A Fogueira das Vaidades (romance)

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The Bonfire of the Vanities
A Fogueira das Vaidades (BR)
Autor(es) Tom Wolfe
Idioma inglês
País  Estados Unidos
Gênero romance
Editora Farrar Straus Giroux
Lançamento 1987
Páginas 690
ISBN 0-312-42757-3
Edição brasileira
Tradução Lia Wyler
Editora Editora Rocco
ISBN 978-85-325-3130-8

A Fogueira das Vaidades[1] (em inglês: The Bonfire of the Vanities) é um romance, lançado em 1987, de Tom Wolfe. A obra foi publicada no Brasil pela editora Rocco, com tradução de Lia Wyler.[2] A história é um drama sobre ambição, racismo, classe social, política e ganância na cidade de Nova York dos anos 1980, e centra-se em três personagens principais: o corretor da bolsa de valores Sherman McCoy, o promotor público judeu Larry Kramer e o jornalista expatriado britânico Peter Fallow.

O romance foi originalmente concebido como uma série, inspirado no formato de publicação já utilizado por Charles Dickens. Sua publicação se deu em 27 capítulos nas edições da revista Rolling Stone, a partir de 1984. Wolfe o revisou antes de ser publicado em livro. O romance foi um best-seller de grande repercussão. Muitas vezes foi chamado de romance quintessencial da década de 1980,[3] e em 1990 foi adaptado para o cinema, dirigido por Brian De Palma.[4]

Título[editar | editar código-fonte]

O título é uma referência à histórica Fogueira das Vaidades, que aconteceu em 1497, em Florença, na Itália, quando a cidade era governada pelo padre dominicano Girolamo Savonarola, que ordenou que os objetos que as autoridades da igreja consideravam pecaminosos fossem queimados, entre eles cosméticos, espelhos, livros e arte.

Contexto Histórico[editar | editar código-fonte]

Wolfe queria que seu romance refletisse a essência da cidade de Nova York na década de 1980.[5]

Á sombra de Wall Street, a cidade era um foco de tensão racial e cultural. O ambiente era de confrontos constantes, com vários incidentes de racismo, como os assassinatos - em bairros brancos - de dois homens negros: Willie Turks, que foi assassinado na região de Gravesend, no Brooklyn, em 1982, e Michael Griffith, que foi morto em Howard Beach, no Queens, em 1986. Em outro episódio que recebeu muita atenção da mídia, Bernhard Goetz tornou-se uma espécie de herói popular na cidade ao atirar contra um grupo de jovens negros que tentou assaltá-lo no metrô em 1984

Burton B. Roberts, um juiz do Bronx, conhecido pela maneira sensata de seus julgamentos, foi a inspiração para o personagem Myron Kovitsky no livro.[6]

Escrita e Publicação[editar | editar código-fonte]

Wolfe começou as pesquisas para escrever o romance observando casos no Tribunal Criminal de Manhattan, e acompanhando membros da divisão de homicídios da polícia, no Bronx.

Para superar um momento de bloqueio de escritor, Wolfe escreveu a Jann Wenner, editor da revista Rolling Stone, para propor uma ideia inspirada em Charles Dickens e Thackeray. Esses escritores vitorianos, que Wolfe via como seus modelos, muitas vezes escreveram seus romances em fascículos. Wenner ofereceu a Wolfe cerca de $ 200.000 para escrever o romance em uma série.[7][8]

A pressão do prazo deu a ele a motivação que ele esperava e, de julho de 1984 a agosto de 1985, cada edição quinzenal da Rolling Stone continha um novo capítulo.

Wolfe não gostou de seu "primeiro rascunho público"[9] e revisou completamente seu trabalho. Até Sherman McCoy, o personagem central do romance, mudou - originalmente um escritor, na versão do livro ele é um corretor da bolsa de valores. (Wolfe surgiu com a ocupação revisada depois de passar um dia na seção de títulos do governo da Salomon Brothers[10]).

Wolfe pesquisou e revisou seus escritos por dois anos. A Fogueira das Vaidades foi publicado em 1987. O livro foi um sucesso comercial e de crítica.[11]

Enredo[editar | editar código-fonte]

A história gira em torno de Sherman McCoy, um bem-sucedido corretor da bolsa de valores de Nova York. A vida opulenta de McCoy, autodenominado "Mestre do Universo", é gradualmente destruída quando ele e sua amante, Maria Ruskin, acidentalmente entram no Bronx à noite enquanto voltam do Aeroporto Kennedy para Manhattan. Ao ver a rampa de acesso à rodovia bloqueada por latas de lixo e um pneu, McCoy sai do carro para abrir caminho. Abordados por dois homens negros que julgam ser assaltantes, McCoy e Ruskin fogem. Depois que Ruskin assume o volante do carro para fugir, o carro derrapa, aparentemente atingindo um dos supostos assaltantes.

Peter Fallow, um ex-jornalista alcoólatra do tabloide City Light, vê uma oportunidade quando é persuadido a escrever uma série de artigos sobre Henry Lamb, um jovem negro que disse ter sido vítima de um atropelamento e fuga de um motorista branco rico. Fallow aceita cinicamente as manipulações do reverendo Bacon, um líder religioso e político do Harlem. Os artigos de Fallow sobre o assunto iniciam uma série de protestos, e a cobertura da mídia sobre o caso Lamb cresce descontroladamente.

Candidato à reeleição e acusado de lentidão no caso Lamb, o promotor distrital do condado do Bronx, obcecado pela mídia, Abe Weiss, pressiona as autoridades pela prisão de McCoy. As evidências incluem o carro de McCoy (que corresponde à descrição do veículo envolvido no suposto atropelamento e fuga), além da resposta evasiva de McCoy ao interrogatório policial.

A partir daí McCoy é preso, e libertado sob fiança, mas vê sua vida desabar quando seu nome se torna público e atrelado ao caso Lamb.

Estilo e conteúdo[editar | editar código-fonte]

A Fogueira das Vaidades foi o primeiro romance de Wolfe. As obras anteriores de Wolfe eram, principalmente, artigos e livros-reportagem de não ficção. Seus contos anteriores apareceram em sua coleção Mauve Gloves & Madmen, Clutter & Vine.

De acordo com Wolfe, os personagens foram idealizados a partir de muitos indivíduos e observações culturais. No entanto, alguns foram baseados em pessoas reais. Wolfe reconheceu que o personagem de Tommy Killian é baseado no advogado nova-iorquino Edward Hayes, a quem o livro é dedicado.[12] O personagem do reverendo Bacon é considerado por muitos como baseado nos reverendos Al Sharpton e/ou Jesse Jackson.[13]

Em 2007, no 20º aniversário de publicação do livro, o The New York Times fez uma retrospectiva de como Nova York mudou desde o romance de Wolfe.[14]

Recepção[editar | editar código-fonte]

O livro foi um best-seller e recebeu críticas contundentes. [15] O New York Times elogiou o livro, dizendo que era "um livro grande, amargo, engraçado e astutamente maquinado, que te pega pela lapela e não solta", mas criticou seus personagens às vezes superficiais, dizendo que quando "o livro acaba, há um sabor estranho, não totalmente agradável."[16]

Adaptações[editar | editar código-fonte]

Em 1990, A Fogueira das Vaidades foi adaptado para o cinema, e estrelado por Tom Hanks como Sherman McCoy, Kim Cattrall como sua esposa Judy, Melanie Griffith como sua amante Maria e Bruce Willis como o jornalista (e narrador do filme) Peter Fallow. O roteiro foi escrito por Michael Cristofer. Wolfe recebeu $ 750.000 pelos direitos cinematográficos. O filme foi um fracasso comercial e crítico.[17]

Uma adaptação para ópera, com música de Stefania de Kenessey, e libreto e direção de Michael Bergmann, foi encenada em Nova York em 9 de outubro de 2015.[18]

Em 2016, a Amazon Studios, em associação com a Warner Bros., anunciou uma série dramática de oito episódios baseada no livro, produzida por Chuck Lorre (Two and a Half Men, B Positive), a ser distribuída pela Amazon Video.[19]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Depoimento: Fui seduzido pela Nova York de Tom Wolfe». Folha de S.Paulo. 15 de maio de 2018. Consultado em 11 de abril de 2023 
  2. «Tom Wolfe, o cronista dos costumes americanos». ISTOÉ DINHEIRO. 15 de maio de 2018. Consultado em 11 de abril de 2023 
  3. Hoby, Hermione (10 de janeiro de 2010). «The Bonfire of the Vanities by Tom Wolfe». The Guardian. Consultado em 29 de outubro de 2014 
  4. «TCM Announces Lucille Ball and The Bonfire of the Vanities for New Seasons of Hit Podcast The Plot Thickens | Pressroom». press.wbd.com. Consultado em 11 de abril de 2023 
  5. «All is Vanity». archive.nytimes.com (em inglês). 26 de março de 2008. Consultado em 11 de abril de 2023 
  6. McFadden, Robert D. (25 de outubro de 2010). «Burton Roberts, 88, Tom Wolfe's Model Judge, Dies». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 11 de abril de 2023 
  7. Ragen 2002, pp. 31
  8. «Why I spent three years tracking down the original serialisation of Tom Wolfe's The Bonfire of the Vanities». The Independent (em inglês). 29 de maio de 2018. Consultado em 16 de janeiro de 2020 
  9. Ragen 2002, pp. 32
  10. Taylor, John (21 March 1988) "The Book on Tom Wolfe", New York Magazine. In Scura 1990, p. 263.
  11. Ragen 2002, pp. 30–34
  12. Lat, David (20 de dezembro de 2011). «An Afternoon With Ed Hayes, Celebrated Litigator and Memoirist - Above the Law» (em inglês). Consultado em 11 de abril de 2023 
  13. Samuels, Allison (25 de julho de 2010). «The Reinvention of the Rev. Al Sharpton». Newsweek (em inglês). Consultado em 11 de abril de 2023 
  14. Barnard, Anne (10 de dezembro de 2007). «No Longer the City of 'Bonfire' in Flames». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 11 de abril de 2023 
  15. Sutherland, John (18 de fevereiro de 1988). «Big Bad Wolfe». London Review of Books. 10 (4): 15–16. Consultado em 29 de outubro de 2014 
  16. Conroy, Frank (1 de novembro de 1987). «Urban Rats in Fashion's Maze». The New York Times. Consultado em 29 de outubro de 2014 
  17. Ragen 2002, p. 33
  18. Chow, Andrew R. (12 de julho de 2015). «'The Bonfire of the Vanities' Gets Opera Adaptation». Consultado em 12 de setembro de 2015 
  19. Schwindt, Oriana (14 de outubro de 2016). «Chuck Lorre's 'Bonfire of the Vanities' Series in Development at Amazon». Consultado em 14 de outubro de 2016 

Leituras[editar | editar código-fonte]