S.l.: s.n.] 
  6. SILVA, Victor Hugo O. «"NÓ QUE NÃO DESATA": ARTE, RAZÃO E TRANSCENDÊNCIA NA TRAJETÓRIA DE ROGÉRIO DUARTE» (PDF) 
  7. «"NÓ QUE NÃO DESATA": ARTE, RAZÃO E TRANSCENDÊNCIA NA TRAJETÓRIA DE ROGÉRIO DUARTE» (PDF)  line feed character character in |título= at position 53 (ajuda)
  8. DUARTE, Rogério. Tropicaos. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003.p.111. [S.l.: s.n.] 
  9. RODRIGUES, Jorge C. O Design Tropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.207. [S.l.: s.n.]