Castelo de Pouancé

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O castelo e a lagoa.

O castelo medieval de Pouancé está situado na comuna de Pouancé, departamento do Maine-et-Loire, em França, na fronteiro ocidental da antiga província de Anjou. O castelo cobre uma superfície de três hectares. É por vezes apelidado de «segundo castelo de Anjou» em termos de importância, logo depois do Castelo de Angers.

Num local fortificado desde o Século XI, o castelo atual foi sendo construído do Século XII ao Século XV. Sofrendo diversos cercos durante a guerra dos Cem Anos, torna-se uma fortaleza de primeira linha no fim do Século XV, durante o conflito entre o reino da França e o ducado da Bretanha.

História[editar | editar código-fonte]

Primeiros tempos da fortaleza[editar | editar código-fonte]

Desde o fim da alta Idade Média, o local de Pouancé, nos confins das marcas de fronteira da Bretanha e de Anjou, foi certamente fortificado com o intuito de frustrar a praça-forte bretã de Châteaubriant. A primeira menção ao castelo remonta ao período 1049-1060 no cartulário de Carbay; o conde de Anjou ali entretinha alguns homens. Fragmentos de sarcófagos datados da alta Idade Média, descobertos nas paredes da igreja de Saint-Aubin, parecem comprovar a existência de povoamento anterior à edificação do castelo naquela zona[1].

A identidade do primeiro proprietário do castelo foi sujeito a numerosas teorias: segundo Racineux, teria sido construído por Manguinoë, «primeiro senhor de Pouancé», entre 990 e 1037[2],[Note 1] enquanto que para Jean-Louis Ormilières, poderia ter sido construído por Fulco Nerra[3].

Após a morte de Landri, o vicarius do conde de Anjou, Pouancé passa para as mãos de um próximo de Landri[4], Hervé de Martigné, vassalo do conde de Rennes, a quem o conde de Anjou dá a sua confiança. Hervé controlava já a «honra» de Lourzais, território próximo de Pouancé[4]. Entretanto, e desde 1066, o duque da Bretanha Conan II, sitiava Pouancé e toma-a durante uma campanha que o levou até Château-Gontier. À morte de Hervé (c. 1084), sucede-lhe o seu filho Gautier Hay. Emma, sua herdeira, casa por volta de 1130 com Guilherme I de La Guerche, ligando assim o senhorio de Martigné-Pouancé com o de La Guerche[5].

Os senhores de Pouancé irão entrar em conflito com os Plantagenetas: Por volta de 1172, o neto de Emma e de Guilherme, Geoffroy I, toma parte na rebelião contra Henrique II.[6], mas os rebeldes senhores bretões são derrotados em Dol-de-Bretagne, os seus castelos destruídos, e Geoffroy refugia-se nas florestas dos arredores. O seu filho alia-se com os bretões em 1196 e participa na sua vitória em Carhaix contra o exército senescal de Anjou[7]. No início do Século XIII o castelo está no coração de um grande senhorio sobre Anjou e a Bretanha[8]. O castelo torna-se um centro político de onde o poder se estende sobre os senhorios de Pouancé, Martigné, La Guerche e Segré. É neste conturbado período que se eleva o castelo atual, com as suas primeiras torres e cortinas. É também no início do Século XIII que Guilherme III, senhor de Pouancé, toma a decisão de estabelecer uma barragem sobre o Verzée, criando a lagoa de Pouancé e protegendo a façada oeste da fortaleza, a mais exposta[9].

O Século XIII vê o declínio da família senhorial de Pouancé[10]. O filho de Guilherme III, Geoffroy II, morre por volta de 1244. O filho de Geoffroy II, Geoffroy III, morre em 1263 deixando a sua filha Joana como única herdeira. Joana casa então com João de Beaumont. O seu neto, João II de Beaumont, após uma relação estéril com Isabeau d'Harcourt, une-se a Marguerite de Poitiers. O seu filho Luís de Beaumont morre em 1364, na batalha de Cocherel[11]. É Marie Chamaillard a neta de Isabeau, primeira esposa de João II de Beaumont, que recupera o senhorio de Pouancé, juntando-o aos feudos detidos pelo seu marido Pedro de Valois, próximo de Carlos V de França.

Tormentos da Guerra dos Cem Anos[editar | editar código-fonte]

Entre 1371 e 1379, Pedro II de Valois, proprietário do senhorio, « mandou fazer no castelo de Pouencé uma bela torre », provavelmente a atual Grosse Tour (Torre grossa). Mandou igualmente colocar mata-cães[12]. É por volta do Século XIV que foram efetuadas alterações nas torres do Século XIII, principalmente na torre Saint-Antoine, para incluir escadas em espiral.

Representação do Castelo de Pouancé tal como poderia ter sido no século XV.

Em 1379 o castelo é sitiado pela segunda vez pelo exército bretão de João IV da Bretanha, tendo sido tomado graças a traição[13]. Pedro de Valois, senhor do local, troca com Bertrand Du Guesclin as terras de Pouancé e de La Guerche por terras na Normandia. Pouancé fica então sob controlo do duque João IV que rende a fortaleza a Olivier du Guesclin (1381). Este vender-lha-ia em 1390. Com o casamento entre João I d'Alençon e Marie da Bretanha, esta recebe como dote os senhorios de Pouancé e de La Guerche, que passam desde então a pertencerem à família de Alençon[14]. João II d'Alençon aprisiona João de Malestroit, bispo de Nantes e chanceler de Bretanha, para que o duque da Bretanha, João V da Bretanha, honre a parte em falta do dote de sua mãe.[15]. Recusando a chantagem, João V sitia o castelo no início do ano de 1432. Durante 5 semanas a fortaleza de Pouancé sofre os assaltos coordenados dos bretões e seus aliados ingleses. As tropas inimigas, com mais de 6000 unidades[16], dispõem de 7 canhões que bombardeiam as defesas de Pouancé. João d'Alençon decide negociar, terminando com os ataques por volta de 19 de fevereiro de 1432[17].

Pouancé durante o Século XV.

Onze anos mais tarde (1443), um exército inglês liderado pelo duque de Somerset sitia a fortaleza. Artur II da Bretanha junta-se ao duque d'Alençon em Château-Gontier para organizar um contrataque com a ajuda de outros senhores, incluindo Luís du Bueil e André de Lohéac. Estes, com João d'Alençon, decidem iniciar o ataque sem esperar por reforços. São surpreendidos à noite pelos ingleses que, com 1500 homens, se precipitam sobre o acampamento. Os habitantes de Pouancé resistem com sucesso, mas as periferias e indústrias da cidade são destruídas. O exército inglês deixa o local ao fim de duas ou três semanas para se dirigir para La Guerche[18].

Conflito franco-bretão[editar | editar código-fonte]

Em 1467 João II d'Alençon conspira juntamente com Francisco II, duque da Bretanha, contra o rei de França Luís XI. Os bretões atacam em outubro de 1467[19], sitiando o castelo de Pouancé, defendido pelo « nhor de Villiers » por conta do rei de França, sem o consentimento de João II. Após três dias, a fortaleza cede e os bretões pilham e queimam o castelo e a cidade[20]. Em julho de 1468 um contrataque francês expulsa os bretões de Pouancé. Desde então a fortaleza torna-se uma componente essencial do sistema de defesa e ataque das tropas francesas contra a Bretanha. Em 1488 Luís XI passa lá a noite com mais de 5000 homens quando é informado que as tropas bretãs estão concentradas em La Guerche[21]. Luís de la Trémoille junta 12000 homens antes de avançar para o cerco sobre Châteaubriant, iniciando assim a campanha militar contra o ducado da Bretanha que culminaria na sua anexação pelo reino da França. É nesta última metade do século XV que o castelo sofreu alterações defensivas, como a edificação da torre Heptagonal, da capoeira e do baluarte.[22]. Esse frenesim de construções defensivas coincide com o período de tensões franco-bretãs, que vê nascer uma verdadeira militarização das fortalezas das Marcas da Bretanha[23][24].

Guerra de Religião[editar | editar código-fonte]

Em 1562 o senhorio passa para as mãos da família de Cossé-Brissac. Carlos II de Cossé, católico fervoroso, entra em 1590 para a Liga Católica francesa e opõe-se ao rei Henrique IV de França. Em 1592 madame de Brissac envia a Angers um denominado Chanjus, capitão e comandante do castelo de Pouancé, para prestar homenagem ao rei.[25]. Apesar do desejo de neutralidade, a cidade e o castelo são ocupados por cerca de 50 soldados do duque de Mayenne. Este alia-se ao rei em 1596, mas o duque de Mercoeur, governador da Bretanha, continua o combate. Em setembro de 1597 o capitão Chanjus rende o castelo a Mercoeur[26] que ali instala uma guarnição. Este acabaria por se submeter em março de 1598, pondo fim à oitava guerra de religiões.

Abandono da fortaleza militar[editar | editar código-fonte]

Fortaleza antes de 1916. Habitações e ateliers são construídos ao longo das muralhas. À direita, a torre do Moinho antes do seu colapso em 1916. À esquerda, a torre Criminelle, que caiu em 1936.

O castelo perdeu desde há muito o seu papel de residência do senhorio. A família Cossé-Brissac muito raramente o frequenta. No entanto, Francisco de Cossé ali morre em 1651 e o seu corpo fica exposto durante algum tempo[27]. Ao longo do Século XVII e XVIII várias salas permanecem habitáveis, por várias pessoas ali residirem: um jardineiro (1620), um tenente de bailiado (ali morre em 1671), um oficial (entre 1756 e 1767)[28]. A maioria dos encarregados da gestão do senhorio alojam-se fora da cidade, em mansões, habitações e solares[29]. A partir de 1541 as antigas muralhas são parcialmente rasgadas e abandonadas.

Será muito provavelmente durante a segunda metade do Século XVIII que os habitantes da cidade decidiram destruir o châtelet da entrada, de fechar os fossos e de construir várias casas e lojas no interior, ao longo das cortinas. Segue-se um longo período de abandono e degradação. No entanto, durante o Congresso Arqueológico de França de 1871 (em Angers), a fortaleza foi considerada como «uma bonita ruina feudal, seguramente uma das mais belas que Anjou tem »[30]. Em 1911 a escola l'Enfant-Jésus, uma escola católica privada, é construída entre o bastião e a poterna norte. Para tal, foi necessário destruir a parte superior das muralhas a norte. Em 1915 a torre do Moinho colapsa[31] levando uma parte da muralha, e abrindo uma brecha no recinto até então preservado. Em 1926 o local é classificado Monumento histórico. Em 1929 o arquiteto encarregado dos Monumentos históricos faz um levantamento das ruinas « para conservar pelo menos a recordação». Após o levantamento, e perante os riscos de colapso, o marquês de Montault, proprietário do castelo, evacua os últimos habitantes[32]. Em 1934, as Belas-artes fazem ruir as casas abandonadas do interior.[33] A parte superior de uma segunda torre (a torre Criminelle), colapsa em 1936, quando o alto das torres e das muralhas eram cimentadas para evitar subsequente degradação[33].

Atualmente[editar | editar código-fonte]

Hoje em dia o edifício é por vezes considerado como a « segunda fortaleza de Anjou », depois do castelo de Angers[34], integrando-se numa das duas últimas cidades fortificadas de Anjou que conservam uma parte do seu recinto urbano[35]. O castelo medieval está aberto ao público do meio de junho até ao final de agosto. A visita guiada do local demora uma hora[36]. Não é possível visitar livremente o local. Fora de época, a visita está disponível unicamente sob reserva. O local é dos menos visitados na Maine-et-Loire, com menos de 1000 visitantes por ano[37]. Apesar da sua importância histórica e patrimonial, o castelo ainda não teve nenhum estudo arqueológico aprofundado[38]. Em 2001 um comité científico decidiu incluir Pouancé e o seu castelo na lista das 21 comunas suscetíveis de serem inscritas no quadro de Património Mundial da UNESCO[39].

Panorâmica interior do castelo medieval

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Na realidade, Manguinoë era na época senhor de La Guerche de Bretanha, e os dois senhorios só seriam ligados por volta dos anos de 1130.

Referências

  1. Peuplement, pouvoir et paysage sur la marche Anjou-Bretagne, Jean-Claude Meuret ; société d’archéologie et d’histoire de la Mayenne, 1993
  2. Racineux, pág. 35
  3. Jean-Louis Ormilières, Histoire de l'Anjou, PUF, coll. « Que sais-je ? »
  4. a b Cornet, pág. 19
  5. Neau, pág.31
  6. Cornet, pág.21
  7. Neau, pág.33
  8. Ministério da Cultura de França (em francês)
  9. Neau, pág.34
  10. Halbert, pág.25
  11. Racineux, pág.41
  12. Neau, pág.47
  13. Cornet, pág.17
  14. Racineux, pág.49-50
  15. Odolant-Desnos, pág.35
  16. Arthure Le Moyne de la Borderie, citado por Racineux
  17. Revue de l'Anjou et de Maine et Loire, tomo 2, 1853, pág. 372
  18. Racineux,pág.59-60
  19. Cintré,pág.140
  20. Odolant-Desnos, pág.153
  21. Racineux, pág.62
  22. Neau, pág.65
  23. Cintré, pág.186
  24. Le Page e Nassiet, L'Union de la Bretagne et la France, pág.80
  25. Racineux, pág.67
  26. Cornet, pág.24
  27. Cornet, pág.62
  28. Cornet, pág.63
  29. Halbert, pág.181
  30. Galicca.bnf.fr Congrès archéologique de France, 38e sessions, junho de 1871 (em francês)
  31. Géhan, pág. 17-23
  32. Géhan, pág.41
  33. a b Géhan, pág.42
  34. Présentation du château na página da cidade de Pouancé. (em francês)
  35. As cidades próximas de Anjou (em francês)
  36. Brochure Anjou: féria e lazer, p.21. (em francês)
  37. Bilan des sites de visites (2006) (em francês)
  38. Cornet, pág.4
  39. Pouancé, Champtoceaux: patrimoine mondial ? (em francês)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Alain Racineux, À travers l’histoire, au pays de Pouancé, 1983.
  • Céline Cornet, Usages historiques et environnement mental d'un château de marches du XIe au XXe siècle. La forteresse de Pouance (Maine-et-Loire), Maîtrise d'histoire, 2000.
  • André Neau, Sur les chemins de l'histoire : En Pays Pouancéen, t. 1, novembro de 2010, 256 páginas.
  • Odile Halbert, L'allée de la Héé, Odile Halbert, 2000.
  • Pierre Joseph Odolant-Desnos, Mémoires historiques sur la ville d'Alençon et sur ses seigneurs, t. 2, 1787.
  • René Cintré, Les Marches de Bretagne au Moyen Age, Jean-Marie Pierre, 1992 (ISBN 2-903999-11-2)
  • Thierry Géhan, Rapport de sondage : Pouancé, le Vieux Château, DRAC, 1992